Estava sonhando. Isso era um fato do qual eu tinha certeza, pois da ultima coisa que eu me lembro, era de ter adormecido ao lado de Kukai.

Orphans cercavam-me por todos os lados. E, dando uma rápida olhada, vi que o lugar em que me encontrava era um beco sujo. Meus ataques apesar de poderosos eram inúteis. A cada um que eu derrotava aparecia outro para substituir. Já estava encurralada e não via opção a não ser chamá-lo. Assim que o fiz, o efeito foi de imediato, um clarão dourado iluminou o céu escuro trazendo junto Kagutsuchi, pronto para meu socorro. Sorri vitoriosa quando os Orphans eram destruídos dando lugar aos Batsu Tamas. Preparava-me para purifica-los, quando ao olhar na direção de Kagutsuchi meu coração falhou uma batida. Via seu corpo ser coberto aos poucos. Tentei correr em sua direção inutilmente, mas meus braços e pernas estavam demasiadamente pesados. Tudo que pude fazer foi deixar meus joelhos caírem enquanto observava Kagutsuchi desaparecer aos poucos para sempre da minha geração.

Abri meus olhos rapidamente um pouco ofegante. Kagutsuchi. Meu guardião. Apesar de seu tamanho e força, não conseguia me fazer sentir protegida. E sim ainda mais preocupada com a segurança dele. Balancei minha cabeça para espantar esses pensamentos e sentei-me para tentar me localizar. Então, ao meu lado vi Kukai adormecido.

Orphan...

Batsu Tamas...

Brinquedo abandonado...

Meu rosto tingiu-se de vermelho ao lembrar-me ocorrido. Era sem duvida uma situação constrangedora. Balancei minha cabeça novamente e concentrei-me em acordar Kukai.

– Kukai... – cutuquei seu ombro. Nenhuma resposta – Kukai... – cutuquei-o novamente. É não seria nada fácil. Iria demorar um pouco. Deixei de lado a tentativa de acordá-lo e passei a observar suas feições enquanto dormia.

Aos poucos fui aproximando-me lentamente e encostei a palma de minha mão do lado direito de seu rosto. Sentia meu coração acelerar e meu rosto esquentar com este gesto. Apesar de não querer me afastar, obriguei-me a isto. Mas antes de retirar minha mão por completo, senti outra sobre a minha. Segurando-a ali. Meus olhos se arregalaram, e antes que pudesse raciocinar meu corpo fora puxado para baixo indo de encontro ao de Kukai. Este me abraçou fortemente impossibilitando minha saída. E agora?

Olhei para seu rosto constatando que estava dormindo, e por mais que a situação fosse constrangedora, sentia-me bem ali. Apenas deixei de resistir ao abraço e relaxei. Em poucos minutos estava dormindo novamente. Dessa vez eu sabia que não teria nenhum pesadelo.

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Ah! Domingo! Um descanso merecido depois de tantos estudos e trabalhos dos Guardiões. Hoje o dia estava especialmente agradável. Havia aproveitado o dia para sair com Ami e comprar alguns materiais necessários para o colégio a pedido de Tsukasa-san. Depois de termos terminado, passamos no colégio para deixar os materiais lá, e, ao invés de cada um seguir para sua casa resolvemos comprar sorvetes e dar uma volta pelo parque. Andava distraidamente ao lado de Ami. Ela era minha amiga. Certo? Certo. Eu gostava dela certo? Bem... Talvez? Não sei bem o que dizer. Estava imerso em meus pensamentos quando senti algo gelado no meu nariz.

– Ami! – virei-me para ela que tentava segurar o riso.

– Agora responde não é? – seus olhos pareciam se divertir com a minha reação.

– Mas isso vai ter volta... – peguei minha colherzinha e enchi-a de sorvete. Pronto para jogar nela

– Acho que não! – falou enquanto corria para longe de mim.

Não pensei duas vezes, corri atrás dela pelo parque praticamente vazio. Ela estava indo em direção à parte mais distante e reservada, onde possuía muitas árvores. Não sei como conseguia correr tão rápido segurando um pote de sorvete, eu pelo menos estava tendo dificuldades.

