Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 27
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Andei pensando esses dias e... OLHA O COMBO.
Ok, talvez não um daqueles combos que costumei postar, mas um pra quebrar o gelo pelo fato de não estar postando com tanta frequência. Sinto saudades tbm :)
Na vdd, decidi postar um combo pq não conseguiria submeter esse capítulo sem ter uns seguintes logo ao fim, pois atuam juntos e ficar postando pingado é sacanagem, né? Não dava XD
Aproveito e digo logo que tenho uma coisa para esclarecer (é coisa boa, juro!): não sei se perceberam isso, mas, em comparação com as temporadas já postadas, a média de capítulo é de 28-30. E aqui já estamos no 26 da Finale... mas ainda não chegamos ao fim! Quer dizer, essa temporada vai se estender um pouco para dar aquele fim digno! Então qnt a isso, não se preocupem, viu :)
Dado o recado, espero que curtam os capítulos de hoje ;)
A bagaça tá garantida!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/453816/chapter/27

Férias.

Férias lindas.

Pra mim infelizmente não haviam chegado oficialmente, pois professora Silvana só liberaria o resultado daquela sua prova hoje e de noite. Não conseguia compreender o que dava na cabeça dela para estender tanto esse prazo pra uma prova besta que foi aquela. Djane só havia comentado que ela teve de fazer uma pequena viagem de urgência semana passada e que isso as deixou no limite do prazo de atualização do sistema de notas. Havia outro professor também que fazia minha sogrinha revirar os olhos por estar atrasado nesse quesito, mas era um que lecionava pela tarde e eu não o conhecia. Aquele departamento não parava em pendências, Djane vivia resmungando isso.

Vinícius também estava sendo amarrado à faculdade por uma disciplina. Seu professor de Desenho Urbano de vez em quando dava umas sumidas sem muito aviso prévio e com o fechamento do sistema sobre esse período da faculdade, o homem tá dando aloca de querer resolver tudo em poucos dias. Como Vini imaginou que ele faria isso, por aviso de Susana, sua colega de turma em algumas disciplinas, por ter estudado com esse professor maluco noutra vez, ele deu uma boa adiantada nos conteúdos e não foi pego tão desprevenido assim.

Poderia esse professor Guimarães ser o mais louco possível e ainda assim tava melhor que a professora Silvana. Ok, estou sendo um pouco reclamona e é provável que ela não mereça tanto descrédito meu assim se no fim das contas a avaliação dela foi muito boa. A questão é que queria ver logo minha nota e saber se passei ou não na disciplina dela. Eu e praticamente todo mundo da minha turma e de outras também que ficaram pendentes na mão dessa professora.

Mas a espera não passaria de hoje!

Falando nisso, para ser mais específica, o mundo parece que tava girando em torno deste “hoje”. Tudo acontecia hoje. E não digo de coisas ruins, eram coisas boas também. Dona Bia finalmente voltara ao trabalho, por exemplo. Essa manhã acordei com um cheirinho de pão-de-queijo novinho e quentinho me convidando para a mesa. Foi meio estranho porque era terça-feira e os dias de trabalho dela eram segunda, quarta e sexta-feira.

Então quando acordei – detalhe, achando que tava sonhando com um bom café-da-manhã – e me levantei, trombei com Murilo no corredor, que não tinha ido para o serviço. Ele tinha na verdade uns horários bem instáveis para ir trabalhar, e de alguma forma meu mano gostava. Até dos horários madrugueiros. Aí, por um momento só ficamos um de cara para o outro. Ele pensava que eu quem tinha feito o pão-de-queijo e eu, vice-versa, apesar de não acreditar muito, já que Murilo podia ser um muro de preguiça para esses “agrados”.

Então dona Bia, com uma saúde linda, aparece no corredor, com as duas mãos à cintura, nos avaliando e sorrindo. Quando jurei que ela ia nos mandar para mesa, soltou essa:

– O que vocês fizeram pra sumir com tanto vaso nessa casa, hein?

