And yes, baby, I've got you. escrita por Lushaws


Capítulo 1
Capítulo Solitário.




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– Vai embora logo, Matt!

– Calma, amor. Me desculpa, mesmo. Eu só... – ele se preparava pra justificar, o que só me fez ficar com mais raiva.

– Me desculpa? Sério, Matt? Desculpa? Agora? Vai se foder, cara. – apontei para a porta e ele se preparou para falar algo, mas acabou se tocando do problema em que tinha se metido e suspirou alto, indo devagar até a porta. Quando estava do lado de fora, me olhou com aqueles enormes e pidões olhos azuis.

– Baby... – fechei a porta sem que terminasse, recolhendo nervoso todos os copos que ele deixava espalhado pelo centro da sala. Um de água, um de refrigerante, um de suco, pelo amor de Deus!

Cada pequeno detalhe dele era irritante. Ele deixava a toalha em cima da cama toda maldita vez que tomava banho, esquecia de buscar as roupas na lavanderia com uma frequência assustadora, quebrava um copo a cada final de semana que passava aqui, deixava o entregador esperando pelo pagamento na minha porta toda vez que pedíamos pizza, nunca participava das reuniões em família, esquecia de me encontrar nos fast-foods que sempre íamos aos fins de semana e passava praticamente o dia todo com aquela droga de guitarra nos braços. Ele nem sequer alimentava o próprio cachorro!

Ouvi o barulho do alarme de incêndio disparar e corri até a cozinha, lembrando-me das panquecas que eu estava fazendo antes dele chegar. Desliguei o fogo e liguei pra portaria, para tranquilizar o síndico sobre o alarme.

Suspirei alto ao ver minhas panquecas completamente queimadas, joguei-as no lixo e fui para o quarto, disposto a dormir por horas e esquecer o babaca do Matt de uma vez por todas.

Um barulho baixo me acordou, e eu me sentei na cama, bocejando. Olhei em volta para procurar a origem do som, levantando ao reconhecer o toque do meu celular. Corri até a sala e vi que ele tocava e vibrava em cima da prateleira.

– Alô?!

– Senhor Keller?

– Senhorita Bennett? Aconteceu algo?

– Na verdade, aconteceu. Senhor, a senhorita Campbell está... – logo, a voz calma da secretária foi interrompida e substituída pela nervosa e irritada de minha sócia e amiga.

– Nick, seu babaca! Eu acabei de chegar e cruzei com um George Peterson bastante irritado, indo embora e dizendo que mandaria seu agente vir aqui para quebrar totalmente o contrato com a editora. E sabe qual o motivo, Nick?

– Não! Ele é um dos nossos maiores escritores, Sarah! O que diabos aconteceu?

– Ele tinha uma reunião com você há mais de duas horas, e você não veio! – ela parecia prestes a me matar.

– O quê? Duas horas e meia? Mas a reunião só seria às oito!

– Já são vinte pras onze, seu idiota!

– O quê?

– Nós perdemos o contrato com George Peterson, conseguiu entender agora? – eu praguejei, chutando a poltrona, e me sentei nervoso no sofá, a cabeça entre as mãos. – Bom, não há mais nada que precise fazer hoje. Esteja aqui amanhã na hora certa, Nick, ou eu juro que acabo com a sua raça.

– C-claro, Sarah... E me desculpe, não vai se repetir.

– Tudo bem. Mas o que aconteceu, o Matt está doente? Ele sempre te acorda na hora certa, até decorou sua agenda! – Claro, o Matt! É ele quem me acorda todo dia, porque eu simplesmente não consigo acordar só com o despertador.

– Ele... nós brigamos. – suspirei.

– Ah... Sinto muito por isso, Nick, mas não tem como você chegar atrasado até ele voltar pra casa, então dê um jeito.

– Ele não vai voltar pra casa, Sarah. Agora é definitivo. – falei, mesmo sabendo que já tinha dito aquilo antes.

– Hm, sei... Bom, é uma pena, porque, se não fosse por ele, nossa editora estaria sem cliente nenhum.

– Também não é assim, foi só uma vez.

– Tá, tudo bem. Até amanhã, Nick. E, por favor, não demita sua secretária por eu ter puxado o telefone dela, ok?

– O quê?

– Viu, senhorita Bennett? Não se preocupe, ele te ama. – ouvi a voz abafada dela falar do outro lado da linha e logo a ligação estava encerrada.

– Droga! – praguejei, jogando minha cabeça pra trás.

Depois de alguns minutos, me levantei, seguindo para o banheiro. Tomei um banho, fiz torradas e café, comi e resolvi assistir um pouco de TV. Como sempre, estava num canal de shows. Normalmente, eu teria simplesmente mudado de canal, mas dessa vez era diferente. Dessa vez, estava tocando a nossa música. E seria impossível descrever o quanto ela mexia comigo.

