La Fillette Mousquetaire escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 4
Tragédia em L'Artaud


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo narra um pouquinho sobre o passado de Jacqueline de Villarmont e as razões que a levaram a Paris, em busca de vingança.



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Tragédia em L’Artaud

 

 

 

Vilarejo de L’Artaud, dezembro de 1624. Princípio de inverno.

 

L’Artaud era um pequeno vilarejo que ficava a uns duzentos quilômetros da cidade de Paris. Ali, viviam cerca de vinte famílias. Dentre elas, havia uma família que se destacava.

 

Era a família de Villarmont, que tinha a tradição de ter os seus homens como mosqueteiros a serviço do rei Luis XIII e do cardeal Richelieu. O mais novo mosqueteiro da família se chamava Jules de Villarmont. Era um jovem alto, ruivo, de olhos verdes e rosto harmonioso, apesar de ter uma expressão de frieza em seu olhar.

 

Jules era um exímio esgrimista e acabava de ser promovido a mosqueteiro da companhia do cardeal Richelieu. Além de talentoso, o rapaz ruivo tinha fama de conquistador e também de garanhão.

 

Os olhos verdes e o corpo escultural de Jules despertavam a luxúria das mulheres do vilarejo, quando ele aparecia por lá. Isso, sem contar com as parisienses que eram personagens de inúmeras fofocas a respeito de suas aventuras amorosas na capital...

 

Ele tinha uma irmã cinco anos mais nova. Loira, olhos azuis, pele clara, que formavam uma figura quase angelical. Essa figura atendia pelo nome de Jacqueline de Villarmont. Nessa época, ela contava com quinze anos de idade.

 

Admirava a beleza de seu irmão e seu talento para esgrima. Se não fosse mulher, se permitiria ir atrás do sonho de fazer parte do corpo de mosqueteiros da França. Apesar disso, tinha aprendido esgrima com o pai e duelava com o irmão sempre que possível.

 

Jacqueline e Jules tinham de certa forma um bom relacionamento, mesmo o irmão sendo frio e distante.

 

Mas a jovem não imaginava o que aconteceria naquele inverno de 1624...

 

Um acontecimento que marcaria para sempre o vilarejo de L’Artaud e a família de Villarmont...

 

 

 

*

 

 

 

O sol já estava se pondo no vilarejo. Jacqueline já estava chegando em casa, após voltar de um armazém e buscar verduras da horta. Ao se aproximar da porta, ouvia respirações ofegantes, entrecortadas por gemidos.

 

“O que é isso?”, pensava enquanto ouvia os sons. “Quem está aí?”

 

Não deveria ter ninguém em casa naquele momento, os pais ainda estavam em Paris. E Jules, também. Estava em serviço na capital.

 

Pelo menos, era o que ela achava a respeito do irmão naquele momento... Até reconhecer que os gemidos, que ouvia junto com os de uma mulher, eram dele.

 

“De novo, não...”

 

Ele tinha a fama de garanhão, e não era apenas mais uma fofoca. Ele realmente pegava todas as mulheres que lhe interessavam. Conseguia dar um jeito de escapar de Paris para levá-las para a cama.

 

Mas o pior de tudo era que ele fazia isso com frequência, o que envergonhava a todos da família. A fama de Jules como libertino e devasso manchava a reputação da família. E isso revoltava Jacqueline, tanto que ela se lançou contra a porta e a arrombou.

 

E viu, horrorizada, a cena que acabava de flagrar: Jules, deitado no chão, com uma mulher. Ambos estavam nus, suados e ofegantes.

 

Ele começou a beijar a mulher novamente. Aquilo indicava que tudo começaria de novo. Jules parecia insaciável.

 

- Você é mesmo a vergonha da nossa família, Jules... – Jacqueline disse. – É mesmo um depravado...

 

O ruivo interrompeu o que fazia. Deu um sorriso cínico e disse:

 

- Eu não me importo com o que dizem de mim. O que vale é aproveitar a minha vida. Principalmente com belas mulheres...

 

E ele voltou a beijar a mulher vorazmente.

 

Jacqueline se irritou:

 

- PARE COM ISSO AGORA! AQUI NÃO É CASA DE PROSTITUIÇÃO, JULES!

 

O grito chamou a atenção da vizinhança, que se aproximou da casa.