Eu ri. Ri demais, não me aguentei. Era bem tragicômico ela ter notado que faltavam uns vasos e plantas dos cantos da sala. Só apontei pro meu irmão e entrei no banheiro antes que sobrasse pra mim. Afinal, quem deu fim nos vasos foi ele, não eu.

Cheguei à mesa primeiro e pude roubar uns bolinhos de tapioca antes que o outro aparecesse. Desfrutei de um ótimo café-da-manhã, do qual sentia uma saudade enorme, e acabei vendo desenho enquanto dona Bia contava de seus dias que passou reclusa. Como eu, a mulher não parava quieta. Disse que descobriu uma nova receita de molho mexicano, que aprendeu a fazer uns cupcakes – ela ficou curiosa desde aquela vez que inventei de fazer para o Murilo – e, risonha, me perguntou o que andei aprontando.

– Viu, até ewa shalce qui...

Era a peste falando de boca cheia que “até ela sabe que eu aprontava”. Revirei os olhos e só disse que “aprontar era minha vida”, então não adiantava o quanto eu fugia desse destino, ele vivia me pegando de jeito. Mas agora só faria pelo bem, era uma de minhas promessas, como se fosse virada de ano. Na realidade, era virada de período na faculdade e na vida profissional.

Porque hoje de tarde também é a reunião decisiva para a qual meu ex-chefe me chamou. Acabou que não consegui falar com Iara sobre isso e, mesmo se tivesse tido a chance, sabe-se lá se ela teria alguma informação sobre o caso. Acontece que no domingo preferi não abordar nada por causa daquele ar de “briguei com meu pai” e que ela merecia um descanso, não ficar novamente se preocupando ou discutindo sobre o trabalho na empresa. Também não liguei ontem porque Flávia me alugou tanto que era tarde quando cheguei em casa. Eu não ia telefonar àquela hora para Iara e por algo que me pareceu bobo depois.

Não minto, estava bem ansiosa. Coisa que me distraiu bastante e Vinícius notou.

Ele foi dispensado mais cedo do trabalho, assim, o que antes combinamos de sair pra almoçar juntos, adaptamos para ficar namorando na minha casa e almoçar lá mesmo, já que dona Bia havia feito aquela surpresa. Foi quando ela saiu no mercado para comprar uns legumes e verduras mais novos, dentre outras coisinhas, que Vini se sentiu mais a vontade de fazer qualquer coisa, como me agarrar. Ele ficava envergonhado, não sei por que, quando ela estava por perto. Era bem engraçado.

– Já tá pensando de novo sobre essa reunião? Você vai se sair bem que eu sei.

– Será?

Receios, receios... por que tê-los?

– Claro. E mesmo que não consiga a vaga, o que é bem difícil, terá umas boas referências, não?

– É, verdade.

E então ele ria lindamente me convidando para beijá-lo novamente, sem ligar para o programa que passava àquela hora na tv. No sofá, sozinhos, ele se empolgava como fazia um tempo que não acontecia, só que de forma moderada, claro, já que não teríamos tanta privacidade assim e ele ficava meio ruborizado só de cogitar ter de ir para o quarto quando dona Bia chegasse do mercado. Isso porque ele me agarrava na frente do Murilo e às vezes da mãe dele, senão nossos amigos, mas outras pessoas, ele ficava bem acanhado. Vai entender.

Tudo isso não adiantava para mim, pilhada como estava, pois se num segundo Vini arrebatava minha atenção, no outro ele perdia. Estava difícil ele competir com toda aquela ansiedade de meu cérebro.

Mas lá e cá Vinícius sabia me dobrar.

~;~

Eu...

Estava estática.

– Senhorita Milena?

– Oi? Quer dizer... Sim. Sim!

Consegui um estágio contratado de verdade. Mal podia acreditar que dava certo!

Tava tão agoniada antes da reunião que, após Vini ter me deixado na empresa, fiquei na sala de espera da recepção e parecia a Flávia bebendo água. Na verdade, Gui me disse isso. E que era para parar. Aí eu comecei a desfiar o corpo descartável, até que dele só sobrassem mil fitas de plástico.

