La Fillette Mousquetaire escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 3
Depois do cruzado de direita, uma conversa


Notas iniciais do capítulo

D'Artagnan descobre que Jacques não é um homem, e sim, uma mulher. Quem é ela? E quais seus objetivos na companhia dos mosqueteiros de Paris?



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Capítulo 3 – Depois do cruzado de direita, uma conversa


 


- SEU ATREVIDO! SAI DE PERTO DE MIM, DEPRAVADO!!!


D’Artagnan, que estava caído no chão, logo se levantou mais vermelho ainda. Mas agora ele estava mais vermelho de raiva do que de outra coisa.


- Depravado, eu?! Ficou maluca??


- Claro que não! Se não é isso, então o que um homem está fazendo ao desabotoar a roupa de uma mulher?!


- Além de limpar seu ferimento? – Athos perguntou, dirigindo-lhe um olhar reprovador.


Ela olhou para D’Artagnan e notou que ele estava com um pano na mão e passava a outra mão no rosto ainda dolorido da pancada recebida.


- Você vê maldade em tudo, hein? – o rapaz agredido disse.


- Então... Então você só ia limpar o meu ferimento?


- Ia, mas agora não vou mais... Não quero apanhar outra vez de uma mulher! Já passei vergonha o suficiente...


O rosto dela se contraiu de dor. O ferimento doía por conta do esforço que ela havia feito para acertar aquele soco.


- Onde está o paciente? – era o médico que acabava de chegar.


- Está ali. – disse Athos.


- Bom... Poderiam me dar licença? Não é bom ter aglomerações no momento dos procedimentos. Mas... – olhou para D’Artagnan. – Você pode ficar. Preciso de alguma ajuda.


- Tudo bem. – disse o mosqueteiro. – Assim, eu aviso quando houver perigo... Principalmente o perigo de se levar um soco cruzado de direita...


 


*


 


- Pronto. Agora ela só tem que ficar de repouso por hoje. O ferimento vai demorar um pouco para cicatrizar, mas não é tão grave quanto se pensava.


- Bom... Dos males, o menor... – disse Athos.


- Mandem me avisar se houver algum problema.


Mal o médico saiu, a jovem apareceu, para surpresa do quarteto. O dono da casa a censurou:


- Você deveria estar em repouso!


Ela não respondeu. Olhou para os quatro mosqueteiros e, em seguida, passou a fitar o chão. A rebeldia havia desaparecido de seu rosto, revelando abatimento em seu lugar.


- Você quer falar com a gente? – Aramis perguntou.


D’Artagnan a fitou. Agora ela nem se parecia com aquela mulher que tinha lhe acertado aquele soco...


Ela começou a falar:


- Eu queria pedir desculpas pelo modo com que eu agi com vocês... Por favor, me perdoem por ter sido tão grossa...


D’Artagnan virou a cara e empinou o nariz. Primeiro, ela o esculhambava na frente do capitão Tréville; depois, lhe dava aquele soco cruzado de direita, e agora queria perdão? Que ridículo!


Ela viu o gesto dele e disse:


- Acho que o soco que eu te dei deve ter doído horrores, não é? Acho... Acho que fui injusta em te chamar de depravado e...


D’Artagnan a encarou com um olhar gelado:


- Você acha que é fácil assim conseguir o perdão e a confiança de alguém? E ainda depois de me esculhambar e também aos meus amigos? Não se iluda!


Deu uma pausa. Virou-lhe as costas e prosseguiu:


- Não pense que um pedido de perdão será suficiente pra ganhar a minha confiança. Não confio em pessoas arrogantes, antipáticas, ingratas e falsas! E você pertence a essa mesma laia!


- D’Artagnan, não seja tão duro com ela! Acalme-se! – Aramis disse.


- Você diz isso porque não foi humilhado por ela, Aramis! Não foi você que foi chamado de “mero provinciano”, e não foi você que levou um soco dela e foi chamado de “depravado”! E, ainda por cima, é uma tremenda ingrata! Se ela espera me comover com essa cara de cachorro sem dono, está totalmente enganada!


Nisso, ele pegou o chapéu e se dirigiu até a porta que dava para a rua. Grimaud a abriu.


- Athos, eu vou pra casa ver se esfrio a cabeça. Depois a gente se vê no palácio do capitão Tréville!


Assim, D’Artagnan foi para casa. Já tivera aborrecimentos demais por um dia...


- Não se preocupe. – Athos disse à jovem. – Ele é pavio-curto assim mesmo. Isso passa...


