Pov. Josh

Depois de ser agarrado pela Kath (não que eu não tenha gostado.) eu fui pra minha casa, ah mas que malas pesadas. Cheguei na porta e tinha um bilhete preso, eu o peguei e li:

"Josh, meu querido, sei que volta hoje e eu e seu pai não aguentávamos mais de saudades. Mas infelizmente tivemos que sair, a sua tia está ainda pior, tememos ter que ir para a Austrália, mas estamos fazendo o possivel. Amamos você. Voltamos o mais rápido possível.
Um beijo, mamãe.
P.s: Tem torta no micro-ondas, é a sua favorita!"

Passei as mãos pelo cabelo, ah aquilo estava passando dos limites! Porque ela não pode simplesmente esquecer que existimos? Vi que o carro da mãe da Kath ainda estava lá, forcei um sorriso e entrei. Joguei as malas em qualquer lugar da sala e me joguei no sofá fitando o teto por um tempo. Olhei ao redor e a casa continuava a mesma, mal me lembrava de detalhes, tudo o que via era a decoração rústica da cabana. Suspirei e subi para o meu quarto junto com as malas. As escadas nunca me pareceram tão grandes.

A porta do meu quarto, a quanto tempo não a vejo? Ah é um mês. Entrei e deixei a porta aberta mesmo, coloquei as malas em qualquer outro lugar e peguei algumas roupas. Entrei no banheiro e, ah era bom estar de volta a minha casa. Tomei um banho bem demorado e sai, coloquei uma bermuda azul e fiquei sem camisa, só por enquanto, estava quente. Desci as escadas secando os cabelos com uma toalha, droga, preciso mesmo cortar o cabelo!

Fui até a cozinha e peguei a torta, ah caramba é torta de amora. Eu amo torta de amora! Peguei o prato e um garfo e comecei a comer. Passei um tempo vendo TV e comendo. Quando terminei coloquei tudo dentro da pia e voltei para o quarto, coloquei uma camisa xadrez que ganhei de uma prima, nunca usei. Mas para tudo tem uma primeira vez certo? Peguei as chaves da moto e fui para a garagem, ela estava igualzinha...Perfeita! Subi, coloquei o capacete e dei a partida. Era uma ótima sensação, fazia tempo que não andava na minha amada moto. Estava tudo bem até eu ver alguém acenando quase loucamente, era uma pessoa loira, pensei ser a Kath e...Não é que eu estava certo? Eu paro bem ao seu lado.

– Você é o Josh e não um bandido né? - fala e realmente ela não muda, continua sendo meio irresponsável, não que eu seja um exemplo...

– Você não deveria mesmo falar com pessoas no meio da rua. - falei tirando o capacete e alguns fios foram parar nos meus olhos. - Mas que droga!

– Eu te disse que deveria cortar o cabelo! - disse com ar de vitoriosa.

– Ah ok, mas o que queria acenando loucamente pra mim? - perguntei com um meio sorriso e ela riu.

– Quero saber como vai trazer o Toby! - falou, mas não parecia totalmente sincera. O que será que ela quer?

– Humm...De moto. - respondi simplesmente.

– Mas não tem cinto de segurança e... - ia falando quando eu a interrompi.

– Kath, serio. Confia em mim, eu sei o que estou fazendo!

– Ah ok. Seu chato! Mas err...Humm....Esquece, deixa pra lá. - forçou uma risada, e ia voltando para a casa dela, que só agora eu descobri que era ali, mas eu impedi.

– O que ia perguntar? - pedi, desta vez serio.

– O-o que? E-eu não ia perguntar nada. - ela definitivamente não sabe mentir.

– Kath...Serio, fala de uma vez.

– Ok, eu sei que NÃO sei mentir. Então promete não ficar bravo, emburrado ou chateado, muito menos preocupado e que nem vai sair fugindo de moto e me deixar plantada? - assenti sorrindo, ela sempre foi muito paranoica com essas coisas. Ela respirou fundo e continuou: - O que estava escrito naquele papel?

