Abrindo os Olhos de Mário Calderón escrita por Wanda Filocreao


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Ola pessoal estou postando o capítulo 5 da fanfic, espero que gostem e se possível comentem.



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Mario teve uma noite muito agitada. Quase não conseguiu conciliar o sono. Também pudera! Lembranças e mais lembranças voltaram a instalar-se em sua mente!

Lembranças de sua triste infância!

Lembranças da briga com seu ex- melhor amigo Armando Mendoza! E do soco fenomenal que levou!

Lembranças da conversa com o taxista, seu Alfredo e o relato do terrível acidente que matou os pais de Nanda e a deixou cega! Como esta moça deve ter sofrido! Sem os pais, sem o noivo e, ainda mais, tão jovem tendo que criar os irmãos!

Eram tantas as lembranças! Sua cabeça estava repleta delas!

Não adiantava não conseguia dormir!

Depois de se virar muito na cama, Mario levantou-se de madrugada e se dirigiu a cozinha para tomar um copo d'água.

"Se continuar deste jeito vou ficar velho e amarrotado antes do tempo!" - reflete enquanto bebe a água.

De repente um pensamento meio maluco lhe vem à cabeça:

"Como será ser cego? Como será andar pela casa sem ver nada?"

Pensando nisso, põe o copo sobre a pia, e resolve colocar em execução aquela ideia maluca.

Fecha os olhos e tenta se dirigir ao seu quarto, passando pela sala.

Começa a andar, procurando ser o mais natural possível, como observou que Nanda fazia.

Mas qual o quê! Não conseguiu dar nem três passos e já tinha feito um grande estrago!

"AÍ! - geme de dor, abrindo os olhos - Por Deus como a Nanda consegue?" - reflete depois de ter tropeçado no tapete, arrastado e derrubado uma cadeira e para finalizar, com chave de ouro, ter batido a perna no sofá, provocando uma contusão na perna direita.

Fora o "barulhão" que provocou!

Mario examina com pesar a perna que ficou levemente arroxeada devido a pancada.

Faz uma leve massagem e segue, agora de olhos bem abertos, para o seu quarto.

"No começo ela deve ter tido dificuldades também. - segue pensando na jovem- Mas agora anda tão naturalmente que muitos duvidariam que ela realmente não enxerga."

Deita-se na cama e lhe vem à mente novamente aquele quadro, com a imagem da pequena família que acabara de conhecer. Que lindo quadro! Nanda abraçada aos irmãos gêmeos.

Mario sorri.

"Como são espertos aqueles garotos! Iguaizinhos, iguaizinhos! Não consigo ainda diferenciar o Fabio do Felipe. Sei que o Felipe tem mais personalidade, é sempre o primeiro a falar e a decidir as coisas. Mas o Fabio dá sempre umas respostas tão inteligentes e é sempre tão amoroso. Mas se colocarem os dois juntinhos e eles não falarem nada, não sei quem é quem. Tenho certeza que a Fernanda consegue identificá-los. Ela é tão perspicaz, tão atenta a tudo que está ao seu redor e ao mesmo tempo tão arisca. Mas tão bonita!"- segue pensando.

Com um sorriso nos lábios e a imagem daquela pequena família, Mario pegou num sono profundo.

Acordou na manhã seguinte com o sol que refletia através da janela batendo em seu rosto.

Abre os olhos lentamente, dá uma boa espreguiçada e olha para o relógio.

De repente se assusta!

– Meu Deus já passa das 10 horas da manhã! É hoje que o Armando me mata! Estou atrasado!

Quando coloca os pés no chão, o piso frio faz com que caia na realidade e venha logo a sua mente como um relâmpago, a lembrança do que ocorreu no dia anterior.

"Que atrasado o quê? Eu não sou mais acionista da Ecomoda! E nem diretor comercial! Havia me esquecido completamente!" - analisa com um sorriso nos lábios.

"Não preciso mais acordar cedo e ficar sob as ordens de Armando Mendoza! Agora estou livre daquele bando de incompetentes!"

Levanta-se da cama disposto com uma melhor perspectiva para aquele dia.

Assobiando, Mario vai até o banheiro e toma uma ducha bem refrescante.