 


*


 


- Nossa! Você demorou, hein, chefe!


- É, Planchet... – D’Artagnan disse. – Demorei.


- E por quê? – o criado perguntou.


- Depois eu conto.


Após dizer isso, ele jogou a capa e a espada para seu criado e, em seguida, acertou o chapéu na cabeça de Planchet. Foi ao quarto e se jogou na cama. Estava aborrecido e começou a olhar para o teto.


“Que mulherzinha!”, pensou. “Conseguiu me esculhambar, me deu um soco e ainda por cima me acusou de ser um depravado! Depois quer me pedir desculpas! Ora, que ridículo!”


Que mulher, ele pensava. Era diferente das outras mulheres que via por aí. Tinha um gênio forte e era decidida. Se não tivesse desmaiado antes, com certeza ela continuaria a enfrentar Honoré.


E, para completar, ela era bonita...


- Ei, chefe! – Planchet chamou, arrancando-o de seu devaneio. – Tem alguém te procurando aqui!


D’Artagnan desceu.


- Quem é, Planchet?


- Não quis me dizer o nome...


- Tudo bem, eu vejo quem é.


Planchet abriu a porta e, por fim, a pessoa resolveu se apresentar:


- Eu sou Jacques de Villarmont. Agora eu posso entrar?


- Eu deixo você entrar, mas só por educação. – D’Artagnan respondeu ainda aborrecido. – Não acho que eu tenho que te falar alguma coisa.


- D’Artagnan – ela disse já mais séria. – Preciso conversar com você. – olhou para Planchet. – E em particular...


- Tudo bem. – o rapaz disse. – Não é mesmo, Planchet?


Planchet entendeu. Antes de sair, sorriu e deu uma piscadinha:


- Se precisar de alguma coisa, chefe... É só me chamar...


O rosto da jovem assumiu um ar de mistério, o que intrigou muito o mosqueteiro.


- O que você quer comigo? – D’Artagnan perguntou. – Desembucha!


Silêncio. O rapaz resolveu iniciar a conversa:


_ Pra começo de conversa, me diga o seu nome. Que eu saiba, Jacques é nome para homem...


- É... Você tem razão. Meu nome é Jacqueline. Jacqueline de Villarmont.


- Por que você entrou na companhia de mosqueteiros, vestida como um homem?


Jacqueline se mostrou um pouco aborrecida, além de ainda sentir dor no ombro ferido. Mas, já que estava ali pra falar, falaria sobre si...


- Eu já falei sobre isso para Athos e os outros.


- Então, por que veio aqui?


- É... Você tem razão. Vocês são amigos, então todos devem saber...


- Por que contou a eles?


- Eu senti que precisava contar. Era o mínimo que eu devia fazer depois de me ajudarem... – olhou para D’Artagnan – E agi como uma ingrata em vez de confiar em vocês...


- Bom, então pode me contar.


- Mas, por favor, me prometa que vai guardar isso em segredo...


- Segredo?


- Sim, porque não me tornei mosqueteira só por me tornar.


- Como assim?


- Meu objetivo no corpo de mosqueteiros é bem diferente. Isso faz parte de um plano de vingança.


A raiva inicial de D’Artagnan, durante essa conversa, dava lugar à curiosidade. E a cada frase de Jacqueline, ele se mostrava mais intrigado e curioso.


- Vingança...? Esse não é um objetivo lá muito nobre pra se conquistar com uma farda de mosqueteiro...


O rosto da jovem ficou mais sombrio.


- Não, não é... Mas, se eu te contar a razão de tudo o que andei fazendo, você vai entender... Desde que me prometa que vai manter esse meu segredo só entre nós e seus amigos...


O mosqueteiro quedou-se pensativo por alguns instantes. Depois dessa breve reflexão, cedeu:


- Se Athos, Porthos e Aramis prometeram isso, então não vou contrariá-los. Isso que você vai contar só fica entre nós. – sorriu. – Confie em mim, já tive que guardar segredos maiores.


- Obrigada...


Com o olhar de D’Artagnan, Jacqueline se sentiu mais segura. Apesar das primeiras impressões em relação ao mosqueteiro, percebeu que ele inspirava certa confiança.


- Bem... Tudo começou há cinco anos... Eu morava numa região, não muito longe daqui de Paris, junto com a minha família...


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Notas finais do capítulo

A história continua, e posso adiantar que o próximo capítulo terá algumas surpresas em relação ao passado da jovem Jacqueline. Não percam...