Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 97
Capítulo 96


Notas iniciais do capítulo

Dose múltipla de amor saindo!



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— Vini.

Vini? Eu ouvi Djane chamando o filho?

Espio de longe o meu celular sobre a pequena mesa de estudos do meu quarto e não sei dizer se ele ainda tá ligado. Quer dizer, há uns segundinhos atrás estava com minha sogrinha no telefone, ela checando como eu estava, eu lhe dizendo que me encontrava mais calma e “pronta pra outra” – pois é, já fazendo piadas.

O caso é que enquanto falava com ela deixei a ligação no viva-voz em cima de meus livros e, enquanto conversávamos, eu tava arrumando algumas coisas no meu quarto antes ir tomar banho para sair pro almoço na casa do vô-sogro. Imaginei que ela desligaria e assim eu não precisaria encerrar a ligação, pois o celular faria automático logo que ela desligasse... Mas o que parece é que ela não desligou. Mesmo.

— Vini?

— Oi, mãe. Não tinha te visto.

— Parece cansado, filho. Saiu cedo também.

— Um ex-cliente tava precisando de uma ajuda e tive que dá um pulo lá, foi até rápido. Mas já tá tudo resolvido, e ainda ganhei um extra.

— Se senta um pouco.

— É que preciso colocar meu celular pra carregar.

Não sei por que ainda estou ouvindo. É errado, não é? Eu nunca imaginaria que minha sogrinha seria capaz de um esquema desses só pra me tranquilizar. Fazia ela isso por mim? Ou era coincidência? Minutos atrás eu toquei no nome do Vinícius pra saber se ele tinha feito ou dito algo a respeito do que houve no outro dia, sobre quando abri a investigação pra ele, porque meu Vini passou esses dias muito quieto. Ele dizia que tava tudo bem, porém eu sentia que ele não falava de coração.

O universo estaria querendo me mostrar coisas de novo?

Ouço alguns barulhos ali e fico naquela se desligo ou não desligo. Me aproximo da minha mesa e fico encarando meu aparelho telefônico como se pudesse ver através dele como estava essa manhã de domingo na casa da sogrinha. Me pego roendo unha quando ouço que Vini volta pra sala.

— A senhora não cansa de fazer esse sudoku, não?

Seguro o riso como se estivesse lá. Sou muito besta mesmo.

— Gosto de manter a cabeça em atividade. Ajuda a relaxar também, manter a cabeça fora de algumas preocupações.

— Acho que eu deveria começar a fazer um desses então.

— Por que diz isso?

— Nada não. Só estou cansado.

— Você tem andado calado, filho.

— Só pensativo.

— Ainda assim, devia falar com ela.

— Ela quem?

— Ora quem? A Milena.

— Mãe, não é nada com...

— Eu sei ler tuas expressões, Vinícius. Quando vocês brigam, eu sei. Quando vocês estão se estranhando, eu sei. Quando vocês andam quietos demais, eu sei. Quando estão planejando me prender em casa que eu descobri recentemente.  

Eu não sei se gargalho, segurando a fissura do celular de áudio para eles não me escutarem, ou se caio num facepalm por esse drama final de Djane. Tá parecendo mamãe. E olha que Djane saca mesmo quando tá rolando algo entre a gente. Confidenciei, inclusive, nessa ligação que estava receosa sobre o comportamento do seu filho. Diferentemente dela, ele parecia um pouco ausente.

Mas ela me fazer ouvir conversa alheia? Dela com o Vini? Eu custava a acreditar. Nem por isso eu desligava o telefone.

Ouço um suspiro ao longe e não sei dizer de quem seja, infelizmente.

— Não é nada demais, mãe.

— Então é algo.

— É só que... Não é que eu não confie nela, ou aprecie que tenha feito o acordo a nosso favor. Às vezes... às vezes eu só queria tranquilidade pra ela.

— Acho que todos queremos isso, filho. Mas é a Milena, né?

Valeu aí, sogrinha, valeu aí pela sacanagem!

— E você duas estão envolvidas. Tem essa história do Sávio. Me pergunto como ela simplesmente aguenta.

