O céu, a terra e o meio do caminho escrita por Hanako


Capítulo 8
Amiga, inimiga


Notas iniciais do capítulo

Agora a história vai começar a tomar forma! Quase todos os personagens já foram apresentados e eu quero ver pegar fogo! Espero que gostem õ/



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Quando os meninos falaram da garota para Sora, a descreveram como meiga e inocente, de olhos azuis brilhantes que esbanjavam amor e carinho, um cabelo loiro que chegava à cintura e um sorriso cativante. Ela parecia ser a garota perfeita e ele chegou a imaginar um vestido esvoaçante em seu corpo com as mãos convidando para entrar e tomar uma xícara de chá, mas assim que abriram a porta, tomaram um susto.

Não parecia a garota descrita, mas sim um clone diabólico. Antes que pudessem vê-la, já se sentia o cheiro do cigarro. Suas roupas estavam sujas e rasgadas de um modo que parecia proposital. Já não havia quase nenhum cabelo, era um pouco maior que o de Vinicius e tinha sido pintado de preto há algum tempo, porque a raiz loira já aparecia. Com unhas grandes de esmalte preto lascado, ela coçou a cabeça ao olhar para eles. Não parecia nada feliz com aquela presença em sua porta e, antes mesmo que pudessem dizer ou fazer alguma coisa, ela se virou para dentro.

Antes que pudesse fechar a porta, Lucca colocou o pé e forçou entrada enquanto os outros ainda estavam paralisados de susto.

– Olá, Hana! – ele sorriu – Bom te ver também! Agora pode me dizer que palhaçada toda é essa?

A garota se virou, pegou um uísque dentro de um fundo falso da estante da sala e começou a beber.

– Aceita? – ela sorriu para ele ironicamente tomando mais uns goles direto do gargalo da garrafa e se sentando no sofá.

– O que diabos aconteceu com você? – Disse bruno horrorizado – Você era tão contra o álcool e tudo mais...

– Os tempos são outros, meu caro – Respondeu secamente – Não achou mesmo que eu iria vir até esse fim de mundo por escolha própria, não é?!

Tiago finalmente se moveu e entrou na casa, se colocando diante de Hana. Aquela tinha sido durante muito tempo o amor da sua vida e agora estava dilacerado e transformado em algo que ele não sabia o que era, mas tinha ouvido histórias...

– Sei que você foi expulsa do colégio por começar uma briga com outra garota – ele disse – Mas você não começa brigas, Hana, nunca gostou de brigar. O que fizeram com você?

A garota escondeu o rosto durante um tempo, tomou mais um gole da garrafa e passou a encarar o nada:

– A garota da sua infância já não existe mais.

Os meninos olhavam chocados. Vinicius parecia ter a intenção de sair correndo daquela sala, Lucca olhava desconcertado para o chão e Sora sequer sabia o que estava fazendo ali. Sabia que era uma situação difícil para a nova família dele, que eles eram muito apegados àquela garota, mas não conseguia ver nada além de uma louca por completo. Queria ir embora e voltar a sentir a alegria da sua casa. Bruno se levantou fechando os punhos com força.

– Vai se foder, garota! – ele gritou com muita raiva – Você virou uma mimada babaca! Talvez tenha sido melhor a gente ter ficado em casa mesmo, ela é uma otária.

Hana riu. Uma risada seca, daquelas que arranham a garganta e silenciam pessoas. A risada ecoou no ambiente como uma droga, um instrumento cortante que fez com que todos tivessem a intenção de arrancarem as próprias orelhas só para não ter que ouvir aquele som amargo dentro de suas cabeças.

– É, eu fui muito mimada mesmo – ela respondeu irônica – Fui muito mimada, mas tão mimada que virei uma menininha má. Feio né?! Vai me dar uma lição de moral agora? Para a pobre garotinha mimada pelos papais?!

–Você é louca – Vinicius sussurrou enquanto ela voltava a rir achando que ela não fosse escutar.

– Talvez eu seja, Vini querido, mas quantas pessoas nesse mundo não são, não é mesmo?! – ela voltou a gargalhar e agora com mais força.

Vinicius saiu da sala com os olhos cheios de lágrimas e os garotos foram atrás. Apenas Tiago continuou ali, observando com certa pena. Ele evitou as perguntas mais óbvias e optou por uma menos invasiva:

– Sua vó sabe que anda bebendo e fumando? – ele disse de modo que apenas ela ouvisse.

– Pra quê toda essa preocupação agora?! – ela o encarou com desdém – A velha me viu como uma oportunidade pra sair correndo e foi viajar com o grupo da igreja. Aliás... Mesmo que ela visse, não acho que daria tanta importância, você bem sabe como ela é.

Ele foi até a porta e a fechou para que os garotos não entrassem e ouvissem a conversa dos dois e disse:

– Nós dois sabemos que a sua família nunca se importou com muita coisa que não fossem as suas notas e que você nunca recebeu muito amor, mas isso nunca te prejudicou assim, menina. O que quer que tenha acontecido com você, se foi com a família ou na escola, sei lá, eu sei que você é mais forte que tudo isso, sempre foi – ele segurou na mão dela e continuou a falar – Por onde você anda escondendo a flor tão linda que você é?

A garota tirou a mão com força e saiu andando pela sala puxando os fios de cabelo bicolor com a ponta dos dedos até que encontrou sua garrafa esquecida em cima do sofá para ir atrás de Tiago quando ele foi abrir a porta.

– Você diz que sou uma flor, meu nome diz que eu sou uma flor, mas isso não significa que esta flor exista – ela tomou mais um gole – Você mesmo desapareceu durante anos e mais anos e nunca mandou uma mensagem, mas ainda quer que eu volte e continue com a mesma cara idiota de sempre!

– Minha mãe tinha morrido! Você queria o quê?! Que meu pai continuasse deprimido na casa que eles viviam? – ele começou a gritar desesperado – Fizemos o mais sensato na época: reconstruir a família!

A garota suspirou. Não queria dizer nada, as palavras magoavam tanto seu coração que sabia que doeriam no dele também. Guardou a garrafa no fundo falso e fez sinal para que ele também saísse da casa. Não resistiria. Ao fechar a porta olhou Tiago nos olhos e, se aproximando da orelha dele, disse:

– Você também me matou um pouco naquele dia.


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