Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 17
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Um momento... delicado.
E mto complicado para todos.
Apenas que... "não era hora ou lugar para remexer nisso" e... nossa Milena é uma só pra todas essas bombas que resolveram explodir.

Estaria ela fugindo do próprio abrigo?

Leiam e me digam. Enjoy.



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Aqueles braços não eram certos, tampouco errados. Eu devia estar muito quebradiça mesmo para aceitá-los, mas uma vez que cedi, vi que precisava de certo calor, certo cuidado. Talvez por isso tenha permanecido abraçada àquele pescoço, inspirando e expirando daquele perfume tão único e característico dele, que teve sua razão... Você tá tão fraca que tá me aceitando e isso me assusta, foi o que Sávio me disse naquele auditório em que me encontrou, após a discussão com Denise, quase ao fim da viagem. Havia me pedido para admitir que não estava bem, e eu dei meu jeito de contornar.

Quando apareceu onde eu estava, que, ao seu jeito, acanhado, em dúvida sobre como lidar comigo após tantas patadas que já lhe dei, mas ainda altamente preocupado com meu estado, apenas nos fitamos diretamente e ali não me importei com nada que tivesse acontecido conosco anteriormente. Eu precisava de um amigo. Um que não me entregaria como Flávia fez. Um que não tivesse noção ou participação naquilo.

Então eu não pensei. Praticamente saltei para ele, mesmo alto e me pendurei em seu pescoço num abraço que me aliviou de mim. Estava admitindo enfim que não estava bem, ainda que não soubesse ou tivesse como descrever no quê havia me metido. Sávio me recebeu de prontidão, me enlaçou, me aninhou, me acalmou, me sussurrou que ficaria tudo bem enquanto um carinho fazia em minhas costas e eu me senti... segura. Até pelo beijo que deu ao alto de minha cabeça, a vibe dessa vez era de segurança.

Confesso que ao atender a ligação dele, incerta era uma boa palavra para me definir. Não queria colocá-lo na posição de minha “última esperança” ou de considerá-lo por ser a opção mais apropriada ao momento, porém, diante de tudo que eu passava, e de tudo que ele havia feito, não era muito injusto uma atitude dessas, pensei. Por isso cedi:

– Hey, Lena, desculpa se te interrompi... Queria saber se você vai à faculdade hoje, porque se sim... errrr... Milena, você está aí?

Ouvi suas palavras através da ligação com um tom de preocupação e não me importei bem pelo quê dizia ou precisava. Precisava que não percebesse que estava mal, apesar de entender que logo ele também saberia. Assim, em primeira instância, fiz de tudo para me segurar. Só que quase no último segundo, vacilei. Minha voz falhou, gaguejei. Claro que ele notou.

– Sim, estou ouvindo... Não vou à faculda-a-ade hoje.

– Lena? Você está bem?

Uma coisa dentro de mim apenas me impeliu para responder com a verdade, ainda que outra parte ainda me repreendia por estar cedendo a ele, quem não merecia. Não estava bem mesmo.

– Nã-ão. Não estou be-em, Sávio.

– Onde você tá?

– Não sei.

– O que aconteceu?

– Nã-ão sei.

Ouvi um suspiro seu do outro lado. Eu não estava ajudando muito.

– Tá sozinha?

– Tô.

– Milena, preciso que me diga onde você está.

– E-eu...

– Por favor, isso tá me parecendo muito sério.

Amassei os lábios um no outro, incerta novamente. E se Sávio...?

Determinei então:

– Com uma condição... Que não diga a ninguém mais. Porque se você contar, Sávio, juro, dessa vez... eu não te perdoo mesmo. Não vou manter aparência alguma.

– Eu juro, ok?

Dei as coordenadas, esperei uns minutos. Não houve muitas palavras ou explicações sobre aquela situação enquanto permanecemos abraçados, só mencionei que havia fugido.

De todos? Todos quem?

– Murilo. Vinícius. Flávia. Gui. Não sei bem quem está envolvido.

Um tanto apreensivo, ele se desvencilhou de mim, queria mais respostas do que eu podia suportar oferecer. Quando uma mão sua me tocou a face, até abaixei a cabeça. Não pela péssima memória que essa posição me deu referência, mas por não estar num bom estado para dizer algo mais sobre o que estava acontecendo.

