Saint Seiya - Lilium Desire escrita por Casty Maat


Capítulo 6
5 - Sob a chuva


Notas iniciais do capítulo

Sempre considerei a chuva algo triste. Nunca gostei dela.
Só fui implorar por chuva quando deu essa seca, mas em si, eu não gosto dela.
Talvez seja por isso que eu imagino esse capítulo sempre regado de chuva.



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5 - Sob a chuva

Como demorara a conquistar aquele coração de tempestade!

Foram inúmeras lutas sob a desculpa de "você viu meu rosto" o cavaleiro de Lírio enfrentou. Lutas que acabavam sempre com ela se atrapalhando ou ela desistindo por algum motivo. Mia era uma amazona poderosa, violenta, mas tinha um lado gentil e doce, como quando ela o feriu e cuidou dele (uma das inúmeras discussões numa missão, ela não podia se dar ao luxo de perder o colega de armas).

Mia se rendera a ficar nos braços de Theodore, se entregara ao beijo que ele tanto desejara dar.

Era o primeiro beijo dele, estava ao mesmo tempo tão poderosamente confiante quanto timido e inseguro. Um beijo roubado.

Ela tencionou por a máscara, mas ele segurou seu pulso.

–Está tudo bem. Você é minha agora.

A voz saiu tremida com a timidez, mas firme o suficiente para passar o que sentia no coração.

–Eu sei que você a odeia. Não precisa mais usá-la.

–Mas eu...

–Você escolheu me amar, não é? Não há necessidade em impedir que outros vejam sua beleza, por que ela é minha.

Theodore a tocou novamente, fazendo-a encarar nos olhos.

–Eu te amo, Mia.

Ela não resistiu a outro beijo, apoiando as mãos cobertas pelas faixas na proteção de couro que Theo usava quando treinava. Dessa vez ele parecia mais seguro do que fazia.

–Eu também te amo... - sussurrou a amazona de Vela quando o beijo terminou.

Eros e Parcas malditas.

O primeiro fizera os dois se apaixonarem, fazerem promessas.

As segundas destruiram todas elas.

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Theodore acordou com o barulho do relampago. De um salto, sentou-se na cama. Sonhava de novo com as era mitológicas, nos dias de véspera a última grande batalha.

"Iremos viver juntos. Pediremos permissão da deusa para aposentarmos e viver juntos" ecoava na cabeça. O desejo que jamais se cumpriu.

Sentia o contraste do corpo quente e suando com o frio do inverno, mas bem que podiam ser as gotas de chuva.

A cidade em que viviam parecia imaculada da neve, as camadas eram tão rasas que a parte mais grossa da mesma era a agua da chuva que congelava ao cair. Não era o mesmo gosto e textura, efeitos dos tempos modernos.

Agradecia por estar com a porta trancada, ele pode esconder o rosto com a mão direita e deixar as lágrimas rolarem, como há séculos não rolavam, apenas se conteve em não gemer alto com sua própria dor a castigar o peito.

–Ah, minha doce e amada Vela... Não precisa se preocupar, você não precisa mais lutar... A nossa promessa, eu irei cumprir, eu irei te salvar...

Ele olhou para janela, os fios de água desenhando-se no vidro, indo se acumular na soleira. A batalha final contra Hades daquela época foi debaixo de chuva.

Ela morreu debaixo de chuva.

E ele chorou debaixo de chuva.

====xxxx====

A batalha feroz, explosões de cosmo e muito entulho. Parecia o fim do mundo. Um cavaleiro de ouro travava uma dificil luta contra Pandora, que traíra aos humanos e decidiu servir ao senhor dos mortos.

Theodore estava num grupo de combate distante de Mia, mas perto o suficiente para vigiar o irmão caçula dela, Pyro. O garoto inflamava vários espectros, destruindo seus corpos e impedindo sua ressurreição.

Lírio não se permitia distrair, e golpeava sem piedade aos inimigos. Mas pode ver um cavaleiro de bronze e dois de ouro a proteger Atena, que rumava para o encontro de Hades.

Pyro surgiu para queimar os corpos do grupo em que Theodore estava o que permitiu poucos segundos de descanso.

–Ei, você está bem? - indagou Theodore, ao notar o quanto o cavaleiro de bronze estava fadigado. Como um dos poucos cavaleiros de chamas, ele estava sendo usado ao limite para exterminar os cadáveres.

–Só cansado. Nunca invoquei tanta chama assim... Onde está Mia?

–Não sei, eu me separei dela no meio do caos.

Lírio suspirou e franziu o cenho.

–Isso tem que acabar logo, para eu e Mia vivermos em paz.

–Tem razão.... Maldito Hades! - rosnou Pyro.

A conversa foi interrompida ao verem um corpo voar, era a amazona de Águia, já morta.

Pyro lembrou-se de que ela estava por perto da irmã horas atrás, quando a batalha final começou. Theodore entrou em choque ao se lembrar disso também.

