Versus Infernum escrita por Amanda Bricio, Leticia Parsons Jackson, Natan Medeiros, Snowflake Angel, MakeItEasy


Capítulo 7
Um cenário pós guerra


Notas iniciais do capítulo

Desculpe mais uma vez o atraso pessoal. Realmente está complicado postar sem internet em casa e com tantos trabalhos. Aproveitem o novo capítulo. É simples, mas espero que agrade



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Caronte tomou lugar em sua gôndola, preparando-se para conduzi-la até o campo da última batalha entre anjos e demônios. Lilith pôde ver um portal bem característico se formando no caminho. A entrada parecia um espelho simples com bordas escuras e finas e, refletido nele, podia-se contemplar várias das almas condenadas ao inferno. Elas se moviam lentamente, com expressões de agonia e sofrimento. A gôndola passou por entre as almas, tremulando a superfície do espelho como se fosse água.

Os demônios navegaram por entre a névoa daqueles que um dia já foram vivos. O som do desespero preenchia o caminho através dos gritos e gemidos abafados dos condenados. Caronte permanecia impassível e resolveu conversar com sua velha amiga enquanto seguia balançando levemente o remo.

— Então Lilith, o que você realmente está tramando?

 — Na realidade, eu não estava com nada em mente, mas então encontrei o filho mestiço de Azazel. Tive uma boa briga com aquele insolente e com um anjo rebelde bem intrigante que apareceu. Estou agora à procura de algo que pode me ajudar bastante e que, por infortúnio, não posso sair contando pelos sete cantos do inferno. Sabe como é: não posso confiar em nenhum deles e verei se acabo logo com essa bagunça. — respondeu ela de bom humor, gostava de falar com Caronte. Ele não demonstrava muitas emoções, mas era um demônio agradável.

 — O príncipe mestiço? Ele não tinha abandonado a batalha quando mais precisamos? Porque você não o matou? — Caronte olhava para Lilith com uma expressão sutilmente diferente.

Ela teve que parar para pensar um pouco, tentou se lembrar do porque exatamente não o matou no momento em que o encontrara sozinho. Então respondeu:

— Eu quis no momento em que o reconheci, brinquei um pouco com a cabeça dele e logo comecei uma briga. Só que ele me surpreendeu com uma proposta difícil de recusar e me explicou o que houve. — Ela franziu a testa e, por um momento, teve ódio. — Ainda tenho raiva dele, como um guerreiro, devia ter ficado até o último momento. Mas resolvi dar uma chance ao garoto, a guerra já estava perdida e ele teve um bom motivo para ir.

— Bom, chegamos. — Caronte continuava sem entender o motivo, mas resolveu não se importar.

Através do espelho, era possível ver o cenário se aproximando. A areia negra era movida pelo vento forte que rasgava o ar e vários objetos, abandonados durante a batalha, estavam espalhados e arranhados. Havia todo tipo de armas, flechas e armaduras, a maioria já inutilizada pelo tempo. Caronte guiou a gôndola para fora do portal, fechando-o e ancorando o pequeno barco sobre terra. Naquele momento, a região parecia simples e isolada, o barulho do vento era tudo o que se ouvia. No entanto, tanto o barqueiro quanto a guardiã se lembravam do caos e do cheiro de sangue e morte que já havia infestado aquele lugar. Caronte pôs os pés no campo sem vida e caminhou até onde havia uma carruagem caída.

— Alí está a carruagem, como eu falei. Você terá que invocar alguns cavalos.

— Sem problema. Porém você me garante que os anjos não poderão detectá-la, certo? — A seriedade de Lilith demonstrava sua preocupação com aquele ponto.

— De maneira alguma. Esse tipo de carruagem foi construída um pouco antes da guerra. Foi criada justamente para que os reis infernais pudessem caminhar pela Terra sem a observação inconveniente do Céu — ele assegurou ao averiguar melhor o produto — Pra finalizar, deseja mais alguma coisa? Lembrando que vai ficar mais caro. — Ele falou de forma simples e direta.