– Mas o que fizeram para você fugir desse jeito?

– Prefiro não falar sobre isso.

– Mas Milena...

Ele quis insistir, apenas neguei. E contornei. Fitando-o diretamente nos olhos novamente, coisa que eu já não fazia faz um bom tempo, tento um lampejo de ideia que me perpassa:

– Sei que já te fiz pedidos e já te dei muitos perdidos assim, mas... será que você poderia me levar num lugar?

– Tudo bem.

Com seu assentir, peguei minhas coisas, andamos até o estacionamento do lado e estanquei quando vi que não havia uma moto lá. Para quem estava desconfiando de muita coisa num mesmo dia, isso quase entrou na minha lista, se não fosse por conhecer um pouco daquele homem ao meu lado e como algumas coisas funcionavam na sua cabeça. Se Sávio estava tentando recuperar minha confiança, não faria besteira alguma se isso significasse eu me afastar de vez dele, como ameacei. Ele não estaria envolvido naquilo, estava ali para me ajudar. Não importava como. Certo?

Cansada, me permito confiar sim, me agarro nisso. Diante de minhas circunstâncias, eu não poderia reclamar. Além do mais, era o único ao momento que não iria me julgar, minha mente continuava a ressaltar isso, embora eu mesma o fizesse, por mim e por ele. Julgava-o demais.

Mas não nego que me incomodou aquele carro. Minha desorientação podia ser tamanha, porém havia certo senso. Talvez o mesmo que tenha atendido a ligação de Sávio nessa tarde. Era certo hesitar entrar naquele carro... Ao notar isso em mim, Sávio se certificou de abrir minha porta e me fazer entrar. Ele iria cumprir o que havia dito, confirmou-me apenas pelo olhar. E que eu não deveria negar aquilo, mesmo que parecesse suspeito.

De qualquer forma, levantei o assunto para depois não falar que eu não havia mencionado o fato:

– Este é o carro de André.

Sávio não nega, apenas assente.

– Sim.

Vendo que não diria mais nada, assim como eu própria não estava querendo me abrir, não comentei além. Ele teria que confiar em mim, assim como eu teria que confiar nele.

~;~

Meu suposto plano não estava se desenvolvendo bem conforme eu tentava o executar, já estava ao meio do caminho, Sávio seguia minhas coordenadas, o lugar era um pouco longe. Fui lá umas poucas vezes, nem sempre bem encarada por isso. Minhas esperanças estavam se esgotando, ligava, ligava, ligava e só dava fora de área.

Uma última tentativa antes de mudar de ideia, pensei. Tinha que ser lá, ou não teria outro lugar para ir. Se antes eu corria para Flávia ou Gui, dessa vez não posso, e provavelmente já contataram Bruno e Dani. Para onde mais eu iria? Sávio notou minha aflição por suspirar, as minhas chances se esvaíam, até que... chamou. Fui atendida ao segundo toque.

– Alô? Milena?

– Oi, Iara. Vi... sua mensagem.

Ela devia estar na empresa, ouvi ao fundo o zumbido do ar-condicionado. Parece nervosa com algo. E eu fico apreensiva de lhe pedir o que tenho de pedir.

– Aiiin, ainda bem que você ligou. Você não vai acreditar no que meu pai...

Um sinal apita. Acho que é do celular dela.

– Merda... Olha, não posso falar muito, o meu celular caiu na água e já vai descarregar, tá com 13% de bateria e não tenho nada para carregar aqui.

– Tudo bem. Eu só preciso que... Iara, preciso que me ajude numa coisa. Também urgente.

– Pode dizer. Mas diz rápido antes de a bateria cair de vez.

Testo o território. Com o tempo que estou no carro já digeri mais minhas emoções, elas já não estão me entregando tanto como na ligação que tive com Sávio, em que gaguejei. Agora sinto que minha voz só não tem muita vida.

– Você falou com Vini nas últimas horas?

– Não. Por quê? Deveria? Fiquei com meu celular desligado, pra guardar uns porcentos, agora que religuei. Tenho que ligar pra ele ou algo assim?

– Não!

