Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 37
Capítulo 36


Notas iniciais do capítulo

Hoje tem!

Vento, farofa, batatinha e uma boa dose de amizades.
Essa turma toda junta... ou dá win ou dá epic win :D
Bora ver no que vai dar então.

Enjoy!



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– Hoje TEM!

– Algodão-doce?

Sacaneio com Dani logo que o grupo escolhe uma mesa num barzinho beira de praça perto da casa dela, faço menção a uma saída que demos em que ela queria porque queria algodão-doce. Por um momento ela para antes de se sentar na cadeira que puxou e parece pensar afundo sobre aquilo, como se não estivesse ali. Acaba por dar de ombros quando volta ao nosso plano real:

– Se tivesse eu não negaria, acho. Desde ontem tô só querendo coisa doce.

Gui faz alarde depois dessa afastando-se com a cadeira dele, rindo, palhaço, mas oferece apoio a nosso amigo que acenava para o garçom do outro lado. Gosto da maneira mais segura que Bruno se porta, ele era danado de dar umas bolas foras quando se tratava da Dani, que agora pode sorrir apreciando a defesa dele:

– Opa, alerta de Temporada Para Matar. Bruno, estamos aqui por você, cara.

– Que nada, ela fica é mais charmosa.

Mas acho que Gui que queria levar uns tapas, pois provoca com um olhar desviado, super dando entender que se tratava de mim e de Flávia. A sorte dele é que tô do outro lado da mesa.

– Pelo menos alguma delas tinha que ficar, né? Já diminui as estatísticas.

– Acho que alguém aqui tá se candidatando a alvo ou estou enganada? Porque, do que me lembre, quem era boa no tiro a alvo era eu, não?

– Quem disse que a Flávia deixa?

– Eu? Não mete meu nome nisso, bonitinho, que é capaz de ser eu quem passa a munição pra Lena.

Vini finalmente nos alcança na mesa e ouve justo esse trecho da conversa, havia ficado para trás por causa de uma ligação empata do chefe dele. Foi melhor ter se afastado por ter um grupo de músicos tocando e toda uma barulheira de conversas, mas também não precisava reaparecer enquanto eu ameaçava meu melhor amigo. Eu ainda queria manter certa decência de pessoa, claro.

– Eita que eu deixo vocês por 5 minutos e já querem se matar?

Por sempre os pentelhos que gostávamos de ser, eu e Gui apontamos um para o outro para jogar a culpa e os outros só reviram os olhos. Refizemos as definitivas pazes essa tarde no trabalho – ao que parece, Flá havia o repreendido por ter brigado comigo, o que ele ficou mais mal e não sossegou até a hora que ficamos de bem mesmo.

Antes que Vini tenha que apaziguar a situação, o garçom finalmente surge e acabamos por nos concentrar no que pedir: churrasquinho, batatinha, pasteizinhos, sodas e cerva. Era sobre isso que Dani falava quando declarou toda animada “hoje TEM”, pois “nunca” tinha e bem que ela sempre tentava nos arrastar para uma cervejinha. Como eu não bebia, nem Vinícius ou Flávia queria, ficamos só naquela soda gelada com limão enquanto os aperitivos chegavam.

Aí que Dani de repente solta essa logo que dá um grande e satisfatório gole de seu copo, animada a la seu jeitinho:

– Gente, e se brincássemos de “eu nunca”?

– NEEEEEEEEEM VEM.

Adivinha quem disse? Isso mesmo, euzinha. E tratei de completar:

– A última vez que vocês fizeram essa graça, o bartender até afastou o assento de mim. O Gui também me deu uma boa detonada.

O pilantra retruca, após um gole saboreado de sua bebida, e eu só dou de ombros, entrando na birra:

– Como se tu também não tivesse feito minha caveira, dona Milena Lins.

– Ninguém mandou dançar N’Sync em cima de um capô, meu querido.

Wow, wow, wow... espera. Ninguém me contou essa parte!

É Vinícius quem interrompe a suposta discussão, animado de saber a confusão toda. Gui, por outro lado, tenta se preservar. Não havia contado todas as histórias daquela viagem ou mesmo desse jogo porque era impossível lembrar todas as bolas foras que revelamos naquela tarde na praia, uma e outra surgia de vez em quando, como agora. Imagina se eu contasse sobre Gui ter sambado de cueca em sala de aula... Ou ele me mataria ou ele revelaria algo meu pior.

