So close, So far escrita por Lorena Cristina


Capítulo 3
Capítulo Terceiro




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Capítulo Terceiro

“Viver nunca foi e nunca será uma tarefa fácil. É necessário fazer escolhas em todos os instantes, é preciso aprender que coisas boas e ruins iram acontecer. Eu passei por momentos fáceis de viver, momentos difíceis de suportar, escolhi coisas que valiam apena e outras totalmente desnecessárias. Agora eu tenho um monte de lembranças sobre milhares de coisas, nossas coisas. Mas eu realmente tenho medo baby, medo de que se passe tanto tempo e essas memórias acabem desbotando, se apagando as bases de minha vida.”

Oh, havia alguma coisa de errado com suas costas, pensou Jane ainda de olhos fechados. Não, não havia algo de errado apenas com suas costas, havia algo de errado em todo o ambiente. Podia ouvir a TV ligada em algum lugar próximo de si, causando um leve incômodo à seus ouvidos, além de uma leve pressão em seus mãos e um grande peso contra seu ombro.

Lentamente sua mente foi sendo invadida pelas lembranças do dia anterior, clareando seu entendimento.

Red John havia sido prezo, ele quase tivera um colapso e havia adormiecido no sofá ao lado de Lisbon. Com certeza as coisas não sairam da forma que ele planejara.

Olhou para seu lado, vendo que a morena ainda estava dormindo, muito desconfortavelmente, mas tranquilamente. Provavelmente eles haviam pegado no sono enquanto assistiam algum filme, após a rápida conversa no sofá. Lembrou-se então de suas palavras e da reação de Lisbon. Seus lábios se curvaram em um pequeno sorriso, e se esforçou para não revirar um pouco os olhos. Aquela mulher estava um pouco apaixonada por ele, com certeza. O pensamento causou cócegas em seu coração, mas não o suficiente para chamár-lhe muita atenção.

Jane olhou para suas mãos pendidas uma ao lado da outra, muito próximas, enquanto sentia Lisbon recostada em seu lado, com a cabeça apoiada nas estremidades de seu ombro. Aquela era a sua boa e velha amiga. Sempre preocupada e tentando a todo custo protegê-lo de si mesmo. Podia lembrar-se perfeitamente do olhar que ela lhe lançara a primeira vez que o viu na CBI, aquele tipo de olhar que dizia: “De qual hospício esse louco fugiu?”. Tudo bem que no início, aquele fora o olhar que todos o direcionavam, mas o dela era mais do que apenas isso, era um olhar que também demonstrava preocupação, uma preocupação que ele não considerava digno de ter direcionado a si.

“Você é um doce.”

Sim, ela era um doce. A principio, quando começaram a trabalhar juntos, ela ficava olhando para ele sempre desconfiada, com um constante medo de que viesse a cometer algum tipo de loucura. Não que ele não fosse capaz de fazê-lo, mas no início, ele era mais contido do que nos últimos tempos. Chegava a ser tímido em suas resoluções sobre os crimes, ainda receoso em voltar a usar de suas habilidades, já que a ultima vez que o fizera para os mesmos fins, teve sua família morta. Mas com o tempo ele foi se soltando, e gradativamente, adquirindo certo brilho.

Patrick Jane tomava banho e passava loção pós-barba. Adotara um sorriso largo e sedutor como arma, além de um ar extremamente inteligente e arrogante. Ser arrogante era algo que ele precisava trabalhar em si, afinal.

Apesar de todas as burradas que ele fazia, arriscando os casos que trabalhava para pegar aqueles que acreditava serem os reais assassinos, Lisbon não o deixava de lado. A princípio pensou que ela só concordava consigo pois ela lhe parecia ser o tipo de pessoa que não sabia dizer não para os outros, e como ele vinha de um passado um pouquinho traumático, seus pedidos eram quase sempre aceitos. Após algum tempo, algumas observações dele para com ela, outras brincadeiras, avanços naquela coisa chamada relacionamento social entre amigos, ele notou que ela sabia muito bem como dizer um não quando precisava, e mais ainda, que não tinha pena dele, mas sim que o entendia o suficiente para ficar a seu lado, dando votos de confiança em suas ideias malucas.