Exclamo, e tento me consertar:

– Quer dizer... Iara... e-eu... tive uns problemas com meu irmão e com ele. Preciso de um tempo off. Posso ir para seu apê? Não precisa sair do trabalho, só avisa o porteiro de me deixar subir com uma cópia da chave.

– Milena...

Determinada, lá se vão minhas condições.

– Por favor, Iara. Eu preciso ficar sozinha. Preciso também que não comunique a nenhum deles. Nada. Porque se o fizer... eu vou sumir de vez, Iara.

Minhas súplicas mudam toda a atmosfera, deixam Iara atarantada sem muito a proceder de tão surpresa. Por isso insisto e me faço mais determinada.

– Milena! Como...? O que...?

– Por favor, Iara, por favor.

– Ok, ok. Aviso o Jaime. Mas Milena...

– Obrigada, Iara. Estou a caminho. Te vejo quando sair do trabalho... Iara?

A ligação cai de vez antes de ela me responder. Devo tê-la assustado de alguma maneira, só que não poderia dar esse luxo a quem quer que seja sobre meu paradeiro. Não agora.

Sávio se manteve quieto por todo o momento pelo caminho, por exceção de uma hora em que ele atendeu o celular, avisou a seja lá quem que logo estaria de volta e que esperava que tal coisa terminasse enfim. Senti por estar lhe atrapalhando, e senti mais por não poder perguntar sobre o que se tratava aquilo. Eu não deveria me importar com isso, mas me importava, não parecia algo bom. Havia um carinho meu por ele, por meu amigo, e uma luta em mim por não saber em quem confiar mais. Aquele nosso momento na viagem, no bar, foi um divisor de águas brusco.

Ao chegarmos ao prédio de Iara, ele desceu para me acompanhar para a entrada. O porteiro nos deixou entrar, ela havia avisado de minha chegada. Ia para o elevador e me despedir de Sávio quando ele me segura delicadamente pelo ombro. Abaixou a cabeça um pouco para emparelhar mais com a minha, porque eu me mantinha cabisbaixa com ele.

– Posso ficar com você se precisar.

Fiz que não “percebi” demais sua aproximação, continuei cabisbaixa. Respondi com um múrmuro, ele o mesmo.

– Não quero abusar.

– Não estaria abusando.

Aí levanto a cabeça e me deparo com uma apreensão dele, cuidadoso. Não era pelas nossas diferenças que estava negando, afinal, essa era uma nova inesperada “trégua”, não, era saber que ele deveria estar noutro lugar, ainda que não quisesse ir.

– Ouvi o que disse na ligação. Você precisa voltar. Pra o que quer que seja.

Com a outra mão ele passa pelos cabelos, bagunça-os desconfortável. Havia muita beleza em seus mínimos movimentos, traços atraentes apenas. Não sei o que havia lhe dado naquela viagem, mas aquele não era o Sávio mesmo. Agora tão perto e tão suscetível, penso se não exagerei naquele acordo. Ele até traz de novo o assunto, hesitante e sincero. Sim, sincero, eu percebo por tudo nele:

– Queria muito poder te contar. Mas... os seus limites... eles não me deixam.

E não era hora ou lugar para remexer nisso.

– Sávio...

Em conformidade a esses limites, dou as costas para ele. Imaginei que iria insistir, só que ele parece mudar de tom. De abordagem e foco. Parece muito desgostoso daquilo.

– O que ele te fez? Vinícius... Ele te machucou?

Agradeci mentalmente por nossos limites, pois isso o barraria. Porém não enfatizo isso, só contorno. Estava desgastada por demais para ainda ter que lidar com isso agora.

– Não! Não foi... Olha, eu não quero falar sobre isso. A minha dor é outra.

Como o bipolar que nunca foi comigo, ele ameniza de imediato. Volta ao seu estado de preocupado. Soa culpado até, traz novamente nossa situação. Eu só... não tinha espaço para isso no momento.

– Queria que não fosse assim. Queria que você me aceitasse, mas não desse jeito.

– Acho que pedi demais então.

– Não. Eu só espero que um dia eu possa, Milena, te contar como as coisas realmente aconteceram. Talvez hoje seja a decisão sobre isso.