– Sério que você tá nervosa assim?

– Acho que tô de TPM.

Aguinaldo riu e segurou meu joelho, que parecia uma britadeira furando o chão. Realmente, eu não tava me reconhecendo. Digo, ficar ansiosa tudo bem, era meu primeiro emprego e apesar dos apesares que foi aquele meu estágio supervisionado, ele era muito importante para mim. Gostava muito das consultorias, das planilhas, de qualquer coisinha que costumava fazer. Além do mais, se fosse contratada, seria por uma conquista minha e isso era demais!

Agora se estava num nível elevado de nervosismo e aloca para ser chamada logo eu só poderia atribuir à maldita TPM. Por que todo mês mesmo? Se bem que entre vir e não vir, preferia que viesse. Eu ia lá contrariar a mãe natureza? Sou doida, mas nem tanto.

Isso até Gui resolver me lançar uma tirada:

– Quando vocês mulheres não estão?

Aí sim eu parei de furar o chão e joguei meu copo no colo dele, quem riu mais e ainda bem que a recepcionista não estava em sua mesa para ver a cena. Por um segundo isso me lembrou de Sávio e de como costumávamos brincar de jogar bola de papel no outro. Estranhamente senti falta e me perguntei o que estaria fazendo esses tempos.

Quando achei que era a recepcionista chegando, mais uma leva de estagiários que ficou conosco naquele período entrou e se acomodou aos assentos de espera. O relógio da parede parecia marcar a mesma hora sempre que eu o olhava.

Gui, todavia, era um desses que tava de boa, como se tivesse tomado relaxante ou algo assim. Tinha uma carinha de sono típica dele e folheava uma revista que alcançara ao lado, no monte onde havia jornais também e para ele era como se fosse um dia normal, muito normal. A espera tava me matando. Assim como ele tão calmo daquele jeito.

Talvez fosse mesmo hora de tomar aquelas vitaminas. Havia notado essa manhã que meus cabelos estavam caindo, coisa que era bem compreensível pelas minhas últimas emoções. Como volta e meia me sentia fraca, sempre tinha alguém me oferecendo um suco ou algo do tipo. Flávia mesmo já tava de sacanagem comigo.

Ontem inventou de me arrastar para sua casa para ajudar a enrolar docinhos da festa de aniversário de sua priminha. Era irônico ela dizer que eu precisava descansar enquanto me colocava pra trabalhar. Mas só estava lá mesmo para fazer uma média, uma tia dela podia ser bem grosseira e Flávia não tava com muito saco de ser explorada sozinha. Arrastei a Daniela junto porque se era pra trabalhar e se já tinha Flá pra reclamar, que houvesse nós duas mais para roubar docinhos.

Eles estavam deliciosos, aliás. Isso deveria ser um sinal mais de TPM, não?

Bom, dessa vez os nossos ciclos não estavam sincronizados. Se Flávia estava um chocolate amargo era por causa daquela sua tia chata – e, cara, ela era chata mesmo. Uma hora até Dani se revoltou com a mulher, porque não fazíamos do modo ordenado e a doida lá ficava reclamando. Só tínhamos mudado o método, o resultado era o mesmo.

Engraçado foi quando Dani perguntou como Flávia aguentava. Minha amiga só disse:

– É só dar uma garrafa pra ela que ela aquieta. O negócio é que por agora não tem nenhuma cerveja por aqui...

Foi divertido. Só não chamamos os meninos porque seria outra briga com a tal tia por chamar convidados demais. O que foi até bom, pois Flávia poderia se sentir sozinha por só ter casais acompanhando.

– Quê? Que foi que tu aquietou?

Gui e suas gentilezas de me trazer para a Terra. Mudei de assunto para não ter que falar de Flávia e ele ficar com aquela carinha dele. Não de sono, de tristeza mesmo. Ainda a vestia quando ela era citada, por qualquer coisa que fosse. Assim embromei:

– Tô pensando em onde posso encontrar gelatina de uva. Tá me dando uma vontade agora...