— É a Milena, filho. Além disso, diferente de outras vezes, agora ela conta.

Tá, agora melhorou, Djane. Agora.

— Sim, tem isso. Mas às vezes é muito, sabe?

— Não é algo que alguém iria querer para a vida.

— Mãe, é a Milena. Ela falaria que “nunca se sabe”.

Tá, beleza, agora parem vocês dois!

— É verdade. Mas converse com ela, sim?

— E eu digo o quê?

— O que você sente.

— Ela já tem muito na cabeça pra eu acrescentar.

— Talvez ela só precise de uma palavra sua para se tranquilizar. É assim que vocês funcionam, certo?

Por um ou dois segundos eles se aquietam e Vini traz uma pergunta com um tom divertido e cauteloso. Eu não devia tá ouvindo, eu não devia tá ouvindo, eu nã... Mas não consigo não ouvir! Pode isso, sociedade?

— A senhora fica mesmo observando a gente?!

— Vocês que dão na cara, meu amor.

Santo Pai, Djane! Tô nem lá e tô constrangida.

Eles ficam em silêncio por mais um momentinho e fico imaginando se a conversa morreu. Começo a andar de um lado para o outro, de repente mais ansiosa e tento em aproveitar essa quietude para enfim desligar. Mas aí... Paraliso.

Sabe, mãe, eu fiquei pensando numa coisa... Uma vez a Milena me disse ter feito algo por mim. Faz um tempo isso. É algo que ela ainda não se sentiu confortável em dizer do que se trata. Imagino que seja relativo a meu pai.

— Por que acha isso? Sobre Filipe, digo.

— Por uma conversa que tivemos nesse dia que ela me contou.

Meu Deus, Djane, não fala nada, pelamor!

— É que me pego de vez em quando tentando adivinhar do que se trata. Não achei que algum dia diria isso, mas... Acho bonita a relação deles.

Ponho a mão no coração e acho que ele tá derretido dentro do meu peito.

— Acho que o quero dizer é que sinto a falta dele, mãe.

— Ô, querido. Eu também me sinto diferente em relação ao Filipe agora. Quem diria que isso tudo ocorreria em um ano, certo? Tem sido tão intenso.

— Intenso é...

— Ô, Lena, tu num vai tomar banho hoje não, hein?

Murilo desponta no meu quarto na calada e de supetão e eu salto como um gato desperto de sua concentração. Quando me viro e vejo que ele iria falar de novo, salto de novo, mas para calar-lhe a boca a tempo dessa vez. Ele se debate quando forço para que ele fique calado e quieto.

— Shhhhhhhhh, coisa. Tô tentando ouvir!

Ouirquê?

— Ouvir... a conversa.

Ficamos calados e nada mais sai do celular. Solto devagar meu irmão, caminho até a mesinha de volta e parece tudo tranquilo de novo. Aperto em desligar enfim. Murilo chega perto e pergunta com suas expressões faciais do que se tratava.

— Era uma conversa entre Djane e Vini. Ela deixou o celular ligado.

— E tu tava ouvindo tudinho?!

— Errrrrr... sim? Até você me interromper, claro.

Murilo balança a cabeça negativamente sorridente e anda para sair do meu quarto.

— Ouvir enquanto dorme e ouvir atrás da porta até vai, mas ouvir através de uma ligação? É, mana, você se superou dessa vez.

— Foi o universo, Mu! Quando eu digo que ele me mostra coisas, ninguém acredita. Olhaí a prova!

— Vai acreditando nessa, maninha, vai acreditando.

— O universo também adora me colocar em situações de difícil explicação, viu.

Do corredor, meu irmãozinho responde em descrença de novo, mas divertido.

— Sei, sei, sei...

Inspiro e tento não ficar mais constrangida com isso.

Pelo contrário, depois do que ouvi, mesmo que sem querer, me fazia mais tranquila nesse domingão. Sorrio por fim feliz.

~;~

— Eu sabia que vocês estavam aprontando, sabia!