Então me deu um último beijo ao alto da cabeça, afagou-me o cabelo e saiu, sem qualquer explicação sobre o que tudo era aquilo que comentara. Sozinha subi para o apartamento cheia de dúvidas. Sobre mim, sobre Sávio e até mesmo sobre Filipe. Eu era uma só para poder lidar com tudo e ao mesmo tempo.

~;~

Em determinado momento mensagens começaram a chegar no meu celular. Deles. Devem ter percebido que eu não havia desligado o aparelho. Mas logo que a notificação mostrava seus nomes, eu não abria, a coisa toda só ia acumulando até uma hora que não aguentei mais tanta notificação, desliguei.

Não havia pensado muito quando tomei a decisão de vir para o apartamento de Iara, foi apenas o lugar que me pareceu mais sensato. Confiava nela, nem que fosse para me deixar apenas uma noite fora, pois a vergonha e a decepção... nunca foram tão fortes como agora.

Minha mente trabalhava arduamente a fim de juntar as peças, de como tudo isso possa ter se desenrolado. Também em como eu poderia ter evitado. Hesitei em entregar o caderninho da Hello Kitty para Flávia naquela hora, de noite, antes de dormir. Não estava tendo um bom feeling sobre isso, mas pensei que era Flávia, eu devia me sentir segura com ela. Minha melhor amiga, caramba!

Tudo se embaçava ao final. Muito provavelmente pelas lágrimas que nublavam minha visão, embora o choro mesmo não viesse mais. Fiquei foi num estado de apatia. Não era indiferença, era um esgotamento. Um do qual eu não via o fim. Como se tivesse entrado num túnel e uma hora apenas parei de andar, me esgueirei numa parede e lá fiquei. Não sei se esperava algo acontecer ou se eu mesma devia fazer algo acontecer.

E as lembranças... elas não saíam de minha cabeça.

A expressão de Vinícius foi a primeira que captei. A expressão de Murilo era ainda pior. Quase podia visualizá-lo correndo para me alcançar, porém, era melhor que eu não fizesse isso. Os gritos dele ainda estavam em meus ouvidos, rondando como ecos. Abraço-me a uma almofada quando esses gritos me envolvem outra vez.

Por favor, Milena.

Não faz isso.

Para de correr!

Iara estava no banho, eu, sozinha com meus maus pensamentos no sofá da sala. Ela havia chegado cedo do trabalho, preocupada pelo que havia acontecido e como a noticiei. Não dei detalhe algum, não estou pronta para me abrir, assim apenas conversamos um pouco e então insisti que ela tomasse um banho, estava cansada do trabalho, eu via. Antes de ir, ela me tocou ao braço, carinhosa.

– E você está cansada dessa luta.

– Estou perdendo a luta, essa é a verdade.

– Perder nem sempre é uma coisa ruim, Mi. Para enfrentar os muros de fora, temos que quebrar os de dentro. O que quer que eles tenham feito, dê uma chance.

– Não se trata bem de eu dar chance ou não, Iara. Não dessa vez. Eu... e-e-eu também errei. E não foi coisa pouca.

– Eles te amam acima de tudo isso.

– Não nesse momento, Iara, pode apostar.

Passo as mãos nos olhos, fungo um pouco, me forço a não ficar revivendo aqueles mesmos minutos da fuga. Penso sobre isso que Iara me falou, sobre muros. Há muitas frestas, buracos, no meu. Como tapá-los todos? Como...? Não posso terminar de quebrá-los. Ainda há muita resistência de minha parte por encarar isso... E sobre perder, eu... eu não lutei tanto para simplesmente...

Giro meu aparelho celular, distraída, em cima de outra almofada que está ao meu colo, ouço uma chave rodando, um trinco se mexendo e, sob um medo rápido que me domina pelo estômago, paraliso para suspirar de alívio. Era Filipe. Que entra ao apartamento de cabeça baixa aos dizeres:

– Frango com catupiry resolve dessa vez, filha?

Ao se deparar comigo, e com meu estado, que não devia ser dos melhores, ele estanca com a caixa de pizza que traz nas mãos, junto duma papelada apoiada nela. Acabo por assustá-lo também. Ligeiro, ele fecha a porta, coloca as coisas na bancada ao lado e vem para perto de mim no sofá.

