Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 26
Capítulo 25


Notas iniciais do capítulo

Nunca, nunca, nunca mexa com o ego de um homem. Eles ficam doidos!

Mais um post surpresa de feriado.
Na verdade... esse é um para avisar que essa semana e na outra vou ter uns intensivos de trabalhos e prova, então os posts podem vir a demorar #oops
Mas sei que vcs aguentam :) - e se bater as saudades, só visitar as outras temporadas. Tbm faço isso de vez em qnd hahaha

Boa leitura e Enjoy!



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Se você é uma garota e tem um irmão mais velho que desenvolveu uma grande relação de amizade e parceria com seu namorado, prepare-se, pois muita besteira eles vão realizar juntos. Ou separados e depois induzir um ao outro de fazer a mesma experiência. Não sei se concluo que as mulheres amadurecem primeiro ou se garotos só têm uma facilidade maior de serem crianças. Wendy concordaria comigo em relação a Peter Pan, imagino.

A brincadeira da vez era com comida, mais precisamente pimenta na refeição. Seu Júlio, exímio amante de pimenta, disse que precisava de mais delas na mesa de almoço – os famosos almoços de domingo – pois o ardor estava num nível muito baixo. Aí, pra provar, ele simplesmente pegou uma vermelhinha da mesa e mordeu, como se fosse uma fruta qualquer e que não sentisse nada, isso enquanto contava histórias sobre seus velhos dias de escoteiro na mata. Dizia que comer pimenta, para seu grupo, era sinal de valentia e respeito, mais que comer lagarto e insetos.

Eu fui a infeliz pessoa que comentou sobre a mudança de valores, que a maioria dos caras hoje querem se provar “machos” utilizando o punho, e por vezes falham miseravelmente, “imagina se comessem ou competissem sobre pimenta”. Pois pronto, foi como lançar um desafio àqueles dois. E não adiantava o quanto eu revirava os olhos, ou se Djane reclamava para eles deixarem daquilo, ou se Iara ainda ria a danar, como seu Júlio, que se divertiam às custas daqueles dois apostadores.

Sim, chegou ao nível aposta! Parece que eu tava vendo que ia dar besteira.

Quem aguentasse comer, sem ter auxílio de água para engolir ou de cuspir o conteúdo, teria um dia de rei, o perdedor tendo que ser seu “escravo”.

Podem os meninos ser menos meninos?

– E se ambos falharem?

Eles me olharam feio por essa minha questão.

Mas eu ia deixar de me aproveitar dessa? Nem que a vaca tossisse uma música inteirinha!

– Vocês têm que ser justos de considerar essa opção.

Murilo retrucou olhando para Vinícius, empurrou sua cadeira para trás e se levantou, enquanto o outro fazia o mesmo e replicava a provocação:

– Até a namorada não confia em ti.

– Até a irmã não confia em ti!

Revirei os olhos e me revelei:

– E quem disse que dou trela para vocês? Bora, cuspam logo, que se vocês perderem, quem tem dia de rainha somos nós.

– Nós quem?

Os dois pareciam ter combinado as caras de bobalhões. Pelo menos eram bobalhões lindos. Não que eu cheguei a mencionar algo do tipo, óbvio.

– Nós, garotas. Porque se é pra se provar um bando de machos, que sejamos justos.

Ok, botei mais pilha, confesso. Tanto Murilo quanto Vinícius cruzaram os braços, sérios e, ao mesmo tempo, brincalhões. Mas eu só queria relaxar e curtir esse teatro deles, porque se perdessem a aposta, quem poderia ganhar éramos nós, mulheres. Um lucro enfim.

Até a cozinheira ria dos dois. Quando trouxe um pires com novas e potentes pimentas, bem vermelhiiiiinhas, já duvidava da pose de macho deles. Murilo foi o primeiro a adotar a expressão de “onde fui amarrar meu burro”, coçando a cabeça, e Vini... ah, meu Vini estava uma graça querendo esconder que estava suando só de pensar na tamanha ardência daquilo. No entanto, dar o braço a torcer, para qualquer um deles, era outra história. Se um não desistia, o outro também não.

