Abrindo os Olhos de Mário Calderón escrita por Wanda Filocreao


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Ola pessoal, estou postando mais um capítulo da fanfic.
Espero que gostem e se possível comentem.



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Mario fica balançado depois que recebeu a manifestação de carinho por parte dos gêmeos.

Meio sem jeito pergunta às duas mulheres:

– Vocês sabem se aqui por perto tem algum ponto de táxi?

Dona Edite já se adianta e responde toda satisfeita em poder ajudar:

– Está no lugar certo, seu Mario! Meu marido é taxista! Espere um momentinho que já vou chamá-lo.

Mario fica supreso, mas lhe fala com educação:

– Não se incomode dona Edite! Neste horário ele deve estar dormindo! Já passam das onze horas da noite! Não é necessário incomodá-lo.

Dona Edite escuta o que ele lhe disse mas não se faz de rogada, sorrindo pegando o telefone e lhe fala:

– Não se preocupe não seu Mario, o Alfredo já está acostumado. Tem vezes que o chamam até de madrugada. E o meu velho vai. É um trabalho como outro qualquer. E pode estar certo que neste exato momento ele deve estar na sala em frente a TV, meu velho não dorme enquanto eu não chego. - acrescenta com voz carinhosa, demonstrando todo o amor que sente pelo seu marido.

Acabando de dizer isso ela disca os números de sua casa e momentos depois alguém atende.

Dona Edite então fala com a pessoa do outro lado da linha:

– Alfredo, meu velho, sou eu a Edite. Tem um senhor aqui na casa da Fernanda que está precisando de seus serviços. Pode vir agora?

Ela escuta a resposta e volta a falar:

– Tudo bem, Alfredo, assim que chegar buzine que o seu Mario sai. Um beijo meu velho.

Logo depois a boa senhora desliga o telefone e fala toda satisfeita olhando para Mario:

– Ele logo estará aqui seu Mario. Assim que chegar vai buzinar.

Mario se supreende com a eficiência de dona Edite e lhe agradece:

– Muito obrigado dona Edite, a senhora foi muito gentil. Não queria dar trabalho.

– Trabalho nenhum seu Mario. - diz dona Edite encantada com a educação do bonito cavalheiro - Do jeito que as coisas andam um dinheirinho a mais é sempre bem vindo. A aposentadoria do meu Alfredo é pouca por isso ele faz esse bico, trabalhando de taxista.

Pouco tempo depois escutam a buzina do carro.

Dona Edite logo se adianta e corre a olhar pela janela da sala.

– É ele seu Mario, meu Alfredo já chegou! Venha que eu vou apresentá-lo.

Mario se despede de todos daquela casa e agradece pelo jantar.

Os meninos, que ainda estavam na sala, sorriem para ele e Nanda dá a sua mão em cumprimento, imaginando pela voz a direção de onde ele se encontra. Mario pega aquela mão tão delicada com educação e olha a jovem com carinho.

– Obrigado por tudo Nanda e me desculpe por alguma coisa. - fala Mario com sinceridade.

Fernanda sente-se encabulada e retira sua mão rapidamente, não conseguindo pronunciar palavra alguma.

Feitas as despedidas dona Edite o acompanha até o carro de seu marido, é um corsa azul modelo 2000, bem velhinho, mas bem cuidado, como Mario pode notar.

Seu Alfredo, um senhor de uns 68 anos de idade, gordinho, barrigudo e com uma boina marrom na cabeça tampando a proeminente calvície, educadamente desce do veículo e se apresenta:

– Alfredo de Castilho ao seu dispor.

Mario aperta a sua mão e se apresenta também:

– Muito prazer, Mario Calderón.

– Muito prazer! - responde seu Alfredo.

– O senhor poderia me levar a zona sul?- pergunta-lhe Mario.

– Com muito prazer! pode entrar no carro, por favor. - fala seu Alfredo gentilmente.

Antes de entrar no veículo, Mario se despede da boa senhora.

– Muito obrigado dona Edite, foi um prazer.

– O prazer foi meu. - fala dona Edite - Disponha sempre seu Mario. Quando quiser pode vir nos fazer uma visitinha, tenho certeza que os meninos vão adorar.

Dizendo isso a boa senhora acena também para o marido e entra em sua casa que fica encostada na de Nanda.

Assim que entra no veículo Mario olha mais uma vez para a pequena casa com o lindo jardim florido, Nanda e os meninos não estão mais ali, "devem ter entrado"- pensa ele, mas ao mesmo tempo sente que entrar ali e conhecer aquela família, de alguma maneira foi algo importante e marcante em sua vida.

Já dentro do táxi do seu Alfredo, Mario vai indicando o caminho de sua residência, quer chegar logo ao seu apartamento e descansar daquele dia cheio de diferentes emoções.

Não quer sair com nenhuma garota como faz todas as noites. Primeiro porque está sem carro e segundo porque não sente nenhuma vontade de fazer aquele jogo de sempre: seduzir a garota e levá-la para a cama.

Hoje o dia foi cheio de emoções! Crê que não precisa de mais emoções naquela noite para completar o seu dia. O que aconteceu neste dia já lhe basta!