– Milena? Aconteceu alguma coisa?

– Aconteceu.

Antes que dissesse algo, o que ele iria, vi que estava tentando entender o porquê de eu aparecer ali, logo ali, um franzir de incompreensão lhe tomava a face, eu intervi, um tanto fria:

– E se o senhor tiver uma mínima consideração por mim, peço que mantenha em segredo o fato de eu estar aqui. Senão... eu vou embora. Não tenho outro lugar para ir, mas arranjarei se preciso.

– Mas Milena...

Reforço meu desespero ao por a mão sobre o braço dele, uma nova súplica.

– Por favor.

Filipe, como Iara, se mostrava confuso com aquilo. Era algo novo para nós de certa forma, as situações que nos metíamos eram cada vez mais inconcebíveis, e ainda assim nada as impedia de acontecer.

Quando abraço-o e ele me recebe aos seus braços, com carinhos e afagos, minha respiração se desregula novamente. Ainda não estava nos braços certos e duvidava se esses “braços certos” estariam abertos assim para me receber. Para me fazer pequena e me dar segurança.

Já me sinto pequena nesse tufão, mas a segurança... essa era tão incerta quanto o fim da tempestade. Estava ciente, no entanto, que pedia muito sim, mas eles todos tinham que entender... que também era pedir muito de mim.

~;~

Poderia apenas o tempo parar um pouco? Me deixar um pouco?

A tortura, ela não acabava.

Quanto mais as horas passavam, mais pessoas descobriam meu sumiço. Filipe e Iara estavam como reféns de mim, com a resposta certa para a pergunta crucial, porém impedidos de qualquer coisa ademais, sob minha ameaça de fugir novamente.

Só que quando seu Júlio ligou e deu mais dimensão à situação, comecei a me perguntar seriamente se isso eu faria. Se eu fugiria novamente. Do meu vô-sogro veio o golpe de misericórdia.

Filipe atendeu a ligação, me alertou que era seu Júlio, e não algum dos outros. Eu beliscava a pizza aos poucos, mal sentia o gosto, Iara tava me empurrando qualquer coisa, como se isso fosse me dar alguma força. Sanidade.

Meu vô-sogro deve ter comentado algo por cima sobre mim, pois ouvi claramente quando Filipe hesitou, de pé na sala.

– Da Milena? Ok.

Fez sinal para Iara se aproximar mais, ele colocou no viva-voz. Com a confirmação de Filipe sobre ser ouvido, seu Júlio prosseguiu. A voz calma e rouca era um misto de tristeza e apreensão. Por mim. Ele conversava mesmo com Filipe sobre mim.

– Não sei bem o que houve, só sei que a Milena sumiu...

Iara, não interpretando um papel, preencheu as reticências dele antes que continuasse. Talvez buscasse mais informação, já que eu não havia cedido quase nada.

– Mas como...?

– Vinícius não me contou ao certo, nem sei se houve discussão. Djane também não me diz nada, não querem que eu me preocupe. Mas como fazer isso, me digam? Essa garota não só é a luz de nossos garotos, mas de todos.

Doeu.

Doeu.

Doeu!

Eu não devia estar ouvindo aquilo, mas ouvia.

Como era com Vinícius e Murilo, tinha lá minhas curiosidades sobre o que conversavam sobre minha pessoa, mas desse jeito...? Parecia que eu estava naquela madrugada de revelações de novo, Murilo abrindo seu coração achando que eu dormia após um surto de fobia. Só que desta vez, embora muito exausta, estou bem acordada, estou bem ciente. Era como se eu fosse uma intrusa em minha própria bolha.

– A Milena é minha neta também. O que quer que tenha acontecido, não importa, que só nos tranquilize.

A atmosfera daquela sala pareceu sem ar. Iara e Filipe não deixavam de me encarar, como que pedindo permissão para algo que não vinha de mim. Eu... eu estava me odiando por fazer aquele mal às pessoas, não mereciam isso. Mas e quanto ao que eu merecia? Perdão? Absolvição? Amor?

Estaria eu sendo egoísta demais?