Ele tinha uma parcela de dívida com ela, pois apesar de sua crença na dor que era obrigado a sentir para se redimir com sua família, sempre que estava com o seu time no trabalho, sempre que estava com Lisbon, podia sentir certa calma tomar conta dos arredores de seu coração. Era como se ela fosse um antiduto para o mal que corroia as beiradas de sua alma, mal esse que procurava atingir o cerne de sua vida, atingir a essência da força que ainda lhe restava.

Ela era uma boa amiga. Uma boa pessoa.

Talvez ele também fosse um pouco apaixonado por Lisbon afinal, como um dia Lorelei havia dito. Talvez essa parcela de amor ainda não definida fosse o motivo que o levou a nunca afastá-la de si, mesmo sabendo dos sentimentos que a mulher nutria por si. Mas sinceramente, ele não sabia. Seus sentimentos sobre outra mulher nunca foram seu verdadeiro foco durante sua busca por vingança já que estava ocupado de mais sentindo uma infinidade maior de sentimentos que contrariassem o amor. Tudo bem que durante os últimos dez anos, ele se envolveu com algumas mulheres, talvez não de maneira convencional, mas não deixava de ser um envolvimento.

Primeiro havia Sofia Miller, que o ajudara de maneira tão excepcional, ela com certeza fora uma pessoa com a qual aprendera a se importar. Depois houve Kristina Frye. Ele realmente se interessara por ela, de maneira leve mais o suficiente para deixá-lo confuso em toda a situação, principalmente por ter sido com ela o seu primeiro encontro real depois da morte de sua esposa; lembrava-se perfeitamente de sua luta interna dentro do banheiro encarando sua aliança. Então, algum tempo depois, veio Erica Flyn, responsável por intrigá-lo o suficiente para se deixar envolver por toda ousadia e manipulação da mulher. Por fim, veio Lorelei, esse relacionamento mais físico do que emocional, pelo o menos não emocional no âmbito romântico. Ele sabia ser estranho de mais uma mulher descobrir que ele matará um homem e lidar com essa informação de maneira tão descontraída, pagar a fiança de um desconhecido e depois ir a seu encontro para uma noite de pura diversão. Questionará ela várias vezes, muito sutil, mas nenhuma de suas respostas foram o suficiente para comprovar o incômodo em um cantinho de seu cérebro que lhe dizia que aquela mulher era um soldadinho de Red John. Ele só saberia se viesse a fazer algo a respeito, então dormiram juntos.

Jane se sentira ligado àquela mulher por diversos motivos, não que ele estivesse apaixonado por ela, mas como a própria Lisbon lhe afirmou várias vezes, ele nutriu alguns sentimentos, seja na cumplicidade de saber que ela um dia fora uma boa pessoa, que apenas não fora inteligente o suficiente para se ver livre das manipulações do serial killer; seja no sentido obsessivo de que ela era a sua única ligação viva e direta com o assassino de sua família. Ele teria feito o que fosse preciso para chegar à Red John através dela, teria feito qualquer coisa.

Sentiu Lisbon mover-se ao seu lado por fim, retirando a mão de perto da sua, desencostando-se de seu ombro. Seja lá qual forem seus sentimentos pela morena, ele ainda não os tinha como prioridade para pensar naquele momento, por mais que todas aquelas leves cócegas em seu coração estavam aumentando a intensidade lenta mais gradativa, a cada olhar que trocavam.

– Oh, acho que pegamos no sono... – Comentou com a voz um pouco sonolenta.

– Eu disse que assistindo um pouco de TV nós sentiríamos sono, são anos de prática.

– Hum... – Lisbon limitou-se a responder, sentindo-se como se ainda estivesse dormindo – Que horas são?

– Acho que umas seis...

– Hum... – A mulher resolveu se levantar, sentindo as consequências em suas costas pela noite anterior – Acho que vou voltar a dormir, na minha cama, é mais saudável...

Ela se moveu para caminhar até a escada, deixando Jane no sofá, até que, como se tivesse finalmente se dado conta de que ele estava ali, se virou para falar:

– Oh, Patrick... – Uma luz de compreensão perpassou seus olhos verdes – Você esteve acordado por muito tempo? – Perguntou ela hesitante, temendo ter feito alguma bobeira na noite passada da qual não se lembrava, afinal seu cérebro ainda não se encontrava inteiramente desperto.

– Não, eu acordei um pouco antes que você.