De súbito se lembra de que seu carro ainda está na garagem da Ecomoda.

Infelizmente ainda terá que ir a empresa!

"Mas que fique lá por enquanto!" - pensa tranquilo,enquanto ensaboa com energia o seu corpo e depois ao sentir a água fresquinha caindo, sorri, programando o seu dia:

" Vou tomar o meu café bem tranquilo na padaria da esquina, depois irei a borracharia e pedirei que algum funcionário leve o pneu para o Wilson, lá na Ecomoda, vou exigir que troquem o pneu, que peguem o estepe e o levem para arrumar e direi que mais tarde eu o pegarei na borracharia. Já deixarei todo esse serviço pago.

Almoçarei tranquilo em qualquer restaurante fino.

E somente à tardezinha é que darei o meu ar da graça na Ecomoda! Mas somente na garagem da empresa, bem entendido! Não quero encontrar com mais ninguém de lá, além do Wilson é claro!"

Assim que acaba o banho, se enxuga numa toalha cheirosa e felpuda.

Sossegadamente abre o guarda-roupa e retira de lá uma roupa bem esportiva. Uma calça jeans preta e uma camiseta polo azul clara.

Se veste ainda assobiando, calça as meias e um tênis preto bem confortável.

Penteia os cabelos.

Olha-se no espelho se admirando e assobia para a sua própria imagem que vê ali refletida.

"Que bela figura! por isso que faço tanto sucesso com as mulheres, elas não resistem ao meu charme!"- se analisa todo convencido e feliz.

Como toque final passa o seu perfume preferido, Ferrari Black, com aroma cítrico.

Mario examina mais uma vez a sua bela estampa, manda um beijo pra si mesmo refletido no espelho e dando uma gostosa gargalhada sai do quarto.

Quando chega à sala nota a bagunça:

Tapete todo amontoado, cadeira caída no meio da sala e o sofá fora do lugar.

Lembra-se então da aventura da noite anterior.

"Parece que não deu certo a minha excursão pela sala de olhos fechados!" - dá de ombros enquanto arruma rapidamente a bagunça - "Espero não receber reclamações de nenhum dos vizinhos, seja de cima de baixo ou dos lados. Por Deus fiz mesmo um barulhão de madrugada! Mas enfim valeu a experiência!" - pensa massageando a perna direita, onde havia se machucado, por conta daquela maluca experiência.

Assim que vê tudo em ordem, pega a carteira que estava sobre a mesa da sala enfia no bolso e sai para cumprir sua agenda do dia.

Ainda assobiando aperta o botão do elevador.

"Hoje meu dia vai ser completamente diferente!" pensa Mário.

Diferente do que estava acostumado já que há muitos anos ia todas as manhãs bem cedo para a Ecomoda!

"Espero que meu dia seja um dia proveitoso. Pelo menos isso!" - segue pensando animado, enquanto entra no elevador.

Na portaria encontra o porteiro e todo sorridente o cumprimenta:

– Bom dia seu Wagner!

– Bom dia seu Mario! - responde o porteiro com exagerada gentileza.

– O senhor não vai à empresa hoje? - pergunta o porteiro curioso, examinando-o de cima a baixo, comprovando que ele estava com traje esportivo.

– Não, hoje não. -responde Mario sem mais explicações.

– Seu carro não está na garagem? - seu Wagner torna a questioná-lo estranhando que Mario não descesse até o subsolo.

– Não seu Wagner! Hoje vou pegar um táxi. - responde não gostando nem um pouco da bisbilhotice do funcionário e não querendo prolongar a conversa.

– Quer que eu peça um táxi par o senhor?- indaga o homem demonstrando solicitude.

– Não. Mas obrigado assim mesmo seu Wagner. Tenha um bom dia de trabalho. - responde enquanto vai se retirando rapidamente do edifício, antes que venha outra pergunta inconveniente.

Lá fora Mario constata que o sol já brilha alto e forte.

Apruma as costas, respira fundo e confiante caminha pela rua até a padaria da esquina.

Ao chegar entra no estabelecimento dirige-se ao balcão e senta-se em uma das banquetas.