 

- Pra que toda essa irritação “senhorita castidade”? – Jules perguntou com sarcasmo. – Se quiser, posso acabar com sua virgindade agora...

 

- Como ousa dizer uma coisa dessas a sua irmã, Jules?!

 

Jacqueline olhou para trás e viu que o pai havia acabado de chegar, junto com a mãe.

 

- Vista-se imediatamente, Jules de Villarmont! – o pai ordenou.

 

- Já que insiste, senhor Antoine de Villarmont... – o rapaz respondeu zombeteiro.

 

Jules começou a se vestir. Enquanto fazia isso, disse à outra mulher:

 

- Vamos, Marie... É melhor se vestir, também... Depois, continuaremos de onde paramos...

 

Antoine disse a Marie:

 

- Saia logo daqui, mulherzinha vulgar... Antes que eu atravesse a minha espada no seu peito!

 

Ela saiu apressadamente, sob os olhares furiosos de Jacqueline e da mãe, Annelise, e diante de um aglomerado de pessoas pasmadas com o ocorrido.

 

Um grande escândalo naquele vilarejo.

 

 

 

*

 

 

 

- Eu ainda não consigo acreditar nisso! Não consigo acreditar que o meu filho é um libertino depravado! Eu, Antoine de Villarmont, tenho um filho depravado, que só pensa em orgias! Onde foi que eu errei? Onde?

 

Ninguém se atrevia a dizer meia palavra. Annelise estava compenetrada e Jacqueline ainda estava em estado de choque. Jules mantinha-se frio durante todo o sermão do pai.

 

E, no final do sermão sobre castidade, Antoine disse:

 

- Jules, não posso mais permitir escândalos nesta casa.

 

- E...?

 

- E isso quer dizer que, a partir deste momento – disse com muita firmeza. – você não mora mais aqui!

 

- Está me expulsando? – o rapaz perguntou com um olhar intimidador.

 

- Estou. – O pai afirmou categoricamente.

 

Jules lançou um olhar gelado para os três, e, antes de sair, falou:

 

- Isso não fica assim...

 

 

 

*

 

 

 

Três dias se passaram, com a família e o vilarejo tentando voltar à normalidade, após o escândalo envolvendo Jules e sua posterior expulsão de casa.

 

Mas, ao anoitecer, ele apareceu.

 

Abriu a porta de supetão e entrou. Antoine levantou-se da cadeira onde estava sentado.

 

- O que está fazendo aqui, Jules? – perguntou. – Esqueceu que você não mora mais aqui?

 

- Ninguém me diz o que devo fazer ou não... Lembra que eu disse que isso não ficaria assim?

 

Desembainhou a espada e prosseguiu:

 

- Já estou farto de seus sermões idiotas sobre castidade e sobre o que é certo e o que é errado. Não quero mais saber de ouvir essas besteiras que os pais vivem dizendo aos filhos. Que se danem todos!

 

- Jules!! – Annelise gritou. – Não fale assim com seu pai!

 

- Cale a boca! – o rapaz disse.

 

Jules levou um soco no rosto, dado pelo pai.

 

- Não grite com a sua mãe!

 

- Você não manda em mim!

 

- Enquanto você estiver sob o meu teto, mando, sim! E você está sob meu teto neste exato momento!

 

O rapaz sussurrou:

 

- Eu não aceito desaforos!

 

Jules teve a coragem de atacar Antoine com a espada, mas o ex-mosqueteiro foi rápido o suficiente para alcançar a sua espada e se defender. Porém, o jovem o empurrou para trás com o pé e o fez cair no chão. A espada, com a queda, pulou longe do alcance de Antoine, que ficou sem defesa. O rapaz se aproveitou da vulnerabilidade e fincou, sem piedade, a espada no peito dele. O golpe o matou no mesmo instante.

 

Annelise correu até onde Antoine estava caído. Jules, possuído pela sede de sangue, não a poupou. Deu-lhe o mesmo fim que o marido.

 

Jacqueline estava petrificada e em pânico. Não sabia o que fazer, as pernas não se mexiam, o corpo não obedecia. E Jules se aproximava perigosamente dela.

 

Ele se aproximou de sua irmã e sorriu ao ver o terror estampado no rosto dela. Seu sorriso tinha algo de sádico.

 

- Você se lembra do que eu te disse da última vez em que estive aqui? – sussurrou ao ouvido dela.

