Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Hey ho, tem cap. hoje!

Notícia boa é que essa semana achei umas brechinhas e meu cérebro deu uma destravada (viagens me dão bloqueio u.u), assim uns capítulos estão saindo por si só :P

Aqui tem umas referências à série de tv "Friends", que, caso você não conheça, SUPER INDICO.
A citação da peça abaixo é de uma produção verdadeira, não sei se mencionei isso noutro capítulo, mas pra todo caso, eis aqui uma reportagem sobre o caso: http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2013/04/policia-impede-que-elenco-fique-pelado-em-peca-do-festival-de-teatro.html

Enjoy!



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– A gente vai ver aquela peça? YAY!

Daniela comemora com um pulinho da cadeira quando, na nossa roda de amigos durante o intervalo de aulas, levantei o assunto do workshop de teatro que teria ao fim de semana. Era aquele evento que fazia uns tempos que ela comentava, chamava e conquistava a gente para ir. Mais precisamente, ver aqueeeeela peça que, dizem os rumores, os personagens tinham que tirar a roupa (toda, se possível) perante o público na rua, sob a lei da trama de jogos de azar. Claro que minha ideia era de prestigiar a apresentação de Eric que também teria lá, além de possivelmente vê-lo e poder conversar, mas Daniela? Ela queria ver essa peça polêmica, independente de Bruno gostar ou não da ideia.

Ele tenta “aquietar o facho” dela.

– Yay, nada. Que história é essa de ver macho tirando roupa?

– Mas de novo isso? Não é nada demais. Vamos pra prestigiar a arte.

– A arte do nudismo, você quer dizer.

– A arte de admirar a expressão artística do ser. Se estarão nus, é uma eventualidade.

Dani defende seu ponto como uma sábia, convence muitos da roda, que acenam, assentem, dizem yeah, e riem discretos sobre essa discussão. Quando a agradeço com um breve mexer dos lábios em silêncio ao meio desse alvoroço que ela causa, e ela olha para as mesmas direções que me volto em seguida, Flávia e Gui, também compreende meu ponto. Que a energia dela era uma forma de dar mais ânimo ao nosso grupo em especial, que estava num clima bem estranho desde o término do namoro de Gui e Flávia.

Por vezes já senti que éramos como aquele grupo de amigos da série americana Friends. Daniela e Bruno, por suas instabilidades e teimosias, eram claramente Rachel e Ross, respectivamente. Flávia e Gui, o “casal” perfeito, eram Mônica e Chandler. Eu, e minhas loucuras, era a Phoebe. E Sávio, bom, esse bateu “estranhamente” de ser um Joey Tribianni da vida.

A dinâmica da gente era mais ou menos assim. Ao meu exagero de apontar que o término era como começar um caos no mundo, cheguei a correlacionar com essa de Friends. Se quando Rachel e Ross revirava todos com suas idas e vindas, o que seria separar o casal perfeito, Mônica e Chandler? Flá e Gui?

Mas claro, isso é pensar demais, correlacionar e horrorizar demais. Eles são simplesmente Flávia e Aguinaldo, amigos, talvez não tão amigos agora, mas que, não iriam se distanciar tanto assim, não bruscamente. Se é chato o clima? É. Se é difícil olhar pra eles e ver o quanto estão sofrendo e não poder fazer nada? É, muito. Isso não quer dizer que vamos todos nos separar.

No dia anterior, segunda-feira, foi meio que um choque de realidade para os dois, terem que ir pra aula, se verem, estar na mesma sala, conversarem talvez, mas manter aquele espaço, pois não havia mais um relacionamento íntimo entre eles.

Muitas vezes eu e Sávio tivemos que o segurar, evitar que ultrapassasse os limites que Flávia riscou. Confessar que a amava ou que sentia muito sua falta, que queria mais uma chance, que ele iria consertar aquilo, mas que precisava muito dela ou de uma resposta, era, com certeza, inapropriado. Até porque era algo sabido, e não só por eles, mas por todos da sala.

Os alunos também se compadeciam da situação. E quando digo alunos, não incluo pessoas como André e companhia, apesar de Sávio ora ter um pé são, ora ter um pé lá com esses insuportáveis. Tive a impressão estranha, no entanto, que uns companheiros de André o repreendera num momento da aula, só não tenho certeza. Não que eu fosse perguntar, deixei pra lá.

