Sayo

Mais um dia, e acordei com estando Aoni com a cabeça apoiada na cama e olhando pra mim. Puxa, ele fica tão fofinho quando faz essa cara.

– Bom dia, Sayo-chan!

– Bom, dia.

Me levantei e Aoni saiu do meu quarto. Após me arrumar, ele estava na sala, sentado no chão, mexendo com uma bolinha de papel.

– O que você quer comer hoje?

– Hum... Não sei... Ovos?

– Boa ideia.

Preparei uns ovos mexidos pra gente e coloquei um suco nuns copos para bebermos. Aoni comeu tudo no seu mesmo jeitinho animado.

Sinto um pouco de pena em deixá-lo sozinho aqui em casa. Ele não se queixa, mas acho que Aoni sente vontade de sair. Bom... Posso arrumar um jeito...

– Aoni.

– Hum?

– Você quer sair comigo hoje?

– An? Mas você não tem aula hoje?

– Tenho. Você pode virar um gato, te levo na minha mochila junto com suas roupas e depois das aulas a gente passeia pela cidade. Posso até aproveitar e comprar umas roupas novas pra você. Você está a dias usando essa roupa do meu irmão, hi hi.

– Ideia inteligente, Sayo-chan! Sim, Sim! Eu quero sim!

– Tá certo, então espere eu pegá-la.

Peguei a mochila que normalmente uso para colocar meu notebook. Tem vez que a levo pra universidade, então ninguém achará estranho eu levá-la.

Voltei pra sala e Aoni já estava na forma de gato me esperando. Ele realmente está muito animado. Peguei as roupas dele, as dobrei e coloquei em uma das divisórias da mochila e abri outra pro Aoni entrar.

Ele é um pouquinho pesado, mas não tanto. Sai do meu apartamento e fui direto à parada de ônibus.

Hideki

Acordei um pouco exausto. Ontem tentei tirar foto daquele gato preto, mas ele não deixou. Ele não ficava quieto! E pra variar ele me arranhou todo, minha mão tá toda ferida. Nunca achei que existiria um gato tão arisco como esse...

Coloquei umas ataduras para esconder os arranhões e quando eu estava perto de sair vi que aquele gato estava deitado no meu sofá. Será que aproveito e tiro uma foto dele? Peguei o meu celular e me aproximei lentamente do animal. Ele mexeu uma das orelhas. Não, cara! Não vai dar! Esse gato tá muito estressado!

Achei melhor deixá-lo quieto. Vou ter de dá-lo um tempo pra se acostumar comigo. Dependendo do tempo que esteve na rua, ele deve está muito desconfiado dos humanos.

Fui embora e corri para não perder o ônibus. Com sorte, Sayo estaria lá.

Eu estava certo. Ela tava sentada no fundo do ônibus usando um casaco marrom em tom de chocolate, uma blusa vermelha e calça jeans azul claro. Estava distraída olhando a paisagem passando e ao lado dela tinha uma mochila. Acho que a vi com essa mochila só uma vez...

Eu olhava pra Sayo um pouco receoso de ela perceber, mas ela nem notou a minha presença. O ônibus chegou na universidade então ela se levantou e saiu, uns dois segundos depois eu fui também.

Sayo

As aulas foram tranquilas, me foquei bem nos conteúdos e até que Aoni ficou quietinho dentro da mochila. Não me seria estranho se ele estivesse dormindo, hi hi.

No intervalo, andei até um canto que não tivesse muita gente a abri a mochila.

– Acorde, Aoni.

Ele olhou pra mim com aqueles profundos olhos azuis.

– Pode sair um pouco, deve estar cansado de ficar aí dentro, não é?

Aoni saiu e depois se deitou de barriga pra cima e inclinado a cabecinha. Nossa! Mas que fofinho! Cocei a barriga dele e ele ficou roncando. Mesmo ele não podendo falar em forma de gato, sei que ele está feliz com esse carinho.

Hideki

Um gato? Por que ela estava carregando um gato na mochila? Ele tem coleira e tudo, então deve ser o gato dela. Droga, "gato" pode ser um problema. Por que dibos eu tinha que ser alérgico a gatos?! Bom, com exceção daquele preto, que, aliás, não entendo por que não sou alérgico a ele.

Mas isso me deixa chateado... Isso traz mais um motivo pra eu não poder ficar com ela? Mesmo nunca termos trocado decentemente alguma palavra eu queria tanto ficar perto dela. Estou... Apaixonado, talvez...

Após o toque pra próxima aula e depois das seguintes, um dos colegas da minha turma, Kyoichi, falou comigo.

