Tiny heart escrita por Bilirrubina, Hannyh


Capítulo 6
After story




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Estacionei meu carro na garagem e antes de sair, suspirei. Aquele dia tinha sido bem cansativo. Virei minha mão e peguei a bolsa em cima do banco, juntamente com as sacolas de compra. Um pouco sem jeito, saí do carro e ativei o alarme. Como era uma garagem interna, a porta em minha frente dava diretamente para a cozinha. Coloquei as sacolas sobre o balcão e antes que eu jogasse minha bolsa em algum canto, meu celular tocou.

Era o meu chefe. Ele queria que eu conseguisse uma entrevista com Leigh, o famoso estilista da cidade e que era meu cunhado. Eu trabalho numa revista de variedades e se tudo desse certo, aquela reportagem seria a principal da próxima edição, o problema era arrumar tempo para falar com ele, já que ele era muito, muito ocupado.

Enquanto eu falava com meu chefe, eu tentava fazer o jantar. Não estava sendo nada fácil. Eu já não era um fenômeno na cozinha e tentar amansar a fera não estava ajudando. A carne estava ficando com uma consistência duvidosa e o macarrão estava quase virando papa. Desliguei o celular e olhei janela a fora. Já estava escuro e em breve Lysandre chegaria e mais uma vez teria que comer minha “deliciosa” comida. Se bem que antes de casarmos ele foi avisado de meus dotes culinários, ou da falta deles.

Por mais que fosse difícil, tentei ao máximo deixar a comida mais palatável. Eu aprendi que condimentos consertavam quase tudo. Sem contar que a apresentação também ajudava um pouco enganar os olhos. Coloquei um pouco de macarrão em dois pratos e alguns cubinhos de carne no canto. Salpiquei um pouco de queijo e orégano e sorri diante do resultado. Lysandre só ria quando eu tentava explicar o que eu tinha arrumado.

Ouvi o barulho de um carro chegando e pela janela o acompanhei descendo do carro de Castiel e entrando pela garagem. Segundos depois, ele entrou pela cozinha segurando um enorme buque de flores e com um largo sorriso nos lábios.

– Parabéns! – ele falou ao me entregar o presente.

O estranho era que não era data de nada.

– O-obrigada... – peguei as rosas e coloquei num vaso – Mas você não tá se confundindo, de novo Lys?

Ele sempre confundia todas as datas. Sempre.

– Claro que não, amor. – enlaçou-me pela cintura – Você é que deve ter se esquecido.

Não mesmo! Quem esquecia era ele. Não era aniversário de ninguém, não era dia dos namorados, nem nosso aniversário de namoro e muito menos de casamento, já que estávamos casados há menos de seis meses. Eu realmente não sabia o que era. Lysandre se divertia enquanto eu me matava para descobrir que data era essa. Por fim eu desisti.

– Vamos, diga logo o que é, porque eu realmente não sei.

– Depois eu que tenho má memória... – ele me beijou suavemente – Como você pode se esquecer? Tudo bem eu falo. Hoje faz dez anos que nos encontramos pela primeira vez. Você pode ter esquecido, mas eu me lembro muito bem de você caída em frente ao frezeer do mercadinho.

– Nos encontramos primeiro da escola. – disse, séria.

Ele riu.

– Mas não teve significado algum, Catarina. E você... – deu um leve peteleco em meu nariz – Precisa parar de ser tão detalhista.

– Se não fosse assim não seria eu, né? – devolvi seu beijo.

– Exatamente... E como você me deu trabalho, hein?

Eu ri, pois eu sabia que eu demorei muito para perceber as intenções dele. Eu não queria me fazer de difícil ou ser má, eu apenas era lerda.

– E já que você tem uma memória “tão” boa, vamos comemorar então!

Olhamos para os pratos com a comida que preparei e voltamos nosso olhar um para o outro. Eu fiz uma careta e ele riu mais uma vez. Suas mãos em minha cintura me aproximaram a ele enquanto Lys beijava meu pescoço e ria... No começo do namoro eu não entendia o quê exatamente ele achava tão engraçado, no entanto com o tempo eu fui achando graça sei lá do quê também. Depois que eu comecei a enxergar a vida de outra maneira pouco a pouco eu fui mudando e posso garantir que para melhor. Há um bom tempo a felicidade preenchia meus dias, não era apenas por causa da minha relação com Lysandre, mas por mim. Eu mudei e também a forma como eu passei a encarar o mundo.

– Que tal a gente jantar fora? – ele sugeriu.

– Ok, Sr. Lysandre. Mas vou embalar a comida pra não desperdiçar...

Afastei-me um pouco e peguei no armário o rolo daquele plástico que até hoje não sei o nome. Embalei os pratos com ele e os coloquei na geladeira. Virei para trás e vi que ele havia guardado as coisas que eu deixei no balcão.

– Agora você só tem que esperar eu tomar um banho e me arrumar.

– Não se preocupe. – ele colocou as mãos em meus ombros e delicadamente me empurrava para fora da cozinha – Eu te ajudo...