Seu Júlio então tomou as rédeas da situação e não digo isso de uma boa maneira. Ele, com um porte daqueles para ser respeitado, como um bom comandante, arrodeou seus netos, as mãos e braços cruzados para trás, observando-os como um monitor de acampamento, o que fazia certa graça. Faltava soltar um “sentido!”. Eu não entendia de escoteiros para saber o comando certo.

– Preparados, jovens?

– Sim, senhor!

Se seu Júlio fazia de sacanagem ou não, a plateia ficava atenta. Eu, Iara, Djane e dona Fanny, quem não sabia se temia pelos meninos, se se divertia pela situação também. Aline não pôde vir, sua família tinha desses almoços de família da mesma maneira, assim não dava para ela ficar se dividindo sempre. Quando podia, avisava que vinha. Sobre aquele “causo” com meu irmão, felizmente estava tudo bem. Só realmente não podia vir nesse domingo.

– Vou explicar como faremos o procedimento. Primeiro, deverão morder – e não quebrar pedaços nas mãos – até a metade da pimenta e mastigar até o fim. Estou sendo bonzinho em iniciar com apenas metade, então não entendo o porquê desses olhos saltados, garotos.

– Homens, somos homens, senhor!

Tinha que ser meu mano falando uma besteira dessas, eu podia sentir meu facepalm vindo.

– Que seja. Vamos ver se são homens mesmo. Em seguida, mastigarão o segundo pedaço. E antes que cheguem ao fim, morderão um outro primeiro pedaço de outra pimenta.

Só de ouvir a programação, os dois faziam cara de quem planeja fugir.

– E ao finalizar, abocanharão o restante, assim como a terceira pimenta junto.

Seu Júlio queria terminar de matar antes de começar, só pode! Até eu tinha pena dos dois, procurando argumentos para salvá-los de alguma forma, mas bem sabia que eles não iriam desistir assim, mesmo que nervosos pelo “jogo”. Seriam orgulhosos demais.

– Júlio!

Djane tentou interceptar, levantou-se. O sogro apenas elevou uma mão ao ar para qualquer interrupção antes que ela se aproximasse mais e apontou aos dois, como se dissesse que “eles sabem bem o que fazem”. Djane não se sentou novamente, foi para atrás da cadeira de Iara na verdade, que ficava ao lado da dela. Diante das circunstâncias, pra mim foi ponto pra minha sogrinha. Pois dessa vez ia para o lado de Iara sem a afastar institivamente.

Fiquei assim feliz num segundo e ansiosa no outro. Da mesma forma como Iara, mantinha as mãos ao rosto, esperando tudo. Acabei foi me abraçando com dona Fanny, a senhora baixinha e bondosa que também sentia o aperto da empreitada, que andou para próximo de mim na mesa. Sussurrei a ela quem achava que ganharia e ela me respondeu no mesmo tom que não saberia dizer, que só queria que saíssem vivos.

– Preparados?

– Sim, senhor!

– Quem desistir, deve levantar o braço em desistência. Ouviram-me rapazes?

– Sim, senhor!

– Armem-se e esperem meu comando.

Murilo e Vinícius pegaram uma pimenta das várias ao prato servido à mesa, olhavam para elas, pequenas, como se ali concentrassem toda uma força. Ou ardência. Meu vô-sogro pegou uma e abocanhou inteira com um sorriso malicioso. Mastigou sob o olhar e respiração “aflitos” de todos, fez parecer fácil. Ao fim, estalou a língua.

– É, está num ponto ótimo. No três, vocês mordem. Um, dois... Três!

Os dois fizeram cara feia na hora da mordida e mastigaram com relutância. Murilo pulava como se isso ajudasse a dispersar a ardência e eu via lágrimas saindo dos olhos do namorado. Eu não devia rir, mas tava rindo. A vontade era incontrolável, juro! Tive que tapar-me a boca, senão veriam que eu tava para explodir em gargalhadas.