– E não é pra contar!

Dani faz um muxoxo, ainda que risse muito daquela discussão toda:

– Ah, poxa. É só a gente não repetir as situações, pronto.

Podia soar como Djane no domingo, mas eu queria era me preservar mesmo. Só que não me dou conta de imediato do que falo:

– Negativo. Se for pra jogar isso mais uma vez, que seja com água, porque né?

Eu quis dizer que eu não queria acumular soda e mais soda (ou cerveja, urgh) como foi com todo aquele leite que tomamos no bar, a única bebida basicamente que estava servida, pois a licença para venda de bebida não tava liberada à época. O que soa, no entanto, é que eu tava me entregando, pois iria tomar, provavelmente, todas e “melhor que fosse com água”. Meus amigos fazem um coro de UUUUUUI e eu tento me consertar:

– Não, pera, não foi isso que eu quis dizer!

– Perdeu, Lena. Tem jeito não.

Dou um tapa de leve no ombro de Bruno a meu lado, que não desvia a tempo de a minha mão e ri junto com os outros, Gui batendo até na mesa de tanto que gargalhava e eu me encabulava toda.

– Eu só não queria que fosse com bebida, gente!

Dani nem me ajuda:

– Mas essa que é a graça! E tu nem dirige, então não teria problema.

– Eu só... mas... foi má-interpret...

Não sei por que eu ainda tentava dizer algo, que não por exato saía. Vendo que tava travada para argumentar, Vini, quem ria junto aos outros, pôs a mão em cima da minha na mesa e eu abaixo a cabeça, não sabendo se ria, se revidava, se me envergonhava mais.

– Amor, não tenta melhorar que só tá piorando.

Mas termino é cruzando os braços com falsa indignação. Poxa, eles estavam de sacanagem, porque eles tinham entendido direitinho que eu sei. Faço bico.

– Vocês são terríveis, sabiam?

– Sabia.

Ah, Gui, seu sacana!

Ainda com bico, entrecerro os olhos pra meu melhor amigo e fico tentada a contar mais que a história da aposta e o samba de cueca samba-canção. Porém, como sou uma alma muito bondosa, decido desviar aquela bagaça toda, senão era capaz de eu virar alvo pela noite toda. Conheço a peste de amigo que tenho.

– Então, né, deixando a zoeira de lado, por motivos óbvios, que a dona Flávia disserte sobre este digníssimo encontro para o qual todos fomos intimados.

Sim, intimados. Mal tinha terminado de jantar na casa de Djane, ia ficar de chamego com o namorado já que a sogrinha ia dar uma saída com Renato, quando Flávia me liga, dizendo que tinha algo importante e que era pra eu passar o celular para o Vini, que ela explicaria melhor pra ele o caminho. Dessa vez confiei que não era armação, só segui as indicações, tentando imaginar do que pudesse se tratar.

O máximo que cheguei foi que teria algo a ver com os pais do Gui? Era minha melhor opção. Mas não explicava nada. Quando estacionamos o carro e que vi os outros, aí que não entendi mesmo.

Então meu amigo sacana entrega logo tudo, dando fim às minhas adivinhações. Flávia, por outro lado, trata de restabelecer os créditos, causando um muxoxo e, consequentemente, um show de drama vindo dos meninos.

– Só tu foi intimada, bonitinha. A gente que traçou o plano todo.

A gente não, eu e a Dani. Tu e o Bruno foram só um efeito colateral.

– Viu, Bruno, fomos rebaixados a efeito colateral. Pois deixa, deixa...

– Tô vendo essa tirania contra nossas pessoas. Quando machucarem o pé ou a blusa abrir, quero só ver pra quem elas vão pedir arrego.

Falsamente ofendidas, tentamos nos defender. Eu e Dani pelo menos queremos deixar umas garantias, desviando da acusação, já Flávia se mostrava a mais bruta. Só não notamos que havia um perdido na história. Dessa vez não era o Gui, era o Vinícius mesmo:

– Hey, eu não tô desmerecendo ninguém, então se eu machucar o pé de novo, já sei em que costas me jogar. Ainda assim, injusto!

– Injusto sim, ser rebaixado não é o mesmo que entrar numa onda de azar. E quem tá rebaixando é a Flávia, não joguem pra cima de mim não.

– Vocês estão muito moles, viu, meninas. Eu aqui cheia de boas intenções e vocês nem pra me apoiarem.

