Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 159
Capítulo 158


Notas iniciais do capítulo

Oioioioioioioi, alguém pediu capítulo novo e gostosinho de ler?
Pois chegou em boa hora, recheadinho como a gente ama - com gente aprontando, com gente atirada, com gente sacana, com gente perdida na história, com gente... com muita gente doida interagindo ♥

ENJOY!



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Me orgulho de ter falado. Me orgulho de ter mantido a cabeça erguida e ter permitido que as pessoas vissem mais através de mim. Me orgulho de ter reconhecido um traço difícil sobre mim. E me orgulho de ter compartilhado uma grande percepção com quem mais importava.

Me orgulho também de ter ouvido e de ter acolhido pessoas. De ter perdoado pessoas. De ter contribuído com melhores histórias e avanços pessoais. Me orgulho de ter defendido pessoas, de ter defendido amigos. De ter me posicionado perante um policial. De ter repassado informações cruciais a um investigador profissional. De ter feito a minha parte.

Mas após a oração de Natal, de bênçãos e agradecimentos, em que todos levantamos de nossos assentos e formamos um círculo ao darmos as mãos uns aos outros, o que eu digo é:

— Estou grata por esta noite, por estar de rímel incolor e tenho orgulho de ter sequestrado Djane quando estava trabalhando demais.

Esse traço de amenizar situações e sensações não é só meu, mas é um traço que faz eu ser eu também. Ouvir as risadas generalizadas tomarem espaço como um grande alívio em conjunto me faz perceber o quanto eu faço isso com gosto. Não porque só quero fazer um comentário engraçado e assoprar a energia ruim para fora, é porque quero que as pessoas se sintam bem. É fato que às vezes (muitas vezes) eu só não sei dosar tanto assim, porém, não consigo não tentar tirar o melhor de cada um ou de cada circunstância.

Após todos os desabafos, notou-se que todo mundo acabou por se concentrar na parte de que não se orgulhava. Ao segurarmos uns aos outros por uma corrente de mãos e uma sinergia de aceitação, vovó também apontou esse fato. Antes da oração do Pai Nosso, ela declarou:

— Pode parecer que não, mas acredito que deu orgulho a cada um por falar abertamente sobre o que não tinha orgulho.

Foi essa minha sensação mesmo.

E como não quero ser só uma palhacinha que faz piada para descontrair o ambiente, acrescento uma grande verdade sobre este ano e, né, sobre mim:

— Tenho orgulho de oferecer ajuda a quem precisa de um pouco de Milena na vida.

Presunçosa eu?

A presunção não é intencional, mas espero que isso reverbere de um modo positivo no daqui para frente. Que este seja um traço meu valorizado e reconhecido por mim também. Não a presunção, claro. Falo da vontade de se disponibilizar para fazer algo bom a outra pessoa ou por outra pessoa. E que eu me dê mais crédito nisso.

Pelo jeito já tô é antecipando meus desejos para o 2013 que vem aí.

Apesar de todo mundo ter aberto sorrisos graciosos, sei que eles entenderam o que eu quis dizer. Ainda me sinto um pouco embaraçada, porém, realmente grata de estar aqui, com todos, falando coisas que pensei nunca dizer – assumir, admitir, manifestar ou mesmo confessar.

De modo tímido também, Murilo prossegue e dá força a esse embalo:

— Tenho orgulho de recomeçar minha história.

E mamãe e papai levam a corrente para frente – ou melhor, para as mãos que seguem a partir deles, com seu Júlio, Filipe, Iara, Vinícius, Djane, vovó e vovô:

— Tenho orgulho de agora dar mais espaço às dificuldades das pessoas e não só exigir.

Essa mamãe ponderou mesmo nestes dias.

— Tenho orgulho de ter dado uma oportunidade valiosa e ter recebido uma também.

Espero que papai encontre a chave do que foi sua explosão. Sei que aprecia novas chances e essa se tratando de via dupla é algo bem considerável.

— Tenho orgulho de ter a casa cheia – de flores e frutos – todos bem cuidados.