Quando Murilo começou a tossir, vermelho, parou de pular e passou a se abanar. Vinícius era outro que também abanava a boca, se segurando. Aquilo era só o “início que não acabava nunca”, pois parecia que aquele mínimo pedaço rendia mais que o esperado. Acho que tínhamos todos a confiança de que nenhum chegaria ao fim vivo. Não que disséssemos isso alto e claro. Eles não iriam aguentar.

Vinícius é o primeiro a levar o segundo pedaço a boca. Meu Deus, parecia que hiperventilava de tão vermelho que seu rosto ficou. Ainda assim, não desiste, fecha os olhos e continuava mastigando. Murilo, atrasado, come o segundo pedaço e quer fazer arte. Se o comando era para morder outra pimenta enquanto não terminasse a primeira, ele juntou muito rápido tudo na sua boca. Ficou que nem maluco grunhindo, urrando e pulando de novo no seu espaço, ao passo em que Vinícius ria e quase se engasgava com conteúdo todo na boca.

Nunca imaginaria que uma tragicomédia dessas seria tão... torturante. Não sabia de quem tinha mais pena. E eles continuavam a mastigar, com a plateia mantendo-se em respiração trancada esperando o momento de alívio.

E esse alívio... não vinha.

Com muito esforço, eles engolem e rápido. Sobrava só o bagaço deles de pé, nem eretos se portavam mais. Era mais que certo que não aguentariam a fase final de “tão mais pra lá do que pra cá” que aparentavam.

Dito e f... Quer dizer, pensado e feito! Um olha pro outro e não sei como conversam em coisa de segundos. Com um assentir dos dois, levantam o braço em desistência. Desesperados, com o outro braço já pegam o copo de suco da mesa e quase se afogam em beber depressa.

Djane corre logo para seu filho e eu vou lá cumprimentar meu irmão. Estava um pouco preocupada, mas já podia sorrir por eles terem desistido juntos, o que significava que quem virava rainha ali eram eu e outras mulheres da casa. A ficha não caiu de imediato para Djane:

– Vocês ficaram malucos? Isso lá é coisa para se competir?

Aí Vini começa a tossir e não demora muito para Murilo também. Tossiam tanto que novamente ficavam vermelhos e um dando tapa na costa do outro para pegar no tranco da respiração. E Djane surtada no meio. Ela não havia gostado meeeeesmo da brincadeira. Ralhava com eles e faltava puxar-lhes as orelhas. Seu Júlio tentou os defender junto de si antes que sua nora resolvesse brigar com ele também.

– Calma, Djane, acha que eu deixaria eles se matarem?

– Acho não, eu vi!

– Foi só uma brincadeira. Olha como estão sorrindo bobos agora da peripécia.

Nervosa e agora raivosa, Djane cruzou os braços e estalou a língua balançando a cabeça em negação. Entre tossidas e risos, os meninos faziam carinhas de perdão para ela, que se fazia de durona. Começava a me preocupar de verdade com a zanga dela quando ela me solta essa, muito convicta:

– Pois agora eu quero meu dia de rainha!

Essa é a minha sogra que AMODORO!

O que a convivência não faz, né? Djane tá sabendo enganar direitinho.

~;~

Meu vô-sogro conseguiu escapar, disse ele que não tinha apostado e que, se independente de se os meninos ganhassem, ele não iria exigir nada. Então como sempre, se retirou para descansar no seu quarto, que o sono já batia na sua porta. Por ter pelo menos essa desculpa, nós o dispensamos da prenda.

Antes que saísse da sala, contudo, não deixou de me sussurrar uma lição. Um conselho? Principalmente a você que lida com os dois? Nunca mexa com o ego de um homem. É quase tão perigoso quanto negar chocolate a uma chocólatra de TPM. Minha velha Catarina me ensinou isso. Eu não deixei de concordar, assenti por dia anterior eu ter visto a Flávia ainda muito mexida e não sei o que seria de mim se chegasse lá sem os ditos chocolates. Estaria enterrada em qualquer parquinho de praça.

