Códigos Mortais. escrita por Holden


Capítulo 2
Senhorita Schmid.


Notas iniciais do capítulo

Doze comentários e 9 favoritos? Cara, vcs são demais! Boa leitura *u*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/455198/chapter/2

— Por que eu deveria ir com você? — questionei a contra gosto, fungando um pouco pelo choro de momentos atrás e tremendo como nunca.

A chuva já havia cessado, porém, havia deixado um frio agonizante de brinde. Ainda estava escuro e eu mal podia ver o homem que estava a minha frente, exigindo que eu fosse com ele, para sabe-se Deus lá onde. Sentia a maquiagem borrar em meu rosto, rolando até a bochecha, e também o vestido preto grudar como nunca sobre meu corpo. Estava tudo definitivamente uma merda.

— Você pode ficar — começou a falar em um tom baixo, porém sério. — mas logo logo será capturada por eles — não podia ver, mas senti que o maldito estava rindo de mim. E o que seria “eles”? Os homens que haviam aniquilado Jason? Talvez. — nas suas condições atuais, você não pode escolher muito —, finalizou saindo a passos largos dali, com a lanterna acesa a sua frente.

Continuei parada com os braços entrelaçadas em minhas pernas, e afundei minha cabeça nos joelhos. Só queria sumir dali o mais rápido possível. O que era pra ser uma noite divertida virou um grande desastre… Não, pior… Uma bela tragédia.

Jason estava tão feliz. Iria começar a trabalhar, algo que nunca havia acontecido em sua vida e estava seguro de que conseguiria voltar comigo. Tudo meramente planejado e estudado… Pra no final morrer de uma maneira tão banal. Tão covarde.

Eu podia sentir sua felicidade ao longo do dia para poder dar a notícia pra mim de que viraria um professor particular. Podia sentir seus amigos zombando da garota cor-de-rosa que ele sempre estava “pegando” e o mesmo me defendendo… Tá, ele não era lá um poço de coragem, mas pelo menos não permitia que seus amigos idiotas do time zoassem de mim.

Se eu não pudesse continuar por mim, com certeza continuaria por ele. Por Cooper. Sua morte nem de longe se tornaria em vão.

Levantei-me enchendo o peito de uma mera esperança do momento, tirando os saltos e tentando alcançar o homem que havia me deixado ali sozinha. Avistei-o já dobrando a pequena ruela totalmente vazia e não pensei duas vezes em alcançá-lo.

Encostar meus pés ao chão gelado era um alívio, pois os mesmos já se encontravam com calos e futuras bolhas enormes pela corrida de mais cedo.

— Pra onde iremos? Quem são eles? Por que está me ajudando? — joguei todas de uma vez, esperando que o rapaz captasse meu desespero todo. Minha fala saía toda embolada, e eu me sentia uma retardada por isso.

— São muitas perguntas para quem está sendo caçada — retrucou um pouco sem paciência, de forma ranzinza.

Ta, talvez eu irritasse as pessoas às vezes… Mas poxa! Olha só minha situação! Era óbvio que eu queria saber o que estava acontecendo.

Decidi me calar e seguir aquele homem que já caminhava a passos rápidos à minha frente, sempre verificando os lados, em busca de algum movimento suspeito. Meus lábios já se encontravam rachados e minha vontade era de gritar e sair correndo. Sem rumo. Apenas sumir dali.

— Nós iremos ao seu apartamento — sua voz entrecortou o silêncio de breves segundos — de lá você pega o que irá precisar e alguns suprimentos para a viagem, como também roupas e cobertores — Viagem? Suprimentos? Roupas? Do que esse demente estava falando? — depois disso iremos atrás de um carro, e partiremos pela madrugada, ou seja, daqui a pouco.

A informação me deixou um pouco zonza. A sensação de estar perdida de algum assunto é definitivamente horrível.

— V-você quer dizer que… Iremos embora…? C-como? Por quê? — eu tremia, mas temia que não fosse apenas pelo frio. Que confusão. — não vou deixar Chicago! E meus estudos? Minha casa? Você é louco?