E para breve, assim espero, que seu Júlio cuide de sua saúde com a simples jardinagem, no sentido amplo e estrito da palavra.

— Tenho orgulho de ter voltado a cozinhar e ter o apreço de todos vocês.

Essa de Filipe soa em duplo sentido, provável que não intencional, mas gostoso de ter saído assim, involuntário. O apreço por sua comida e o apreço sobre si.

— Tenho orgulho de estar tentando algo novo e deixar um pouco do trabalho de lado.

Iara sorri de olhos fechados e com umas caretas. Largar o osso é bem difícil quando se faz isso por tanto tempo, mas agora ela tem agentes especiais para caminhar junto nessa jornada. Ainda temos muitas sabedorias de vida para dividir.

— Tenho orgulho de ter reconhecido minha família a tempo.

Por mais que tenha uma expressão encabulada, meu Vini também abraça uma expressão digna e honrada. Não é mais apenas meu contento, agora é algo que ele assumiu de verdade.

— Tenho orgulho de me redescobrir este ano.

A risonha e embaraçada Djane ainda se mostra descrente, embora muito da contente sobre o que reavivou neste ano que passou. Não falo só de trabalho e família, porque não só disso vivemos. Foi incrível assistir essa mudança de percepção dela e melhor ainda estar do seu lado e de Renato.

— Tenho orgulho de ter feito coisas que não imaginava ser possível, como falar em um microfone e lançar um livro.

Podem parecer duas coisas desconexas para quem não a conhece a vovó Marília, mas ambas têm uma ligação poderosa para quem tem resistência de se expor. Eu bem conheço essa sensação. E como ela, tenho pensado bastante no quesito de minha vulnerabilidade ser algo que mova o outro para o bem. O que começou com crônicas, escondidas no papel do jornal, a levou para mundos novos e conexões diferentes com pessoas. É isso que quero carregar comigo.

— Tenho orgulho de... Ai, tudo que eu penso em dizer parece besta.

É essa mistura de vovó e vovô, na verdade, que quero ter comigo, considero também. Essa leveza e seriedade. Um equilíbrio.

— Tá, tenho orgulho de voltar atrás quando exagero em alguma coisa.

Vovô sendo gentil e gracioso com o Vinícius, então, é uma grande prova disso.

Encerramos o drama com bons abraços, olhos marejados, beijos familiares e gostosas gargalhadas para aproveitar mais dessa noite que, realmente, só começava. É nesse clima também que aproveito que o amanhã já é hoje e antes que Murilo possa voltar ao seu desejoso autorama, chamo ele de canto para revelar uma coisita a mais.

— Mas eu tenho que terminar de montar.

— É importante, de verdade.

Com dificuldade, ele deixa Vinícius e Iara encaixando umas peças. Filipe termina se juntando a eles, sentando-se também no chão.

— Fala rápido.

— Calma, coisa. É só que... Eu apaguei seu vídeo.

— Que vídeo?

Murilo tá tão agitado e com a cabeça no brinquedo que nem entende o que tô falando. Mas tá, eu também não fui muito específica, né. Algo que preciso melhorar também acho. Depois de amassar os lábios um ao outro, solto:

— O famoso “doce incentivo”.

Nem digo que a minha criatura preferida abre seu tamanho sorriso, né? À luz das inúmeras luminárias da casa, é um sorriso um pouco cético, mas impressionado e que não quer sair de seu rosto, todo bobo e bonito. Isso, curiosamente, faz com que esqueça do brinquedo, da sala, das pessoas, das conversas ao redor. Roubo de fato sua atenção.

Até ele pensar um pouco melhor e vir um pequeno vinco à testa:

— Mas por que apagou? Por que... agora?

Com as mãos e braços pra trás, fico um pouco vacilante. Porque, apesar de ter acabado tudo bem, foi uma atitude bem injusta minha de ter postado o vídeo e não era mesmo algo do que me orgulhava.