No dia seguinte, graças ao bom Deus, era minha folga e não precisava acordar cedo, porém esqueceram de avisar ao Sol, brilhando daquela forma tão ofuscante... Ou então a mim mesma por ter esquecido de fechar as cortinas. Abri os olhos e fiz menção de levantar para acabar um pouco com a claridade, porém antes que eu tirasse as pernas da cama, os braços de meu marido me envolveram e me puxaram para ele. Como eu adorava essa expressão “meu marido”...

– Só mais cinco minutinhos. – ele murmurou perto de minha orelha.

– Mas eu só ia fechar as cortinas, Lys...

– Caty, depois você fecha.

Ficamos um bom tempo ali deitados na cama, apenas aproveitando a companhia um do outro. Não que Lysandre não trabalhasse, mas como era compositor, ele fazia seu próprio horário, ao contrário de mim, que só podia desfrutar do pequeno prazer de dormir até mais tarde aos domingos, feriados e em minhas folgas.

Fomos vencidos pela fome e levantamos. Enquanto ele preparava o café da manhã, eu arrumava o quarto, que estava uma bagunça. Lysandre não era muito organizado e eu sempre tinha que ir atrás dele colocando as coisas de volta no lugar. Ainda não tínhamos condições de contratar uma empregada, porém fazíamos o que podíamos pela casa. Eu com minha rotina e Lys com a dele.

Assim que me sentei à mesa, ouvi a campainha tocar, ele levantou-se e foi atender a porta. Poucos minutos depois meu marido voltou com minha mãe.

– Bom dia querida! – ela veio até mim e me abraçou.

– Bom dia, mãe. Senta aí e toma café com a gente. – falei.

– Ah Caty, só um cafezinho. Estou com pressa, vim apenas me despedir. Hoje embarco no cruzeiro com Fernando. – ela sorriu.

Durante o tempo que comemos, ela falou alegremente sobre a viagem, sobre seus planos e sobre Fernando. Demorou para eu entender Sabrina e ainda mais para nos darmos tão bem. Como dizia minha avó, ela é um “espírito livre, minha filha...” e descobri que até meu pai não era muito diferente. Talvez por serem tão intensos na forma de amar e não terem medo de expressar isso, é que foram tão felizes. E por terem formado um casal tão completo que minha mãe procurou tanto alguém que fosse ao menos um pouco parecido com ele. Fernando não tinha nada a ver com meu pai, porém era perseverante. E como era... Mesmo tendo um relacionamento ioiô com minha mãe e sendo Sabrina simplesmente “Sabrina”, ele nunca desistiu porque sabia que o amor deles poderia dar certo. Eu o admirava muito por isso.

Depois que ela foi embora, eu e Lys guardamos as coisas do café da manhã e lavamos a louça. Enquanto ele guardava as xícaras no armário, o abracei por trás e disse:

– Que tal fazer nada produtivo comigo hoje?

– Não posso, amor... – ele virou-se – Tenho um prazo e se não entregar as músicas até o final da semana, vou ficar em maus lençóis.

– Eu sei... Tudo bem, vou vadiar pela cidade e te deixar em paz aqui.

– Caty... Você não é um estorvo. – acariciou meu rosto.

– Mas eu também sei que você compõe melhor quando está sozinho. Bom, até mais.

Beijei Lysandre e saí pela porta da garagem. Desativei o alarme, dei ré e comecei a dirigir sem rumo. Não tão sem rumo... Depois de alguns minutos passeava pela orla. Por mais que morasse há tanto tempo naquela cidade, ver o mar ainda me encantava e acho me encantaria sempre olhar para aquela imensidão azul ou para a forma que as ondas morriam na praia. Estacionei num lugar qualquer e caminhei até a praia. Eu estava com um leve vestido azul claro e com sandálias sem salto, que rapidamente tirei e joguei na areia, sentando-me sobre elas a seguir. Como sempre a praia estava vazia e o Sol, impiedoso. Como não pretendia ficar muito tempo ali, não teria problema.

Lembro-me que há mais ou menos dez anos eu olhava para aquela vista, porém tanto a minha vida quanto a minha mentalidade eram totalmente diferentes. Naquela época eu vivia de uma forma... Ou melhor, eu não vivia, simplesmente existia e acreditava que minha existência era algo tão efêmero como uma brisa e que não valia a pena sequer sonhar, traçar metas ou desejar por um futuro. Não que eu estivesse vivendo num mar de rosas, afinal eu tinha meus problemas, meus medos e inseguranças. Eu sou humana no final das contas e por ser humana é que eu anseio que tudo o que sonhei se torne realidade e a cada dia eu luto por isso. Ao contrário da Catarina de dez anos atrás, hoje sou madura o suficiente para lidar com as situações que a vida me apresentar.

Confesso que o aniversário de dezoito anos foi um pouco tenso, mas agora, com vinte e cinco anos eu ainda tinha a doença em meu coração, aliás, eu iria carregá-la até o caixão, eu discutia com Lysandre, eu brigava com meus amigos, meu chefe pegava no meu pé, minha conta no banco era de longe a mais recheada... Mas essas coisas não eram o mais importante. O que importa para mim é ser a Catarina que pode elevar-se acima de tudo isso e lutar por sua própria felicidade.


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