Uma bufada longa e entre cortante de sua parte penetra o ambiente.

— Garota, a máfia britânica e várias outras quadrilhas de luxo está atrás de você! Sabe o quão grave é isso? Além do mais, posso ser morto a qualquer momento também! Se você ajudasse calando essa boca, eu ficaria muito feli…

— EU QUERO RESPOSTAS! — ordenei a flor da pele, interrompendo-o. Agora tinha certeza, eu não estava tremendo pelo frio e sim pela adrenalina. E principalmente: a raiva.

Adentrei o pequeno imóvel domado pelo silêncio e escuridão, com o tal babaca desconhecido atrás de mim. Podia sentir a consequencia da falta de banho impregnar minhas narinas, e a maldita calcinha vermelha infiltrar-se em lugares que não deveria.

O local consistia-se em: Poeira, móveis velhos e muito, muito frio.

Deveria ser umas quatro da manhã. Acabamos chegando de moto (o carinha ao lado havia furtado o automóvel de um dono bêbado) e meu corpo pedia desesperadamente por descanso. Mas eu me recusava a obedecer minha condição física, substituindo-a pela mental. Precisava saber o que estava acontecendo senão enlouqueceria.

— Velho? — por um momento assustei-me quando a voz grave do homem ao meu lado trovejou pelo ambiente. — aparece logo, merda. Uma garota quer falar com você. Está tudo seguro.

Quando terminou a frase apontou para uma poltrona um pouco suja ao lado do sofá todo acabado, fazendo sinal para que eu me sentasse. Acatei sua ordem e afundei-me naquele nada agradável móvel – que só piorava a dor em minha musculatura – pelo menos tive o prazer imenso de diminuir o peso de minhas pernas que no momento estavam moídas, e gemer de alívio pelo descanso.

Quando digo que estava tudo na maior escuridão, é por que apenas uma vela tentava inutilmente clarear a casa.

— Trevor? Você de novo moleque, o que quer dessa vez? — pegadas fundas faziam com que o assoalho de madeira rangesse bastante. O dono dos passos era gordo e gostava de cerveja, já que podia ouvir o mesmo segurando uma lata de metal e o cheiro da bebida barata invadir meu espaço pessoal. — quem é essa? Trazendo prostitutas baratas pra cá novamente?

Trevor? Então esse era o nome dele? E espera aí… O pançudo estava achando que eu era uma prostituta? Que ótimo. Meu dia (ou madrugada) não poderia ficar melhor.

— Essa é a Harvey, pai — o recém descoberto “Trevor” esclareceu tentando segurar uma risada alta que insistia em sair. —, a garota que está sendo perseguida, lembra-se?

Os olhos negros do mais velho voltaram-se novamente para mim, dessa vez mais aliviados e um suspiro acabou escapando de seus lábios rachados. Demorou alguns minutos para que me respondesse, e aproveitou disso para dar alguns goles na cerveja fedorenta.

— Ah sim, eu me lembro — confessou afundando a bunda no sofá, que levantou uma camada fina de poeira. — a garotinha da máfia, não é? — foi uma pergunta retórica, seu tom era do mais cínico possível. —, o que quer saber desse gordo aqui, delicinha?

Engoli um seco, não entendendo muito bem a situação.

Eu só queria respostas, e ambos complicavam tudo ao meu redor.

— Meu pai também era da máfia, Donnela — uma voz decidiu se pronunciar, após minutos vergonhosos de silêncio da minha parte. Era o garoto com o nome estranho. — tudo isso pode estar parecendo um pouco estranho pra você, mas esse cara aqui — seu dedo indicador fino e comprido de lagartixa apontou para o bêbum ao lado, com certa euforia na voz. O outro coçava a barriga, revezando entre o nariz —, pode esclarecer tudo. Você só precisa de paciência e bem… Estômago para ouvir.

— Ninguém quer mais explicações que eu, seu maluco! — berrei um pouco mais alto do que minha garganta poderia aguentar. — Parem de enrolar! Estou ficando agoniada já!

