Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 25
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Era pra ser surpresa de feriado, masssssss... dependendo dos seus Estados, leitores, pode ir até quarta, então tá valendo!
Preparem-se que tem umas cenas fofas e umassss descobertas... ok, estou falando demais já.
Leiam e deixem os feels pegarem vcs - principalmente com o link de hoje.

Enjoy!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/453816/chapter/25

Se Murilo me visse agora, ele ia fazer referencia a esse quadro só... SEMPRE. E não de uma boa maneira. Enquanto Vinícius descansa no sofá, estou fazendo o almoço. Veja bem, não é mordomia, nem mimo demais. Ele bem que insistia pra irmos pra sua casa, só que eu sabia que Renato estaria lá.

Por mais que Vini tenha de se acostumar com isso, acho que empurrar a situação não é bem o indicado. Também não é que ele esteja evitando, eu que quero dar um espaço pra Djane. Ela merece um tempinho fora da faculdade. Só porque estamos de férias não quer dizer que o departamento para.

E outra, Vini tá meio... quebrado. Se a mãe o visse agora, das duas, uma: ou iria ralhar com ele ou querer cuidar dele. Ela já cuida demais, deve ficar e aproveitar mais dos seus momentos com o professor Carvalho.

Por causa de um erro que teve no trabalho, Vinícius se desdobrou pra consertar e não perder o cliente, ou pior, levar repreensão do seu chefe. Por isso ele foi atrás do cliente, se explicar, tentar contornar. O que o cara fez? Se aproveitou da situação e o pegou pra besta. Quer dizer, o explorou. Sem muita opção do que fazer, Vinícius aceitou a exploração pra não perder nada mais.

Não nego que sinto certa culpa de ele ter perdido esse prazo, afinal, além de tê-lo feito passar por tudo junto comigo, ainda o prejudiquei. Ele pode estar nem aí, mas eu... estou aí. Primeiro o Murilo, agora o Vini? Só sei que o cliente o botou pra trabalhar pesado, contanto que tudo ficasse em segredo entre eles. Mal vi meu namorado esses últimos dois dias por causa disso.

Ele levantou 5 da matina hoje!

Mas até eu explicar isso para o Murilo, ele já teria apontado que tô mimando demais o outro e ele de menos. Não adiantaria talvez o quanto de argumentos eu teria, podia ver o bico de meu mano se formando por achar que Vinícius era o preferido. O meu “homem da vida” preferido. Não acredito que eu deixei escapar que eles eram “meus dois homens”, porque é dar entrada para situações assim. Mas uma vez dito, eu tava lascada.

Nesse meio tempo, eu trabalhava dentro de casa com as responsabilidades – das quais meu mano fugia de algumas, eu sentia – por dona Bia não ter voltado ao trabalho ainda. Apesar de sábado não ser dia de ela vir, havia coisas mais que o almoço para se fazer. Era bom de certa forma, pois me enchia a cabeça com outras coisas. Deixo algumas no ponto para dar uma rápida escapada para sala, queria ver o estado de Vinícius, que jazia quieto ao meu sofá.

Acreditava que ele dormia até que...

– Love everythiiiiing about the way you're loving me… the way you lay your head upon my shoulder when you sleeeep... and I love to kiss you in the raaaain, I love everything you do, oh I doooo.

Trilha citada: LeAnn Rimes – But I Do Love You
(1:11)

Cantarolava esse trecho de uma música ao chegar perto dele, checá-lo, dormia, cansado, lindo, sereno, o peito subindo e descendo, ele todo esparramado no móvel. Quando chegou, deitou e nem se mexeu. Minha culpa ainda batia em mim de vê-lo dessa maneira.

Nisso, passei por ele e me direcionei para a tv desligada. Teve uma falta de luz essa manhã, já dava para recolocar o fio na tomada de volta. Aí uma voz fraca soou atrás de mim:

– Não lembro de ter te beijado na chuva, mas seria ótimo.

– Te acordei, amor?

– Não estava dormindo, só...

– Só dormindo.

Coloco as mãos na cintura. Vinha eu insistindo que era culpa minha, que ele não devia se sacrificar assim. Costumava reclamar ele que eu era orgulhosa, mas lá estava ele, sendo um em não admitir que eu tinha a ver com aquilo sim. Se não fosse por meus dramas, Vini não teria perdido esse tal prazo, não teria se metido com esse tal cliente e... estaria inteiro.