Está absorto em seus pensamentos, quando seu Alfredo lhe faz uma pergunta:

– O senhor conheceu os pais da Nanda?

Mario fica admirado com aquela pergunta. Sente que seu Alfredo é um homem sério e em que pode confiar e vê que chegou enfim a oportunidade de saber mais sobre aquela jovem que tanto o intrigava.

– Não, seu Alfredo. E o senhor conheceu?

Seu Alfredo vê também uma chance de conversar, pois o caminho que terá que percorrer até a zona sul é longo e uma boa conversa é sempre bem vinda.

– Conheci sim, seu Mario. - fala o velho senhor, recordando dos antigos vizinhos - Eles eram um casal maravilhoso. Quando se mudaram para aquela casa ao lado da nossa, a Nanda era uma garotinha ainda, devia ter uns cinco anos de idade.

– O que aconteceu com eles? Soube que morreram. - questiona Mario curioso.

– Morreram sim! Ah! Coitados, morreram num acidente há uns três anos atrás. - fala o velho com pesar.

– Verdade seu Alfredo? Como foi este acidente? - indaga com interesse.

– Bem, seu Mario, Nanda e os gêmeos estavam no banco de trás do automóvel da família e os pais no da frente , eles vinham voltando de um passeio ao zoológico, senão me engano. - relata seu Alfredo.

Mario fica cada vez mais apreensivo com aquela narração, não sabe porque mas se interessava em saber de tudo sobre a vida dos gêmeos e da sua irmã.

– Quando estavam fazendo uma curva bem fechada, surgiu um caminhão em sentido oposto e bateu de frente ao carro em que eles estavam. - continua seu Alfredo.

Mario fica triste só de imaginar a terrível cena.

– E aí seu Alfredo o que aconteceu? - torna a perguntar Mario, já com o coração na mão.

– Bem seu Mario a batida foi tão forte que os pais de Nanda ficaram inconscientes, mas ela e os gêmeos, não.

Mario fica muito apreensivo e nem pisca, querendo se inteirar de tudo.

Seu Alfredo dá um longo suspiro demonstrando toda a tristeza que ainda sentia ao relembrar do trágico acontecimento, toma fôlego e continua a triste narrativa.

– Os gêmeos que na época tinham quatro aninhos começaram a chorar, gritando pelos pais. Nanda percebeu um forte cheiro de gasolina que vinha do veículo, então teve sangue frio, conseguiu abrir a porta do carro rapidamente e tirou os irmãos de lá, levando-os o mais longe possível, do outro lado da pista.

– E depois seu Alfredo, o que aconteceu?- pergunta Mario ansioso.

– Ela percebeu que a qualquer momento, com a gasolina vazando, o carro poderia explodir, então se deitou sobre os irmãozinhos, protegendo-os com o seu corpo. Foi por Deus seu Mario, pois de repente veio aquele enorme clarão e o carro explodiu com os pais de Nanda dentro.

– Que coisa terrível! - fala Mario surpreso e consternado, imaginando toda a cena.

– Mas tem uma coisa que eu não entendo seu Alfredo, como que ela sendo cega, conseguiu levar os irmãos para longe do carro?

Seu Alfredo suspira tristemente e continua sua narração:

– Não, seu Mario, nesta época a Nanda enxergava. Ela ficou cega devido a explosão. Parece que algo naquela explosão afetou o seu nervo óptico e ela não enxergou mais.

Mario fica surpreso e chocado!

– Nossa seu Alfredo que tristeza! Perder os pais e a visão ao mesmo tempo.

O velho senhor balança a cabeça concordando com o comentário dele.

– E quantos anos a Nanda tinha nesta época, seu Alfredo? - indaga Mario.

– Ela tinha 23 anos. Era uma jovem muito sonhadora, tinha um grande futuro pela frente. Muito trabalhadeira e estudiosa. Acredita que fala umas duas ou três línguas?

Mario balança a cabeça e só fica pensando em como a vida às vezes é tão imprevisível.

"Uma jovem tão linda! Com um futuro promissor pela frente, tendo que ser agora o arrimo de família. Que triste!"

– Quando soubemos do ocorrido, eu e minha velha ficamos assim como o senhor, consternados e tristes. Mas pensa que a Nanda se deu por vencida? Não senhor, ela pôs na cabeça que tinha que criar os irmãos da melhor maneira possível, arregaçou as mangas e foi tratar de levar a vida em frente, aprendeu o braile, que é a língua dos cegos, se acostumou a fazer tudo em sua casa, minha senhora até a ensinou a cozinhar. Nanda cuida os irmãos como uma verdadeira mãe. Além disso trabalha fora.

Mario fica mais surpreso ainda:

– Ela trabalha? Trabalha de quê?

– Ela trabalha numa empresa de telemarketing. Lá ela atende os telefonemas e tem um computador em braile, o que facilita o seu trabalho e segundo a minha Edite ela é uma ótima funcionária.

– E os meninos quem fica com eles quando ela está no trabalho? - pergunta Mario se preocupando com o bem estar dos garotos.