You've gotta live every single day like it's the only one. What if tomorrow never comes? Don't let it slip away, could be our only one. You know it's only just begun. Every single day, may be our only one. What if tomorrow never comes? Tomorrow never comes. Time is going by so much faster than I, and I'm starting to regret not telling all of this to you. You're never gonna be alone. From this moment on, if you ever feel like letting go, I won't let you fall. When all I hope is gone, I know that you can carry on. We're gonna take the world on. I'll hold you till the hurt is gone. I'm gonna be there all of the way, I won't be missing one more day. I'm gonna be there all of the way, I won't be missing one more day. – cantei, os olhos cheios de lágrimas.

O dia em que nos conhecemos. Um show de Nickelback. Essa música, e a voz aveludada dele me dizendo “Oi.”, depois de passarmos o show todo ao lado um do outro, nos admirando em segredo. Naquele dia, foi como se cada palavra da letra daquela música correspondesse a uma promessa. Uma promessa que fizemos um ao outro, antes mesmo que existisse um “nós”.

Desliguei a TV, enxugando as poucas lágrimas que haviam escorrido pelo meu rosto. Por que ele não podia simplesmente fazer as coisas do jeito certo? Pouparia-nos tanto sofrimento!

[...]

Dia 31 de dezembro. Ano novo. Aniversário de 16 anos da morte dos meus pais. Aniversário do dia em que tudo passou a ser uma merda em minha vida.

Eu me sentia... doendo. Todo ano, a mesma coisa. Uma dor inquietante em algum lugar do meu interior, me angustiando, me frustrando, pondo lágrimas em meus olhos. Era insuportável.

Era ridículo, mas nem sequer a TV eu ligava. Em todos os canais, só se via a felicidade das pessoas com o novo ano que estava por vir – como se o novo ano não fosse ser exatamente igual ao último; como se, caso toda sua vida fosse um único ano, as coisas não aconteceriam mesmo assim. Era como se tudo dependesse dessa data estúpida, e eu fosse apenas uma formiga, encolhida no frio com medo de ser esmagada.

Nesse dia, em especial, eu sentia falta de Matt. Com todos os seus defeitos, ele sabia respeitar datas como essa. Todos os anos, ele abria mão da comemoração com sua família ou amigos e ficava em casa comigo, no silêncio. Abríamos umas cervejas e nos embebedávamos juntos. Por vezes, ele me consolava quando era impossível segurar o choro. Quando o relógio marcava 22h47min, hora exata da morte dos meus pais, ele me abraçava com força, em silêncio. Eu sentia que precisava dele aqui comigo, ou iria enlouquecer.

Deitei-me no sofá, bebendo a pulso um gole da cerveja que havia pegado. Era como se um nó na minha garganta me impedisse até de beber.

Meus olhos ardiam pelas lágrimas que eu tentava segurar, sem sucesso. Minha cabeça doía pelos milhares de pensamentos que passavam por ela. E meu coração... se quebrava a cada um deles.

Ouvi a campainha e revirei os olhos, limpando o rosto rapidamente e me levantando para atender. Abri uma brecha da porta, sem tirar a fechadura, e com surpresa vi que Matt me esperava do outro lado. Fechei novamente, só para tirar a tranca e abri de vez. Ele estava lá, vestindo um casaco todo fechado e com capuz. Olhou-me com aqueles olhos de cachorro sem dono, e eu sabia que ele sabia. Eu sabia que ele tinha percebido meus olhos vermelhos, minha postura triste, meu rosto pálido. Sabia que ele tinha visto imediatamente a cerveja e percebido que a mesma estava quase cheia. Sabia que ele sentia meu sofrimento, e sabia que ele também sofria com isso.

– Posso entrar? – perguntou com a voz baixa, e eu saí da frente, deixando que entrasse e se sentasse no sofá, pondo a guitarra na poltrona, pegando a cerveja do chão e pondo-a sobre o centro da sala.

– Então... Por que você veio aqui? – perguntei, mesmo que soubesse a resposta. Eu queria ouvir, queria ouvir de seus lábios, e eu sabia que ele tinha absoluta consciência de que palavras usar.

– Porque eu amo você. – disse simplesmente, sem dúvidas, sem meios termos.

Meus olhos se encheram de lágrimas e eu me sentei em seu colo, uma perna de cada lado, abraçando-o com força. Afundei meu rosto em seu pescoço, respirando fundo para sentir seu cheiro, e senti que ele fez o mesmo. Era algo nosso.

Depois de alguns minutos, eu saí de cima dele, pegando a cerveja já quente para derramá-la na pia e trocá-la por outras duas. Voltei para sala e o observei atentamente, enquanto lhe dava sua cerveja. Ele estava com uma das pernas encostada no braço do sofá, e parecia cansado.