– Ei, Hideki! Você fez anotações das aulas da semana passada?

– Sim, mas o meu caderno está em casa. Tive que pegar folha emprestado hoje.

– Que cabeça de vento, em, ha ha ha. Posso ir contigo pra pegar na sua casa? Eu juro que até a noite eu te devolvo.

– Tudo bem, você mora só dois quarteirões de distancia da minha casa mesmo.

Entramos juntos no ônibus. Que droga, não vou poder ver Sayo ir pra casa hoje... Na verdade, estranho, ela não pegou esse ônibus será que ela tem algo a mais pra resolver? Em fim, por hoje não a verei de novo.

Cheguei em casa, entrei, peguei o meu caderno em cima da minha mesa de centro e o entreguei ao Kyoichi.

– Tá aqui.

– Valeu, cara, até mais.

– Até.

Ele foi embora, eu fechei a porta. Olhei em volta, cadê aquele gato?

– Cadê você?

Olhei em baixo dos móveis, dentro de tudo que é armário e gaveta e não o encontrei. Não é possível! Ele tem que estar aqui em casa! Mas não. Olhei e vi que uma das janelas da minha sala estava aberta. Não acredito! Quando deixei isso aberto?! Droga! Aquele bicho deve ter fugido!

Peguei minhas chaves, saí de casa e fui tentar procurar ele. Não é possível! Aquele gato não pode ter ido longe!

Sayo

Num beco, deixei a mochila aberta para Aoni se transformar e se vestir. Fiquei de costas pra não olhar, é claro, daí aproveitando disso, ele me abraçou por trás. Como ele é maior que eu seus braços praticamente me cobriram. Aoni é muito carinhoso, mas ele fazer isso comigo me deixa sem graça.

– Bom, - eu disse - em primeiro lugar eu acho melhor começar com alguma coisa pra você calçar. Vem! Eu conheço uma loja boa!

Após comprar uns tênis pra, ele, fomos a outras lojas. Não foi exatamente uma ida para comprar roupas pra ele, acabamos nos divertindo. Acho que nunca ri tanto com alguém antes. Aoni é especial pra mim. Apesar de na forma quase humana ele parecer ter lá pra uns 20 anos, ele é um pouco infantil, mas fofo e é nisso que eu gosto dele.

Numa loja de chapéus, estávamos nos divertindo experimentando vários esquisitos e coloridos, até que de repente Aoni colocou um na minha cabeça.

– Tá bonitinha, ha ha!

Olhei pro espelho. A touca que ele colocou em mim era branca e com orelhas de gatinho.

– Ficou fofo, pena que não vou poder sair por aí com isso, hu hu.

– Por que não?

Ele olhou pra mim com aquele olhar inocente. Puxa, eu não quero falar isso de maneira que ele interprete mal...

– Eu...

– Você tem vergonha de ficar diferente?

– Sim... - Respondi corando.

– Não tenha. Ninguém é igual e não é preciso ser pras pessoas gostarem de você. Eu sou um gato de duas caudas e não ligo para o que os outros pensam.

Ele não liga? Mas eu sou tímida, tenho medo de como as pessoas podem me tratar.

– Sayo... - ele disse colocando as mãos em meus ombros. - Se você gosta de algo diferente não precisa ter vergonha disso.

Eu estava de cabeça baixa. Sei que ele está tentando me animar, mas isso está me deixando mais envergonhada ainda.

– Olhe pra mim.

Levantei o rosto e olhei. Ele me encarou com aqueles olhos de safira, se aproximou do meu rosto, corei, o meu coração parou, ele pôs-se junto do meu ouvido e disse:

– Eu gosto de você do jeito que você é. - ele se afastou - Mas não gosto de ver você mesma se fazendo infeliz! Ou você se diverte ou vou ser obrigado a te fazer passar vergonha!

Oquê?! Tá dando uma de ousado pra cima de mim, seu engraçadinho?! Ele riu com a cara que eu fiz. Não acredito nisso.

Me virei de volta pro espelho então disse:

– Quer saber, até que isso ficou mesmo bonitinho em mim. A gente tá combinando, hehe.

Ele riu.

Até que no final foi divertido e ele estava certo. Não preciso me diminuir pra sociedade me aceitar, não é mesmo? Bom, fomos até perto do meu apartamento e coloquei o Aoni em forma de gato no minha mochila. As compras e as roupas levei na mão mesmo.

Chegando no meu andar, achei estranho, Ao me aproximar da porta dava pra ouvir o som de algum coisa.

– O que está acontecendo aí?

Abri a porta e adivinha quem estava lá largadão no sofá? Sim!

– Shussan?!

Meu irmão!