Flávia, ao fim da aula, permanecia desorientada. Ela quem decidira assim, ela aguentava, dizia-me. Fora horrível ter que encarar todos quando teve que ficar frente a frente com Aguinaldo, todos tendo noção do que acontecia. Menos a professora Amália, que não entendia a vibe que passávamos ou por que vários pares de olhos eram clínicos para todo e qualquer movimento do ex-casal. Até pra responder qualquer pergunta aleatória da professora sobre a matéria do dia, parecia que estavam todos de luto, silenciados, que qualquer graça seria uma piada de mau gosto.

Ontem felizmente a aula tivera apenas dois horários, hoje seriam quatro. Dois com Djane se foram, mais dois com Silvana seguiram após esse break.

Então a gente tentava se reorganizar. Tínhamos, afinal, uma Daniela pra nos distrair e arrancar uma animação de sei lá de onde, o que nos mantinha num estado mais razoável de interação. Àquela roda, Flávia e Gui poderiam permanecer em extremas pontas, mas a distância era na verdade aproximação, o máximo que conseguiam. Podiam se ver pelo menos, podiam interagir singelamente.

Não seriam como Rachel e Ross que quase dividiram seus amigos.

E aquele encontro que marcávamos era uma boa sim. Uma chance de todos podermos sair, dar uma descansada dos afazeres diários de estudantes desesperados em fim de período, era a penúltima semana praticamente, eles se verem, não ficarem se perguntando o que o outro estaria fazendo, e nós mediarmos, lidarmos da melhor maneira possível com essa separação deles. Como encontrar a nova ordem.

Bruno, nosso resmungão, também fazia seu papel. Bem sabia ele como era estar do outro lado, frustrado e com poucas chances de estar com quem se quer. Ele é muito bom amigo, afinal. Apesar de se colocar como namorado ciumento sobre o caso dos “personagens machos nus”, ele traz mais uma serenidade de risos quando responde a Dani:

– Se eu fechar teus olhos, será uma eventualidade.

Agora se Luciano, o cara da recepção, nos interrompe pra me avisar que Djane está me chamando extraoficialmente em sua sala, aí eu já não acho que seja uma eventualidade. Ainda mais se senti durante seu horário que ela estava um pouco ansiosa com algo, evitando comentar qualquer coisa ademais comigo por estar atarefada.

~;~

– Milena, tem alguma coisa pra me contar, não?

Djane questiona um pouco despreocupada, sentada em sua mesa, digitando alguma coisa, foco na tela do monitor, ainda que seu tom esteja me dizendo “você aprontou mais uma, né?”. Isso pode se tratar de qualquer coisa. Tudo ou nada.

É agora que jazerá uma nora?

Piso em ovos.

– Tenho?

Ela se vira pra mim, sugestiva. Sua expressão me dita que ela sabe de algo e quer que confesse logo. Fico incerta sobre essa sua posição dura e suave, sabe-se lá se ela tá zangada, e quer uma explicação.

Ao entrecerrar os olhos mais sugestiva ainda, ela é a primeira a abordar.

– Imagino que tenha. Depois de uma surpreendente reviravolta de meu filho querendo marcar um novo jantar com Renato, sendo ele que solicitara, imagino que deva ter algum dedo mágico seu.

Ele fez isso? Nem eu tô sabendo!

Talvez fosse sobre isso o que ele queria conversar, só vi uma mensagem mais cedo, dizia que havia feito uma coisa e que talvez eu iria gostar. Ele quis manter o suspense, safado.

Agora me vejo cara a cara com a sogra sem ter o que dizer se ela pode estar chateada comigo.

– E-eu... Me desculpe?

– E pelo quê se desculpa?

Novamente esse seu comportamento duro e suave me deixa perdida. Começo a embromação, né, era o jeito, depois matava seu filho ou algo assim.

– Por ter... hã... errr... conversado com Vinícius, e... errr... sem querer ter me metido, pra saber qual era da reação dele e...

– Milena, você realmente tá preocupada por isso? Eu acho magnífico!

Tá, agora parece que ela tava de sacanagem comigo. Mas como tem essa carinha tão feliz e surpreendida, não consigo pegar raiva dela. Só continuo boiando mesmo. Ela faz gestos para que me sente, e acato, estava hesitando na porta, mesmo fechada, faz um tempinho.

– Magnífico?

– Sim. Por que não seria?

– Eu não sei. Quer dizer, a senhora deu umas esquivadas quando eu questionava sobre aquele jantar, pensei que não devia tocar no assunto, ou me envolver, afinal, é a sua vida particular e...

– Você se preocupa demais.

As pessoas me cutucam bastante nisso. Dou de ombros.

– Melhor que de menos.