– Mas, gente, do que vocês estão falando? Blusa aberta?

Eu tinha contado essa parte, juro. Só que as referências acho que não tavam batendo na cabeça do namorado, pois tivemos de recontar a história da apresentação de Dani, como Bruno deu uma de herói e agora era possível rir daquela coisa toda. Lá de novo nos distraímos com as explicações, as implicações dos meninos, até que a Dani fez bolinhas com guardanapos, jogou neles e pediu atenção novamente:

– Vocês mais enrolam que professor pra dar nota, viu. Assim a Lena não entende o propósito da coisa.

– Tô achando que é pra me sacanear, isso sim.

Aí ela joga uma bolinha que sobrou em mim.

– É sério! Mas dou as honras para a Flávia, senão ela pensa que tô contra ela de novo.

Temos que esperar a dona Flávia terminar de mastigar os pasteizinhos que enfiou todos na boca e que saboreava entre um ou dois múrmuros incompreensíveis que soltava. Não estava uma noite frienta, mas lá e cá batia um vento, sempre ameno. Gui diz que a natureza age em nossa defesa da tirania da namorada, pois, por prolongar aquilo, Bruno foi dar uma colherada de farofa, o vento passou, e lá foi tudo parar na sua camisa, todo mundo riu, porque tava maior concentração em vista da resposta de Flá e aí ela foi rir e se engasgou toda. Quer dizer, não foi nada demais, nada que precisou de uma manobra de emergência. Ainda bem!

– Tá, tá, ok, eu digo. Então... errrrr... não é nada.

Ela sorri, entrelaça as mãos, apoia os cotovelos na mesa e dá de ombros.

Toda a atenção parece se voltar para mim e fica aquele silêncio. Quer dizer, silêncio não tinha, pois toda uma MPB rolava ali naquela praça vindo do grupo de músicos ao vivo e havia muitas mesas ao redor com conversas paralelas que davam aquele burburinho infinito.

– Nada o quê?

– Nada do que você tá pensando.

– Eu nem sei o que tô pensando, imagina tu.

Eu podia estar sendo vendida para os aliens, como poderia adivinhar? Dani pelo jeito se “irrita” com tanta enrolação de novo e toma as rédeas. Cheia dos sorrisos e agitação, ela declara enquanto remexe em seus cabelos, ajeitando-os, pois escapavam do prendedor que levava:

– Ok, se a Flávia num diz, EU digo: queríamos apenas nos reunir para, você sabe, te dar uma distração. Acho que todo mundo aqui já teve sua vez, com algo bem complicado para lidar e resolvemos que você precisava de uma dose de NÓS. O melhor e o pior. O pior é o Gui, todo mundo sabe, né?

– Hey!

– A gente ia te deixar escolher o lugar ao aleatório como costumamos fazer, mas ficou bem melhor sendo surpresa. Não deu pagode, dança de salão, samba e nem forró. MPB não é minha praia, mas como a música realmente nunca importou, então...

Não ligo para a distração rápida de minha amiga, que junto com outras pessoas de várias mesas que, volta-se para a vocalista num banquinho, porque de repente só quero abraçar todo mundo. Ela logo volta para nossa bolha, pra me assistir ficar besta. De encabulada passo para tímida e agraciada, bem surpresa até, que vou passando por cada rosto daquela rodinha nossa e todos assentindo que com eles eu podia contar. Mal posso me conter por esse carinho deles. Quase me vejo sem o que dizer.

– Gente, vocês são... in-crííiii-veis!

Enchi bem a boca para dizer incríveis e olha o que Aguinaldo me responde. A mim não, ele anuncia é para o mundo:

– Isso porque até ainda agora ela chamava a gente de terríveis, Brasil... Aiê!

Dani e Flávia, uma de cada lado deu um tapinha de leve ao ombro daquela criatura que eu redecidia se o chamava de amigo, pelo menos àquela hora.

– De fato, Gui, você é pior, cara. Mas efeito colateral ou não, eu agradeço. Mesmo, mesmo. E-eu... sei lá o que querem que eu diga.

Sim, claro ou com certeza que as meninas soltam um sonoro “awn”? Até ignoraram o Gui entre elas e bateram as mãos num hi five. Bruno, a meu lado direito, diz que mereço e me abraça de lado. Deito a cabeça no seu ombro para melhor aceitar seu mimo e meu risonho namorado se manifesta, com falso ciúme, ao que o outro responde, também palhaço:

– Eu também fiz parte do plano, sabia?

