Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 79
Capítulo 78


Notas iniciais do capítulo

Olha eu sendo boazinha de postar outro em seguida!



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– Eu conheeeeço... de alguma novela. Lembro do clipe, lembro da moça, ela andava de bicicleta. Ou tô confundindo tudo?

Era domingo de descanso, estava eu, Murilo, Vini e Iara na casa do vô-sogro e dessa vez resolvemos usar a piscina. Estava um climinha tão ameno, nem quente demais, nem frio, apenas relaxante, a água tão gostosinha, mesmo com os meninos espichando água ora e outra em nós, que estávamos imersas e agarradas à beirada com sombra, conversando coisas quaisquer.

Havia uma área coberta própria para churrasqueiras, mas como foi uma decisão meio que de última hora, combinamos só ficar na piscina mesmo. Dona Fanny, a cozinheira da casa, era quem nos mimava com pequenos lanches e fazendo propaganda do almoço do dia. Hoje era torta de bacalhau!

Seu Júlio só ficava danado com a mulher por ela ficar avisando sobre a hora dos remédios dele, mas do jeito que eram cúmplices, percebia-se que eles implicavam com o outro de brincadeira. Era até parecido comigo e com o Murilo quando um de nós tinha que tomar remédio, costumamos ficar um atrás do outro fiscalizando.

Não sei como vô-sogro lia o jornal com aqueles dois matracas conversando perto dele. Seu Júlio parecia bem feliz, no entanto. Aquele tipo de felicidade que escapa num sorrisinho contido quando vê a casa cheia e barulhenta, e com Murilo no meio, pode ter certeza que zoada tinha. Ao menos eram respeitosos de não molhar o dono da casa, quieto e deitado ali perto numa daquelas cadeiras (ou diria cama?) de descanso.


Trilha citada: Corinne Baily Era – Put Your Records On

(1:52)

– Só sei que o nome da moça é Corinne.

Pra ficar mais um climinha relaxante, Vini pegou o notebook que tinha no carro e quem tinha pendrive de músicas consigo (milagrosamente todos nós), juntou tudo numa mesma playlist e rodava ao aleatório, volume bem razoável. Ensinamos uns comandos para seu Júlio, que se esticava e passava (ou repetia) música quando pedíamos. Quando tocava aquelas romantiquinhas do Nickelback, Murilo sempre sorria bobo e começava a cantar naquela desafinação toda. Se Aline estivesse por ali, acho que teríamos que intervir para eles não se pegarem. Se bem que era capaz de ela dar um jeito de lhe calar a boca, porque, sinceramente, meu irmão cantando... Eram arranhos até para os ouvidos de gatos.

Mas dessa vez tocava uma da Iara e uma música que eu tava atrás há anos!

– Me lembra de copiar de ti. Faz 500 anos que caço essa música!

Iara revira os olhos com graça, espiando ainda os meninos, que então chamaram atenção de seu Júlio e pediam algum tipo de informação que não dava pra ouvir de onde estávamos, nós numa ponta, eles na outra. Ela parecia relaxada, mas ao mesmo tempo atenta ao seu redor.

– Num ri, I, é sério. Tem música que só fico esperando voltar pra m... I, o que você tanto olha?

– Nada não.

Ela baixa os olhos e se atenta por eu estar espiando ela no momento. Eu só não sabia dizer se ela observava o Murilo ou o Vini, mas era pro lado deles sim.

– Sei. Não vem me dizer que tá se deslumbrando pelo meu irmão nessa altura do campeonato.

Iara reage me batendo no braço de leve, que me faz rir que nem besta. Mas fico atenta ainda às suas quietas e incertas expressões. Algo a incomodava, eu podia ter certeza.

– Não, sua boba. É só que...

– Que...?

– Acho que ele nunca vai poder vir aqui.

Iara declara baixo, com um muxoxo e um dar de ombros de quem já se resignou com isso. Sigo o olhar dela para onde mais uma vez divaga e intuo sobre quem ela quer dizer. Sávio. Pensando por esse lado e ver aqueles dois do outro lado importunando outra vez a leitura do vô-sogro, dava realmente uma sensação inquieta. Ela quer dizer que nunca seria harmonioso como agora. Eu, por outro lado, não gosto de pensar assim.

– Poder por poder ele vai.

– Mas nunca vai ser como... como deveria ser.

– Nunca diga nunca, né? Filipe é um bom exemplo.