Não mentia não. De repente tinha me batido uma vontade que, olha, eu pensava seriamente onde deveria ter uma mais próxima.

– Façamos assim. Tem dessas prontas lá no Center, perto da sorveteria que eu já vi. Quando sairmos daqui, passamos lá, ok?

– Jura juradinho?

Eu parecia criança. Não devia julgar mais os meninos – Não, devo sim. O que é uma gelatina perto de uma competição sobre pimenta?

Não deu tempo de obter uma resposta de meu melhor amigo, pois a moça da recepção voltou e chamou por ele, direcionando-o para a sala de reuniões. E assim foi, um a um dos presentes foram chamados e eu ficando sempre por último. Quer dizer, eu fui a última! Quase definhei enquanto esperava minha vez, Gui contando sobre como foi a reunião e em seguida uma rápida entrevista de trabalho. Era um pouco diferente, pois se tratava de realidades já conhecidas por ele, por ter estagiado nos últimos meses ali.

Gui havia conseguido seu contrato e agora eu... Agora eu também!

Fazia papel de boba, mas e daí? Eu consegui o trabalho, baby!

Meu ex-chefe é novamente meu chefe.

Não queria mais nada senão aquela gelatina de uva e minha nota de passagem na disciplina de Instituições do Direito Público e Privado. Meu chefe se levanta e estende a mão para apertar a minha. De pronto, retribuo.

– Parabéns, Milena, considere-se em casa novamente.

– Obrigada, Thiago.

Ele pega uma papelada ao braço e me acompanha até a porta. Brincalhão, comenta:

– E olha lá o que você vai me aprontar, viu, mocinha. Tô de olho na senhorita.

– Eu? Senhor verá outra Milena. Na verdade, está precisando de alguma coisa?

A pergunta foi de brincadeira e não é que meu chefe aceita? Esse é dos meus, não é besta para dar mole assim.

– De fato, sim. Pode levar esses papéis para a sala da equipe? Tenho outra reunião agora e seria um baita desvio de caminho.

Pensei “por que não, né?”. Eu quem tinha oferecido, afinal.

Tomo a papelada e saio, feliz e quase saltitante com um tamanho sorriso pelos corredores. Me sentia quase “em casa” mesmo por saber muito bem como andar por ali e por conhecer os atalhos. É no caminho de volta que pego um desses, que dava na minha antiga (e mais nova) sala dos estagiários. Era possível que eu só mudasse de mesa. Teria conhecimento só na segunda-feira que vem, quando meu contrato começasse.

Estava tão feliz que nem notei que mais alguém estava ali durante minha ligeira passagem.

~;~

André Revire Os Olhos Hermani.

Na nossa antiga mesa de estagiário, ele estava sentado mexendo na sua mochila que nem vi, não até ele me chamar e eu paralisar no meu caminho. Faltava me dizer que aquele ser tinha conseguido o emprego também! Eu até repensaria meu contrato se fosse o caso.

Mas pela expressão dele de zangado... acho que não tinha não. O que ele fazia ali então? Por que foi chamado?

– A Mileninha perfeitinha.

Bufei. Sua presença nunca me agradou, tudo nele era de uma amargura sem tamanho. Ele fecha sua mochila, deixa sobre a mesa e levanta-se, aproximando-se de mim. Tomei uns passos pra trás pra me distanciar, claro. Demandei:

– Que tu quer?

– Quero saber o que tu anda falando de mim por aí.

Sinceramente, não sei bem o que era minha expressão, mas podia apostar que era uma mistura de incredulidade e tédio. Não tinha noção de onde vinha aquela pergunta e por que ele achava que tinha a ver comigo. Ele não tinha nada melhor pra fazer não?

– Não se faz de santinha, que eu sei que foi você.

– Não sei nem do quê você tá falando, coisa. Muito me admira ter sido chamado para a entrevista de estágio, isso sim.