– Para de pensar nisso, Lena. Não foi culpa sua. Foi falta minha, eu quem perdi o prazo.

Ele bem sabia como minha mente trabalhava rápido e sim eu pensava aquilo. Apenas cruzo os braços, crispo a boca. Queria que ele pudesse admitir logo que foi e pronto. Eu o prejudiquei.

– Não, Vini, o erro foi meu e...

– E mais nada. Já cumpri meus afazeres. Tô só um pouco cansado, trabalhei muito ontem para que sobrasse pouco hoje de manhã. Tanto que nem demorei muito, só tive que levantar muito cedo.

– Pois é, nada disso teria acontecido se...

– Se eu tivesse sido mais atento, só isso. Eu que misturei as datas, amor.

– Concordemos em discordar então.

– Melhor, senta aqui e continue a cantar essa música que não conheço. Gostei da parte do “but I do love you”.

Assisto ele se levantar com cuidado, a carinha se franzindo pelo esforço, ele se movendo para me dar espaço ao móvel e só posso balançar a cabeça por ele, bobo, querer me dobrar. Acontece que deixo. Antes aceitar que insistir em algo que ele não vai admitir tão cedo.

– Ouvia na rádio quando faltou luz. Aí a música impregnou na minha cabeça. Não a sei por completo, só uns pedaços. Lembro dela naquele filme “Show Bar”. Acho que se pode dizer que é um pouco antiga.

Assim que tomo meu lugar, ajeito uma almofada às pernas e ele deita de volta. Traço caminhos por seus cabelos com as mãos e ele fecha os olhos ante a carícia, apreciando. Nem falo que na verdade tirava um pouco da poeira que detinha em seus cabelos ainda, para não dizer que o tal cliente havia feito gato-e-sapato dele. Acho que tinha tinta na sua camisa também.

– Não me lembro desse filme. É sobre o quê?

– Uma garota que sonha em se tornar uma compositora, vai para Nova Iork tentar a sorte, consegue um trabalho num bar e ela tem que se virar para sobreviver aos percalços da cidade grande, sem se esquecer do por que ela foi para lá.

– Deixa eu adivinhar: ela conhece um cara e se perde de seus propósitos?

– Não exatamente. É mais como o bar, que antes parecia um trabalho ruim, a força a sair da zona de conforto e isso a desnorteia um pouco. Era como uma ovelha no meio de raposas. Ela era muito inocente. Quem a impulsiona são os amigos que faz no bar e o carinha charmoso que ela encontra.

Nesse momento ele abre os olhos, mas estreita-os pra mim, com brincadeira.

– Charmoso, é?

Rio e provoco mais.

– Uhum. Muito charmoso. Ele meio que enganou ela, mas voltou atrás em tempo. Ela até apronta com ele, o vende no balcão do bar para as mulheres do local.

– E tu acha isso muito bonito, né?

– Acho. Ela vende até o pai. Com graça, claro. É um bar beeeeem diferente. As garçonetes sobem ao balcão para cantar e dançar, animar a galera. É assim que descobrem que a garota canta e bem. Eu veria a Daniela pirando demais nesse bar se estivesse lá.

– Coitado do Bruno. E de mim.

– Tu por quê?

– Eu não queria ser vendido para qualquer pessoa.

– Quem disse que você é o carinha charmoso? Ele tem cabelo escuro se bem me lembro.

– Atores pintam o cabelo. Além do mais, eu sou charmoso. Eu sou O charmoso.

– Em base em quê?

– As garotas me dizem isso...

Já ia dizer “o quê, VINÍCIUS?” quando ele vê minha expressão e se emenda, o sorriso do tamanho do mundo, nem ligando para o perigo que corria. Porque ele corria!

– Mas ficam revoltadas quando eu aponto esse cordão aqui, representando você e ditando que sou comprometido. Que só tenho olhos para uma.

– Hum. Sei.

Ele ergue a mão e me toca no rosto. Com um impulso mínimo, que lhe custa uma força extra e uns leves resmungos de dor, Vini se levanta, me convence e me beija.

– Olhos, boca...