Vô-sogro quase pode fazer uma dancinha da vitória ao declarar isso. Ok, agora ele tá dançando! Traquina, ele pisca o olho pra mim e pra Murilo, ali no canto da cozinha, a gente segurando o riso pra manter a compostura. Não é que a gente não ia contar, só estávamos esperando que Iara não estivesse no recinto pra falar da empreitada da vez.

Mas Seu Júlio sossegou? Nããããão. Não só não sossegou até Murilo confirmar que tinha algo em mente, mas também me pentelhou desde a hora que entrei na casa. O senhorzinho desconfiava de mim! Eu, tão bondosa alma! Desconfiava que eu aprontava só porque eu tava esbanjando sorrisos por aí. Cof cof esbanjando sorrisos e agarrando o namorado ainda no jardim da casa cof cof. Ah, qualé, quando eu saí do carro do meu irmão, que vi o Vinícius chegando com Djane, eu apenas fui no embalo. Saltitei – pois é, cheguei a esse nível de “bobice” – até o Vini e lhe tasquei o maior beijão! Esses, de cinema. Acho que foi Iara quem assobiou, de algum lugar da varanda.

Até Vini ficou impressionado por tanta disposição repentina. Mesmo pego de surpresa, ele retribuiu e, ah, como retribuiu! Foi uma pegada daquelas que... enfim, fizemos um showzinho improvisado. Só ouvi uns fiu fiu e logo mais Murilo resmungando, falava pra Djane seguir com ele, pois a gente “tava querendo aparecer”. Acho que ele tava rebocando minha sogrinha.

Só sei que quando Vini me soltou, mas ainda sem largar por todo, estávamos só os dois ali no jardim. Eu não conseguia parar de olhá-lo e sorrir, sorrir como uma jovemzinha envolvida com o primeiro amor. Me sentia exatamente como uma boba apaixonada e que não negava essa natureza. Na verdade, afirmava por cada partícula minha.

— A que devo a honra, namorada?

— Não sei, só vi você e essa carinha de sono...

Ele cerrou os olhos e suspirou, de repente mais cansado. Eu, por outro lado, aproveitei pra brincar com o assunto.

— Eu devia pender mais de sono... Só pra ter mais uns beijos desses.

— E eu não estaria negando.

Vini ainda surrupiou mais uns selinhos e beijos apaixonados como se não nos víssemos há muito tempo. Em uma das breves pausas nossas, acariciando-me o rosto, ele perguntou mais uma vez sobre essa surpresinha:

— Imaginei que você estaria quieta hoje e não... saltitante.

 - Acho que só... só pensei que... que eu tava gastando energia numa preocupação que não me levaria a nada. Quer dizer, em um todo, quase nada mudou. Então pensei de novo, por que me ater a isso quando eu poderia muito bem cuidar de ser feliz?

O namorado sussurrou e eu devolvi:

— Te faço feliz?

— Imensamente.

A bem verdade, após aquela conversinha que sem querer ouvi, Murilo me fez contar no caminho e eu fiz com que ele contasse o que dizia saber – que embora Vinícius não estivesse enchendo minha caixa de mensagens, nem me ligando, nem me retornando, nem me dando notícias, ele tinha sim conversado com meu irmão e ainda ligava para saber como eu estava –, e isso me tranquilizou muito. Muito mesmo. Como ouvi Djane falar essa manhã, eu precisava de uma resposta direta, só mesmo pra me dar uma paz no meio dessa tensão toda. Como Vini não me respondia... já viu.

E aí seu Júlio, que percebeu nossa falta na sala, foi até o jardim, pra perguntar se deserdava a gente ou não. Ele fez até cara de chateado. Mas só foi a gente ir pra sala, que o senhorzinho abriu o riso e o abraço. Se eu não soubesse, diria que o vô-sogro estava andando demais com Gui, mas Iara também anda muito com aquele malandro e poderia muito bem ser essa influência indireta. Ok, não nego minha parcela nessa questão.

Mas alguma coisa seu Júlio sentiu no ar. Durante o almoço, dona Fanny disse que iria preparar uma super sobremesa para o próximo fim de semana, para comemorar o aniversário de Iara, que ficou toda animada pela lembrança, mesmo com seu Júlio implorando pedaço de bolo antecipado e na cara da dona Fanny, que ainda anda controlando a entrada de alimentos do nosso vô. Murilo piscou pro Vinícius e daí seu Júlio ficou todo desconfiado. Eu nem sabia que o Vini tava no esquema!