Cruzo os braços e André ri. Não é um bom riso. É algo como deboche misturado à raiva e indignação. Não me imagino como estaria eu atrelada a isso.

– Fui chamado para ver umas notificações pendentes no R.H. e para prestar esclarecimento. Sobre aquela história do sumiço dos documentos.

– Ah! Isso? Ah, você mesmo disse que não se importava se ferrava com os outros, queria era me prejudicar. E me prejudicou naquela época, se não lembra.

– E tu me levou junto, sua vadia.

Como é que é a história aí? É mole ELE vir me dizer isso? Parece que pede por outro soco na cara. Me enfureço, tenho mais ânsia de socá-lo novamente, mas uma vozinha na cabeça me diz para me controlar. Que era isso que ele queria, me provocar e me prejudicar mais. Me levar na sua queda.

Ah, desgraçado.

É essa mesma voz que me dá uma ideia de contornar e não ter de sujar minhas mãos. Se André queria me atingir, eu poderia virar o jogo. Enquanto ele queria me fazer raiva, era só eu abstrair e aí a raiva se concentraria nele. Era bem simples na verdade. Assim desfoco dele um pouco, tomo um fôlego e boto um sorriso não natural ao rosto. Me contenho, não quero fazer mais uma besteira que não vale a pena.

– Como se eu tivesse muita vontade de falar sobre você. Ah, vá, André. Tu faz tuas burradas por natureza, não bote a culpa em mim.

– Isso é o que você diz...

Eu devia ter saído da sala enquanto as coisas estavam controladas, devia. Porém, um lampejo me veio de última hora e eu permaneci, ele distante de novo para buscar sua mochila na sua antiga mesa. Caminho até a minha, que ficava à frente da dele, ficamos separados por um biombo.

Por mim, sua irritação é por não ter em quem por a culpa. Devo evitar essa dor de cabeça, mas não resisto de me aproximar e tirar uma dúvida antiga, tanto que isso me leva a me apoiar em parte no biombo. Depois de todo esse tempo, quero saber por que ele implica tanto comigo. Porque não deve ser só por causa daquela aposta besta na festa dos calouros.

– André, só me diz... Por que me importunar é tão importante pra você? O que você ganha? Não acredito que é tudo por aquela droga de aposta.

Seus olhos se iluminam logo que referencio a tal aposta. A mochila, que estava sendo recolocada às costas, é deixada novamente sobre a mesa. Ele quase ri, à sua maneira, grosseiro.

– Eu sabia que você sabia disso! Se fazia de inocente esse tempo todo, hein?

– Claro que eu sabia, seu idiota. Mas e daí que você perdeu a aposta? Isso não é grande coisa.

André mostra sua zanga, como se eu tivesse tocado num ponto delicado dele.

– Não é grande coisa? Eu perdi minha moral pra um qualquer.

– Grande moral a sua. Fala sério.

– E perdi meu jet-ski.

Parei por um segundo ou dois. Olhei para o biombo, olhei para o chão, olhei para a parede atrás dele... Porque não tinha ouvido aquilo. Não podia acreditar que era essa a razão.

Por isso? POR ISSO? Essa cafajestagem toda POR ISSO?

Quase me dá vontade de rir. Melhor, gargalhar. Voltei-me novamente para ele e fui falando pausadamente tamanha era minha incredulidade e revolta.

– Um jet-ski? Você me perturbou todo esse tempo por causa de uma droga de jet-ski, seu canalha? Que PORRA de ego é esse?

Ele se endireita, faz cara de aristocrático, fala até educado, a forma que encontra para mostrar seu desprezo, só porque não sou de seu círculo de amizades, por não ser rica. Tal atitude é muito patética até para ele.

– Isso, de onde venho, é uma grande humilhação. Como é da plebe, não sabe do que eu tô falando.

Me afasto do biombo, me arrependo de ter começado essa discussão. Mas também não deixo quieto, sou ácida e provo mesmo que não me importo isso, que tudo não passa de baboseiras. É inevitável o deboche vir junto.