Quase engasguei com o ar, engoli seco, ela tinha mesmo visto. Respirou findo igual a ela e falei.

– Um bilhete dos meus pais.

– O que dizia?

– Que as coisas estão ficando um pouco...Err...Complicadas. - tentei não assusta-la demais, mas acho que não deu certo. Vi seu semblante mudar de curiosa pra chocada.

– Quer dizer, que você pode voltar mesmo?

– Isso eu ainda não sei, Kath. Mas não se preocupe, tudo vai ficar bem. - sorri e ela não mudou nem um pouco.

– Tudo bem, acho que pode ir buscar o Toby agora. - falou cabisbaixa, detestava vê-la assim, até porque, ela era totalmente o oposto disso.

– Kath, eu não saio daqui até você...- ela me beijou, não me deixando terminar minha frase bem bolada.

Se eu dissesse que não gostei seria um mentiroso, até porque eu gostei. Eu tive um pouco de dificuldade para não cair da moto na hora, mas estava tudo bem. Ela me soltou e deu um sorriso, aquele sorriso perfeito.

– Já disse, pode ir. Confio em você, se diz que vai ficar tudo bem, eu acredito!

– Obrigado. - falei vendo-a sorrir, aquilo me aliviava tanto.

– Agora vai! O Toby tá esperando! - sorri e me despedi colocando o capacete de novo, ouvi ela gritar um "Cuidado por ai! E com as oferecidas!" sorri e continuei.

O caminho era bem longo, ainda bem que tenho GPS, não que eu vá me perder, mas não quero correr o risco. Tempos depois eu avisto a frente do acampamento, que não é nada demais, só uma placa um pouco escondida com o nome: ACAMPAMENTO PARA ADOLESCENTES! Putz que nome mais ridículo. Ri sozinho.
Fui andando até a cabana, obviamente ainda lembrava do lugar afinal saímos hoje.

Andei mais um pouco e avistei a linda cabana branca. Quando cheguei na porta, felizmente não haviam trancado, eu acho que trancam, devem né?

– Toby? - chamei e tive um latido como resposta. Sorri quando o cão veio, mas ele veio rápido demais, esqueci que a pata dele já havia melhorado.

Ele pulou em cima de mim e eu quase cai pra trás.

– Opa, garoto. Calma, se me quebrar ao meio não vai pra casa. - brinquei enquanto ele saia de cima de mim. - Ok, mas vamos ver se a Kath não esqueceu nada aqui.

Ela havia levado umas coisas que achamos por acaso aqui, ele sempre ficava debaixo da escada, era o lugar favorito dele, por que agora ele vai ficar na minha casa, talvez seja até bom, sabe quando meus pais precisarem sair, não vou ficar completamente sozinho e dá um tédio...Mas enfim, chegamos lá e não tinha nada, é, ela levou mesmo tudo e...Pera, ela esqueceu uma bolinha. A peguei e voltei com o cão. Ele corria em círculos, quase tropecei umas três vezes nele. Chegamos onde estava minha moto, ela tinha uma coisa que eu nunca descobri, porque nunca quis saber. Só sei que cabia o Toby quase perfeitamente, era meio que um porta malas só que menor, ah vai saber, não ligo! O Toby não podia estar mais alegre. E assim fomos para minha casa.

(...)

– Toby, fica quieto! Por favor né? Assim não dá! - gritei pela quinta vez para aquele animal! (Que é? Ele não é mesmo?)

– Josh, relaxa. Você tem que...CARAMBA SEU ANIMAL IRRACIONAL!!! - a Kath gritou depois do Toby espirrar agua nela.

Confuso não? Bem, depois que voltei pra casa, dei agua e comida pro Toby, a Kath me ligou uns quinze minutos depois de chegarmos e disse que estava vindo. Então ela chegou e estamos tentando dar um banho decente nesse bicho, mas ele não para quieto!

– Ah eu desisto! O que deu pra ele? Café ou energético? - falou a loira tentando secar o cabelo que estava bem molhado.