– É, mas... Não sei. É como viver vidas separadas. Não converso diretamente com o Vini sobre isso, e nem preciso, pois sei qual é a opinião dele. Já o Gui, cansa um pouquinho ter que evitar o assunto.

– O Gui tá pegando de novo no teu pé? Porque se for, eu...

– Não! Não está não... É só... Fica aquela coisa chata, sabe? Sempre soube que assim seria e aceitei essa situação, mas... sei lá. Achei... bom, devo ter achado errado.

Sentadas lado a lado nos degraus da piscina, ainda imersas, acabo dando um empurrãozinho nela para que pare de olhar para os meninos e de pensar por essas perspectivas. Queria lhe fazer uma surpresa, mas já que está assim, decido antecipar.

– Hey, isso não é pra sempre. Vai melhorar e... Olha, acho que sei o que pode ajudar.

– O quê?

– Murilo tava me perguntando no outro dia quando a gente pode marcar algo para eles se conhecerem melhor. Nada muito formal. Um cinema, uma pizza, uma zoeira lá em casa, vocês escolhem.

– Sério?

– Seríiiiissimo. Ele ficou chateado porque o jantar de apresentação rolou enquanto a gente tava fora da cidade, ele tava doido pra tocar o terror junto com Filipe!

Isso é o bastante para animá-la, pois Iara abre a boca em um breve choque e logo mais um sorriso daqueles, bobos e embaraçados. Mesmo que nos últimos dias eu mal pudesse respirar, teve um dia que embromei no trabalho e sequestrei Iara para me contar ao menos a versão resumida desse esperado encontro.

– Ai, mentiiiiiiiira! Então ainda bem que não ficaram, porque o Sávio tava muito pilhado!

Tão pilhado que derramou vinho na mesa, quebrou um copo e esqueceu até do capacete quando saiu do apartamento. Quando se tocou, já estava no estacionamento e teve que ligar para Iara ir deixar. Mas quem foi lá... Foi o Filipe! Como eu queria ter sido uma mosquinha nesse encontro! Não se sabe bem o que os dois conversaram, mas depois disso Sávio ficou bem mais tranquilo. Quer dizer, até aquele dia que ele deu uma surtada com o Bruno, mas isso se tratava de ooooutra coisa. Que nem por decreto eu devia mencionar a ela, fazia parte do trato.

– Mas espera, e o Vini?

– Ele vai ser convidado, mas fica ao critério dele ir ou não. Se for, bom, se não, tudo bem. Não te preocupa, que a Aline vai também, aí a gente freia o Murilo nas palhaçadas dele. E nem te disse! Seu Júlio também tá todo interessado!

– Juuuuuuura, Mi?

– Juro o quê?

– Que isso tudo é verdade?

– E eu lá sou mentirosa?! Não responde. É sério. É porque tu num viu quando a gente chegou, que Murilo tava falando pra ele que a Aline não poderia vir, e aí seu Júlio só disse “sim, e quando eu vou conhecer o tal rapaz?”, e a gente “que rapaz?”, e ele “ora que rapaz, o que a Iara apresentou pro meu filho”. Aí o Vini, que apareceu depois, chamou o avô para não sei o quê e a gente se distraiu. Mas juro juradinho, seu Júlio falou!

– E tu guarda esse ouro de mim por quê? Que eu te fiz, sua chata?

– Num sei, ainda não descobri.

– Milena!

A bendita espicha água na minha cara e espicho de volta. Começamos a guerrear e quando vejo Murilo veio em “defesa” dela e o Vini aparece pra me “proteger”. Entre gritinhos e novos ataques, não sei como a gente se virou e começou a atacar eles, que ficaram resmungando nossa ingratidão. Foi nessa que Murilo se preparou para um super golpe e consegui puxar Iara. Tava uma zoeira tão maluca que ninguém se deu conta de quem chegava. A água toda foi bater em outra pessoa.

Mas... o que... significa... ISSO?

~;~

– A senhora não anda trabalhando demais de novo não?

Djane fita a comida que levava à boca no garfo e sentimos o perigo dessa pergunta do Vini. Era algo que todo mundo havia percebido, já que Djane só apareceu minutos antes do almoço ser servido, com roupas um pouco formais, apesar de suas chinelas quebrando o look para despojado e mais relaxado, e com a promessa de logo voltar para o departamento. Mas o perigo não era sobre isso, Djane parecia um pouco estressada e isso ficou bem claro quando ela se segurou para não estourar com o Murilo, por a peste tê-la molhado assim que chegara.