Isso acho que só mulher entende mesmo – e às vezes nem nós próprias. Quando um médico da área de saúde da mulher resolve tratar do assunto como um desconforto, ou leves dores, eu só quero que eles tenham um parto para lhes mostrarem que a coisa toda não é assim. Então da mesma forma que possa parecer bobo para os garotos, nos parece idiota o quanto brigam ou defendem território ou extremamente competem. O ego de um homem pode representar tanto perigo quanto uma mulher em sua fase assassina.

Mas convenhamos que se vangloriar ou ficar de provações pra lá e pra cá não é algo de se revirar os olhos? Já vi amigos engolirem ketckup só pra provar amizade. Ok que era uma série de comédia adolescente na TV, mas isso não justifica. Nem Djane aguentava tanta “imaturidade”. Até ela riu de Vinícius quando ele, do nada, começou a reclamar dos olhos ardendo. Porque ele teve a genialidade de passar a mão aos olhos lacrimejantes depois de ter bebido todo o suco e não se tocou que as mãos estavam ainda sujas de pimenta. Me segurei para não rir dele enquanto o ajudava a lavar as mãos e o rosto no lavabo mais perto.

Só por isso ele teve o disparate de querer me beijar. Obviamente não estaria ardendo tanto quanto ardia enquanto mordia as pimentas, mas eu não queria testar um beijo caliente a tal modo. Assim prometo – em pensamento – não mais os desafiar dessa maneira. Prometo de verdade. Pelo menos por hora, né, nunca se sabe quando vai precisar...

Agora nossos “escravos”, botamos eles para trabalhar. Não quiseram quase nos matar? Djane do coração e eu querer rir? Pois que aguentassem o tranco agora. Coitado do meu Vini. Primeiro explorado pelo patrão, agora pela mãe. Ele já não estava tão quebrado, um pouco descansado, e agora era tomado a favor de qualquer desejo nosso repentino. Djane ganhou massagem nos pés do filho e Murilo ia cuidar da louça da cozinha, junto com os outros empregados. Dona Fanny tirou o avental e sentou-se para curtir um filme qualquer no sofá ao lado de minha sogrinha, desfrutando também da sobremesa gostosa que era a torta gelada de chocolate com morango.

Enquanto as duas tricotavam teorias sobre o filme que passava, um que, vi de relance, era estrelado pela cantora Jennifer Lopez, e que Vini retrucava falando mal do mocinho, me levantei para procurar Iara, que tinha sumido após uma ligação. Olhei pelos arredores, pelo corredor, pela varanda... Avistei ela perto da piscina, de costas para mim, sentada a uma cadeira daquelas de tomar sol.

Só que não havia sol, o dia estava bem nublado, porém não escuro. As nuvens iam se dispersando devagar, pois mais cedo estavam mais pesadas que agora. A chuva parecia não querer cair àquele momento. A ventania, por outro lado, se fazia presente. Foi uma de minhas razões para não vir de vestido, apenas de short, camiseta e um colete, que servia tanto para o look, quanto para dar uma esquentadinha.

– Iara?

Logo atrás dela, me mantive de pé. Seu porte me mostrava que havia algo de errado e por um segundo me perguntei se teria a ver com Filipe. Quando se virou, um pouco surpresa, confirmei que ela não estava exatamente bem. Mas nem por isso mal.

– O-oi?

– Não quer aproveitar seu dia de rainha?

Meio aérea, ela pareceu pensar.

– Hum? Oh sim, a aposta. Se não se importa, prefiro ficar por aqui mesmo.

Ela segurava o cabelo, enrolado de lado, enquanto a brisa a essa hora o fazia voar. Insisti sem querer ser intrusiva, Iara estava com aquela carinha de que não quer conversar, mas que guardava certa tristeza. Apesar de termos nos tornado boas amigas, não iria ser abusiva de minha liberdade. Então minha presença seria apenas como “estar lá” se ela necessitasse.