– Talvez sim. E talvez seja estranho pra você se inteirar sobre mim... e Renato. Posso compreender se for isso. Eu acabei me fechando um pouco, eu sei, mas fiquei tão confusa por aquele comportamento de meu filho. Assim como ele passava batido pelo assunto, eu evitava lidar com ele. Com os dois, na verdade.

Isso porque ela não soube o que Vinícius tinha feito com Renato. Será que era melhor eu mediar isso? Quer dizer, Renato e Vinícius? Não sei, não quero me meter nos assuntos pessoais de Djane, ainda que ela não tenha essa informação. Que, claro, eu não cederia a ela.

– Então vocês... não estão bem?

Djane chega a abrir a boca para algo, faz que vai me responder, e nada sai de lá, só suas caras e bocas. Prefiro não tentar interpretar isso.

– Não precisa dizer se não quiser.

As caras e bocas permanecem, embora dessa vez algo ela consiga falar:

– Não é isso. Eu só não sei como explicar como estamos se nem eu tenho ideia. Depois daquele jantar, os afazeres, a faculdade, as aulas... está um pouco complicado.

– Posso perguntar uma coisa, correndo o risco de soar indelicada?

Djane enternece, mexe sua cadeira giratória, se aproxima mais da mesa, se debruça sobre ela e busca minhas mãos, para que possam apertá-las em segurança.

– Claro, querida. E acredito que não seria indelicada. Preocupada sim.

Meneio a cabeça, procuro formular bem a questão antes de tê-la em bom som àquele espaço que era a sala de Djane no departamento. Inspiro antes de lançar:

– Se Vinícius não desse uma chance a ele, acha que a senhora iria desistir? Desistir da sua felicidade?

Djane aperta um lábio no outro, balança a cabeça com um pouco de decepção que capto, porém, não chega a me soltar. Eu, por outro lado, não me sentia uma intrusa com ela faz tanto tempo que foi estranho assisti-la a ficar quieta. Talvez eu tenha tocado em algo delicado demais, íntimo demais. Ela já havia se esquivado de mim antes, por que eu tava insistindo nisso mesmo?

Não foi minha intenção provocar algum constrangimento, assim já ia retirar minha interrogação quando minha sogra expira, esforçando-se a desabafar:

– Sim. Batalhei muito para estar aqui em cima, para ter uma relação boa com meu filho, o que seria abrir mão do que nunca chegou a...

– A senhora faria tudo por ele.

Constato. Noto também que seus olhos brilham um pouquinho por alguma emoção que guarda. O carinho se mantém às minhas mãos, no entanto.

– Sempre fiz. Desde que abriu os olhinhos pra mim na maternidade. Faria qualquer coisa por ele. Enfrentaria tudo e todos, brigaria, se no fim eu ainda o tivesse. Sob minha asa.

– Mas desse jeito, parece que é ele quem tá cedendo a asa. E para não perder isso, a senhora tá fazendo sacrifícios excessivos. Estaria, quer dizer.

– Provavelmente. Eu não me importaria.

– Acho que se importaria sim. Por perder a chance de ser feliz. Ou mais feliz.

Djane ri boba.

– Tem certeza, Milena, que quer Administração?

– Bom, Medicina eu asseguro que não. Me realizo bem na Administração. Gosto muito até do meu estágio, a dinâmica lá é muito boa. O que vem a caso é, o que Vinícius fez exatamente? Ele não me disse nada disso!

A professora Garra gargalha quando me exclamo. Aí quem se sente boba sou eu.

– Sério? Quer dizer que eu falei, falei, falei aqui e você ficou perdida de verdade? Tava jurando que você sabia o plano todo!

– Não! Ele só me mandou uma mensagem o sacana.

Não é toda pessoa que pode chamar de “sacana” o filho de sua sogra e na presença dela. Então emendo, pego o celular para lhe mostrar o material como prova e me toco de que horas são. Nessa conversa toda nem notei que já devia ter subido, tinha que entregar uma pesquisa na aula de Silvana e... Me apresso, me levanto de supetão.

– Céus, tô atrasada!

– Pra aula de Silvana? Ela não veio. Está numa conferência de Empresarial. Amanhã talvez venha apenas para um horário, e nem o Sanches vai poder ficar também, Fabiano recrutou alguns de nossos docentes. Foi meio de última hora. Sei que estão recebendo os trabalhos por e-mail pra facilitar na hora de lançar notas.

Nunca sei o que é pior, se é quando professor falta ou quando professor dá aula. Às vezes fica no mesmo patamar o nível de chateação. Me faço de zangada. Já Djane... faz cara de travessa. Difícil lidar, repreendo do mesmo jeito.