– Fica tranquilo seu Mario, a Nanda pensou em tudo. De manhã todos saem juntos, os meninos vão para a escola com a perua escolar, a perua dá uma carona a ela até o seu trabalho que fica no caminho. A tarde quando os garotos voltam da escola, a perua os deixa em minha casa e Nanda os pega quando volta do serviço, lá pelas duas horas da tarde.

– Nossa ela pensou em tudo! - fala Mario surpreso.

– Pensou sim seu Mario. Nanda é uma moça de ouro. Como poucas que a gente conhece. Pena que o seu noivo não soube valorizá-la, pois assim que soube que ela não voltaria a enxergar, a abandonou. E olha que estavam de casamento marcado e tudo.

Mario fica penalizado com o triste destino da jovem.

– Foi um choque para ela, pois se conheciam desde a época da escola. - continua seu Alfredo relatando os fatos o mais fielmente que podia - O casamento seria para aquele ano, já tinham quase tudo preparado. Foi lamentável, mas mais uma vez a Nanda soube dar a volta por cima e diz que agora para ela o que importa são só os seus irmãos, e que eles são a sua razão de viver.

Mario fica pensativo: " Agora entendo a Nanda, o seu jeito arisco e desconfiado. Sempre com um pé atrás. Tanta decepção! Coitada deve ter sofrido muito."

Seu Alfredo fala com voz embargada pela emoção:

– Veja bem seu Mario, como são as coisas. Eu e minha Edite, infelizmente,não tivemos a dádiva de ter filhos. Deus quis assim. Mas ao mesmo tempo nos presenteou com a Nanda que consideramos como uma filha e aqueles dois pirralhos que para nós são como se fossem os netos que nunca tivemos. É seu Mario, Deus escreve certo por linhas tortas.

Mario fica admirado do envolvimento de seu Alfredo e de dona Edite com aquela pequena família.

"É mesmo o seu Alfredo tem toda razão, como são as coisas nesse mundo. Eles que nunca tiveram uma família de repente se vêem com filha e netos. Incrível!"

De repente o carro para e tira Mario de seus pensamentos, olha pela janela do carro e se vê diante do seu edifício.

– Pronto, chegamos seu Mario! fala o taxista.

Mario fica surpreso. Estava tão entretido na conversa que nem viu o tempo passar e muito menos o caminho até sua residência.

– Quanto é seu Alfredo? - pergunta Mario.

– Como o senhor é amigo da Nanda e dos gêmeos vou cobrar a metade, está bem?- fala o simpático senhor.

– Nada disso seu Alfredo, o que é certo é certo. -diz Mario admirado do desprendimento do velho senhor.

– Ah! Então está bem foram... cinquenta reais.- fala seu Alfredo conferindo o taxímetro.

Mario pega algumas notas da carteira e as estende ao bondoso senhor.

– Tome esses oitenta reais e não se fala mais nisso. - diz Mario agradecido e acrescenta. - E muito obrigado pela corrida e pela conversa seu Alfredo.

Seu Alfredo pega as notas que ele lhe estende e agradece muitíssimo.

– Muito obrigado seu Mario. Quando precisar é só me ligar. - fala lhe estendendo um cartão com o seu nome, endereço e telefone.

Mario desce do veículo e acena para o taxista que segue seu caminho de volta a sua casa na zona leste.

Chegando a porta do edifício, olha o cartão que o velho senhor lhe deu e o lê: Alfredo de Castilho (taxista), endereço: Rua das Oliveiras, número 34- Jardim das Acácias - telefone 343-65778.

"Hum! Quando eu quiser saber dos garotos é só ligar. Tenho certeza que dona Edite ou seu Alfredo não vão se importar de me dar notícias de todos." - pensa Mario com a imagem que ficou gravada em sua mente a de dois garotinhos abraçados a irmã.

Cumprimenta educadamente o porteiro e pega o elevador subindo para seu apartamento.

"Hoje minha noite vai ser muito diferente da que estou acostumado. - reflete Mario enquanto o elevador o conduz até o seu andar. - Não acordarei nos braços de nenhuma bela garota, não estarei de ressaca por ter ingerido doses e doses de uísque e por fim graças a Deus não terei aquelas terríveis dores de cabeça. Pelo menos isso!"- continua sua reflexão sorrindo consigo mesmo.

Assim que abre a porta entra, fecha-a, tira o paletó, afrouxa a gravata e senta-se no sofá sentindo-se esgotado.

Naquele momento todo o seu dia passa por sua mente como se fosse um filme. A discussão com Armando Mendoza, o soco, o pneu furado, os gêmeos brigando na pracinha, a jovem cega, o amor dela pelos irmãozinhos, a conversa com o seu Alfredo e a descoberta do passado de Nanda, tão trágico e triste.

Mas o que fica em sua cabeça, como se fosse um belo quadro que a gente fica admirando por horas, é aquela imagem tão linda: Fernanda abraçando com imenso amor e carinho os pequenos irmãos.

Mario esboça um sorriso, não sabe por que, mas deseja saber mais sobre esta pequena família.


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Notas finais do capítulo

Aguardem os próximos capítulos.