– Está tudo bem? – sentei ao seu lado, bebendo um gole da minha cerveja, fascinado como ela descia melhor agora. Aliás, como tudo sempre ficava melhor quando ele estava por perto, seja como fosse.

– Comigo? – revirei os olhos assentindo – Claro, por que não estaria? Digo, eu estou quase morto de saudades de um certo cara, mas fora isso, tudo bem. – revirei os olhos novamente, não contendo um sorriso no canto da boca.

– Você parece cansado.

– Ah, isso. É porque eu não estava na cidade. Fui visitar minha mãe, porque ontem ela me ligou e simplesmente surtou no telefone, falando sobre como eu sou um filho desnaturado, como eu nem devia ter nascido, o quanto ela se arrependia de ter colocado no mundo uma pessoa tão sem-coração, dizendo que me amava demais, que sentia minha falta e que, se eu não estivesse lá hoje pela manhã, ela viria até aqui e me bateria até eu ficar inconsciente. – tagarelou, e eu ri, pensando no quão aquilo era algo que a mãe dele diria.

– E quando você foi?

– Eu fui hoje cedo, na hora que ela falou. Peguei duas mudas de roupa, entrei no carro, dirigi até lá e, quando escureceu um pouco, voltei. Por isso demorei tanto, desculpe. Eu dirigi o mais rápido que pude e vim direto para cá.

– Como é? Você foi e voltou hoje?

– Ela me mataria se eu não fosse, Nick!

– Não, a questão não é você ter ido. Por que diabos você voltou, idiota? – eu ri, refletindo sobre como aquela impulsividade e praticidade dele sempre me atraiu. Se Matt queria algo, ele ia lá e fazia, sem obstáculos desnecessários ou desculpas esfarrapadas.

– Como assim por que eu voltei? Eu tinha que voltar. – ele exclamou como se fosse extremamente obvio, e eu fiquei confuso.

– Não estou te entendendo, Matt.

– Eu voltei porque você precisava de mim aqui, seu idiota. Não pensa nas coisas... – resmungou, mas eu quase não ouvi a última parte. Só no que eu conseguia pensar era no quanto eu o amava, e no quanto eu lhe era grato.

Virei-me devagar, olhando para seu rosto emburrado. Ele tomou mais um gole de cerveja antes de perceber meu voyeurismo, e se virou.

– Quê? – nem deixei que terminasse e me inclinei contra ele, unindo nossos lábios.

Ele segurou na minha cintura e me puxou para seu colo, pedindo uma passagem automaticamente concedida. Puxei um pouco seus cabelos, alisando sua orelha, como eu sabia que ele gostava. Desci meus lábios para seu pescoço, beijando e mordiscando enquanto ele jogava a cabeça para trás.

– Espera, espera, Nick! – ele me parou e eu o olhei, ambos ofegantes. – Eu queria te pedir desculpas. Eu quero que você tenha certeza que, mesmo que eu esqueça quase todos os compromissos considerados importantes, quebre milhares de copos, mesmo que eu esqueça de te pegar no fast-food e não alimente meu cachorro... Mesmo assim, eu amo você mais do que a mim mesmo. – eu sorri, meus olhos cheios de lágrimas.

– Não esqueça da toalha em cima da cama! – ele revirou os lindos olhos azuis, e eu sorri mais ainda, fungando discretamente – Eu sei disso, Matt. Digo, eu sei que você me ama, assim como espero que saiba que é mais que recíproco. Eu também amo você, Matt, a ponto de suportar cada pequena mania irritante que você tem. – ele sorriu esplendorosamente, e me beijou – Eu só quero ressaltar que são muitas... – falei e ele sorriu, sem parar o beijo.

E eu sempre tiraria sua toalha de cima da cama. Eu sempre iria atrás das roupas na lavanderia, sempre compraria novos copos, sempre pagaria nossa pizza, sempre arrastaria ele para as reuniões, sempre pegaria um táxi para voltar do fast-food, e iria todo santo dia até sua casa para alimentar seu cachorro. Sempre e para sempre, porque, no fim, eu sabia que ele faria o mesmo. Sabia que ele viajaria horas para me encontrar, sabia que abriria mão de um dia com sua família por mim. Sabia que, a cada ano novo, ele sentaria no sofá e beberia comigo com a TV desligada. Que me abraçaria a cada lágrima, e me beijaria no fim da noite. Que daria a própria vida pra me ver feliz. E isso... bom, isso era bem mais que o suficiente para mim.


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Notas finais do capítulo

Eu creio que tenha falado tudo nas notas da história. Se não leu e quer saber de algo, provavelmente estará lá.Eu não tenho beta, logo, essa fic não foi betada (pelo menos, não ainda). Portanto, todos os erros são meus e eu agradeceria muito se vocês me ajudassem a localizar os existentes.Um grande beijo, falo com vocês de novo quando responder os comentários (esperança, a última que morre e a primeira que te ilude). See ya!



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