Me levantei desnorteada com aquela ligação, na minha cabeça tudo se embaralhava mais. Quando Filipe respondeu ao pai, me virei para ele sob o instinto de defesa, temerosa com o que poderia sair dali:

– Pai?

– Oi?

– Como está o Vinícius?

Devia imaginar que ele iria perguntar isso. E devia imaginar que eu cairia com a resposta:

– Ele não está muito bem. Todos não estamos. Mas o Murilo... ele está devastado. Djane mencionou um estado de inconsolável. Estou indo para lá, ainda agora que ela havia me contado, isso porque liguei e senti que algo ocorria. Djane comentou, depois de muita insistência minha, que o irmão dela teve um surto, saiu quebrando coisas de casa pela frente, quase incontrolável. Estão quase para chamar a polícia se ela não aparecer.

Seguro-me contra uma parede da sala, vendo tudo, tudo ao escuro de minhas pálpebras, visualizo a quebra e a queda de Murilo como num mundo paralelo, e não me aguento. Esgueiro-me a ponto de cair sentada ao chão segurando todo um choro que quer se libertar.

Iara vem logo ao meu socorro, bate o desespero em Filipe também. Há um grande pesar em sua voz quando tenta ajudar. E dói muito ver que ele não pode, porque seu Júlio o lembra dos limites que Vinícius havia estabelecido.

– Vou ligar pro Vini.

– Melhor não, ele deve estar muito pilhado. Além de que ele não atende suas ligações, lembra? Mas para todo o caso de ela fazer algum contato, de ela aparecer... Bom, só quis deixar vocês a par da situação.

Iara e Filipe se seguram, apenas agradecem pela ligação e consideração do aviso. Eles eram ainda “à parte” da família por seus históricos. Tão... injusto.

Mas o que eu tinha para falar de justiça se eu estava acabando com todos ali?

Arrastando todos comigo para o mesmo buraco?

A esperança é aquela força pouca que tá ali como a última coluna de sustentação. Muita coisa já ruiu ao redor, tem buracos, destroços por todo o redor, menos naquele ponto que sabe-se lá onde ou por que arranjou de permanecer. Eu permaneço. Permaneço na minha, Filipe esperando que eu diga algo, que ceda. Ele tem a esperança de, com meu consentimento, aliviar as preocupações do filho, de meu irmão e amigos. Tem sido forte, tem aguentado calado, coisa que nunca pensei que faria por mim.

Ele se sente tão desesperado por Vinícius, que se a ele fosse pedido a Lua, ele daria um jeito de pegá-la, pagá-la, roubá-la, o que fosse preciso para que se reaproximassem. E lá estava sua oportunidade... e eu o barrando.

Se fosse antes, já teria ligado sem nem me perguntar, teria me delatado sem pestanejar, teria me oferecido todo o dinheiro que reserva no banco, qualquer coisa. Ele sempre foi desesperado pelo amor e reconhecimento do filho, continua agora, só que me implora por consentimento. A esperança lá brilhando na sua expressão, a testa franzida, comum de Vinícius quando também está incerto de alguma coisa.

Eu sei das esperanças de todos, as vejo claramente quando volto os olhos para eles, para Filipe e Iara naquela sala. A questão que me queimava o cérebro não era se os deixava avisar meu paradeiro ou não, pois sabia que eventualmente teria que reaparecer, avisar onde e com quem estava... Não, meu problema era saber qual era a minha esperança, o que me mantinha e me manteria de pé diante daquela vergonha.

– Por favor, Milena, nós só queremos te ajudar. Nos deixe te ajudar, nos deixe ligar.

Qual era minha esperança? Que fosse entendida? Ok, aquele caderninho explicaria muita, muita, muita coisa. Mas o eu queria de verdade? Por que mesmo eu estava fugindo?

Ah sim, porque era muita vergonha pra pouca esperança. Que nem sei que esperança é essa. Mas sei que é ela quem fala por mim quando digo:

– Só pra ele. Só ele que...

– Seu irmão então.

– Não, não Murilo. Vinícius. Não quero ver ninguém mais além dele.


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Notas finais do capítulo

Só posso dizer que o próximo é muito *------------* e ♡ ♡ ♡ ♡ ♡

See ya em breve o/



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