Isso até eu sentir o cheiro da comida e quase dar um pulo para me sair dele. Quando finalmente corro para o fogão, ele me grita:

– Ainda não acabamos esse beij... essa conversa, viu, mocinha!

~;~

Enquanto meu mano demorava a chegar para almoçarmos todos juntos, namorei um pouco conforme dava para a disposição de Vinícius. Ele insistia em nos deitar no sofá, mas toda hora ouvi-lo resmungar de dor estava me incomodando. Era difícil, no entanto, largá-lo, já que tinha estabelecido aquela carinha de dar dó por eu ter que deixá-lo essa tarde em prol de um encontro com as meninas. Eu comentei que ele deveria se arranjar com os meninos e tal, mas sinceramente? Ele não tava muito nas condições de se mexer. Ao que deixou escapar, ontem colocaram ele para fazer serviço de “auxiliar de pedreiro” e teve de fazer todo tipo de esforço. Hoje maneiraram mais, só que ele ainda tava muito dolorido.

Fui brincar de fazer massagem aos seus ombros, para que relaxasse mais, só que isso fez foi o agitar mais, porque queria me agarrar e se eu fugisse dele, o doido ia atrás de mim. Uma hora caímos ao sofá de volta e aí ele sentiu dor de novo.

– Eu te disse, tu tá muito quebrado.

– Não me importo. Só quero você, aqui, juntinho.

Acabou que voltamos à posição inicial, ele deitado ao meu colo, que era mais relaxante e evitava ele aprontar. Tentava disfarçar que eu sei, para eu não me sentir tão culpada sobre aquilo – o que eu ainda sentia, não importando o que dissesse.

Com um pensamento levando um a outro, um momento eu fiquei séria. Ele notou. Brando, ele questiona:

– O que foi? O que está te incomodando?

– Nada por exato.

– Lena...

Ele sabe a figura com quem namora.

– É sério. É só que tem horas... que algumas questões me voltam e...

– E...?

– É difícil não pensar sobre elas.

– E o que está pensando agora?

Sinto seus olhos me fitando intensamente e fujo deles, foco em seus cabelos claros e como estavam crescendo de novo. Eu me perdia naqueles fios macios e ele se tornava rijo de novo. Conseguia sentir essa vibração nele.

– Você... sabe do Anderson?

– Jura que você tá me perguntando isso?

Quem não estaria descrente por essa questão, certo? Eu também estava só por me ouvir falar alto dessa maneira.

– Na verdade queria saber sobre o Kevin... se isso tudo já chegou aos ouvidos dele, e se chegou, como reagiu... E o And...

Vinícius nem me olha, muda o humor instantaneamente.

Foi ele quem de fim partiu para cima, partiu a cara de Anderson por assim dizer. Depois que ele conversou pela primeira vez com Flávia, Vini foi atrás dele. Brigaram feio, com direito a soco – Vini em Anderson, este não revidou. Não se falam desde então. Até Susana já havia procurado saber sobre isso, pois o clima entre eles era péssimo. Vinícius não podia conceber a ideia de que ele fez tudo aquilo comigo e se aproveitou da situação como pôde, agindo sobre suas costas. Eles podiam ser muito amigos, mas depois dessa, era pedir muito mesmo de Vini para obter qualquer informação sobre o caso.

– Nem me pede isso. Se eu olhar a cara dele de novo, eu vou bater.

– Vini...

Eu não gostava da versão dele violento. Me assustava o quanto isso poderia dominá-lo. Se já não queria isso para meu irmão, imagina para ele!

– Eu tô falando sério, você não entende. Não é que eu vire bicho – ou talvez vire – mas isso foi absurdo demais. Mi, você tem que parar de querer entender as pessoas pelo que elas fazem. Elas fazem e pronto, são egoístas. Nada mais devia justificar.

– E você sabe que não concordo com isso. E, ok, ele não tinha mesmo o direito de nada, mas ele tomou muito as dores do primo. Ele viu um sentido sobre o que foi colhendo. Tanto do lado de lá, como do lado de cá.

– Você pensa em falar com o Kevin, é isso?

– A verdade? Não sei. Às vezes acho que ele merece uma explicação. Anderson só confirmou algo que eu passei os anos me perguntando. Isso tudo também estragou muito ele. Ele, Eric, eu... quantos mais? Sinto que deveria me mexer, mas não sei o que fazer.