– Oh – Lisbon se animou que ele havia dormindo um pouco, por mais que em condições precárias – Então volte a dormir. Ainda está cedo e hoje vai ser um dia cansativo.

– Sim, querida. – Disse simplesmente o ex-consultor, sorrindo muito levemente.

– Hum... – A morena lhe lançou um olhar meio desconfiado, tendo certeza que ele não seria capaz de voltar a dormir – Então boa noite.

– Bom dia Lisbon.

Ela sorriu enquanto encaminhava-se para sua cama, sentindo seu corpo gritar à cada passo dado.

XXX

Lisbon teve razão em seu pensamento. Jane não havia dormido depois que ela subiu para o quarto. Quando se levantou duas horas depois, o encontrou em sua cozinha preparando o que pareciam panquecas e café. Não conversaram muito durante a manhã, o silêncio parecia muito mais reconfortante do que qualquer palavra bem elaborada. Além do mais, nas atuais circunstâncias em que se encontravam não era preciso mais do que uma simples troca de olhares para saberem o que estavam sentindo.

Abbott havia telefonado para Lisbon durante o café da manhã, uma ligação que durou não mais do que dois minutos, mas que fora o suficiente para suscitar em Jane um olhar completamente perdido. O agente do FBI havia informado a eles que Red John havia sido interrogado na madrugada anterior, e que ele havia estipulado uma condição para confessar seus crimes e revelar o nome de todos os que eram pertencentes a Associação Blake. Claro que acordos não estavam sendo feitos, não havia maneiras de que esse homem escapasse de uma eminente pena de morte, o máximo que ele poderia conseguir era uma sela melhor e o direito a um belo prato de comida como recompensa. De qualquer maneira, ele não parecia se importar, pois a sua única condição era falar com Patrick Jane.

– Pensei que vocês já haviam conversado naquela igreja – Comentou Lisbon, olhando atentamente para a expressão sombria nos olhos de Jane.

– Conversamos – Jane ia se limitar a responder somente aquilo, mas vendo que provavelmente a morena iria insistir, acrescentou: - Não sei o que ele quer falar comigo, mas se é esse o desejo dele...

Lisbon pareceu não gostar muito de seu tom, pois sua preocupação parecia imanar de seus poros.

– Jane, você não está pensando...

– Você se preocupa de mais mulher – Cortou ele, mais frio do que o necessário – Eu não irei fazer nada, não estou louco ao ponto de atacá-lo com todo o FBI ao meu redor.

Por um instante Jane pensou que ela iria contestar, pois sua boca se contraiu na formação de algumas palavras, mas nada veio. Ele sabia que ela não estava convencida, mas que havia se decidido por não prolongar o assunto. Nem mesmo ele estava convencido de seu autocontrole perante tal situação, mas seja lá o que fosse acontecer daqui a algumas horas naquela sala de interrogatório, ele tentaria manter o controle.

Se houvesse apenas uma oportunidade de ficar realmente sozinho com aquele filho da mãe...

XXX

– Jane, você sabe que não precisa fazer isso! – Lisbon pegou uma de suas mãos, depositando nela um aperto de confiança.

– Oh, vamos lá Lisbon, claro que eu preciso, não perderia a oportunidade de ajudar o nosso querido amigo Abbott por nada. – O loiro retribuiu muito rapidamente o aperto, soltando logo em seguidas suas mãos, para dar tapinhas camaradas no ombro do agente do FBI a sua frente.

Lisbon olhou para ele preocupada. Jane estava assombrosamente tranquilo, sorrindo quase que maniacamente, agindo como se nada de grave estivesse acontecendo, como se o dia anterior nunca houvesse existido. Mas ela ainda podia ver a sombra por de trás de seus olhos, e aquilo a estava enlouquecendo. Ela sabia que ele seria capaz de qualquer coisa para matar Red John, e tinha medo de que ele cometesse a maior burrada de sua vida realizando sua vingança dentro das instalações do próprio FBI.

– Tome cuidado.

Ele não respondeu, mas lhe sorriu de forma mais serena, sincera. Havia dor em seu sorriso, muita dor.

– Tudo pronto Sr.Jane? – Perguntou Abbott, indicando para Jane a porta que dava passagem para o local onde Red John já os esperava.