— Essa rosinha é estressada, filho — o cervejeiro riu de meu ataque de fúria de momentos antes, esticando um pouco os pés, enquanto suspirava de alívio. — O que quer saber? Que seu pai era um salafrário da pior espécie? Que tive que fugir por conta dele? Ou pela sua herança milionária?

Eu não tinha noção do que aquele cara dizia. Meu pai? Um salafrário? Meu deus! Meu pai era o homem mais honesto que já havia conhecido em toda minha vida. Era dono de uma pequena franquia da rede alimentícia e sempre fazia de tudo por minha mãe e eu. Ninguém falaria dele daquela maneira. Pelo menos não na minha frente.

— Acho que não estamos falando da mesma pessoa, Gordo! — acusei-o, me levantando exasperada. — Joseph Donnela é o melhor homem que conheço!

Parece que minha fúria não afetava nenhum daqueles dois imbecis. Pelo contrário, eu parecia um motivo de piada para ambos. Se não tivesse uma carga de homens armados atrás de mim, iria embora dali sem pensar duas vezes.

— O que seria Joseph Donnela? — o denominado “Gordo” por mim, pronunciou-se após um ataque de risos. — uma bixinha? Pelo amor de Deus garota! Estou falando de Clark Schmid! — ralhou ainda entre risadas histéricas, chegando até a cuspir um pouco. — o que foi? Eles não lhe contaram? Oh… Que coisa feia pais esconderem de filhas com cabelos cor-de-rosa que são adotadas.

Foi como se um buraco tivesse sido aberto na crosta terrestre após aquelas palavras despejadas de forma tão cruel, sugando-me com tudo. Sim, fora um baque violento. Um choque e tanto.

Adotada? Eu? Sem chances! E-eu até me achava um pouco parecida com minha mãe e… Bem, eu achava nossos cabelos castanhos – o meu era castanho antes da tintura, – idênticos. Tudo bem que eu não era o clone do meu pai, mas até que dava pro gasto. Eles sempre falavam que puxei o lado de meus avós, mas nunca tive a oportunidade de conhecê-los. E também nunca vi um álbum de minha mãe grávida, os dois alegavam que não tinham dinheiro o suficiente na época para montar um álbum. Será que estavam mentindo esse tempo todo?

Não! Não era possível! Tudo que eu havia acreditado e depositado minha confiança… Era uma farsa? Eu não havia nascido de Marie? Joseph havia me achado por aí? Eram tantas coisas que iam e viam, fazendo com que um aperto enorme se infiltrasse em meu peito… Acho que preferia ter uma dor física a sentir aquilo.

No que eu estou pensando?

Aquele inútil estava blefando. Por que eu deveria acreditar em alguém como ele? Meus pais me criaram a vida toda! Óbvio que mereciam pelo menos um voto de confiança de minha parte.

— Cale essa boca! — indaguei com o timbre mais alto que consegui. — Por que estão fazendo isso? Por que estão dizendo essas coisas? — exigi, afastando-me de ambos. — Eu sei que é mentira… Sei sim… — algo de textura salgada infiltrou-se no meio de meus lábios. Lágrimas. Lágrimas grossas e desesperadas. — Parem… Por favor… — sussurrei, agachando-me. Sentindo minha cabeça doer como nunca.

— Pra que esse desespero todo, garota? — o autor de minha desgraça finalmente tomou a rédea da situação. — Eles não são seus pais, pronto. Seu pai verdadeiro era um mafioso e a sua mãe uma prostituta qualquer que não poderia ficar com uma criança. Pare de colocar chifres em cabeças de piolho! — senti suas mãos apertando a latinha de alumínio – agora vazia – e fazendo certo esforço para se levantar.

Não queria ouvir e nem ver nada, apenas encostei minhas costas no dorso do sofá, colocando o rosto novamente sobre o joelho, chorando como nunca.

Merda de vida.