Mais uma vez, com cara de quem não tava gostando nadinha disso, Vini crispa a boca. Balança a cabeça em negação e me afirma:

– O Anderson para mim está fora de questão. Por mim, ele nem respira mais perto de você.

Eu não gostei também dessa sua reação. Inevitavelmente entendia. Droga, eu entendia – por que tenho de entender ou procurar entender tudo? – mas não concordava. Quer dizer, não é que eu desculpava o Anderson e tal por sua postura, e nem me sinto exatamente de boa com ele, se por muito tempo eu sofri calada só por sua presença. Só que não quero mais raivas, mais sentimentos ruins para quem eu amo e prezo muito.

Vinícius quer me defender a qualquer custo, para ele é uma forma de demonstrar o quanto se importa e como se sente em relação a tudo. Às vezes ele pode ser muito inseguro, outras, muito resoluto. Bom, é a lei da vida, a gente nunca pode ser só uma coisa, certo? E eu entendia novamente, e de certa maneira apreciava como se comportava, porque isso também acontecia comigo. Estar com ele me abriu para mais situações adversas e, por estarmos juntos, as coisas tomavam outras proporções.

Sendo assim, eu meio que me recolhia quanto a isso. Pois tinha certo temor do que poderia vir a proferir, a brigar, a... a me afastar, por conta da história de Filipe, de eu e Murilo termos conhecimento por meses sobre a busca de informações sobre Viviane. Eu guardava um tamanho receio por isso estar tão... próximo. Se eu mal não conseguia lidar com isso, desde que Filipe me silenciou uma bomba, sentia que isso iria ser um baque grande para Vinicius.

Foi tanta coisa ao mesmo tempo que eu me sentia desnorteada ainda. Por ter tudo muito vívido nessa semana, as cenas se confundiam e se balançavam dentro de minha cabeça. Podia me ver novamente naquela sala do apartamento, podia sentir o clima que era pela situação. Por segundos novamente, eu estava lá, após ter me resolvido com Murilo e ter ficado uns minutos com meu sogro, enquanto pegava minha bolsa e agradecia pelo que tinha feito. Ele havia me chamado para uma conversa rápida, nos afastando assim de meu irmão e de Vinícius, à espera na porta. Bem que eu pensava que seria só isso, até notar um algo mais nele.

Inquieto, Filipe titubeou um pouco antes de falar. Embora fosse visível um alívio em si, havia... algo, algo que vincava sua expressão. Ele notou que eu percebi, assim tomou minhas mãos nas suas, me observou um pouco e começou por aquilo que fora a maior tensão:

– Estou apenas feliz que você está bem agora, que eles estejam bem também.

De alguma forma, esse seu gesto me tocou e me partiu o coração. Pois enquanto os outros estavam bem, ele não estava por exato. Se sacrificava tanto para poucos ganhos praticamente. Além do mais, Iara havia comentado sobre uma loucura que Filipe havia feito, que foi por isso que ela me contatou antes de saber que eu estava fugida. Assim, temi por ele. Poderia ser esquecido pelo filho, porém não por mim.

– Mas e você?

Filipe balançou a cabeça como se ele não devesse ser levado em consideração.

Só que ele devia.

– Me viro.

Me senti mais um pouco mal por ele, por ter o puxado para essa situação que era muito difícil de lidar... Ele e Vinícius... eram uma incógnita. Ambos tiveram que ceder pra poder me ajudar. E isso machucava, eu via. Filipe tinha que se afastar para não causar mais do que já havia causado. Apertei a mão sua que me segurava, e ele elevou uma para meu cabelo, onde um afago ele fez.

Desculpei-me então, querendo poder ser capaz de arrancar essa sua dor. Não devia ser desse jeito. Aparentemente não me cansava de reafirmar isso para mim mesma nas variadas situações em que nos encontrávamos. Era triste demais.

Sem que parasse seu carinho, replicou, um pouco emocionado.

– Tudo bem. Eu... eu entendo você... Quer dizer, como a gente faz coisas estúpidas por tentar fazer as coisas certas.

– Exato.