– Ué? Porque tudo sou eu o culpado? - perguntei a fitando.

– Porque tudo é sua culpa! - rebateu desistindo de tentar secar seus cabelos, que pareciam estar maiores, ou era só impressão?

– Pera? Minha?!

– É.

– Porque?

– PORQUE NÃO TENHO QUEM CULPAR POXA!!! - gritou e sentou no chão do quintal da minha casa.

– Você só culpa as pessoas por causa disso? - perguntei me sentando ao seu lado.

– É...Sabe, é divertido. Tenta com...- procurou algo pelo chão de grama verde, que era novo até pra mim. - Com...Isso aqui! - apontou para um graveto.

– Quer que eu culpe um graveto?

– Sim. - sorriu. - Despeja sua raiva nesse graveto!

– Ok. A culpa é sua graveto! É sua culpa minha tia ser paranoica! É sua culpa de ter me colocado numa família estranha que tem costumes idiotas! A culpa é sua daqueles loucos quererem me arrastar pra lá por não seguir aqueles costumes ridículos! A culpa é sua! - gritei com o coitado do graveto e por mais estranho que possa soar (e é estranho!) isso é muito bom.

– Agora mate o graveto! - falou e eu pisei fortemente nele que se quebrou em pedaços.

– Morra! Morra graveto! - falei e nós começamos a rir como loucos.

– Isso funcionou? - perguntou depois de se deitar na grama e eu a acompanhei.

– Sim, muito. - rimos. Passamos minutos em silêncio, mas era um silêncio bom, pelo menos pra mim, mas com certeza não pra ela.

– Josh.

– Hum?

– Quais são esse tais costumes idiotas, que você falou? - perguntou, senti seus olhos azuis me fitarem, mas não a encarei, quando ela olha alguém assim é impossível tentar manter o olhar.

– Ah isso? - ela assentiu, mesmo eu não vendo muito. - Bem é que, minha família é meio "tradicional" demais, e tem o costume de casar os filhos ou as filhas com pessoas desconhecidas só para...Como posso dizer...Ganhar com isso. - tentei explicar a minha família complicada e totalmente sem noção, mas não de um jeito bom.

– Que coisa horrível! - falou parecendo chocada, até entendo, se me falassem algo assim teria a mesma reação.

– Nem fale.

– Mas eles queria que VOCÊ se casasse com uma vaca qualquer? - disse irritada! Sorri, ela estava com ciúmes de novo.

– Pois é né...Mas até que a garota era...

– Se você terminar essa frase eu pego uma faca aqui mesmo e de encho de facada! - ameaçou e eu ri mais.

– Ok, eu não termino. - me sentei de novo vendo o Toby correndo atrás de uma borboleta.

– Awnnn, ele é tão fofinho. - disse ainda deitada e fazendo aquelas vozes que todo mundo faz quando fala com bebês e coisa fofas.

– Levanta ai, vamos fazer algo. - chamei e ela não moveu nenhum músculo.

– Sou preguiçosa me deixa! - reclamou e eu suspirei.

– Vamos logo, loira! - segurei sua mão e a puxei ela nem fez o favor de se apoiar em pé e caiu de volta nos meus braços. - Kath!

– Isso é tão divertido. - falou rindo e eu acabei rindo também.

– Tá já se divertiu? Vamos. Deve estar passando algum filme legal e acho que ainda tem torta de amora no...

– OBA! TORTA!! - saiu correndo para dentro.

– Consegui.

Entrei e vi a cara dela de total desapontamento.

– Ué? Cadê a torta? - perguntou olhando ao redor.

– Hahaha. - rir foi a única coisa que consegui fazer.

– Seu infeliz! Cadê a minha torta! Ah não me enganou né? Se me enganou sobre comida te mato com uma colher! - falou ameaçadora e eu não parei de rir enquanto ia para a cozinha e tirava a torta da geladeira. Vi seus olhos brilharem.

– Aqui, sua esfomeada!

– Awnnn já disse que te amo de montão! - falou sentando na mesa e pegando um pedaço bem grande.