 — Não. meu amigo. Obrigada pela ajuda. Se tiver algum problema com os portões, sabe como me contatar. — A demônio relaxou e deu o resto do pagamento combinado ao barqueiro.

 — Então, seguirei para o porto. Até mais. velha amiga. Ah… e quando chegar, acerte a cara daquele mestiço por mim. — Falou com mais simpatia, voltando ao barco.

 — Com prazer, Caronte. Até mais. — Ela se despediu rindo.

Discretamente, a figura do barqueiro foi sumindo, como se o vento fosse levando a cor e a matéria. Então Lilith levantou a carruagem para analisá-la melhor: ela parecia comum para qualquer um que olhasse de longe, mas era muito mais resistente e leve do que qualquer carruagem humana. Ela era totalmente fechada, exceto pelas janelas laterais, e sua cor era negra como as sombras, fazendo com que facilmente passasse despercebida aos olhares curiosos durante a noite. Além disso, possui espinhos em volta da parte superior e em suas rodas e estava equipada com algumas "armadilhas" não muito visíveis, que pegariam qualquer um de surpresa. 

Lilith ainda tinha que invocar os cavalos, gostava da ideia, mas depois de levar tudo isso àqueles caras ela exigiria um bom descanso. Afinal, teria que repor as energias para um possível reencontro com anjos. Ela bufou, pegou seu bidente e fez um corte vertical rápido no ar. Quatro cavalos infernais saíram da passagem aberta, estavam aflitos para correr e brigar. Eles eram negros, grandes e fortes, mas pareciam menos tangíveis do que a carruagem, como se cercados por uma nuvem de fumaça. Suas crinas e rabos se assemelhavam a fumaça e, em alguns momentos, surgiam discretas chamas em suas bases. As patas eram cortantes, assim como os dentes e os olhos eram vermelhos fogo, como se capazes de queimar uma alma.

Eles relinchavam cheios de energia, ansiando pela liberdade de correr pelo mundo. Lilith os acariciou e os prendeu ao transporte que conseguira, depois subiu e se colocou no lugar do cocheiro. Estava pronta para voltar com a carruagem e aqueles cavalos maravilhosamente selvagens.

*****

Durante a espera, o anjo rebelde, o lobisomem e o meio-demônio conversaram de modo até civilizado demais para o que se esperava de tal grupo.

"Muriel... Mas ela é um anjo da guarda, o que será que aconteceu? E como Lilith a conhece? Perguntas e mais perguntas, vou ter que entrar de cabeça nisso." Spark pensou logo após a demônio sumir.

— Então Spark, como é deixar o céu? — Perguntou Brown meio sem assunto.

— Ah, é como qualquer outra coisa. Eu já disse, todos pensam que o céu é essa maravilha toda... Na verdade ele já não era.

— Mas por que você saiu de lá? — ele se interessou mais.

— Eu prefiro não responder isso. — disse o anjo, cortando o assunto.

— Então diga lobisomem, qual é sua história? — Laican entrou na conversa.

— Ahh… Eu… Sou apenas um homem que foi raptado quando criança por uma feiticeira e que teve que aguentar uma série de experiências desconfortantes. — respondeu o lobisomem, com o corpo revelando sua tensão pelo assunto.

— Experiências? — o mestiço ficou curioso.

— Ela apareceu quando eu tinha 5 anos.— Brown continuou — Naquele dia, ela me disse que eu podia ser especial, que motivada e mudada, eu poderia fazer coisas surpreendentes. Não demorou muito até que eu estivesse totalmente preso a ela. Depois disso, passei mais de 7 anos sujeito a todo tipo de experimentos que a mente louca dela desejasse. Comecei a desejar minha própria morte, mas isso… ela não me dava de jeito algum. Na minha última lua cheia como prisioneiro, ela me amarrou e me fez beber um líquido verde viscoso e eu senti como se meu corpo todo estivesse queimando. Não sei como, mas naquela noite eu consegui me soltar. Eu estava meio atordoado, mas consegui fugir e…— Brown já não olhava para o anjo ou o demônio. Ele tinha sentado numa pedra e o olhar estava tão desesperado que sequer percebeu tudo o que contava. —  Quando voltei para casa, só o que encontrei foram os túmulos. Ela tinha destruído a minha vila, matado todos eles. — As lembranças amargas tomaram sua mente, seguidas pela ira que foi percebida de imediato pelo príncipe infernal.