Só que antes que Filipe pudesse me dizer algo mais, que eu intuía que ele faria, Murilo apareceu na sala, pedindo para irmos para casa. Eu precisava de mais uns segundos, não me importava se meu estado também não era dos melhores. Assim apenas respondi a meu mano que iria num minuto, para voltar-me novamente àquela bolha. Filipe então me abraçou.

Não foi forte, tampouco fraco. Significativo. Ele parecia o tempo todo que queria me dizer algo, mas que lhe faltava coragem. Foi enquanto um ouvido meu captava Murilo um pouco afastado de nós, falando com alguém que já estávamos voltando e que tudo estava bem, que Filipe me sussurrou uma coisa.

– O detetive achou a família de Viviane.

Não me disse nada mais, não que a situação tivesse dado espaço para isso. Saí de lá com os dois homens de minha vida quase me rebocando e ruminei por todo o tempo no elevador. Foi chocante ouvir que agora tínhamos o paradeiro da família verdadeira de Vinícius. Família essa que nunca pôde enterrar o ente, imagina acolher um filho perdido. Será que tinham conhecimento da existência de Vinícius? O que imaginavam que tinha acontecido com Viviane? Teriam eles esperança de algo?

Eu não tinha como perguntar qualquer coisa, não àquele momento. Só olhei para Vini pelo reflexo do elevador e de alguma forma tentei imaginar o que Filipe teria feito para Iara ter ficado tão alerta. Teria contatado a família? Era uma super bomba para lidar, ali. Não dava nem para se pensar, imagine para se mexer em relação a isso.

Minha preocupação não era que Vinícius fosse me rejeitar. Mas com certeza ficará muito chateado. Tão chateado a ponto de... não sei, eu ter que me afastar um pouco talvez? Se ele temeu muito o que eu poderia fazer quanto à descoberta “dele” sobre Denise, por causa de outras situações extremas que passamos, eu também tinha meus exemplos ruins sobre ele. Como tudo relacionado ao pai parecia o estragar, como tudo que remetia ao sobrenome Muniz o enlouquecia. Ele negava Filipe acima de tudo.

Quer dizer, não tudo. Vinícius teve que segurar sua barra quando se tratou de mim. De mim sumida e então achada, achada por Filipe. Foi uma trégua e só por minha causa. E não quero que faça as coisas assim, unicamente por mim. Que seja por ele mesmo. Mas como prepará-lo se nem por seu ex-amigo ele cede?

Acho que perdi um tempo divagando sobre isso que nem notei que Vini me observava, deitado ao meu colo. Observava intensamente. Havia algo dentro daqueles olhos que, embora permanecesse com aqueles ideais sobre nossa discussão sobre Anderson, ele se preocupava também com outras coisas. Um olhar que já dizia tudo.

Quer dizer, dizia que sabia que eu nadava e me afogava noutras águas. Desde quando me tornei tão transparente assim? Parecia adivinhar meus pensamentos! Os seus deviam correr para desvendar os meus, mesmo com o pouco que tinha. Não dava para sacar logo de primeira do que se tratava, mas com certeza sua mente lhe dizia que havia algo, ou “algos”.

Antes que eu pudesse comentar qualquer coisa, ele tomou partida. Por um primeiro momento, não entendi o que ele pretendia. Porque não se tratava mais sobre Anderson ou Kevin, eu sentia.

– Posso fazer uma pergunta? Que seja sincera em sua resposta. Quero que confie em mim.

Vinícius já tinha me pedido isso uma vez. Neste mesmo sofá, nesta mesma posição. Com esse mesmo fitar. Um fitar que temia perguntar, e pressionar não era sua intenção. Um pedido sincero.

Àquela época eu não confiei. Digo, não por completo. Cedi confiança; no entanto, não pude confiar em mim mesma para botar para fora. Não acreditei em mim, de que precisava de ajuda e da ajuda dele. Por isso mais uma vez eu guardei. Muito já acontecia por aqueles tempos e muito continua a acontecer enquanto preferimos permanecer juntos, longe por um instante do mundo. Infelizmente o mundo não para, mesmo quando pedimos por isso. Então só balancei a cabeça em afirmação, estava predisposta para aquilo.

– Confio. Diga lá.

– Sei que ainda tem muita coisa que guarda para você. Só quero saber se tem... coisas... nesse nível... como sobre essas intrigas. Não é necessário me contar sobre o que é, sei que vai lidar com elas com o tempo. Na verdade, nós. Nós vamos. Eu só preciso saber... se tem algo pesado quanto isso.