– Humm...Não.

– Ok, TE AMO DE MONTÃO!! - gritou colocando um pedaço na boca. Por um instante pensei que a torta fosse maior que a boca dela, mas ela conseguiu.

– É, eu sei. - me gabei e ela riu.

– Exibido.

Continuamos assim, comendo torta e estava passando um filme qualquer na TV, mas nem prestávamos atenção, ela estava deitada de lado e eu sentado, sua cabeça estava no meu colo e o Toby deitado sendo usado como travesseiro para as pernas da Kath.

– Coitado do Toby, Kath. - falei rindo e acariciando seus leves cachos.

– Ele gosta! Não reclamou. - explicou como se fosse a coisa mais simples do mundo.

– Ele não falou nada porque está dormindo! - rebati.

– Josh...Você realmente é um estraga prazeres. - eu ri até que o celular dela tocou. - Vou atender peraí. - se levantou do sofá e saiu andando.

Ela sempre fazia isso quando está no telefone, quero dizer, anda pela casa ou qualquer lugar.

– Oi mãe...Ah mais agora?...Mas nem...Caramba tá mesmo! Ah tudo bem...Cadê a confiança hein? Sou sua filha favorita!...Ah sei que sou a única....Uhum...Tá aqui sim....Não, não vai fazer isso...Preciso desligar estou indo....Também te amo...Aham...Beleza...Tchau mãe!

Desligou o celular e voltou para a sala, eu estava vendo um jogo, quando o cara ia marcar algum tipo de ponto a Kath entra na frente e eu não vi!

– Ah cara! Eu nem vi! - reclamei e ela não saiu.

– Anda Josh, minha mãe quer que eu volte.

– Uhum... - falei ainda tentando ver pelo menos o replay.

– JOSH CARAMBA!! - gritou e eu pulei de susto.

– O que foi? - meu coração estava disparado.

– Me leva de volta! De moto, tô com preguiça de andar. Vamos. - me puxou até a porta.

– Espera eu só queria ver se...

– ANDA HOMEM!! - gritou rindo.

Peguei as chaves e sai, entramos na garagem e eu a ajudei a subi, ela colocou um capacete e eu o outro. Dirigi até a casa dela, e ela segurava forte em mim, ela com certeza tinha medo de cair. Clássico. Quando chegamos lá eu desci e a ajudei, a mãe dela brotou do chão e com um sorriso sinistro no rosto, admito foi meio assustador.

– Valeu Josh, mas poderia ter ido mais devagar não? - perguntou e eu ri.

– Eu fui bem devagar e vai ter que se acostumar, Kath! - ela fez bico.

– Obrigada por traze-la aqui, Josh. - agradeceu a mãe dela, Karina eu acho.

– Sem problemas, Sra. Sween. - sorri.

– Sem essa de senhora, me chame de Karina. - yeah acertei!

– Tudo bem, Karina. - sorri e olhei para a Kath que dava uma olhada pela rua inteira.

– Mãe o que é aquilo bem naquelas arvores. - falou a loira apontando para umas arvores bem grandes na rua.

– Onde? - ela perguntou virando-se, admito que também dei uma olhadinha, mas a Kath me surpreendeu com um selinho e ficou um pouco vermelha, mas foi tão rápido que mal deu pra ver.

– Então, err...Eu vou indo. Tchau e boa noite! - me despedi colocando o capacete.

– Oh boa noite pra você também, querido. - falou a Sra..Quer dizer, Karina sorrindo, só agora percebi que o sorriso dela é exatamente igual o da Kath. Também, são mãe e filha né?

– Tchau...Toma cuidado com as vacas por aí!– sibilou sem som e eu ri, dando a partida.

Acelerei me distanciando da casa, deixando a Kath e a mãe dela lá. Acho que fui sorrindo o caminho todo. Cheguei em casa bem rápido, até que não era longe. O Toby continuava dormindo no sofá. Eu deitei lá ao lado do labrador e acabei pegando no sono também.

E lá se foi mais um dia...