Olha ao redor para ver se encontra algum conhecido, mas foi em vão. Aquele horário, como pode comprovar olhando o relógio 11 horas da manhã, todos já deviam ter tomado o seu café da manhã há muito tempo e com certeza deviam se encontrar em seus respectivos trabalhos.

"Está tarde, não vou comer muito, pois logo será o horário do almoço." - reflete Mario.

Assim que o atendente se aproxima querendo saber seu pedido Mario lhe diz:

– Bom dia meu amigo, me vê, por favor, uma vitamina de mamão com leite. Ah! E não coloque açúcar e sim adoçante.

– Bom dia senhor! Mais alguma coisa? - pergunta o rapaz.

– Não, nada mais! - responde ele.

Enquanto espera o seu pedido, Mario repara nas guloseimas expostas na vitrine do estabelecimento. Seus olhos se detêm em diversos tipos de chocolates, dos mais finos aos mais simples. Todos parecem bem apetitosos.

Dá um leve sorriso ao lembrar-se dos gêmeos.

"Aqueles dois ficariam doidinhos se vissem estes chocolates!"

Uma ideia maluca lhe vem à mente e assim que o atendente lhe traz a vitamina, Mario lhe fala:

– Por favor, quero levar três de cada chocolate que tem aí na vitrine. Coloque em uma caixa bem bonita que vou levar para presente.

– Pois não doutor! - responde o rapaz.

"A Nanda também deve gostar de chocolates. Quem sabe assim conquisto também a sua amizade. E todos vão ficar felizes!"- pensa satisfeito enquanto saboreia a deliciosa vitamina.

Assim que termina, paga e pega a enorme caixa de chocolates de cima do balcão.

"Tomara que isto não seja motivo de brigas entre os irmãos. "- pensa olhando a bela caixa embrulhada com papel vermelho, toda decorada com pirulitos e balas de biscuit.

"E que muito menos não provoque ainda mais a desconfiança dela. A Nanda pode pensar que quero conquistar os garotos com presentes. E ainda mais a sua amizade com chocolates e bombons. Será que ela vai desconfiar de minhas boas intenções? Desejo apenas ser amigo dela como sou de seus irmãos, nada mais!"

Tentando tirar Nanda e suas desconfianças da cabeça, Mario continua sua caminhada. Tenta mudar o rumo de seus pensamentos:

"Bem agora a caminho da borracharia!

Irei andando, pois fica a poucas quadras daqui."- pensa enquanto caminha tranquila por pelo menos três quadras.

Assim que lá chega é recebido com simpatia pelo dono da borracharia.

Fala ao dono do estabelecimento tudo o que havia planejado. O dono concorda rapidamente, ainda mais sabendo que ia receber o pagamento adiantado.

Depois que resolve tudo, paga pelo serviço e sai.

Mario olha para o seu relógio.

"São 12h30, creio que os garotos já devem estar voltando da escola. Bem agora vou executar meu próximo plano."- pensa enquanto dá sinal para um táxi.

O táxi para imediatamente.

Mario entra e senta-se no banco de trás.

– Boa tarde senhor! - cumprimenta educadamente o taxista - Para onde deseja que eu o leve? - pergunta o homem.

Mario retira rapidamente da carteira o cartão que seu Alfredo lhe deu, cumprimenta o taxista e lhe lê o endereço:

– Por favor, me leve para a zona leste, mais precisamente para o Jardim das Acácias, na rua das Oliveiras.

O taxista balança a cabeça, dando a entender que conhecia o local.

A viagem transcorre tranquila.

Mario e o taxista conversam amenidades.

Sobre o trânsito, o tempo, a correria do dia a dia, política, futebol etc.

Totalmente diferente do que ocorreu na noite anterior. Quando conversou por muito tempo com o seu Alfredo e ficou sabendo de muita coisa sobre a vida de Nanda e dos gêmeos.

De repente Mario fica pensativo. Olha novamente para o relógio.

"Já são quase 13 horas. Será que os meninos vão gostar da minha visita? Será que não vou incomodar dona Edite? E Nanda será que vou vê-la mais uma vez? Ou melhor perguntando: será que ela ficará desconfiada, por eu estar novamente com seus irmãos? E tornará a pensar mal de mim?"

Mediante a essas reflexões lhe bate uma insegurança. Fica tentado a pedir que o taxista dê meia volta e retorne ao lugar de onde o pegou.