– Nível Denise? Não. Não, graças a Deus! Mas obrigada por me dar espaço. Tem realmente umas coisas que me deixam preocupada... Outras que... sei que ninguém vai gostar ou concordar. Mas não são sérias assim. Não do tipo correr algum perigo ou eu querer sumir. Só preciso de um tempo. Que aos poucos, juro, vou conseguir tirar um a um de mim.

– E são tantas essas coisas?

– Algumas são maiores que outras, e algumas podem machucar. Ou chatear.

Vinícius inspira profundamente ao ouvir isso. É mais que uma afirmação, é uma certeza de eventuais temporais à frente.

E como eu, talvez não queira ter que pensar tanto sobre essas “coisas” por agora. Um descanso é uma boa pedida, e, quando volta ao que conversamos mais cedo, sei que está querendo amenizar e dispersar esse clima ruim. Porque sabe que não tem como fazer nada a respeito no momento.

– Então vamos pensar sobre aquele beijo na chuva...

Rio bobamente e finjo não dar muito crédito a ele enquanto volto a brincar com seus fios. Eles tinham esse dom natural de me atrair. Tão convidativos que dava vontade de puxar até.

Quando fala bobagem, aproveito e puxo mesmo.

– Olha as ideias da pessoa.

– Ideias eu tenho aos montes, amor, nem preciso assistir esse filme. Aliás, tenho minha cantora particular, minha protagonista. Não é lá muito inocente, mas... ai, amor, não puxa meu cabelo. Fica me atiçando aí, depois me descontrolo, o teu irmão chega e só sobra pra mim!

Ralho com ele.

– Como você é calculista, Vini.

– Alguém além de você tinha que ser, né.

– Eu sou calculista?

– Preferimos o termo trambiqueira. Se bem lembro, ainda tem o vídeo do Murilo guardado. E uma versão dele rodando até hoje na internet.

– Nunca mais chequei os viewers, pra falar a verdade.

– Milena!

Ele me repreende pela minha abordagem calma sobre o assunto. Pra mim já parecia tão longe que de certa forma tinha até esquecido sobre isso. Viralizou rápido nas primeiras horas, mas, após uma grande fight que tive com Murilo, aquilo já não me trouxe qualquer orgulho.

Porém, não deixava de me aproveitar da situação. Claro!

– O quê? Fiz isso pra te proteger e é assim que me agradece?

– Nanananinanão, não me venha com essa.

– Não me faça lembrar o motivo, Vinícius Garra!

– Na verdade, faço melh...

Ele ia me beijar quando ouvimos o clássico alarde de meu irmão chegando com um “cheguei, família”. O que quer que Vini tivesse em mente, teria de ficar para depois, muito depois. Por isso xinguei meu irmão pelo atraso e interrupção. Pois já queria saber quando seria esse muuuuito depois e se precisaria lançar a verdadeira versão daquele vídeo para assim ter um momento mais relaxante com meu namorado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu vejo razão no que o Vini fala sobre a sensatez em demasia da Milena, mas tbm não concordo que ele precise ser agressivo. Até que eles conseguem se virar para "manter o equilíbrio", hein?

Trechos do próximo?

"Estou sendo bomzinho em iniciar com apenas metade, então não entendo o porquê desses olhos saltados, garotos.
— Homens, somos homens, senhor!
Tinha que ser meu mano falando uma besteira dessas, eu podia sentir meu facepalm vindo."

e

"- Tem a ver com a pulseira?
Iara mexia naquela pulseira que eu havia lhe dado faz um tempinho, puxava como se fizesse sem notar e olhando ao mesmo tempo. Pensava muito longe provavelmente. Repuxou mais uma vez um dos pingentes e permitiu que o adorno girasse em seu braço, mais uma vez fitando-o.
— Talvez.
— Tem... a ver com Filipe?
— Um pouco... Quer dizer... Já sentiu alguma vez que num momento você está muito bem e no minuto seguinte aquilo que você decidiu ignorar, tomou sua cabeça sem querer?
Sorri sem muita graça e Iara se dá conta do que foi sua pergunta.
— Só... talvez o tempo todo."



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mantendo O Equilíbrio - Finale" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.