O céu, a terra e o meio do caminho escrita por Hanako


Capítulo 7
Irmãos




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Assim que encheu seu prato pela quinta vez naquela manhã, quatro rapazes apareceram na porta da cozinha, cheios de lama e suados, rindo e brincando uns com os outros. O mais alto jogou uma bola de futebol que segurava para o quintal e entrou na frente. Ele era moreno, alto, musculoso, com o cabelo cor de mel cortado rente à cabeça. Seus olhos eram castanhos escuros e ele ria apontando os garotos que vinham atrás.

– Tiago, você precisava ver o tombo que o Bruno tomou, foi hilário! – ele disse ao que ainda observava Sora comer, sem perceber que o menino estava lá – A bunda dele tá toda suja de lama agora, ele não deve conseguir sentar por umas semanas!

Tiago riu da falta de atenção do menino e o levou a olhar diretamente para Sora, que parou de comer assim que se tornou o centro das atenções. Ainda com a boca cheia, encurvou os ombros como se esperasse um xingo, mas acabou ouvindo um grito diferente do que esperava:

– Gente! Até que enfim você acordou, tava doido pra conhecer o novo integrante da família mais louca desta cidade! – o mais alto ria, mexendo no cabelo suado e tentando arrumá-lo – Eu sou Vinicius. Sou o mais velho daqui. Não vai me ver muitas vezes, eu estou aqui só por causa das férias da faculdade... aproveitei pra ver se a molecada estava se comportando bem... Estes aqui são Lucca, Bruno e Christopher.

Lucca deu um passo para frente, ele era bem mais parecido com Tiago que Vinicius que, na verdade, não se parecia com nenhum dos outros. Ele também tinha o cabelo curto, preto e liso que estava arrepiado e cheio de suor. Sua boca era bem vermelha e ele também era magro.

– Ele diz que veio para nos ver, mas todo mundo sabe que isso é mentira! – Lucca gargalhou – Ele está aqui por causa de Mellie!

– Lógico que não, seu bastardo – Vinicius o respondeu enquanto mordia uma maçã – Aonde eu estiver, Mellie virá comigo!

Os rapazes começaram a rir. Bruno chegou perto de Sora. Ele era idêntico a Lucca, com exceção dos cabelos que batiam em seus ombros.

– Olá, Sora! Seja bem-vindo ao novo lar! – ele começou – Caso não tenha percebido ainda, eu sou gêmeo idêntico ao Lucca, só que muito mais bonito, claro – ele riu – Muito prazer!

O garoto nunca tinha sido tratado com tamanha gentileza e sequer sabia o que dizer àquele que o dirigia palavra. Ficou olhando para ele perplexo, tentando entender como podia ser tão gentil com um mero escravo. Vinicius viu o que estava acontecendo e colocou a mão no ombro do menino, para tentar amenizar a situação. Ele se abaixou e ficou da altura do que estava sentado e o olhou firmemente nos olhos:

– Eu entendo o que está passando – ele falou baixo, para que apenas Sora pudesse ouvir – É estranho vir em um lugar onde todo mundo é legal com você depois de tanto sofrimento, não é?! Você não precisa se preocupar, nós só queremos ser seus amigos e, se você não quiser, vamos entender também. Eu sei como é difícil, Sora, eu também fui adotado.

Amigos. Amizade. Ele nunca tinha tido amigos. Mesmo na fazendo, os outros escravos não se aproximavam dele. Ele era o bichinho de estimação dos senhores, não podia se misturar com os outros, mas também não era querido pelos que estavam acima dele. Era uma vida solitária e seria ainda pior se não houvesse Maria.... O garoto ficou feliz com o fato de ter amigos e seus olhos brilharam de ansiedade. Vinicius percebeu e sorriu. Christopher passou entre eles para se sentar em uma das cadeiras.

– Isso são modos, Chris?! – Ralhou Tiago – Cumprimente seu novo irmão!

Chris era o mais novo de todos. Olhando para ele, parecia ter cinco ou seis anos, para Sora. Ele era o único loiro e tinha olhos azuis, mas mantinha os mesmos traços dos outros garotos: nariz fino, boca vermelha e corpo magro. O garotinho olhou envergonhado para o chão, disse um “desculpa” meio sussurrado, pegou uma goiaba da mesa e saiu correndo para o jardim. Vinicius sussurrou algo negativo para si e correu atrás do menino.

O mais novo membro se divertia com a cena. Garotos sujos brincando e comendo despreocupados, como se realmente houvesse um amanhã melhor. Ele finalmente parou de comer e começou a se entreter com o que estava acontecendo. Christopher de volta para a mesa, Vinicius tentando abraçar Mellie e ela correndo envergonhada, Lucca e Bruno comentando o que, segundo eles, era o tombo do ano e Tiago olhando fixamente para ele. Sora não o entendia, ele perecia deslocado ali, como se fosse mais velho que os outros, como se fosse um pai para aqueles meninos...

Lucca chamou a atenção de Tiago e os dois, Tiago e Sora, saíram de seus pensamentos.

– Tiago, sua namoradinha de infância mudou para cá! – Lucca sorria – Parece que ela vai estudar com a gente esse ano. Vamos passar lá na casa dela?

O garoto deu um sorriso com o canto da boca e colocou o cabelo para trás. Parecia receoso com o que iriam fazer, mas acabou concordando desde que todos tomassem um banho antes de ir. Sora descobriu que havia dormido por quatro dias seguidos e também correu para o chuveiro.

O banho ali era algo realmente épico. Além da ducha ser enorme, ela mudava de cor ao gosto de quem fosse tomar banho e haviam centenas de xampus, condicionadores e sabonetes a escolher de acordo com o tipo de cabelo e perfume desejado. Sora pegou os primeiros da fila. Uma música calma preenchia o ambiente e o garoto descobriu que ainda haviam tipos de toalha: uma para o cabelo, uma para o rosto, outra para os pés e, enfim, uma toalha para o resto do corpo (que foi a única que ele usou). Centenas de tipos de desodorantes, perfumes e cremes recheavam a outra parte do banheiro. Já irritado com aquele excesso desnecessário, pegou um desodorante sem perfume, um creme qualquer e sequer pensou em uma colônia ou algo do gênero. Já haviam roupas limpas separadas para ele em cima da cama.

Vestiu a camiseta azul marinho, a calça jeans, colocou o tênis e desceu correndo para perto de seus novos irmãos, todos já muito bem arrumados, com um aspecto totalmente diferente: pareciam realmente os donos daquela casa. Com toda aquela aparência, ele acreditou que um carro viria busca-los para que não tivessem que se cansar ou algo do gênero, que era o que acontecia na fazenda, mas todos foram à pé.

A casa da menina não era muito distante, três ou quatro quadras dali. Não era tão elegante como a deles, mas era charmosa em sua simplicidade. Não havia grades ou muros, o lote era delimitado por uma cerca viva de pingo de ouro. Uma pequena ponte levava até a porta e tudo o que havia até lá era um grandioso jardim. A parede era de pedra e tanto a porta quanto as janelas eram de madeira rústica. Sora acreditou que se parecia com as casas de fadas que viu uma vez em um dos livros de criança das meninas da fazenda. Lucca bateu na porta empolgado duas ou três vezes. Até que ela apareceu.


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