– Calma, Vini, eu não tô roubando sua namorada, cara, já devolvo. E por falar em surpresa... tenho uma pra você, Lena. Ficou no carro, vou lá pegar.

Bruno me dá um beijo na testa e se levanta, pegando a chave de carro que estava na mesa, toma um gole de sua cerveja e parte para ir onde havia estacionado. Lá do meio do caminho grita para nós na mesa para que alguém me fechasse os olhos, assim eu não o espiasse quando retornasse. Vinícius faz esse favor e logo que meu amigo começa a demorar, me utilizo das pentelhadas a la Burro do Shrek com uns “já pode abrir?”, “e agora?”, “agora já pode?”, “já?”, “pode?”.

Na realidade, tentava era tomar um pouco da minha soda e comer uma batatinha, só nada de conseguir – apenas sentia que era o Gui quem afastava as coisas de mim! Um pouco mais e ouvi Dani avisar que Bruno finalmente voltava. Antes de Vini liberar meus olhos, senti que pousaram algo sobre minha cabeça. Um chapéu?

Segurei e tateei antes de o namorado desfazer a venda que eram suas mãos em meus olhos e... Era um chapéu de festa junina. Não imagino bem minha expressão quanto a isso, mas era bem provável que eu começava a duvidar da sanidade de meu amigo.

– Acho que você tá atrasado, Bruno. Estamos em julho, viu.

Ele nem me olha, só declara pra mesa:

– Diiiiiiiiiiz a pessoa que me deu ESSE chapéu de PRESENTE de Natal.

Ah, foi!

Ah, minha sanidade sempre foi questionável mesmo...

– Errrrrrr... Tá, eu lembro. Mas tinha toda uma ideologia por trás, garanto.

– E quem disse que eu não tenho uma, garota? Eu só... achei que isso te pegaria de total surpresa, como esse encontro improvisado. E dizer que tudo que já fez por cada um não foi esquecido.

Meus olhos brilharam nessa hora, fiquei toda sem graça. Por cada momento difícil que passamos, por sempre nos mantínhamos por perto, nem que fosse para apenas estar e não falar. Com Bruno foi logo que nos conhecemos, com Dani, quando nos aproximamos mais. Com Flávia, foi inúmeras vezes em nosso histórico de dois anos de amizade, assim como com Gui. Quando esses dois terminaram todo mundo deu uma força, e até quando Bruno fazia suas merdas, a gente dava um jeito de manter a vibe sem ter como nos separar. Vini também teve seus casos e até Murilo que não é bem de nossa turma.

Firmo o chapéu em minha cabeça para não voar e em mente agradeço a Deus por aqueles amigos maravilhosos. Para evitar fungar e me entregar que tava bem emocionada com aquilo, opto por tirar proveito do que Dani havia falado minutos atrás, sobre o nosso melhor e pior.

– Então, era mesmo o Gui que tava afastando as batatinhas de mim, não era?

Eu gostava de implicar.

~;~

– Não é indelicado perguntar, eu acho, só o Vini que tem lá e cá seus ciuminhos.

Faço graça pelo instantâneo bico sem jeito que o namorado faz quando Daniela questiona sobre Djane, porque eu disse que a gente saiu da casa dos Garra junto dela com Renato e aí soltaram um “então eles estão juntos mesmo? Djane-we-found-love e professor Carvalho?”.

Era inevitável, eu ria toda vez que alguém se referenciava a ela dessa maneira, “patenteada” por ter dançado Rihanna com a galera no aniversário do filho. Nem Vini se aguentava, e eu ainda o condenava por ter me feito perder essa memorável cena. Mas quando se tocou de fato da pergunta, que veio a coisa toda dos ciúmes.

– Não é ciúme, é só... poxa, o cara tá pegando minha mãe. Pode ser o cara mais legal do mundo, e ainda assim, vai ser o cara que tá ficando com minha mãe.

Os meninos fizeram a defesa de Renato, reafirmando que ele era um dos melhores professores e, provável, um dos melhores caras que tinha naquele departamento, sendo que uma das amizades mais admiráveis de lá eram a dele com o diretor, mesmo quando brigavam. No entanto, concordaram com Vini, se fossem as mães deles, eles também ficariam de olho aberto.