"O que é que está acontecendo comigo? Claro que todos vão gostar da minha visita. Afinal eu gostei de todos, foram muito simpáticos e receptivos. Será uma visita em retribuição ao jantar de ontem, sem mais intenções. Confiança Mario, confiança!"

Neste instante aparece em seus pensamentos a imagem da jovem cega.

"Definitivamente acho que a única pessoa que não simpatizou muito comigo foi ela. Também ela tem lá suas razões. Por que fui compactuar com os rolos daqueles dois garotos? Onde é que eu estava com a cabeça? Aqueles dois pirralhos queimaram o meu filme com a sua irmã. Tenho que reverter urgentemente essa história. Nanda vai ter que me aceitar como amigo também! Ou não me chamo Mario Calderón!"

– Chegamos! Rua das Oliveiras! - fala o taxista, tirando-o de seus pensamentos.

– Em que número desta rua o senhor quer ir? - pergunta o homem.

– Ah! É no número 34! - responde Mario sentindo, sem saber por que, o coração acelerar.

"O que é que há comigo? nunca me senti assim! Tão impotente! Tão inseguro! Mas ao mesmo tempo sinto que tenho que ajudar de alguma maneira esta família. E ainda mais no meu caso que nunca tive uma família de verdade. Então, qual é a dúvida? Confiança homem! Siga em frente!"

Mario paga o taxista e desce do carro, com a imensa caixa nas mãos.

Não precisou nem apertar a campainha, pois logo escutou o som de duas vozinhas bem conhecidas:

– É o seu Mario! Oba! Ele veio! - fala Felipe, como sempre se adiantando.

– Que legal! Ele cumpriu a promessa! - complementa Fabio.

Mario admirado olha para casa e vê as duas carinhas sorridentes, com os narizinhos amassados no vidro da janela da casa de dona Edite.

"Que danadinhos! Devem ter escutado o barulho do táxi parando de frente para a casa e saíram correndo a espiar na janela."- pensa sorrindo e acenando para os meninos.

Logo aparece dona Edite toda apressada enxugando as mãos no avental e abrindo o portão, logo atrás dela vêm os gêmeos sorridentes, não cabendo em si de tanta alegria.

– Vamos seu Mario! Vamos entrando! - fala dona Edite - O sol está muito quente aqui fora. Venha aqui pra dentro que está mais fresquinho.

– Boa tarde dona Edite. Como vai a senhora?- pergunta educadamente.

– Boa tarde meu filho! Eu vou bem graças a Deus. - responde a boa senhora.

– E o seu Alfredo como vai? - pergunta Mario.

– Ah! Seu Mario ele vai bem sim graças a Deus. Ele foi agora de tarde ao Sindicato dos Taxistas. Foi rever a sua aposentadoria que está muito pouca.

–Qualquer coisa dona Edite eu tenho alguns amigos advogados muito bons. Se precisar é só fa...

Mario nem termina de falar e é pego de surpresa, ao ser envolvido por quatro bracinhos ansiosos. Aquele gesto, mais uma vez o deixa sem ação.

"Graças a Deus que eu vim aqui! É tão bom ser recebido assim desta maneira tão carinhosa."- pensa Mario emocionado com a calorosa recepção.

– Meninos deixem o seu Mario entrar! Ele deve estar cansado! - fala dona Edite aos gêmeos.

Os garotos então se desapegam dele e Mario sente falta da quentura daqueles bracinhos ao redor do seu corpo.

"Eles são tão carinhosos e simpáticos!"- pensa enquanto entra na casa de dona Edite.

A residência é pequena como a de Nanda. É também tudo tão limpinho e acolhedor, que Mario sente- se logo à vontade.

Assim que entra na sala repara que a mesa está posta para o almoço. Fica então meio constrangido.

– O senhor já almoçou seu Mario? - pergunta a velha senhora, olhando diretamente para os olhos dele.

Mario não tem como mentir e fala:

– Não senhora, ainda não almocei. Mas não precisa se preocupar eu vou ficar aqui pouco tempo.

– Que pouco tempo o quê! O senhor vai almoçar com a gente. Não é meninos? - fala a senhora olhando para eles.