Pois é, tem um esquema. Vamos unir o aniversário de Iara com o da Flávia na sexta-feira. Será na mesma pizzaria do ano passado, com apresentação da Dani e banda, e não é improviso de último minuto, estamos realmente planejando isso. Eu e Murilo somos os cabeças.

Ele é o Pink e eu o Cérebro! Não que ele saiba minha classificação ultrassecreta.

Mas por toda semana vamos dar um jeito de comemorar o da Iara, afinal, o último niver dela não foi nada satisfatório (na época, Filipe teve que a deixar para voltar à capital ao saber do acidente do Vini) e ela bem que merece uma comemoração completa! Pra essa parte já conto com o Gui, que também é um Pink da vida. Depois daquele momento decisivo na sexta, ele ainda ficou lá em casa um tempo. Tava um pouco tarde e como a cidade já não é a mesma, combinei com o Murilo de dar uma carona de volta. Então ficamos esperando a peste aparecer e contei algumas coisas, como sobre o aniversário de Iara.

Mais aberta, perguntei se ele toparia ajudar, entenderia se não, por que eu já tinha a palavra de Sávio. Aguinaldo assentiu, disse que não precisaria lidar diretamente com Sávio, que era algo que ele iria levar mais devagar. Além do mais, era Iara. Ela também valia esse esforço, pois também ficou no meio do nosso fogo cruzado. Não era uma compensação, Gui disse. Era só um restart. Como iniciar uma fase de jogo de novo depois de muito o monstro nos pegar ou perdermos vidas.

Era até esquisito ele levantar essas referências de videogame, visto o que foi aquilo no banheiro da faculdade e meu depoimento com Max nessa semana. De novo, só me forcei a engolir e esquecer esse detalhe, que ele nada me ajudaria, só me derrubaria.

Enfim, temos esse esquema e não podíamos comentar nada perante a mesa, porque Iara estava neste almoço de domingo. Só depois que Sávio apareceu para buscá-la, Renato também saiu com Djane e logo só estava eu, meu mano, Vini e vô-sogro. O Vini não durou muita coisa, mal bateu na cama do quarto de hóspedes, já ressonava, de cansado que estava. Sei que ele gostaria muito que eu ficasse ali na cama, mas eu estava desperta por demais, com tanta ideia na cabeça, que fui pra sala, conversar com meu irmão.

Bem aí que seu Júlio apareceu e nos pegou no sofá, discutindo detalhes. Mas não entregamos logo de bandeja, não, enrolamos ele um pouquinho só de sacanagem. Sendo redundante, Murilo mostrava-se renovado, pois estava sabendo disfarçar muito bem. Pois é, o Murilo. A gente levantou e dissemos que íamos deixar o pratinho de frutas na cozinha. E senhorzinho nos seguiu, todo ansioso. Aí meu mano contou e vô Júlio faltou soltar foguetes.

Estou quase para perguntar para dona Fanny que medicação é essa que ele anda tomando. Vai que? Vai que tá mexendo com ele? Ela saberia que seria uma brincadeira.

— Ok, no que eu posso ajudar?

— Vô-sogro, num diz isso, que a gente acaba se aproveitando.

— Minha menina, eu quero é mais que se aproveitem. Agora andem, me atualizem.

Murilo olha pra mim, eu olho pra ele.

— Tá, mas ai do senhor se alguma coisa vazar!

Vô-sogro só faz cara de zangado e não tem jeito, ele nos ganha nessa.


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Notas finais do capítulo

Estou sentindo cheiro de bagaça!

Trechinho?

"- Apenas me lembre de mandar uma cesta de comes e bebes pro RH do centro.
Ouço um bufar baixo dele, que não entende bem onde eu queria chegar e então ouço seus passos para o corredor. Logo mais veio seu resmungo:
— E sou eu quem acusam ser o insano dessa família. "



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