– Bom, se não foi indelicado, seria se...

Dani hesita, cautelosa, e todos esperamos pelo que ela pretendia dizer:

– Seria indelicado perguntar sobre a situação Murilo-André? Quer dizer, tá cedo pra saber? Ou não prefere falar sobre isso? Porque se for o caso, tudo bem, a gente... hã... só queria entender.

Então a atenção se volta mais uma vez para mim. Vini até aperta minha mão debaixo da mesa, me dando força. Inspiro e não sei bem o que dizer. Porque não tenho muito mesmo a falar sobre o assunto.

– Não tem problema, gente, é só que... esse tempo todo eu tava esperando o Murilo dizer alguma coisa que explicasse a situação como se deu, então não tenho o que responder porque até agora ele nada me disse. Eu não sei como rolou.

Meus amigos compreendem, respeitam minha colocação e dão uns consolos sobre aquilo. Enquanto falam do que era a zona no meio online sobre a confusão e sobre o vírus que rolava a solta lá, foi inevitável não olhar para Vini ou Flávia. Queria poder dizer que o vírus não era perigoso, era na verdade um falso vírus, só para afastar as pessoas do conteúdo, mas aí eu teria que explicar muito mais que aquilo e revelar coisas que, ao tempo, não competiam de ser conhecidas.

Só sei que o assunto ainda vagava pela conversa quando Vinícius interrompeu Gui, que falava sobre Iara, “a filha do chefão”:

– Ela só me disse que tinha visto o Murilo sair maluco de lá e que ligou pra Mile...

– Na verdade, ela ligou pra mim.

Até eu parei. Era de meu conhecimento que ele tinha mais partes daquele quebra-cabeça do que eu e só realmente não falava porque eu esperava algo de meu irmão. Acho que não queria ser o porta-voz, uma vez que até pra me explicar sobre a situação, ele foi o mais conciso possível. Basicamente eu só soube das coisas por causa de Aline.

Vini não olhava para nada a não ser as gotas condensadas que desciam de seu copo a sua frente. Dessa vez, calado e concentrado, acho que esperava alguma questão vir de nós. De mim talvez? Só que... o que ele queria que eu perguntasse?

Ainda muito centrado no seu copo de soda, recomeçou, como se estivesse falando sozinho. Observando-o melhor, percebo que queria parecer apático de falar daquilo, ainda que toda sua expressão nos dissesse o contrário. Ele não poderia ser indiferente àquilo:

– Filipe me ligou primeiro. Depois Iara, que me informou que não conseguia falar com você.

Se aquilo já era confuso pra mim, imagina para os outros, que tinham menos pedaços sobre aquela história. Bruno manifesta-se logo, sem que eu pudesse impedir:

– Mas quem é Filipe mesmo nessa confusão toda?

Acho que vi por visão periférica que Gui tentou fazer sinal de corte para Bruno, mas a pergunta foi feita antes de ele entender o sinal. Eu não me virava para ninguém mais, pois, para mim, os olhos só queriam entender o que era aquela iniciativa de Vini, o que ele queria remexendo naquilo.

Um novo silêncio toma conta de nossa bolha. Até que Vinícius responde, ainda que hesite por uns segundos.

– Meu... pai.

É a primeira vez que Vini se referencia a Filipe como pai, nem eu sei como reagir. Queria mesmo lidar com aquilo perante todos? Porque não precisava se fosse o caso, eu não iria fazer quaisquer exigências sobre aquilo e não queria que fosse intenção dele falar daquilo só porque me envolvia. Enfim, não forçar a barra.

Mas como tinha gente perdido ali, o Bruno principalmente, não deixou de perguntar mais sobre o que era aquilo, fazendo as ligações:

– Então... se a Iara, que trabalha com o Gui e a Lena, é filha desse cara, ela é... sua irmã?

Mais que rápido, tento mediar a situação, me virando para Bruno a fim de explicar algo ou pelo menos desviar sem entrar no assunto. Conforme fui dizendo, atraí uma empatia de meu amigo, que aí sim entendeu que era um assunto delicado.

– Não exatamente. É... hã... uma história complicada de família.

Não era meu intento afastar ninguém, só respeitava os limites que um dia Vinícius havia traçado. Só que agora... para meu espanto momentâneo, ele mesmo os quebra, mais disposto:

– Tudo bem, Lena, e-eu poss... Eu quero falar sobre isso. Quero que entendam.