– Vai sim! - fala Felipe, puxando o seu braço.

– Vai sim! - fala Fabio imitando o irmão.

Mario não tem como não aceitar o convite tão efusivo e carinhoso e além do mais sentia um cheirinho tão gostoso de comida caseira que vinha da cozinha, que era impossível mesmo recusar.

– Fabio, meu amor, - fala dona Edite- leve o seu Mario até o banheiro para que ele lave as mãos para almoçar.

O garotinho fica todo feliz com a missão e a atende prontamente.

– Venha seu Mario, eu lhe mostro onde é o banheiro. - fala o pequeno pegando na mão de Mario como se ele fosse também uma criança e puxando-o para o banheiro

Mario não tem outra alternativa, senão ir junto com o garoto.

Enquanto isso dona Edite dá outra missão, agora para Felipe.

– Felipe, meu anjo, por favor, pegue outro prato e talheres na cozinha e ponha sobre a mesa.

O menino também fica satisfeito com o pedido e mais que depressa vai a cozinha cumprir a tarefa e logo volta para a sala e deposita sobre a mesa o que foi pedido.

Quando volta do banheiro, Mario se senta a mesa e como no dia anterior os garotos sentam-se um de cada lado dele. Olhando para ele sorridentes e satisfeitos, pois para eles era um momento de felicidade poder estar assim junto deste novo amigo que conquistaram e aprenderam a amar.

Mario acha graça e fica feliz com este carinho genuíno por parte daquelas crianças.

Dona Edite aparece trazendo uma travessa com salada de rúcula e tomates. Felipe e Fabio torcem o nariz.

– Eu não gosto de salada! - Fala Felipe.

– Eu também não gosto! - reforça Fabio.

– Que é isso garotos! O que o seu Mario vai pensar de vocês? - fala dona Edite dando bronca nos pequenos- Vai pensar que são garotos enjoados!

Mario então aproveita a oportunidade e diz:

– Quero que vocês comam tudo o que estiver no prato, pois tenho uma surpresa pra vocês garotos.

Felipe e Fabio olham-se e depois olham a grande caixa que o seu Mario havia colocado sobre a cristaleira na sala.

Desde que ele entrou com aquela linda caixa toda decorada com balas e pirulitos de biscuit eles não tiravam os olhos dela.

Ficaram sem jeito de perguntar o que era, pois Nanda os havia ensinado que era falta de educação ser muito curioso e perguntar certas coisas para as pessoas.

Agora depois do que seu Mario disse, Felipe e Fabio tinham certeza que o que estava naquela linda caixa era algo para eles.

A psicologia de Mario dera certo! Em pouco tempo a salada havia sido devorada pelos garotos.

Logo dona Edite traz as travessas de arroz, de feijão e uma bela omelete, bem fofinha.

– Desculpe-me seu Mario - fala a boa senhora- A comida é simples, mas foi feita com muito amor.

– Não precisa se desculpar dona Edite. - responde ele- Tenho certeza que está tudo muito gostoso.

Dona Edite fica satisfeita com o comentário dele, o serve primeiro, depois os garotos e por fim se senta e se serve.

Estava mesmo tudo muito gostoso, como Mario previra.

O arroz bem soltinho, o feijão com caldo grosso e bem temperado e a omelete então? Dona Edite colocou de tudo nela, como Mario pode sentir no paladar.

Tinha queijo, presunto, tomate picadinho e mais alguns temperinhos que não sabia identificar.

Estava uma delícia!

"Que bom que tive a boa ideia de não comer muito no café da manhã." - reflete Mario satisfeito enquanto repete mais um prato da deliciosa refeição.

Dona Edite fica realizada com este comentário dele e mais ainda ao ver que os garotos rasparam o prato.

"Esse seu Mario deveria vir mais vezes aqui na hora do almoço. Assim meus anjinhos comeriam bem todos os dias." - pensa a boa senhora.

De repente escutam um barulho de alguém abrindo o portão.

Os meninos correm a olhar pela janela e sorriem felizes ao constatar que quem havia chegado era a Nanda.

– A Nanda chegou! - grita Felipe entusiasmado.

– Oba! Ela chegou!- completa Fabio com igual entusiasmo.