– Já nasci pronto Dennis – Jane já estava se encaminhando para abrir a porta, quando ouviu.

– Não se esqueça que haverá um guarda lá dentro, e mais alguns aqui fora, além de um monte de outros agente assistindo você... Então caso tente alguma gracinha...

Jane não respondeu, apenas sorriu, e entrou.

XXX

– Boa tarde, Patrick.

Jane não respondeu, mudando imediatamente sua expressão de descontração para uma de completa cólera.

– Parece que sua vingança não saiu como planejado... – A provocação transbordava por cada palavra proferida pelo assassino.

– Não é o que me parece – Jane nunca usara um tom de voz tão fria em sua vida. Era assustador a forma como ele estava olhando para Xerife McAllister – Pelo que estou vendo, você é preso no corredor da morte, o que me implorou para viver...

– Ah, por favor, nós dois sabemos que isso tudo não se trata apenas de minha morte, mas também da sua vingança – Ele fez uma pausa, como se esperasse por um efeito maior em suas palavras – E você continua se escondendo atrás dessa sua arrogância estúpida.

– E você continua se fazendo de pobre coitado, quando não passa de um sociopata sexualmente depravado com ilusão de grandeza.

– Foi por causa dessa sua insolência que hoje sua esposa e filha estão mortas...

– Acho que já tivemos essa conversa ontem – Jane o cortou de sua fala, visivelmente incomodado. Ele ainda estava de pé, na mesma posição de quando havia chegado, perto de um dos agentes que Abbott afirmou que estaria dentro da sala.

No íntimo de seus pensamentos, ele amaldiçoava a presença daquele homem na sala, pois se estivesse sozinho com aquele bastardo maldito...

Ficaram em silêncio, apenas se encarando. Jane pode imaginar perfeitamente a careta que Lisbon estava fazendo atrás do grande vidro na parede, enquanto Abbott apenas sorria desdenhoso.

– Acho que terminamos então... – Jane já estava se virando para sair, quando McAllister disse:

– Só isso? Não vai aproveitar a chance que estou te dando?

– Chance?

– Vai me dizer que não está vendo a chance de me matar bem aqui, dançando na sua frente...

Jane se virou, sem dizer uma palavra, olhando para o serial killer, nenhum resquício de emoção em sua face. E em apenas um segundo ele pode entender tudo.

– Como eu já disse, me surpreende muito um homem que implorava por piedade no dia anterior, estar oferecendo o pescoço assim, de bom grado.

– Oh Patty querido, gosto de pensar que somos amigos, considere isso como um favor... – A voz do assassino era suave, tranquila como uma brisa.

– Você acha mesmo que eu vou cair nessa? – Jane se moveu para perto da mesa onde Red John estava, ficando de frente para ele, apoiado em suas mãos, seus rostos muito pertos. O ex-consultor pode ver o policial atrás de si se mover, mas não intervir em seus movimentos – Você já foi mais inteligente, na verdade eu pensei que fosse... Estou decepcionado. – Então se afastou, enfiando as mãos nos bolsos da jaqueta, sorrindo provocadoramente – Você não quer mesmo me fazer um favor, você quer me ver tentar alguma coisa, você quer me ver fracassar, pois sabe que estamos cercados pelo FBI, tanto eu quanto você sabemos que eles não me dariam tempo para nada muito concreto, você quer me ver arruinar o que ainda sobrou da minha vida, tentando de matar, aqui.

O serial Killer não disse nada, mas era visível o desagrado em seus olhos, era quase palpável o sentimento de tensão que emanava de seu corpo.

– Eu não irei te dar esse gostinho, porque antes eu quero ter o prazer de ver sua vida escorrendo por seus olhos, sem que possa fazer nada dessa vez.

Sem mais palavras, Jane se retirou da sala, sem olhar para trás.

XXX

– Jane, tudo bem? – Lisbon saiu da sala onde estava indo de encontro ao homem imediatamente.

– Vamos para casa, tudo bem? – Ele disse simplesmente, caminhando pelo corredor, sem esperar pela morena.

Ela se perguntou por um rápido instante se ela se referia a sua casa, mas aquilo não importava realmente.

– Onde está Jane? – Perguntou Abbott para Lisbon.

– Indo para casa. – Então, em uma despedida silenciosa, Lisbon seguiu o corredor atrás de seu amigo.


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