– Desculpa, desculpa, desculp...

Djane abriu a boca e olhou para baixo, onde suas roupas haviam molhado. O malandro do meu irmão acertou em cheio a barriga e o quadril dela. A sogrinha indignada fechou a boca e pareceu contar até 5 para não ralhar com Murilo na hora, embora ele muito merecesse. A peste saltou da piscina num único movimento e se aproximou para mais desculpas, e eu quase tive um facepalm por ele estar respingando mais água por todo o caminho. Djane foi inteligente ao menos de se afastar logo que ele chegou perto e só apontou pra ele fechar o bico.

A gente foi inteligente de também manter o bico fechado, menos o Vini, perante a mesa no jardim para o almoço. Mas Djane revida com um tom mais sensato e ameno, novamente mantendo o controle da situação.

– Por quê? Vocês já vão planejar me sequestrar e me trancafiar de novo?

– Claro que não, mãe! Só...

– O Fabiano mesmo me intimou para esse projeto em especial, ele quer que eu... cuide desse caso... que estamos trabalhando.

– Mas em pleno domingo?

– Às vezes a gente tem que fazer uns sacrifícios para um bem maior.

– A senhora está andando muito com a Milena.

E em pleno domingo sou trolada pelo meu próprio namorado, que arranca sorrisos de todos, até mesmo de sua mãe. Menos de mim, claro. Ok, eu ri, só não quis demonstrar muito.

– Olha, eu tô quieta no meu canto. E se foi Fabiano que chamou, eu confio.

Já vô-sogro quer saber mais sobre o diretor.

– Fabiano não é aquele que veio para o seu almoço de aniversário?

– Sim, sim. Ele mesmo.

Vini aproveita a brecha e sinto que ele quer investigar mais, interessado todo. Foi há um tempo que ele disse que queria conhecer mais do trabalho da professora e de suas relações de amizade. Principalmente a que ela tinha com Fabiano. Já havia explicado a ele que era mais ou menos no mesmo esquema comigo e o Gui, e o Vini se espantava em perceber que, embora visse muito da minha amizade com Aguinaldo, ele não sabia nada sobre a mãe e Fabiano. Vini, por outro lado, não achava nada parecido com minha relação com o Gui.

Só que o “tiro” de Vini sai pela culatra. Acho que Djane sente as intenções e é esperta em responder. De fato, ela tava andando muito comigo.

– A senhora conhece esse Fabiano desde quando?

– Profissionalmente ou pessoalmente? Porque a gente já...

Ela escolheu esse lindo momento reticente e altamente SUGESTIVO para encher a boca com mais uma garfada. Sim e com certeza Vini tossiu. Até o Murilo engasgou. Na verdade, até eu levantei as sobrancelhas.

– O-o QUÊ?

Rindo em sua “pilantrice”, Djane acrescenta:

– O quê o quê? Vocês não me deixaram terminar de mastigar. A gente já se conhecia do mestrado. Na época ele trabalhava como docente, não como diretor. Quando eu entrei na instituição, ele tinha o meu cargo, chefe de departamento. Ele ainda perambulou muito pelos departamentos até virar diretor.

Antes que Djane dissesse algo mais, dona Fanny aparece com uma bandeja com mais suco, copos e gelo e, ao que parece, o telefone sem fio da casa. Ela pede licença a todos e se vira para o vô-sogro:

– Senhor, uma ligação. É o Filipe, seu filho.

– Filipe, a essa hora?

– Ele diz que é urgente.

A despeito de Filipe ser um tópico de não discussão aberta entre nós, por motivos óbvios, esse recado de dona Fanny alarma a todos, que nos entreolhamos, de repente preocupados assim que vô-sogro pega o telefone, levanta-se e se afasta para atender.

O silêncio fica à mesa. Seu Júlio não demora. Volta e senta-se à sua cadeira sem se importar com o quanto nós o perscrutarmos. A pergunta fica no ar.

– Era apenas uma documentação de que ele está atrás.

Todos parecem suspirar de alivio.

– Ele está vindo buscar, coisa rápida.

Iara parece estranhar a informação.

– Deve estar bem necessitado, pois me disse hoje que estaria bastante ocupado em um almoço de negócios com um amigo distante. Silveira acho?