– Poxa! Então vô pegar minhas coisas, vai ver ainda tem gente na sala.

– Já pedi pra Glorinha fazer isso, ela iria subir mesmo para aqueles lados.

– Djane! Privilégios, não!

– Só hoje, Milena, só hoje... foi na melhor das intenções, juro. Prometo não fazer mais. Só pedi para que não nos interrompessem aqui.

Volto a me sentar, ainda hesitante sobre suas desculpas. Não me aproximo da mesa dessa vez, fico na minha, na cadeira, suspeita.

– Hum. E eu não estou atrapalhando seus trabalhos não?

– Não, hoje o movimento tá bem light. Só no começo que tava bem atarefado, por isso não pude te chamar antes. Mas voltando ao assunto... tenho que perguntar. O que levou Vinícius a querer marcar “repentinamente” um novo jantar? Sobre o que conversaram?

Djane faz as aspas e tudo com as mãos. Assim como não tem noção do ponto de origem, eu mal tenho conhecimento ainda do que foi a atitude dele. Não sei se é uma boa a gente trocar essas figurinhas. Por isso tento organizar bem as coisas antes de lhe responder qualquer coisa, tomo um tempinho, ela fica na expectativa.

– Bom, a gente discutiu no outro dia e... ontem ele m...

– Discutiram no sentido conversaram ou no sentido de brigaram?

– Humm... meio termo?

Ela me repreende e eu de volta.

– Milena!

– Djane! Foi necessário. Pegando um ponto de ligação com essa história do Gui e da Flávia terminarem, por causa dos pais dele que não a aceitam, eu... levantei uma situação hipotética. Sobre o que ele faria se Murilo não tivesse o aceito. E daí tomei partida pra abordar o caso com Renato, porque eu via o quão chateada a senhora ficava e assistindo de tão perto isso com Flávia, e-eu...

– Ah, querida, só você pra mexer com a cabeça do meu menino.

– Num ri, Djane, é sério.

– Eu tô falando sério. Não sei o que colheu dessa conversa, Milena, mas fez efeito. Ontem quando chegou da sua casa, ele ficou me rondando todo sem jeito até enfim me propor uma coisa. Que agendasse um novo encontro. Pra amanhã se possível. Não minto não, me choquei também. Confesso que andei muito chateada por causa do fracasso do último e... Vinícius nunca tinha se comportado daquela maneira.

– O que fez não foi justo com ninguém perante a mesa. Ou fora dela. Ele contou uma coisa, que não posso comentar por ter confidenciado a mim, que ele sabia que eu não ia gostar, e não gostei mesmo. Depois ele se arrependeu. Isso influenciou muito na verdade.

– Bom, o que quer que tenham... discutido... fez bem. Nem sei o que mais posso dizer pra te agradecer.

Gosto desse sorriso dela, esse singelo e sincero. Mesmo que me deixe sem graça.

– Se professor Renato aceitar, já tá bom pra mim.

– Ele aceitou. E você também, não é?

– Eu tô convidada?

– Mas é claro, Milena! Murilo e Aline se puderem, por favor. Vocês são minha família, não entendo como possa cogitar ficar de fora.

E não entendo como pude me sentir uma intrusa se Djane sempre faz de tudo para que eu me sinta bem-vinda.

– É muito lisonjeio, isso sim. Claro que aceito.

– Ótimo. Confirme com Murilo, sim?

– Ok. E... nervosa?

Ela brinca, um pouco séria, um pouco boba.

– Só... um tantão maior que a última vez.

– Bom, estaremos lá.

~;~

Embora Vinícius tenha apenas dois horários de aula às terças-feiras, ele não se encontrava de prontidão na porta para me levar porque até então eu teria quatro horários e não apenas dois como se sucedeu. Assim, avisado de última hora, ele demoraria um pouco para chegar. Só não esperei por Djane porque provavelmente ela iria ficar bem mais pra cobrir a falta de alguns funcionários do departamento, por estarem envolvidos com a conferência.

Caminhando para a saída, avistei Sávio procurando seu cartão de estudante na mochila para passar pela catraca da entrada. Quando o acha, me vê também. Fica um tanto hesitante de ir embora, como se quisesse ficar, mas que também não quer abusar do acordo que fiz com ele. Num minto, fico também na dúvida de prosseguir ou esperar que ele vá.