– Mas Vini...?

Ele apenas segurou minha mão e me olhou tão... sei lá, que só pude assentir. Os outros se entreolhavam, ora se falando por gestos, mexendo a boca sem nada pronunciar, estavam surpresos e alvoroçados. Vini virou o que sobrava em seu copo, como se pudesse tomar coragem e partiu para explicar:

– Ano passado que eu descobri que Filipe, antes tido como meu tio, era na verdade meu pai.

Wow!

É Bruno quem exclama, pois os outros não se mostraram muito surpresos. Flávia era a que mais sabia, Gui uns pedaços e Dani tinha descoberto faz um pouco tempo. Mas eu já não os observo, meus olhos apenas são atraídos para aquele do meu lado esquerdo, o vento ameno mexendo na borda se camisa clara de botões e nas pontas de seus fios de cabelos, que logo são tomados por uma de suas mãos. Eu ainda procurava entender o que teria lhe despertado para aquilo.

Mas não era hora, então o melhor que eu poderia fazer era apenas assistir. Assistir ele tentar dominar a insegurança entre maneiras de se expressar, como ora seu rosto se contorcia e tamborilava os dedos na mesa, ora mexia as pernas, ele não parava um minuto.

– É, wow. Foi bem por acaso e isso... foi muito barra pra mim. A-Ainda é muito barra. Porque passaram todos os anos de minha vida me escondendo e também não para por aí. Djane não é minha mãe.

– Queeeeeê?

Acho que só Flávia não fez parte de coro.

– É... e-eu não... não conheci minha mãe. Pra resumir a história, Filipe era casado, teve um caso com minha mãe, ele não assumiu, nem quando a descobriu grávida, nem quando... bom, quando eu nasci.

– Caaaaara...

Era estranho ouvir aquilo. Era estranho ouvir a reação das pessoas, mesmo que fossem abafadas pela música ao vivo. A história contada era uma muito conhecida por mim e ainda assim parecia roteiro de novela. Dado um momento eu só parei de encarar Vini, me movi sem vontade e fiquei a ouvir o resto, tendo uns flashbacks de partes em que estive presente. De como aquela época foi bem dureza e tudo era confuso. Aí entrelacei as mãos e apoiei os cotovelos na mesa, me fazendo um pouco alheia.

– O irmão de Filipe, Gustavo, que me adotou. Ele e Djane. Vivemos bem até meu “pai” morrer, o que trouxe Filipe de volta à cidade. A gente se aproximou e aí tudo ficou confuso. O caso é que ele queria me reconhecer como filho, mas Djane não quis deixar. Isso basicamente acabou com nosso relacionamento. Acabou com todo mundo. Eu briguei por uns anos com ela sem saber do que se tratava, e aí... bem, eu sofri um acidente, como vocês devem saber.

Eles sabiam por alto, eu evitava falar justamente por causa desses limites. Que não se relacionavam apenas com ele, mas com Djane, seu Júlio e Filipe.

– Um pouco depois de ter conhecido a Milena foi que... a bomba explodiu. E, Bruno, não sei se você lembra, mas... você estava lá.

– Eu?

É, eu nunca tinha realmente explicado o que tinha acontecido naquele dia.

Acho que então os pratos seriam limpos.


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Notas finais do capítulo

Vini se abrindo pra galera? Até eu fiquei impressionada! Faço minha a expressão surpresa da Milena (e de todos) rs.

Trechinho do próximo?

"Esbocei um mínimo sorriso e enfim emiti a minha tão esperada opinião:
— Estou... feliz, eu acho.
Vincando seu rosto, ele estranha minha reação.
— Feliz? Por ter chamado Filipe de pai?
Era só nisso que ele pensava?"

e

"Levanto significativamente as sobrancelhas, mais surpresa ainda. Tinha certeza que por esses tempos Murilo andaria estranho, por causa das últimas semanas, mas nesse nível, não sei o que pensar. Assistir ele nessa postura, de sensato e ajuizado, era no mínimo extraordinário. Admirável, mas também espantoso. Qualé, Murilo prometendo conversar? E sem exaltações? Cheguei eu no fim da montanha-russa? No fim do arco-íris? O que os duendes tinham feito com essa figura?
Não sei, e não sei bem se queria questionar."

O que já aprontaram???
Em breve saberão...

See ya!



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