— Eu não deveria ter aceitado esse DVD daquele filho de uma puta, mas Clark estava desesperado para sair do país, e fez um pedido a mim. Um pedido bem simples: Queria que eu achasse sua primogênita — que ótimo, o idiota começou a falar de novo. — É claro que meu desejo foi quebrar o objeto e mandar aquele maldito a puta que pariu! Ele faliu meus negócios na máfia e fez com que os outros chefões viessem atrás de mim. Sabe o que é ter a máfia Italiana, Russa e pra variar os agentes da Britânica atrás de mim? Sabe a fortuna que perdi? Sabe o tempo que estou escondido aqui sua bandidinha?

— Eu não quero saber — sussurrei me levantando, e limpando o rosto úmido. Já podia senti-lo inchado — Estou indo embora, vocês já me arrancaram tempo demais.

— O que? Você está querendo morrer? — Trevor finalmente decidiu se intrometer. Mas isso não importava agora, eu só queria dar o fora dali o mais rápido possível.

— Eu morreria se ficasse aqui! — retruquei toda nervosa.

— Você pode ir embora se quiser, mas só depois de assistir o DVD. Prometi que o entregaria a você, para aquele velho. E eu não gosto de quebrar promessas. Nem para o pior dos seres humanos — o outro mais velho alegou, ignorando meu piti de antes. — Sente-se ai no sofá, e Trevor — apontou para o filho — vá buscar o aparelho DVD lá em cima, a lanterna está em cima da mesa da cozinha.

— Não fique me dando ordens, Velho.

O relógio já marcava quase seis da manhã, e eu estava quase capotando naquele sofá. O aparelho já estava conectado a TV. Só faltava o play. Um tempo se passou até a imagem de um homem de terno e óculos escuros se formar através da televisão. Seus cabelos já continham um tom de grisalho na frente, contanto os fios escuros ainda prevaleciam. A sua pele era de um moreno bonito, e quando o mesmo retirou os óculos, tive maior visibilidade de seus olhos cinzas. Ele se parecia comigo.

O mesmo abria a boca, porém há fechava toda hora. Talvez não conseguisse achar as palavras certas para o momento.

— Certo… — seu timbre era bonito. Parecia um homem elegante falando — Eu não sei por onde começar, filha — dessa vez ele riu baixinho — Lhe chamarei de filha, ok? Eu não sei que nome seus pais adotivos lhe deram. Sempre gostei de Elizabeth, mas isso não vem ao acaso agora. Estarei partindo a noite do país, mas as chances de me caçarem são quase óbvias. — ele riu como se conversasse com um amigo.

Há muitos anos atrás eu me formei em investigação. Sim, sempre foi uma paixão. Entretanto sempre fui bom com números também. Isso não deve ser algo interessante para pessoas da sua idade, mas meu talento era algo fora do normal. Decorava contas enormes e nunca precisei marcar um número de telefone para decorá-los. Eu adorava citar números de PI e qualquer um que ficasse perto de mim se cansaria sem esforço.

Assim que me formei, entrei para pequenas patrulhas policiais. Adorava resolver casos e passar horas do meu dia atrás de pistas. Ah! Eu era imbatível! Chegava a resolver pelo menos cinco ou seis casos em um dia. E bem… Esse talento não passou despercebido. Fui convocado a participar da CIA dois anos depois por agentes disfarçados de meros policiais. Mudei-me para Nova York e logo fui promovido à agente-chefe. Mas minha ganância foi meu pior erro.

Eu sabia todas as combinações de cofres, códigos e tudo que você possa imaginar! Sabe quantos dólares são movimentados na CIA por ano? Só lhe digo que são milhões. Jamais vi tanto dinheiro em minha vida.

Todas as informações secretas estavam comigo. Gravadas aqui – ele apontava para a própria cabeça – E eu sabia muito bem o que fazer com elas.

Tudo que eu pensava era em dinheiro na época. Pra que ganhar meio milhão se eu podia ter muito mais a hora que eu quisesse?

Eu sei, eu sei. Sou um lixo.