Os dois sentiram o cosmo de Vela ao elevar-se de forma potente e amante e irmão correram para lá. A cena era chocante, deplorável.

Mia sequer tinha mais sua armadura, seu corpo estava todo ferido, empapado em sangue e mesmo naquele estado, a amazona de Vela fazia frente a um terrível homem de cabelos prateados e olhos igualmente assim.

–Humanazinha idiota... huhuhu... Acha mesmo que pode me derrotar?

–Não tenho medo de você, jamais terei medo de seres malignos!

O homem a chutou, fazendo-a rolar. Ela mal conseguia se manter de pé.

–Você sabe quem sou, ratinha? Justamente aquele que todos vocês humanos temem... A morte... Eu sou o deus Tânatos!

Mia cuspiu no rosto da divindade, que se irritou e a socou, abrindo uma fenda no chão.

–Como ousa, sua maldita?

Pyro estava em choque e não conseguia se mover, quanto a Theodore, esperava que Mia elevasse o cosmo e fizesse frente.

Ele esperava a brecha certa para lutar com a amada.

Tânatos retirou-a do enorme buraco puxando pela longa cabeleira roxa. Todo o corpo móido, uma dor enorme a corroer seu pequenino corpo, apenas um olho conseguia se abrir razoavel e encarar a Morte.

–Eu... não tenho medo de você...

–Mas devia... vermezinha...

As mãos do gêmeo da morte atravessou o corpo e fez os dedos se prenderem nas entranhas. Aquele cuspe não sairia barato, ele a faria sofrer para morrer. Ele enrolou os dedos no intestino, como se brincasse com um novelo de lã.

–Implore por sua vida, rata!

Mia olhou para direção onde sentia o cosmo do irmão e de seu amor, como uma silenciosa despedida e encarou o deus da morte.

–Viva Atena... Viva a... humanidade...!

Em fúria, Tânatos arrancou as víceras, rasgando o corpo da amazona, fazendo-a cair sem delicadeza ao chão.

Theodore não conseguia mais reagir a razão. Ele entrou num estado de fúria poderosa, explodindo o seu cosmo, enquanto Pyro estava letárgico. Lírio avançou contra Tânatos, que foi quase pego de surpresa.

–Um cachorro em fúria? Que piada... - riu Tânatos, que o lançou longe com o cosmo.

Theodore conseguiu pousar, inflando ainda mais o seu cosmo, iluminando o local.

–Matei a sua cadela, foi? Humano nojento.

Novamente o cavaleiro de prata partiu para um ataque em fúria, ao mesmo tempo que outro cosmo explodia tal qual o dele. Dois cosmos em sincronia, Pégaso lutando como o cão de guarda fiel de Atena; Lírio lutando por sua própria deusa pessoal que caiu em batalha.

Cosmo furiosos, sentimentos, lágrimas e amor como combustíveis.

Tânatos conteve o soco poderoso de Lírio, a principio sem qualquer surpresa. Mas sua expressão arrogante mudou ao sentir o cosmo daquele homem lhe fazer pressão. Ouviu o barulho das manoplas de sua vestimenta ao racharem.

–Impossível... o cosmo dele só está aumentando!

O cosmo de Theodore e Pégaso explodiram juntos, de uma forma que aqueles que já nasceram divinos ficaram de queixo caído.

–Não... Esse cachorro... Ele...

Atingiu... o nono sentido...

–AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!

Theodore empurrava Tânatos, fazendo as rachaduras caminharem dos punhos ao resto da vestimenta negra do deus da morte. O ikhor dele escorria, ao mesmo tempo que o de Hades conhecera o sabor do vento.

Tânatos voou longe, derrotado, esmigalhado. Quanto a Hades, ao ver-se ferido de corpo e orgulho, amaldiçoou Atena e Pégaso e pos-se a fugir, tendo apenas a companhia de Hypnos, que sabiamente tentou se por a distancia e estudar os humanos.

A Guerra Santa terminara.

Theodore permaneceu na mesma posição que derrotara Tânatos. O latente novo cosmo emanava do corpo, diminuindo junto com a adrenalina, o ódio. Pyro assistiu a tudo confuso, perdido. Ele se levantou e foi até o corpo de Mia e tocou seu rosto.

–Adelfi...

Ele começou a chorar. No silêncio do pós-guerra, o choro alto e cheio de dor do pequeno cavaleiro de Carina era o único som.

–ADELFI...!!!!

Tudo isso sob uma chuva vistosa e o céu noturno. Theodore então se moveu, deixando as madeixas chocolate cairem sobre o rosto, empapadas pela água da chuva, ele foi até onde Mia jazia e se agachou.

–Mia...

Sua voz era trêmula e suas lágrimas se misturavam a água da chuva.

–Aquele homem disse que eu atingi o nono sentido...

Ele a tomou nos braços como pôde e começou a queimar seu cosmo.