– Não tem nada que queira?

Iara suspira brevemente e abaixa a cabeça, sem muito ânimo.

– Não no momento.

Até minutos atrás ela ria e agora não sei dizer o que tem. Será que a ligação...?

Pra todo caso, sento ao seu lado. Mais uma tentativa e partiria para uma direta.

– Nem a torta de chocolate da dona Fanny? Olha, tem meu selo de garantia.

– É, posso pensar nele para mais tarde, quem sabe.

Ela riu, dessa vez com mais animação, só que não chegando aos seus olhos. De repente parecia cansada e um pouco além dali. Como não obtive uma resposta mais satisfatória, bati meu ombro no dela com carinho e brincadeira, e lancei minha pergunta:

– Tem a ver com a pulseira?

Iara mexia naquela pulseira que eu havia lhe dado faz um tempinho, puxava como se fizesse sem notar e olhando ao mesmo tempo. Pensava muito longe provavelmente. Repuxou mais uma vez um dos pingentes e permitiu que o adorno girasse em seu braço, mais uma vez fitando-o.

– Talvez.

– Tem... a ver com Filipe?

– Um pouco... Quer dizer... Já sentiu alguma vez que num momento você está muito bem e no minuto seguinte aquilo que você decidiu ignorar, tomou sua cabeça sem querer?

Sorri sem muita graça e Iara se dá conta do que foi sua pergunta.

– Só... talvez o tempo todo.

– Ah, sim, verdade. Que ideia minha de falar isso! Sou muito idiota.

Ela poderia bater em sua testa se não estivesse tão balançada por algo. Antes que o fizesse, joguei meu braço ao seu ombro e a trouxe para mais perto de mim, que não ofereceu resistência. Quem sabe não era disso que ela precisasse um pouco, de mimo? Mas se fosse isso, por que não se deixava ser mimada pelos outros?

– Não, não é idiota. Sua amiga aqui que não bate bem da cabeça desde sempre. Só... Prossiga, o que tem confundido sua cabeça?

Iara titubeia um pouco antes de falar, aparenta um pouco tensa.

– Discuti com meu pai ontem. E algumas coisas que ele me disse fizeram sentido. Não exatamente um bom sentido. Demorou, mas eu entendi o que quis dizer.

Ali estava a tristeza dela novamente. Tinha minhas curiosidades de querer saber do que se tratava, mas preferia guardá-las para mim. Desejava também questionar sobre aquele dia, que ela me enviou a mensagem sobre algo também relacionado ao pai, e mais uma vez optei por não mencionar nada. Iara não merecia ficar nesse fogo cruzado, tampouco sozinha. Assim não invado seu espaço, só digo o que penso ser o melhor para o momento:

– Ele não precisa ter razão, mesmo que faça sentido.

– Eu sei. Mas faz tanto sentido que é difícil ignorar.

De repente ela funga e levanta-se um pouco, tornando-se mais ereta ao assento. Com uns poucos dedos, passa-os pela área debaixo dos olhos, estes que se enchiam por alguma razão forte. Não gostava de vê-la desse modo.

Então escolhi melhor minhas palavras.

– Não fique assim, ok? Até porque acho que aquela torta faz milagres. Então vamos entrar, você vai sorrir – e sinceramente, mocinha! – e aproveitar seu dia. Não é toda vez que se ganha uma aposta de graça, viu. O que quero dizer é para você deixar a poeira abaixar e depois conversar com Filipe. Ele não deve tá nos melhores dias, mas acho que deve estar mal por fazer você se sentir desse jeito.

– Obrigada, Milena.

– De nada.

Novamente ela se ajeita melhor, toma um fôlego e afasta essa vibe de si. Quando se põe de pé, se dá conta de novo do que era a situação. Mais precisamente a minha.

– Eu não deveria estar te enchendo, né? Você teve dias tão difíceis.