E para minha surpresa, quem “responde” é o Vini:

– Aquele que tem um rancho?

Mais uma vez Iara parece estranhar. Melhor, se espanta que o Vini conheça.

– Sim. Como você sabe?

– Uma vez fui lá.

– Sério?!

Agora é o Vini quem se espanta. Eu, como os outros, só observávamos o bate-bola do momento, alternando de um para o outro enquanto terminávamos de comer. Até me esqueço da torta só pra prestar atenção nessa pequena conversação.

– Por quê?

– Porque... Ele não gosta muito de falar sobre esse cara. Fica... misterioso, sei lá.

Vinícius dá de ombros.

– Hum. Devem ter se desentendido depois... Não me admiraria, acho.

Ele não fala por maldade, fica claro pelo seu tom que não era sua intenção. Seu Júlio parece ficar mais tranquilo, assim como meu irmão, quem observa e gosta dessa tomada de posição do Vini, por mais simples e mínima que seja. Vini não demonstra tanta resistência como antes e a gente luta para não forçar a barra em nada. Iara logo puxa outro assunto e Djane... Num sei, Djane parece ficar pensativa. Talvez estivesse com a cabeça no departamento de novo.

– Hey, alguém trouxe um carregador de celular? Esqueci totalmente de carregar o meu.

Murilo se manifesta, aproveitando pra cobrir qualquer silêncio que poderia ficar por o assunto de Filipe morrer, ele oferece o seu carregador que trazia na mochila. Logo dona Fanny retorna e pergunta se gostaríamos de algo mais. Negamos e elogiamos mais uma vez o especial de domingo, brincando com a senhorinha, que torna a lembrar vô-sogro de suas medicações. Antes de se retirar de novo, tenta confirmar com Djane se ela não queria algo mais, pois, da mesa, ela foi a única a não responder quando a cozinheira perguntara. Mas Djane está em outro mundo.

– E a senhora?

Com o vácuo, Vini chama a atenção da mulher:

– Mãe?!

– Oi! O quê?

– Só pra saber se gostaria de algo mais, senhora Garra.

– Não, não, dona Estefânia. Estou satisfeita. Estava delicioso, como sempre.

Djane falava e, como diz a expressão, o sorriso não chegava aos olhos. O almoço estava divino, bem verdade, só que ela estava tão distante a ponto de não demonstrar que apreciava. De qualquer forma, dona Fanny assente e se retira. Os outros entram em outros papos e eu... observo de soslaio a sogrinha pelo resto do horário de almoço. Algo estava diferente. Eu não saberia dizer o que era.

~;~

Devo ter falado aff pela 8765489º vez em 45 minutos de reunião. Era porque o Gui estava implicando com o Sávio sobre os tópicos e divisão de tarefas da nossa atividade em grupo. A cada coisa que o Sávio dava ideia, lá vinha o Gui pra discordar, pra achar que não tá legal, pra acrescentar qualquer coisa e ou eu ou Acácio ter que intervir.

Domingo à noite foi a única hora que pudemos marcar para conversarmos civilizadamente como um grupo. Detalhe, online. Formamos um pequeno chat privado numa rede social e tratávamos os pormenores de pesquisas preliminares que fizemos para essa discussão. Estava um pouco cansada do dia, mas nada me cansava mais que esses comentários desnecessários do Aguinaldo.

Mas reunião pleno fim de noite (e de domingo) continuava sendo a treva!

Nesses momentos de segurar a língua (ou melhor, os dedos de digitar), pensava que estaria desperdiçando bate-boca. Se eu tive que despachar o Vini por isso, que logo resolvêssemos essa parada.

E olha que o Vini resistiu muito em me soltar. Era pouco mais de 20h quando argumentávamos na porta da minha casa enquanto nos agarrávamos aos últimos minutinhos de namoro. Dia de domingo é assim, uma luta pra aceitar a segunda-feira. Parece sempre tão curto! O namorado então... resistia ao máximo! Nem parecia ligar para as pendências que eu ainda tinha pra resolver. E aquela carinha dele não ajudava nada.

Por isso mesmo eu argumentava:

– Já vagabundei o dia todo, preciso voltar pra realidade.

Enroscado em mim, ele retrucou todo charmoso, com aquele seu tamanho sorriso que me arrepiava o pescoço quando falava pertinho do ouvido ou distribuía beijinhos pelo pescoço. Eita ponto fraco!