–Se atingi o nono sentido, então eu sou um deus, não sou? Então posso te trazer de volta...

Ele ficou tentando transmitir seu cosmo para o corpo destroçado da amazona de Vela. Passou vários minutos assim, chorando e tentando ressucitar sua amada.

–Vamos, Mia, vamos! Acorde! A gente... a gente prometeu ficar juntos....! PROMETEMOS FICAR JUNTOS, MEU AMOR!

Pyro assistia aquilo em prantos.

–Adelfi Mia morreu... - disse o garotinho sem conseguir por força na voz. - Ela se foi...

–ELA NÃO SE FOI, EU VOU TRAZER ELA!

Theodore estava visivelmente transtornado, sem controle. Pyro voou longe e foi amparado por Pégaso, cuja a armadura mudara de forma e por Atena. O cosmo de Theodore estava perdido, raivoso.

–Nem todos os deuses tem tal poder, Theodore... - Atena falou, se aproximando da triste cena. - Eu mesma não consigo.

O cavaleiro de Lírio ergueu sua cabeça, o rosto em prantos, um menininho perdido.

–Atena...

Os sobreviventes estavam ali, ao redor, velando aquele momento, muitos em lágrimas até.

–Ela certamente te amou muito, Theodore. Pude sentir o amor de vocês em meu templo.

–Ela me deixou... Ela me deixou... - ele murmurava, como um maluco. Ele deitou aquela parte do corpo de Mia no chão e então atacou Atena. - ELA ME DEIXOU POR SUA CULPA EM NOS USAR!

Pégaso foi quem parou o soco de Theodore, os dois se encarando.

–Acalme-se, cavaleiro de Lírio!

–Cala a sua boca! Seu vermezinho de bronze! - rebateu o cavaleiro de Lírio.

Atena elevou seu cosmo e tocou no ombro de Theodore, o cosmo pacífico e generoso da deusa.

–Está tudo bem... Você está em negação... Sei que não quis de fato me atacar. - a deusa estava com os olhos marejados. - Eu realmente não queria ver tanta dor e tanta morte... Me desculpe... Por favor, me desculpe, Theodore de Lírio.

O rapaz se desvencilhou e se afastou do pequeno grupo, encarando Atena.

–Eu não posso trazê-la de volta... Então vou impedir na próxima... - murmurou baixinho, quase consigo mesmo. - Eu não vou deixar mais... ela morrer...

–Theo...

–Não importa como... me tornei um deus e vou usar isso ao meu favor... - ele encarou Atena com frieza e apontou o dedo para a deusa. - Eu não sou mais seu cavaleiro, Atena. EU JÁ NÃO SOU SUA PROPRIEDADE!

E com os punhos cerrados, ele saiu. Quando algum cavaleiro tentava impedir, ele usava seu cosmo agressivo para impedir a aproximação.

Os meses que se seguiram após isso foram terríveis. Entrando na surdina no Santuário para visitar o túmulo de sua amada.

Foi numa dessas noite que ele se deparou com seu futuro cunhado. Já havia se passado anos e agora o garoto já era um homem feito.

Theodore estava todo coberto por uma capa, mas foi facilmente reconhecido por Pyro.

–Adelfós... Meu irmão Theodore... Era você então que deixava as flores para minha adelfi?

O cavaleiro de Lírio não respondeu, passou por Pyro e depositou um pequeno ramalhete.

–Não me importo com você, pirralho.

–Minha irmã te amava. Me importar com você, sua ovelha desgarrada, é me recordar dela. - retrucou o cavaleiro de Carina.

–Podia ter morrido com ela. Assim não ouviria você tagarelar idiotices. Ou melhor, morrido no lugar dela e me deixar ser feliz.

–Você realmente acha que sou feliz, seu inútil? Meus sorrisos não passam de máscaras, as mesmas malditas máscaras que mulheres como minha irmã se obrigam a usar. Agora entendo porque ela as odiava.

–Eu irei morrer em breve.

Theodore disse de surpresa. Aquela altura, ele já havia dominado tudo o que achou necessário de sua nova condição. Pyro parou de brigar e ficou encarando-o.

–Eu já estudei os movimentos das estrelas e sei quando tudo irá recomeçar. Mas estou cansado e não pretendo continuar com este corpo. Prefiro renascer, como sua irmã e como você.

Theodore tirou a capa, revelando ainda estar de armadura. A fez desprender do corpo e devolver a forma da figura.

–Devolva à Atena. Adeus.

–Espere!

Theodore parou, mas não olhou para trás.

–Você foi a única família que me sobrou. O amante de minha irmã, a quem iria ser o marido... Simplesmente vai abandonar a mim?

–Você não tem nada dela para eu me importar com você.

E Theodore desapareceu na névoa, deixando Pyro sem qualquer ação. Eles nunca mais se viram até serem outras pessoas, com outros nomes e outra aparência.


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