– Ah, tá, porque no seu mundinho perder um jet-ski é perder um braço. Oh, não, desculpe, é perder a moral, aquela que você nem tem. Ah, faça-me o favor. Eu que ainda fui boba de achar que tinha algo importante nisso, não essa desculpa furreca aí.

– Furreca? Tu presta atenção como você fala comigo, garota.

Tão furioso que fica, André sai de seu lugar, dá a volta pela mesa de reservados. Quando chega próximo de mim, tento dar no pé. Eu que não ia ficar sozinha com aquele maluco. Só que ele me segue, me cerca, me encurrala na parede, no limite.

– Me erra, idiota.

Aos poucos, como ao passo de um animal predador, André se aproxima bem mais de mim. Sinto sua ameaça escorrer pelas palavras sussurradas.

– Não pense que eu esqueci aquela advertência também, e o soco que me deu.

Avalio rapidamente minhas chances de lutar contra ele se tentar algo. Infelizmente denuncio meu nervosismo pela minha respiração irregular. Meu nervoso não é de medo, é de chegar ao meu limite. Estamos numa bolha perigosa, daquelas que a gente sabe que algo dali não vai prestar.

– Vai me bater agora, é? Seu covarde. Não tenho medo, você não passa disso.

Tento sair da cerca que ele faz em cima de mim. Como é mais forte, ele me segura, ri maliciosamente de minha tentativa. E mais ainda ao se aproximar de meu rosto, ameaçando forçar a barra. Engulo a seco, a raiva latente na minha respiração e no modo que encaro meu agressor, duvidando que tenha coragem de cumprir a ameaça.

– Olha lá, meça suas palavras, depois não reclama... bem que agora eu podia roubar o que é meu por direito. Você tá me devendo esse beijo desde a calourada.

Nem seu perfume forte consegue diminuir meu asco por ele. Conforme chega seu rosto mais perto de mim, consigo pegar um momento que vacila, dou de murro ao seu peito. André se afasta com um urrar, e logo retorna à perseguição, me segura firme pelo braço.

– Ah, você não fez isso, Mileninha, meu amor.

– Não me chama de meu amor, seu desgraçado. Agora me solta, tá me machucando.

– Ah, é? Não se faz de durona? Que se aguente agor...

Por um momento André está todo sobre mim, no seguinte, ele sumiu de minha vista, não mais há um aperto. Há André ao chão, há outra pessoa. Filipe. Acho que nunca fiquei tão feliz em vê-lo. E tão desesperada logo em seguida.

Como o protetor que não pensaria que fosse, ele me afasta mais e mais, quase me abraça. Só então retorna para onde André se levanta, o empurra com força.

– O que você pensa que tá fazendo com ela, hein?

– Senhor Muniz... e-e-eu... ela estava me provocando!

– E aí você a agarra à força, seu bastardo?

O tom de André muda instantaneamente. Não que isso assuste Filipe.

– O senhor não sabe com quem está falando.

Ele só sabe falar isso!

– Baixa a crista você, garoto, que não sabe com quem tá lidando. Eu te quero fora daqui, tá me entendendo? Saia antes que tenha que ligar para a segurança.

Os olhos de André brilham de raiva, seu rosto por todo trincado. Estavam cravados em mim como se fosse atacar novamente, enquanto eu mal podia respirar, o coração me saindo pela boca. Céus, nunca tinha o visto assim! Dessa vez ele tava me assustando mesmo, parecia um louco. Nisso, ele engoliu seu ódio e, semelhante a um felino calculista, porém, sem muitas chances, saiu enfim, batendo a porta e levando suas tralhas.

Era tão inacreditável que mesmo com o desgraçado longe não me recuperei de imediato. Nunca poderia imaginar que... Wow, apenas wow.

Tão wow que até me esqueci de Filipe ali.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Apenas que *respira* wow mesmo, hein? XD



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mantendo O Equilíbrio - Finale" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.