– Meninos! - chama dona Edite em voz mais baixa - Venham aqui!

Os meninos curiosos se aproximam da senhora.

– Não vamos dizer nada a ela que o seu Mario está aqui. Vamos ver se ela adivinha. Tudo bem?

Os garotos ficam alegres com aquela brincadeira e balançam a cabeça concordando.

Mario também fica curioso em saber se Nanda descobrirá se ele está ali.

Todos se olham e sorriem, concordando com a brincadeira.

De repente a porta se abre e Fernanda entra.

Mario repara que ela está ainda mais bonita do que a última vez em que a viu.

Esta com uma saia jeans e uma blusinha rosa com delicadas florzinhas azuis, seus cabelos estão presos em um adorável rabo de cavalo, o que lhe dá um ar mais juvenil. Nas mãos tem uma bengala branca, daquelas que os deficientes visuais usam quando saem à rua.

Assim que ela põe o pé dentro da sala os gêmeos correm a abraçá-la. E mais uma vez Mario se depara com aquele quadro que por tantas vezes retivera na memória. Só que agora estava ali ao vivo e pertinho dele.

Nanda feliz retribui os abraços dos irmãozinhos e começa com o interrogatório habitual:

– Como foi hoje na escola?

– Aprenderam algo de novo?

– Comeram todo o lanche que preparei? Gostaram dos pãezinhos com queijo e mussarela?

– E o almoço? Comeram tudo?

Nanda vai perguntando e os garotos respondendo com entusiasmo.

– Dona Edite eles estão falando a verdade?

A boa senhora se aproxima da jovem e lhe dando também um abraço carinhoso lhe responde toda feliz:

– Precisa ver que beleza Nanda! Eles comeram tudinho que coloquei no prato, inclusive a salada. Estes garotos estão de parabéns!

– Que bom dona Edite. Fico muito feliz. Eles tem que saber que não devem só gostar de doces e chocolates. Pois os alimentos naturais tem muita vitami...

De repente Nanda para de falar.

Todos se olham e ficam em silêncio.

– Dona Edite tem alguém mais aqui além de nós? - fala Nanda ansiosa.

Dona Edite fala, procurando demonstrar que nada sabia:

– Não sei Nanda. O que você acha?

A jovem apura bem os ouvidos e o olfato e fala:

– Tem sim! Estou sentindo um perfume com aroma cítrico. É o mesmo que o seu Mario estava usando ontem. É ele quem está aqui, não é?

Mario fica surpreso com a perspicácia da jovem.

Os meninos gritam de alegria e respondem em coro:

– Adivinhou! É ele sim!

Mario se levanta e vai cumprimentá-la com um beijinho no rosto.

– Sou eu sim Nanda. Como vai tudo bem? - fala beijando-a.

Nanda se surpreende com aquele gesto inesperado e se afasta o mais rápido possível.

Mario repara o constrangimento da jovem e tentando deixá-la mais a vontade lhe pergunta:

– Nossa como você é entendida em perfumes. Como adivinhou tão rápido o perfume que eu estava usando?

Nanda se assusta com a pergunta e responde em voz baixa, que denota muita tristeza:

– Esse perfume... Ferrari Black... é o que meu noivo costumava usar.

De repente todos ficam em silêncio.

Mario fica super sem graça e só consegue pensar:

"Como sou desastrado! Dei mais uma bola fora!"

– Ah! Eu me lembro do Tito o noivo da Nanda. - fala Felipe inocentemente.

– Ah! Eu me lembro também. Lembro que o chamávamos de Tio Bala, pois ele sempre nos trazia balas e pirulitos.

Mario fica pensativo e olha para a caixa com os chocolates e fala inocentemente sem pensar:

– Meninos espero que depois de verem o que está na caixa que não passem a me chamar de Tio Chocolate.

De repente Mario escuta uma doce gargalhada, olha espantado e vê que quem emitiu esse som foi a Nanda. Para ele é como se fosse o som mais lindo do mundo.

"Graças a Deus agora eu dei uma bola dentro. Obrigado meu Deus!"- pensa Mario enquanto ri também acompanhado de todos na sala.


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Notas finais do capítulo

Aguardem os próximos capítulos.