Tiny heart escrita por Bilirrubina, Hannyh


Capítulo 5
A real mudança




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– E-eu tenho algo pra você se aproveitar?

– Sim! – Íris falou sorridente – Você sempre disse que assusta um pouco as pessoas, bem, eu quero colocar isso no filme.

– Mas o que isso tem a ver com nosso roteiro? – perguntou Lysandre.

– Bom, – ela continuou – é só a gente fazer algumas adaptações... Eu quero que no início a gente coloque uma atmosfera mais obscura e com o tempo, conforme nossos protagonistas forem percebendo a verdade, a gente vai mudando a iluminação, entendem?

– Ah sim... – Castiel falou com sarcasmo – Só que você esqueceu que a gente é só estudante e não manja disso...

– Vamos usar a internet para ajudar e Violette sabe mexer com isso, né? – Íris olhou para ela.

– S-sim... Mais ou menos... – ela se encolheu para falar.

– E onde vamos gravar essa “superprodução”? – ele continuou sarcástico.

– Pode ser lá em casa. – olhei para Íris – Eu vou falar com minha vó, mas acho que ela não vai se opor...

– Sério?! – ela jogou-se sobre mim e me abraçou – Vai ser ótimo! Nosso filme com certeza vai ser o primeiro lugar!

– “Obrigada” já bastava. – sorri enquanto ela me esmagava.

Os meninos me olharam de um jeito estranho e quando Íris notou isso, ela também fez o mesmo, apenas Violette continuava do seu jeitinho.

– Tem alguma coisa no meu rosto? – perguntei.

– V-você está sorrindo... – Castiel parecia não acreditar.

Eu não tinha percebido. Há tanto tempo que eu mantinha minha expressão vazia e eu nem notei que algo havia mudado dentro de mim.

– Catarina, – Lysandre me chamou – você fica linda quando sorri.

Eu sei que ele falou isso sem segundas intenções, mas não pude evitar ficar corada. Coloquei as mãos nas bochechas e me encolhi um pouco.

– Onwt... Você fica tão fofa assim! – Íris me abraçou de novo.

Todos riram daquele momento e um pouco depois voltamos a discutir sobre nosso projeto. Apesar da imposição das tarefas feita por Íris, não discordamos, apenas acrescentamos outras coisas, como Lysandre ser responsável pelo figurino e eu pelo cenário, bem como todos teriam que atuar, se fosse preciso.



E nesse ritmo um mês passou. Já estávamos terminando as filmagens e como o festival ia ser antes das férias, teríamos bastante tempo para edições e tratamento de imagens. Violette tinha se mostrado bastante entendida do assunto e sempre que podia, dava uns toques no grupo.

– Bom, com isso terminamos por hoje, pessoal.

Castiel, sentado no sofá, jogou uma almofada em Íris e disse:

– Não deixe o poder subir a sua cabeça, garota...

Eu e Lysandre, que estávamos ainda com nossos figurinos, rimos e Violette sequer tirou os olhos do computador.

– Está ficando tarde, é melhor irmos. – Íris falou ao olhar o por do Sol pela janela.

– Vou me trocar e também já vou. – avisou Lysandre.

– Não vou ter esperar hoje, cara, tenho um compromisso daqui a pouco.

– Ok Castiel, até mais...

Lysandre foi até o banheiro enquanto eu me despedia dos outros. Depois fui para o meu quarto e tirei aquele vestido. Ele era lindo, mas não queria correr o risco de estragá-lo. Todo o figurino foi feito por Leigh, irmão de Lysandre, e confesso que foi um pouco difícil escolhê-lo porque eu sempre ficava maravilhada a cada nova peça que ele trazia. Quando voltei para a sala, o rapaz já estava a minha espera.

– Eu já vou indo também. – ele levantou.

– Eu vou com você, fiquei de comprar um livro e o moço disse que podia guardar só até hoje.

– Então vamos, senhorita. – ele fez uma mesura e eu ri.

Saímos juntos e andamos em silêncio por um tempo, até que ele perguntou:

– Íris me contou que você tem uma... Doença grave. Assim, você não parece muito “doente”. É tão grave assim como ela falou?

Meneei a cabeça e sorri.

– Então, Lysandre... Eu achava que era, mas minha avó me disse que não era bem assim. A miocardiopatia hipertrófica é uma doença no coração, que passa de pai pra filho, só que ela não se manifesta da mesma forma em todos. Nessa doença o coração cresce, mas cresce de uma forma desorganizada. Eu tive sorte em não ter sintomas, sem contar que os exames que eu fiz estão “normais”.

– “Normais”?

– Estão bons, para quem tem a doença.

– Ah sim... E você vai mesmo... Morrer aos 18?

– Eu não sei... – vi que ele ficou um pouco triste – Esse “eu não sei” é o mesmo se alguém te perguntasse quando você vai morrer, entende?

– Ah sim... Isso quer dizer que você é tão normal quanto qualquer um...

– Isso mesmo... – ri – Sou “tão normal quanto qualquer um”. Sabe, antes eu não pensava assim e depois do que aconteceu e com esse projeto eu mudei um pouco. Eu... Eu...

– Eu sei, Catarina. – ele olhou para mim – Eu vi a mudança com meus próprios olhos.

Eu ri, pois fiquei feliz ao saber disso.

– Sabe uma coisa, – falei – seria até engraçado se não fosse trágico...

Ele não desviou o olhar de mim e eu continuei:

– Essa doença faz o coração crescer, mas eu sempre achei que o meu fosse minúsculo.

– Isso acontece – ele explicou – quando não nutrimos nossos sonhos, Catarina.