Desde aquela noite no bar todo o nosso relacionamento retrocedeu. Ao menos era consciente dos seus atos, justificados por desculpas que não muito me convenceram, e eu não conseguia confiar em qualquer coisa mais que me dissesse. Não se fossem extracurriculares. Noutros tempos, estaríamos conversando livremente, sorrindo de bobagens, sendo companheiros. Sentia falta dele nesse quesito, de verdade. Pois agora não passava de teatro.

Como ele espera recuperar uma confiança?

Mesmo que tenha lidado com o perdão recentemente com meu irmão, quando parava e pensava em algum tipo de absolvição quanto a Sávio, não conseguia ceder isso a ele. Não apenas por ter passado dos limites comigo, ainda tenho essa sensação que esconde algo, que poderia explicar muito. Imagino que seja por essa sua índole que o faz muito reservado que não chegue a dizer nada, mas ainda assim é uma falta.

Posso estar exagerando em pedir por isso e não me importo de exigir-lhe. É importante para mim, que posso fazer? Aceitar que me engane? De enganações já me bastam a dos outros e as minhas próprias.

Acho que é isso que mexe minhas pernas para prosseguir caminho e encontrar-me com ele na portaria. Eu sabia o que queria, e não iria aceitar menos. Enquanto me oferecesse pouco, não poderia fazer nada por ele. Ou por aquela amizade boa que foi no começo.

Ele me cumprimenta ao menos, e eu de volta, educada, antes de passarmos na catraca. Havia um segurança na portaria apenas, os alunos estavam mais dispersos pelo resto da entrada, já pela rampa que levaria à calçada.

– Milena.

– Sávio... Vi seu recado. Naquele papel

Ele ajeita a mochila nas costas, não me olha diretamente.

– Pensei que... ou não tinha visto ou tinha ignorado.

– Demorei a ver na realidade. Vinícius quase leu, sem querer.

Isso o faz levantar a cabeça para mim, surpreso. Esclareço antes de mais nada para que não fique imaginando coisas por aí.

– Você... contou a ele?

– Parcialmente. Não disse que foi você. E nem pense em se vangloriar por isso, não foi em sua consideração, foi por...

Dou uma hesitada na hora de definir bem minhas razões. Ao ver a pulseira de Vinícius adornando e “pesando” meu braço, acrescento:

– Eu não poderia machucá-lo tanto.

– Não iria me vangloriar. Sabe que não.

Quase rio, controlo o deboche. Ele, por outro lado, aceita o que meu irmão chamaria de “patada”. Não tinha muitos direitos mesmo, o que ele concorda.

– Sei? Já não sei muita coisa sobre você, Sávio. Pois tudo agora me faz duvidar.

– Sinto muito por se sentir assim. Eu também... também não gosto dessa situação. Só não posso reclamar muito se... se fui eu quem nos envolveu nisso.

– Certamente.

Como não éramos mais “íntimos”, assim, quando às vezes trocávamos algumas palavras, era normal que eu fosse muito objetiva e até formal. Isso o atingia, talvez mais que meu próprio silêncio.

Quando novamente aborda o que não deve, eu o censuro outra vez, sem arrependimentos. Só não sou bruta, dito o mais calma possível, embora um pouco carregada em chateação por isso.

– Ainda sinto sua falta.

– Sabe a orientação sobre limites que demos ontem a Gui? Sobre não ser apropriado? Poderia seguir o mesmo conselho. De parar de me dizer essas coisas.

Um pouco embaraçado, Sávio foge o olhar de mim, balança a cabeça num meneio, se resigna pelo que pedi.

– Desculpe.

– E isso também.

– Prometo tentar.

– Boa noite.

– Boa noite.

Saio primeiro que ele.


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Notas finais do capítulo

Hmmm... Suspeito. Mas Dani e Bruno compensam a vibe!

Adoro essa parte de Djane, quero logo (em breve) mostrar esse jantar. Ansiosos?

Deixo um trechinho...

O cabelo meticulosamente bagunçado-arrumado se desarrumava mais ainda com ele inquieto novamente.
— Argh, tô nervoso, tô nervoso. Não conheço muito dele e já tenho que ceder a mão dela, assim, pro primeiro que me aparece?
— Hã... acho que Renato não tá pedindo a mão dela em casamento, sabe.
— Mas parece! Tenho que saber avaliar bem esse cara.

E mais um de bônus...

Eu e meu irmão nos entreolhamos. Renato desconfia.
— Por que sinto que estou perdendo uma piada aqui?
Meu irmão me acompanha no riso breve e discreto.
Eu sei, Murilo discreto?!
Já disse hoje que o mundo dá voltas, né? Né? Só pra garantir.


Abs,
Alexis K.



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