– Eu soooooou sua realidade.

Aham. Vislumbrei ele ao alto dos meus ombros, nas minhas costas, quando me voltei para trás e lancei:

– Essa realidade não revisa minhas atividades, revisa?!

Ele se distanciou um pouco e fingiu pensar.

– Hummm... Não.

Fui além no meu apelo, pra garantir.

– Além do mais, eu marquei com o Sávio, lembra? De discutirmos o plano online? É a única hora que dá pra juntar ele, Acácio e o Gui num mesmo lugar e que não dê treta.

Depois dessa, Vini só fez um muxoxo com um “hunf”. Novamente ele “fingiu pensar”, e não mais argumentou, só retrucou mesmo, desgostoso da situação. De ter que ir embora cedo, não de eu ter que lidar com Sávio. Era, afinal, trabalho da faculdade, ele não podia reclamar algo sobre aquele seu desconforto. E era online!

Sem falar que ele sabia que se a gente não se conciliasse, basicamente quem teria que mediar o trabalho era eu, porque Gui seria o primeiro a dar pra trás (e está quase dando!), não importando se isso ia afetar sua nota. No semestre passado ele aguentou muito de André e na marra, assim não estava disposto de “aguentar” isso com Sávio.

– Já falei que não gostei desse professor?

Imagina se ele realmente soubesse de umas paradas...

– Já falei que vale nota?

Ele tentou mais uma vez, sabendo bem que era mais que batalha perdida. Falava por implicação mesmo. E eu rebati. Quer dizer, ao menos ia!

– Já falei que não quero ter que ir agora?

– Já falei que...

– Mi!

– Vini! Isso é obstrução de... serviço. Prometo que ainda mato alguma aula esse semestre, só... Ok?

Tentei me sair de seu abraço e aí ele tentou o velho golpe do “desinteresse”. Ou melhor dizendo, do “penoso”, como se eu não conhecesse!

– Ta, né. Já sei quando não sou bem-vindo.

Agarrei uma ponta de sua camisa quando ele tentou passar por mim e o paralisei. Quase podia ver seu tamanho sorrisão, mesmo que de costas para mim. Ele se entregava totalmente, não tinha jeito. E já voltava com propostas...

– Seu chato.

– Depois de TRÊS beijos, juro que não vou ser mais chato.

Entrecerrei os olhos e negociei com uma contraproposta.

– Há controvérsias. Posso prometer... um e meio.

– Como é um beijo e meio?

– Só vai saber se aceitar o acordo.

– Tem uma namorada querendo me enrolar...

– Ou isso ou nada feito. Que você prefere?

Antes que ele respondesse, puxei-o para o merecido beijo. Consegui cumprir o meio beijo – que na verdade é um interrompido – porque em tempo um Murilo resmungão apareceu na porta, chegando com o churrasquinho que tanto cheirava no bairro. Essa propaganda me fez empurrar o Murilo ir lá comprar. Só foi mesmo depois de muita insistência e ameaça minha de cutucá-lo de novo.

Isso porque meu maninho tava um camarão, todo vermelho e ardendo. Eu disse para passar protetor solar e ele ficou naquela de que era frescura, nem tava tanto sol assim. Não tava, mas ele saiu vermelhinho de lá do mesmo jeito. O Vini ao menos me ouviu – se bem que ele pode ter aceitado só pra ter a desculpa de eu passar nele e ele em mim.

Aff, leio mais um comentário daqueles do Gui sobre não compartilhar das preferências do Sávio sobre dada metodologia. Estou até considerando a lição do professor Max sobre se virar para lidar com pessoas de que não gostamos para realizar um trabalho. Nesse ritmo, o roteiro não vai sair hoje!

Murilo, no sofá assistindo TV, me desperta dos pensamentos. Apesar de estar quase de costas para mim, eu na mesa de estudos do outro lado da sala, ele aumenta a voz pra poder ultrapassar a do filme e se direcionar a mim:

– Se você falar “aff, meu” mais uma vez, quebro essa tigela de pipoca na sua cabeça.

Viu, Aguinaldo, eu poderia estar assistindo filme a essa hora! E ainda sou ameaçada de morte!

– Ela é de plástico, Murilo.

– Você entendeu. O que tá pegando?