Com um pulo, levanto-me também e a acompanho pelo jardim. Eu não prestava pra ficar remoendo minhas besteiras, então, quase que como a Daniela, ria para não chorar. Termino dando de ombros.

– E ainda estou. Sempre estarei, é meu destino. Meio saco, mas fazer o quê?

Iara quase cantarola:

– Às vezes a pessoa não sabe a sorte que tem.

– Às vezes a pessoa não sabe que existe um Murilo e que ele devora as coisas. É melhor apressar o passo, porque isso nem eu posso assegurar.

Dessa vez quando me responde, eu noto algo que, não sei, a forma como disse, me pareceu que quis dizer outra coisa. Como andávamos lado a lado, não pude visualizar bem sua expressão, só... sentir esse diferencial.

– De fato. Não tem... como assegurar.

Ao chegar à porta, Vini vem em minha direção. Detinha uma carinha de quem não entendia o que era aquela cena, com a testa franzida e tudo. Iara acena para ele e não para, segue o caminho para a mesa, onde a torta ficava protegida por uma tampa. Vini nota que não é bem para ele que olho, assim se coloca ao meu lado e parece duvidoso.

– Devo perguntar?

– É que às vezes... acho que Iara apenas se sente só.

– Hum. E... hã... você quer algo? Digo, da cozinha.

Por um momento cheguei a cogitar que ele falava de Iara e não de mim. Não foi de todo decepcionante, por saber o porquê de ele reagir dessa maneira, mas senti mesmo assim que não deveria ser dessa maneira. Queria apenas que ele não a tratasse como estranha.

Isso me faria mais satisfeita que algo da cozinha.

Contudo, quem deveria ter essa satisfação era ele, não eu. Sendo assim, nunca pediria que ele fizesse algo que não fosse de coração.

É sabido que faria qualquer coisa se eu pedisse da maneira certa. Só que aquilo não era para mim. Era para os dois. Então ele quem devia ver. Espero que veja. Faço um carinho ao seu rosto escondendo meus desejos, de que espero que não demore tanto a ver, e respondo:

– Não, amor, tô bem cheia, obrigada.

– Então me dá um beijo? Juro que o efeito da pimenta já passou.

– Mas a aposta ainda não. Vai, volta pra cozinha.

Ele me rouba um de qualquer maneira. Olha por quem tu inventou de se apaixonar, Milena! Boba, vejo que ele sai todo contente por seu feitio e é parado pela mãe logo que se encaminhava para cozinha. Com ela pelo jeito não tinha essa de se preocupar com a exploração, não quando a promessa estava feita e a aposta, ganha.


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Notas finais do capítulo

Trecho do próximo?

"Tava tão agoniada antes da reunião que, após Vini ter me deixado na empresa, fiquei na sala de espera da recepção e parecia a Flávia bebendo água. Na verdade, Gui me disse isso. E que era para parar. Aí eu comecei a desfiar o corpo descartável, até que dele só sobrassem mil fitas de plástico.
— Sério que você tá nervosa assim?
[...]
Aguinaldo riu e segurou meu joelho, que parecia uma britadeira furando o chão. [...]
Aí sim eu parei de furar o chão e joguei meu copo no colo dele, quem riu mais e ainda bem que a recepcionista não estava em sua mesa para ver a cena. Por um segundo isso me lembrou de Sávio e de como costumávamos brincar de jogar bola de papel no outro. Estranhamente senti falta e me perguntei o que estaria fazendo esses tempos."

e...

"- André, só me diz... Por que me importunar é tão importante pra você? O que você ganha? Não acredito que é tudo por aquela droga de aposta.
Seus olhos se iluminam logo que referencio a tal aposta. A mochila, que estava sendo recolocada às costas, é deixada novamente sobre a mesa. Ele quase ri, à sua maneira, grosseiro.
— Eu sabia que você sabia disso! Se fazia de inocente esse tempo todo, hein?
— Claro que eu sabia, seu idiota. Mas e daí que você perdeu a aposta? Isso não é grande coisa."

Eita que vem coisa!



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