Continuando... Bem, após alguns meses prestando serviços para a CIA entrei em contato com máfias poderosas. Eu sabia que meu sucesso se baseava nelas, eu queria fazer parte das mesmas. Comuniquei-as de casos que eram de seus interesses, e acabei soltando muitas quadrilhas de luxos para ganhar a confiança delas. Por fim, acabei optando pela Máfia Britânica. Tudo isso em segredo.

Demiti-me do cargo de agente-chefe um tempo depois com uma bolada de dinheiro comigo e entrei em negócios perigosos e contra lei.

Charles era um dos chefões do bando, caso esteja se perguntando, é o velho gordo que lhe entregou esse DVD. Eu o passei para trás implantando pistas falsas sobre ele desviar nosso dinheiro sujo, e mais alguns outros também. Não foi difícil me tornar o novo líder.

Acredita que eu já negociei até com o governo dos Estados Unidos? Já tirei muito dinheiro dos cofres americanos, minha querida.

Foram anos comandando essa patrulha de mafiosos. Anos gastando com mulheres, bebidas e jogos. Anos me transformando em um completo lixo.

Eu conheci sua mãe em uma noite em Las Vegas em um dos mais famosos cassinos de lá. Ela era uma prostituta de luxo e também uma bela mulher. Creio que você seja parecida com ela, digo, em padrões de beleza.

Não demorou muito até eu cair em suas teias. Foram mais de três meses pagando por seus serviços. Hannah sabia muito bem fazer um homem delirar. E com isso vieram as consequências. Ou seja, você.

Foi em uma tarde chuvosa de Outubro que ela me contou sobre estar grávida. Não se engane, eu não a amava, era apenas luxúria. Tentei a convencer sobre fazer um aborto ou qualquer coisa do tipo, mas a gravidez foi absurdamente planejada. A maldita queria arrancar tostão por tostão de mim, e foi tendo um filho que ela decidiu isso.

Eu até cogitei a opção de matá-la, mas quando ela teve… O bebê… Quando eu lhe vi pela primeira vez naquele hospital após Hannah lhe dar a luz… Um sentimento bom me envolveu. Infelizmente eu não poderia ter relações sanguíneas com ninguém, seria pedir pela morte. Eu era um dos homens mais procurados do mundo. Ter uma filha era arriscado demais.

Hannah pediu uma pensão absurda já que a mesma estava convencida a ficar contigo. No começo, fingi que aceitei todas as suas vontades, mas então… Eu forjei um assalto na casa dela. Os meus capangas há espancaram um pouco, e logo em seguida levaram você para mim.

Eu poderia tê-la mandado para um orfanato ou qualquer coisa o tipo. Mas precisava fazer uma coisa antes.

Filha, entenda que ser um homem milionário não é nada fácil. Você não pode confiar em ninguém ou dar mole para qualquer um. É preciso muito cuidado.

Guardar o dinheiro em casa ou depositá-lo em banco era algo fora de cogitação para mim. O melhor jeito que arrumei foi criar um cofre. Um cofre escondido. Um cofre onde meus inimigos jamais o procurariam.

Um cofre na Rússia.

Sim, eu a levei para Rússia, na verdade para a capital dela. Moscou.

Não foi difícil encontrar um esconderijo submerso por lá. Contratei alguns agentes para me ajudarem com a grana e depois que me ajudaram a esconder tudo, os aniquilei. Não se assuste filha, eu não podia correr o risco de alguém dar com a língua nos dentes.

E como todo cofre… Ele precisava de uma senha.

E é aí que você entra.

A senha foram suas digitais. Ninguém jamais lhe encontraria! E meu dinheiro estaria bem guardado! Eu tenho contato com seus verdadeiros pais, mas nunca os telefonei ou algo do tipo. Só faria isso quando precisasse do dinheiro. Levaria você para Rússia comigo e tiraria tudo de lá.

A única coisa que não estava nos planos é que… Eu irei morrer. Eu sinto isso. Cometi muitos erros e estou pagando por eles, filha. Esse dinheiro agora é seu! E tudo que já foi meu. Não tenho mais muito tempo.