Meu maninho vira-se pra mim, mostrando que o filme ficava em segundo plano se eu estivesse com algum problema. Dou de ombros, mas quando eles baixam novamente, demonstro meu puro cansaço e frustração com um longo suspiro. Era 23h15 e eu já estava sonhando em deitar na minha cama.

– Só o Gui se fazendo de difícil por causa do Sávio.

– Hum... Você quer que eu fale com ele?

– Acho melhor não. Mas obrigada.

– Mas, Mi, você precisa falar com o cara. Principalmente se ele tá prejudicando vocês. Pode ser que ele não veja isso que está fazendo.

– Eu disse que iria dar o tempo necessário pra ele desencanar.

– Talvez ele precise de um incentivo, sei lá.

Mais do que aquele chega-pra-lá que dei nele faz um tempinho? Vou ter que renovar, é isso mesmo, produção? Só de pensar, quero minha cama mais uma vez.

A quem eu quero enganar? A verdade é que isso anda interferindo mesmo.

– Só é... complicado. Ele anda com muitos problemas com o pai.

– Isso não justifica, você sabe. Além do mais, quando era comigo, você não pegava leve.

Noto que o Murilo quer deixar algo subtendido, principalmente quando ele se vira de volta para o filme. Eu não pegava leve mesmo, não nego, mas naquela época eu tinha outra cabeça. Fora que quero manter as coisas pacíficas, pra quando puder, tratar com Gui (e com meu irmão até) sobre o novo segredo que agora tenho guardado. É de um assunto muito sério para ser leviana agora. Todo cuidado é pouco.

Por isso disfarço, entreolho a conversa digitada na tela do meu notebook e dou um ok pela proposta do Acácio de atuarmos em dupla e para nos mantermos com todo o assunto na ponta da língua, vamos trocar resumos e depois simular uma apresentação. Eu já tinha falado sobre isso mais cedo, mas o Sávio não concordou muito, porque poderíamos ter perdas de informação nesse processo. Depois de tanto bate-boca, é a melhor solução. No caso eu fico, óbvio, com o Gui.

E aproveito pra provocar meu irmãozinho.

– Tá com CIÚME, maninho?

– Só estou dizendo.

Talvez ele estivesse precisando de um cuidado especial da maninha dele. Maquino um plano rápido assim que encerro o chat, faço uma última anotação no meu caderno sobre o novo rumo desse trabalho e desligo meu notebook. Andando descalça e a passos silenciosos, surpreendo meu irmãozinho na maior hora do suspense. A sonografia do filme me deu a dica certeira.

Agarro-o pelos ombros e ele pula.

– POR-RA, MILENA!

Dou um beijinho no rosto da criatura e roubo um pouco de pipoca. Meu mano fica com aquele clássico bico e puxa a tigela de pipoca para si.

– Não sei como tu ainda é ingênuo de pensar que vou começar a pegar leve contigo. Algumas coisas não mudam, Murilo.

– Mas a gente não deixa de ter esperança.

Ele diz brincando, que eu sei por seu tom, mas não deixa de ser daquelas brincadeiras com fundo de verdade. É, mano, esperança é o que aqueles com bom coração esperam.


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Notas finais do capítulo

E olha eu sendo boazinha de novo, deixando trechinho do próximo!

"Mas eu ainda tava sofrida, lamentando enquanto ela me empurrava para o corredor. Graças a Deus que não tinha ninguém por ali, era cedo, a galera ainda se estabelecia por suas mesas.
— Minha calça preferida, por que, universo, por quê? Foi só uma piadinha e sem graça sobre aquela cueca!
Iara não deixa de ouvir antes de sair para pegar o que quer que seja para tapar a tragédia.
— Que cueca?!
Diante deste estrago e da perspectiva de um novo, melhor me preservar.
— Nem queira saber!"

e

"- O senhor está bem? Parece nervoso.
Segurando a lateral de seu tronco com cara de dor, ainda pela batida no carrinho, Filipe perde um pouco da linha de seu pensamento e me leva junto.
— Não, é que... Quer saber de uma coisa? Preciso de você.
— Eu? Em quê? Tá doendo tanto assim?
— Não, não com isso... Preciso que me ajude com um... err... Cliente.
Por que isso não me soa ser um cliente?"

Sobre a Corinne, é verdade: fiquei anos caçando essa música depois de uma novela e descobri um tempo atrás. Não sei dizer o porquê, ela me lembra a Iara.

Até breve!

A.



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