Avistei-a escorada em uma árvore. Aproximei sem fazer muito barulho, parecia distraída. Só percebeu minha presença quando estava parado em sua frente, pronto para ter minha revanche.

– Espera o... – tarde demais, já havia sujado sua bochecha de sorvete.

– Se é assim... – me lançou um olhar malicioso antes de iniciarmos uma guerra de sorvetes.

Depois de todo o sorvete ter acabado, me joguei na grama que ainda estava molhada por causa da chuva do dia anterior. Ami permaneceu em pé. Admirando a vista que tínhamos dali. Mas apesar de seu corpo relaxado, parecia pensativa e preocupada.

– Ami-chan? Está bem?

– Sim... Apenas preocupada. Amu-chan não dormiu em casa ontem. – sua cabeça estava abaixada com a franja tapando sua face.

– Sente-se aqui comigo – sorria enquanto puxava-a pela mão para baixo. Sem muito esforço consegui trazê-la para mais perto de mim. – Ela deve estar bem. Não se preocupe! Talvez tenha dormido na casa de alguma amiga – era uma completa mentira. Pelo pouco que sabia sobre ela, a única pessoa que tinha como amiga era Kukai. Queria animá-la - O que acha de irmos para a reinauguração do parque Mattari? Para distrair-nos um pouco.

– Ma-mattari? Reinauguração? Eu... – sua face estava pálida e os olhos arregalados.

– Ami... Você está bem? – em um impulso segurei sua mão e toquei sua testa.

– Sim... Eu apenas tive uma experiência ruim lá... Um festival se aproxima... Podemos ir, que tal? – ela pareceu voltar ao normal – Mas acho melhor irmos.

– Claro, eu te deixo em casa.

– Não precisa se incomodar Tadase-kun...

– Não é incomodo nenhum. Vamos?

Andamos em silêncio ate chegarmos à parte movimentada do parque. Percebi que ainda estávamos de mãos dadas, Ami não parecia notar. Olhava ao redor com um súbito interesse.

– Por que será que as pessoas estão olhando e comentando desse jeito? – perguntou olhando para mim, quebrando o silencio.

– Talvez... Por estarmos cobertos de sorvete...

– Só por isso? Essa provavelmente não é uma cena tão estranha! – sorri com seu jeito de lidar com as coisas e voltamos a caminhar.

– O amor jovem é o mais lindo de todos – virei-me na direção da voz e encontrei duas senhoras conversando animadamente sobre o amor e olhando para nós. Senti meu rosto queimar, enquanto encarava o chão.

– O que foi Tadase-kun? – ela parecia não ter ouvido.

– Nada...

– Me fale! O que foi? – disse com um tom de preocupação.

– Bem... É que sobre os comentários, acho que é porque estamos de mãos dadas. Aparentando ser um casal – sussurrei a ultima parte.

– Oh! Se é isso! – falou soltando minha mão virando seu rosto para o lado, mas pude ver a o rosado de suas bochechas.

Quando chegamos à porta, um garoto aparentemente de nossa idade, possuidor de cabelos azuis e olhos safira apareceu.

– Olá, Ami... Quanto tempo não?

– O que faz aqui? – perguntou cautelosa.

– Apenas uma visita! – falou dando um sorriso convencido.

– Tudo bem. - apesar de concordar, pude ver que suas sobrancelhas estavam franzidas em reprovação.

– Mas vejo que já esta acompanhada... – olhou para mim finalmente parecendo me avaliar.

– Sendo assim! Onde esta sua irmã? – deu um sorriso malicioso.

– Eu não...

– Não sabe? Vamos descobrir então!

Ami estava pálida e sem reação. Sua chara chamava por seu nome, enquanto observava o garoto adentrar na casa. Ele parecia já ser conhecido da família, pois todos os empregados permitiram sua entrada.

– Ele também possui charas – falou Kiseki quebrando o silêncio. Estivera tão quieto, que me esqueci de sua presença.

– Sentiu a presença. Certo? – ele limitou-se a afirmar com a cabeça.