— Isso encheu meu coração de ódio. Desde então, venho treinando para quebrá-la no momento em que a encontrar novamente. Só assim, poderei ter a minha vingança. — A aura de Brown estava quase descontrolada, com uma selvageria não humana.

— Então lobo, posso te chamar assim? — O anjo queria ter interrompido antes, mas até então não tinha acha um modo  —  Porque está com a gente mesmo? Quer dizer, já sabe da história, mas não tem nada melhor pra fazer? — ele tentou aliviar a situação.

— Algo em minha intuição diz que vocês poderiam me ajudar com o meu problema — o lobisomem desfocou a atenção —  Afinal, somos pessoas bem diferentes nesse mundo, não acha?

Spark não pôde deixar de notar olhos do humano, com a íris fina como de um gato. Por um instante pensou que ele tinha perdido a consciência, enlouquecido, mas logo Brown parecia ter voltado ao normal  O tempo foi passando e Lilith ainda não aparecia. Laican estava perdido em seus pensamentos, enquanto Spark e Brown conversaram um pouco sobre coisas sem importância. Até que os om distante de fortes galopes começou a surgir, o mestiço deu um sorriso de satisfação e ficou olhando a carruagem negra chegar mais perto. Então falou aos outros dois:

— Enfim, nosso transporte.

Lilith tinha conseguido levar a carruagem para San Ricardo e conduzira os cavalos até aquela parte da floresta, agora ela poderia descansar em paz. A demônio parou quase atropelando eles e rindo um pouco, mas logo desceu do banco e acertou  um tapa bem forte na cara do mestiço, explicando-ser:

— Presente de Caronte para você.  — ela sorriu sedutora, deixando Laican estagnado com a atitude. — Vamos logo?— a demônio se virou para os outros, animada—  E nem pensem que eu vou comandar as rédeas agora.

— Sim eu estou aqui com vocês, mas vocês não confirmaram se vão me aceitar ou não. — O lobisomem falou para todos.

O príncipe olhou para Brown, avaliando-o, pensou um pouco e respondeu:

— Tudo bem, mas você tem que guiar a carruagem — Laican falou depois de pensar um pouco: “Ele é o único que não vai chamar atenção aqui” —  Vamos então, antes que uma velha conhecida de Lilith apareça. — Ele abriu a porta.

 O anjo não falou nada, apenas assentiu e seguiu para a carruagem, já Lilith não teve uma reação tão acolhedora. Ela nem sequer encarou o lobisomem e apenas disse de forma um pouco rude:

 — Saiba que não vou ficar correndo atrás de meras bruxas, porém não tenho motivo para não deixá-lo vir. Caso realmente se mostre útil, posso tirar um tempo para ajudá-lo.

Brown sentiu a rejeição de Lilith, mas tinha se decidido: iria mostrar a eles que não era apenas um humano coitado. Iria segui-los, as chances de encontrar um anjo no caminho eram grandes. Nos anjos ele poderia confiar. Sua melhor lembrança encheu o espírito dele de esperança. Aqueles cabelos negros esvoaçando, os olhar penetrante lhe trazendo paz. O que ele mais queria era vê-los de novo.


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Notas finais do capítulo

Curiosidade sobre personagem:
Caronte é um demônio filho de Mammon com uma demônio menor que ficou responsável por guardar e escoltar as almas humanas pertencentes ao inferno até as portas. Desde sempre o barqueiro teve grandes e raras habilidades referentes às almas humanas, se sobressaindo em treinos de controle e invocações dessas almas.
Por essa habilidade extrema dele foi escolhido para a função que exerce, tendo a liberdade de firmar acordos proveitosos para si com outros demônios, o que agradou seu lado ganancioso. Em compensação, ele não se dava tão bem em batalhas contra anjos e demonio, o que o tornava fraco para outros seres infernais maiores.



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