Mais meses se passaram e finalmente chegou o festival da escola. Íris estava muito, muito ansiosa com o filme e tinha certeza que o nosso ficaria em primeiro lugar. Ela era muito competitiva, mas até eu esperava isso, tínhamos trabalhado muito no projeto. O professor Faraize fez suspense até o momento da exibição.

– Vamos dar início ao festival de cinema do Colégio Sweet Amoris. – Nathaniel, o presidente do grêmio falou ao microfone – Primeiro vamos exibir o curta metragem que ficou em terceiro lugar. Com vocês, “Hope”, da turma 301.

Após alguns minutos, o presidente voltou a falar no microfone:

– Muito bem, este foi nosso terceiro lugar, com “Hope”, da turma 301. Agora exibiremos o segundo lugar: “Destino Incerto”, da turma 303.

Enquanto as imagens eram projetadas no telão, olhei para Íris e gesticulei tentando falar “só tá dando 3º ano!”. Ela continuava confiante, gesticulou de volta “o 1º lugar é nosso” e piscou o olho direito. Depois de um tempo, que pareceu infinito, Nathaniel voltou ao microfone.

– Este foi “Destino Incerto” da turma 303. E para finalizar, vamos exibir o campeão de nosso festival. Lembrando que todos os que participaram são vencedores e também que com este tema...

– Anda logo! – Castiel gritou e eu me encolhi um pouco na cadeira.

– Bom... – ele passou a mão pelos cabelos – Sem mais delongas, anuncio o vencedor: “Rise above it”, da turma 103.

As cenas passavam na tela e eu não conseguia acreditar. Nós nos abraçamos e comemoramos nossa vitória. Por mais que fosse apenas um festival escolar, eu me sentia tão feliz e realizada!


Era verão de 1936.Uma jovem se olhava pelo espelho enquanto sua criada trançava seus longos fios negros. Sua expressão era triste, pois sabia que o futuro não era nada promissor.

– Obrigada, Olívia. – disse a jovem assim que a outra terminou a trança.

A empregada saiu e antes que ela fizesse o mesmo, olhou-se pela última vez no espelho. O leve vestido de seda creme, com detalhes em renda dava-lhe um ar jovial, ao contrário de seu semblante carregado. Saiu do quarto e enquanto descia a escada, pensava se casar com um jovem rico era mesmo a escolha certa. Sua mãe dizia que só assim a família seria salva da falência. O pior é que se não bastasse o próprio sacrifício, seu irmão teria que fazer o mesmo.

Quando chegou à sala de jantar, os dois já estavam sentados à mesa esperando-a.

– Amanhã vai ser o seu jantar de noivado. – falou a senhora ruiva assim que a garota sentou-se – Está ansiosa?

Ela olhou para o irmão e depois para a mãe. Suspirou e preferiu não dizer nada.

– E o seu, meu filho, – tocou em sua mão – será no fim do mês. Estou tão orgulhosa de vocês dois se casando tão bem!

O rapaz cerrou o punho e olhou para o outro lado. Ele já não estava mais suportando aquela situação e diferente da irmã, ele não era tão submisso. Enquanto sua mãe continuava falando sobre a alegria de casar com alguém rico, ele passava as mãos em seus cabelos acinzentados, na vã tentativa de acalmar-se.

– Ah... Mas vocês não falam nada. Deviam me agradecer por ter arranjado os compromissos tão bons!

Os dois filhos olharam para ela, como se não tivessem acreditando no que ouviram. A filha balbuciou algo, no entanto não conseguiu falar nada, por outro lado, seu irmão não pode se calar.

– Eu não posso crer que a senhora realmente ache isso maravilhoso.

– Claro, meu filho. – ela respondeu – Meus dois tesouros casando com pessoas tão... Tão...

– Ricas. – ele completou – E de quebra salvamos o patrimônio da família, não é?!

Ela ficou calada.

– Sabe, no fundo tenho pena de você, mãe, que não percebeu que há coisas mais importantes na vida do que dinheiro.

– Ah é? E como você vai fazer essas “coisas importantes” – fez aspas com os dedos – sem dinheiro, meu filho. Você é igual ao seu finado pai...

– Ao menos ele nos permitia sonhar... – finalmente a garota conseguiu falar.

– Não fale assim, querida. – a mãe virou-se para ela – Onde já se viu uma menina escritora e um rapaz poeta vencendo na vida? Palavras não enchem a barriga de ninguém. Eu só quero o melhor para vocês dois...

– Não, mãe. – ele voltou a falar – Você quer o melhor para si mesma, quer apenas continuar vivendo diligentemente. Mas eu não quero isso para mim.

– O que você quer dizer com isso, meu filho?

Ele sorriu e falou passionalmente:

– E se tivermos apenas uma chance? Se tivermos apenas essa vida? O tempo nunca está ao nosso lado... Sinto muito mãe, – ele levantou-se – mas antes de morrer eu quero viver intensamente.

A senhora não estava acreditando no que havia acabado de ouvir da boca de seu filho e um largo sorriso se desenhava nos lábios da jovem, porque além de apenas palavras, ela entendia que aquilo como sua carta de alforria. Ele fitou a irmã e lhe estendeu a mão.

Escolha o seu próprio caminho. Levante-se e seja tudo o que você sonhou.

Ela pegou sua mão e se pôs de pé. Ainda sorrindo ele a puxou, o que fez com que ela passasse por cima da mesa derrubando alguns utensílios. Ela foi recebida por um abraço seguido de um rodopio. Ele a colocou no chão e sem que desviassem o olhar um do outro, deram as mãos, correram e deixaram aquela casa, convictos de que lutariam com todas as forças para que seus sonhos se tornassem reais.


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Notas finais do capítulo

E este é o capítulo final. Espero que tenham gostado ^_^



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