 

Enquanto dizia, acariciava o rosto dela, que não conseguia esboçar reação alguma.

 

- Não se lembra? – prosseguiu no mesmo tom. – Então, vou refrescar sua memória...

 

O rosto de Jules se aproximava perigosamente do de Jacqueline, enquanto ele a puxava para perto dele.

 

Foi quando ela teve uma reação.

 

Desferiu um soco de direita, que atingiu o rosto dele. Conseguiu correr e pegar a espada que era do seu pai e, de imediato, pôs-se em guarda.

 

- Ora essa... Você pretende me atacar, é?

 

- Por que está fazendo uma pergunta tão idiota, Jules? É claro que pretendo te atacar... De agora em diante, me encare como alguém que vai te fazer pagar por matar nossos pais... Nem que eu tenha que te matar...

 

Ela correu para o ataque, mas Jules desembainhou a espada e conseguiu bloquear. As lâminas se cruzaram e os dois irmãos se encararam.

 

- Assassino! – ela grunhiu. – Bastardo desgraçado!

 

- Você é muito boa mesmo na espada, Jacqueline... Uma ótima rival...

 

- Rival e inimiga, Jules... Agora somos inimigos mortais...

 

Jacqueline levantou a perna esquerda, até onde a longa saia permitia e acertou um chute no ventre de Jules, que deu alguns passos para trás. A jovem não perdeu tempo e avançou nele como uma fera com a espada ainda empunhada.

 

Conseguiu fazer um corte no peito do irmão, que sentiu uma grande dor. Pôs a mão sobre a farda rasgada e viu que estava lambuzada de sangue. O rosto do mosqueteiro assumiu um ar de fúria.

 

- Ninguém... Ninguém, que consegue tirar sangue de mim, fica vivo! NINGUÉM!!!

 

Jules partiu pra cima de Jacqueline e conseguiu desarmá-la, mandando a espada para fora do alcance dela. Ele aproximou com a espada e pôs a ponta ensanguentada da lâmina no pescoço dela.

 

- Só que, neste caso, vou abrir uma exceção... – sussurrou.

 

- Uma... Exceção...? – ela perguntou trêmula.

 

- Sim... Mas não se preocupe, não vou te violar... Ainda...

 

- O que pretende, Jules...? Em que está pensando, seu desgraçado?!

 

- Penso em te dar um tempo... – ele respondeu, pressionando a ponta da espada um pouco mais contra o pescoço de Jacqueline. – Um tempo para você se desenvolver e depois me enfrentar... O que acha de cinco anos de prazo?

 

A garota não respondeu, só sentia a ponta da espada no seu pescoço.

 

- E então, minha querida irmã vingadora?

 

Jacqueline acabou sorrindo e respondeu:

 

- Cinco anos são mais que o bastante pra acabar com a sua raça, Jules! E pode ter certeza de uma coisa... Eu vou me vingar de você... Principalmente a morte dos nossos pais!

 

- Ótimo. – ele sorriu sadicamente. – Mas antes...

 

Jules retirou a espada do pescoço da irmã e a pôs de volta na bainha. Em seguida, com uma das mãos, segurou fortemente as duas mãos dela e, com a outra, tentou desabotoar o vestido. Não conseguiu ir adiante, pois Jacqueline conseguiu acertar o joelho na barriga do irmão.

 

Jules se conteve para não revidar. Para uma garota de quinze anos, ela possuía muita coragem. Nisso, foi rumo à porta e ali se deteve para dizer:

 

- Te vejo daqui a cinco anos, minha doce irmãzinha Jacqueline... Espero que se torne uma inimiga à minha altura... Ou alguém capaz de me saciar de outra maneira...

 

Jacqueline se deixou cair exausta de joelhos no chão. Viu Jules ir embora tranquilamente. Depois, olhou para os dois corpos estendidos no chão, cada um com uma poça de sangue ao lado. O pai, Antoine, e a mãe, Annelise, assassinados de forma extremamente estúpida.

 

Alcançou a espada e a empunhou com força.

 

- Eu juro... – disse com lágrimas deslizando pelo rosto. – Juro que vou me vingar... E também vou vingar a morte de vocês... Papai... Mamãe...!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado deste capítulo... Aguardem os próximos... Obrigada a quem está acompanhando a minha fic!



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