O mundo está morrendo escrita por Senhorita SM


Capítulo 10
Capítulo 10: O fim é apenas o começo


Notas iniciais do capítulo

Chegou ao fim,. Gostei do resultado. E quero agradecer as pessoas que me acompanharam nessa empreitada, bjus!



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Eu disse a Kayo que ele não precisava me dizer o que tinha acontecido, não agora. Mas ele disse que contaria. Resumidamente Herman chegou ao casebre, começou a pegar as garrafas, quando um homem surgiu detrás do casebre, vendo Herman perguntou-lhe de forma rude se ele tinha achado água já que estava pegando as garrafas, Herman não respondeu. O homem visivelmente descontrolado o ameaçou, Herman achou aquele homem perigoso, e não quis levá-lo até nós. Então não cedeu as ameaças do homem.

Assim o homem deu um tiro em seu coração o matando na mesma hora. O homem tinha uma filha que estava dentro do casebre e ao ouvir o tiro correu para fora, vendo o que o pai tinha feito começou a chorar. O homem vendo sua filha chorar voltou a si, lhe pedindo perdão. Quando Kayo e Jano chegaram e perguntaram o que tinha acontecido o homem lhes contara e pediu perdão a Kayo dizendo que estava desesperado, porque não encontrara água e não queria vê sua filha morrer de sede.

Kayo disse a mim o mesmo que dissera ao homem, que sinceramente não podia perdoa-lhe, mas que de certa forma o entendia, pois quando vemos a vida dos que amamos ameaçada nos foge o controle, até a sanidade.

O homem só lhe pedira que deixasse sua filha entrar no grupo, pois ele nada tinha e sabia que nós tínhamos água, ou seja, tudo, nas palavras dele. Kayo aceitou, pois sabia que a menina não tem nenhuma culpa do que acontecera. O pai dela fora embora, e enquanto Kayo e Jano traziam Herman, ela ficou para trazer as garrafas, era esse o motivo de Kayo estar indo para o casebre. Chegando lá estava uma garota de aproximadamente uns dezessete anos, colocando as garrafas em um saco. Ao chegarmos mais perto me apresentei a ela, que com um meio sorriso disse o seu nome, era Amanda. Senti ela um pouco retraída, acho que pelo que o pai dela fez, ela envergonha-se muito. Pois Kayo disse que não foi só o pai dela que lhe pediu perdão, mas ela também.

Os dias que se seguiram a morte de Herman não foram dos melhores. Pelo rádio da caminhonete de Jano ouvimos que vários países estavam sofrendo os desastres naturais mais cruéis e violentos de todos os tempos como, por exemplo: terremotos, maremotos, tufões, tornados, ciclones como sempre houve, só que desta vez bem pior, onde aumentando a frequência deles, consequentemente aumentam-se também os números de mortos. Dizimando o que antes eram milhares de vítimas que agora eram milhões.
A nossas fontes foram acabando junto com nossas esperanças. O rio estava a cada dia mais diminuindo. As mercadorias que Herman e Kayo pegaram já tinham acabado há muito tempo, estamos sobrevivendo a base de insetos. Estamos bebendo a água do lago, só que a purificamos primeiro, colocando uma garrafa plástica de água por seis horas ao sol, eu vi isso em um filme na escola.
Mas não passamos só momentos ruins, como falta de opções alimentares, que resultaram, em um novo cardápio, os insetos, que encontramos e fritamos numa fogueira de pedaços de graveto que foi acesa com uma caixa de fósforo encontrada na caminhonete de Jano. Às vezes me pergunto o que mais terá na caminhonete de Jano. Será que um dia de lá sairá um coelho? Pois ele carrega em uma caminhonete: álcool, copo, caixa de fósforos, e sei lá mais o quê, ou melhor, até sei. Teve um dia que fui ao ônibus buscar uma blusa, e me deparei com Alex na caminhonete mostrando um livro a Amanda. Quem é que leva um livro em uma caminhonete? Quem?
Mas voltando ao tema alimento. Depois de não termos muita, ou melhor, nenhuma opção alimentar diferente, recorremos aos insetos, que milagrosamente ainda encontramos. Mas claro que não vimos um gafanhoto e colocamos para dentro, óbvio que não. Primeiro nos negamos a comer, depois de três dias, vivos ainda, mas sem forças, resolvemos fritar gafanhotos, formigas e outras iguarias. Poderia dizer que nunca comeria insetos. Há certo tempo atrás poderia até dizer, num tempo em que eu tinha casa, comida, segurança, certezas. Hoje não me permito há ter certezas, me permito há ter dúvidas, sobre o futuro.
Apesar das dificuldades e percalços encontrados, desde que sai de casa até agora. No meio de dificuldades, perdas, novos amigos. Relações foram reconstruídas, como a minha com a minha irmã, que cresceu, deixou de ser aquela garota mimada, hoje entende que somos e trabalhamos como uma equipe, que todo mundo ajuda. Relações foram construídas como a de Alex e Amanda. Amigoss foram feitos: Jano, Alex, Dave e Amanda. A esperança continua num pequeno ser chamado Kyl. A amizade mais forte e verdadeira como a minha e a de Kayo. Mulheres fortes e guerreiras como Kame(mãe de Kayo) e Anna(minha mãe). E somos mais de que uma equipe, somos uma família com laços mais fortes do que o de sangue. Estamos aqui para provar, que por maior o caos, o sofrimento que estejámos vivendo, é possível ainda assim sentir amor, amizade, esperança, força. É possível viver.
E não há um fim feliz, simplesmente por não haver um fim. Estamos agora vivos, não sabendo quando chegará nosso fim. E no fundo só estamos esperando. É como se fosse uma fileira de dominós que quando derruba um todos caem. Pois a natureza está agindo em todo momento e lugar, e não há para onde fugir.
Ontem, destruímos aos poucos a natureza. Hoje, ela cobra com juros e correção monetária. Pois se há alguma última certeza em mim, é que toda ação tem sim uma reação.


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Notas finais do capítulo

MILHÕES DE BJUS
SENHORITA SM