Há 30 milhões de dólares disponíveis pra você! Tudo que precisa fazer… é encontrá-los.

A TV ficou fora do ar, e logo (o agora conhecido Charles) foi desligá-la. Eu ainda estava em choque. Definitivamente aquela noite jamais sairia de minha cabeça. Máfia? Adotada? Clark Schmid? Filha de uma prostitua? 30 MILHÕES?

Eu devo estar sonhando, ou pior. Devo estar tendo um pesadelo.

— Clark não conseguiu escapar e foi morto naquela mesma noite — Trevor sentou ao meu lado, como se compreendesse meu estado de choque. Senti seus dedos tocarem levemente minhas costas e sua voz grossa preencher o vazio — Depois disso meu pai e eu lutamos para lhe encontrar. Infelizmente as notícias do dinheiro e do cofre vazaram. É por isso que eles estão atrás de você, Harvey. É por isso que você tem que vir comigo — esclareceu com a voz segura.

— E-eu… Eu… Não entendo — sentia vontade de chorar mais ainda. Mas não tinha como, minhas lágrimas haviam secado completamente. — Por que eu? O que eu fiz de errado?

Tudo fica no mais puro silêncio. A luz do sol começava invadir as frestas da janela já desgastada pelo tempo, e tenho uma visão melhor dos homens que me acompanharam a noite e a madrugada inteira.

Fios compridos e escuros não me permitiam analisar melhor os olhos de Trevor. Ele usava um conjunto de inverno preto e o capuz da blusa estava sobre sua nuca. O que mais me assustou fora sua pele alva demais e o contraste perfeito com seus lábios exageradamente vermelhos. Uma barba rala tomava conta de uma parte de seu rosto e ele tinha cheiro de cigarro. Seria o garoto ideal para uma garota viciada em crack que vive jogada em uma esquina por aí. Ele era magro demais, fazendo-me suspeitar de sua situação com drogas.

Charles era como eu havia imaginado: um tanto “cheinho”, com os mesmo fios escuros e lisos do filho. Os olhos eram de um verde escuro e ele estava sem camisa, apenas de bermuda, com a latinha por cima da barriga com pêlos. Eu lhe daria uns cinquenta anos. Mas estava um tanto conservado.

— Bem, você não pode ficar se lamentando para sempre — o rapaz ao meu lado se levanta em um pulo de sofá, indo na direção de um bolinho de notas de dinheiro em cima da estante marrom, colocando-as no bolso — Nós precisamos ir. A não ser que queira ficar aqui, ser caçada, ter o dedo com as digitais arrancadas e morta.

Algo se revirou dentro de meu estômago após aquelas palavras.

— E pra onde iríamos? — murmurei baixinho — Vou ser morta de qualquer jeito, não há mais escapatórias.

— Escuta aqui garota, eu não me meti com aqueles caras perigosos a toa! Eu quero uma parte da sua herança só por ter que passar por essa situação toda. É melhor você levantar essa bunda gorda daí ou eu mesmo faço isso — o que houve com o Trevor compreensivo de antes? Fala sério, o que o dinheiro não faz com as pessoas?

— Ok Senhor Grosseria, e para onde iríamos? — questionei ao escárnio.

Droga, eu precisava de um banho.

— Pra Rússia, dã.

Após essas palavras, coronhadas fortes atingem a frágil porta de madeira de forma violenta. Parecia que alguém queria derrubá-la e… Ai não.

— Nos acharam! — Charles sussurrou enquanto se aproximava — Trevor saía pelo telhado e leve a garota. Eu cuido deles.

— Sabe que vai morrer não é, Velho?

— Sei sim, gostei de ter sido seu pai.

— Ok, foi bom ter sido seu filho… Espera. Não, não foi.

— Muito engraçado, agora vão logo! — o outro gritou tirando uma calibre do bolso.

Tudo que ouvi foi à porta sendo derrubada, e uma massa de poeira se levantando antes do branquelo puxar meu pulso em direção ao andar de cima. Eu poderia bater nele por estar me machucando.

Se eles não estivessem salvando minha vida, claro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!