— Eu fiquei pensando sobre o que você fez... o pen-drive, digo. Foi bem cuidadoso da tua parte. Então pensei em tirar o seu vídeo da rede, como algo cuidadoso da minha parte. E... caramba, você nem vai acreditar.

Nem eu acreditei na hora também.

— O quê?

— Quando fui acessar a conta onde hospedei o vídeo, vi que não tava mais disponível. O perfil e o vídeo. Então mandei mensagem... pro meu contato... que é o Luciano da recepção lá da faculdade, e descobri que a conta foi desativada.

Quase vacilo de novo em esconder uma informação e apenas deixo sair, sem muita explicação no meio da coisa toda e volto a focar na parte mais importante, embora me sinta mais confiante por ter mencionado o tal contato.

— Porque era uma conta problemática e de muitos conteúdos ilegais. E não me senti bem de ter feito o que fiz, da maneira que fiz. Fora que foi, né, ilegal. Daí apaguei as cópias que tinha. E vou pegar as cópias que deixei com outras pessoas para encerrar de vez essa história. Só não vou poder apagar as réplicas que ficaram na internet. Ou na Coreia.

Não sei o que esperava de resposta, mas certamente não esperava um assentir presunçoso e afetado de meu irmão:

— Esse sim é o melhor presente que você poderia me dar.

— Também não é pra tanto, Murilo.

— Quem aqui não está se dando o crédito?

Com essa, ele me pega. Fico um pouco incerta, mesmo que seja uma pergunta espirituosa e, né, sagaz. Levanto os ombros, hesitante, e tento me explicar por conta dessa sensação estranha:

— É só que foi algo mínimo. O mínimo que eu poderia fazer... depois de tantos altos e baixos nossos.

— Só que isso, pra mim, é o máximo, Mi. Sério. Significa que você está sendo verdadeira e não sinceramente mentirosa. Lembra disso? Mostra que quer apagar todos os vestígios, ou pelo menos os que estão no teu alcance. E também dar um fim no que eram nossos joguinhos de poder.

— E de vingança.

— A relação que sempre queríamos e não sabíamos como construir. Com respeito.

— E amor.

— Conseguimos mais essa conquista também. Muito obrigado, maninha. De verdade. Agora, se me dá licença, quero detonar o Vini no autorama.

Com essa, não deixo de rir e libero a criatura. Mas quem disse que o universo queria deixá-lo chegar perto daquele brinquedo? Seu celular toca no segundo que se vira e dá pra espiar o nome de Aline à tela.

— Feliz Natal, amor! Aqui? Mas...? Tô indo aí na porta!

Ao se encaminhar para a saída, fico com um pouco de dó da criatura quando Djane e seu Júlio pedem pra mover o autorama para ninguém topar ou cair. Principalmente porque tem idosos, pessoas distraídas e eu de bota.

Mas com a Aline por ali, sei que ele supera.

 

~;~

 

Se antes da meia-noite, tinha poucos beijos de casal – vez que Vinícius jurou nunca mais me beijar na frente do meu pai e eu roubar uns quando papai ficava de costas – depois que Renato e Sávio chegaram, as coisas esquentaram no recinto. No quanto podiam esquentar, por assim dizer.

A Aline só deu uma passagem rápida e na garagem da casa de seu Júlio, de modo que o Murilo voltou à sala pronto para ser criança de novo, embora não de todo desacompanhado. Trazia Sávio que, nesta noite, estava menos tímido do que de costume. Ele cumprimentou a todos assim que passou da porta e logo super se deu bem com minha avó. Djane foi sua ponte, que parecia estar vendendo seu melhor assistente de aula. Quando Filipe ressurgiu à sala, também deu tapinhas nas costas de Sávio, sendo um bom anfitrião e um nada assustador sogro.

Quem chama atenção de Filipe para esse comportamento, quem, quem, quem? Meu pai. Disse, com graça, “que não era assim que se fazia, que não pode baixar a guarda com os genros”. Mas vovó logo puxou a orelha dele, que tentou se consertar e até se fazer bondoso com meu namorado que passava por trás de papai nessa exata hora.

— Confiança, nós temos uma relação de confiança. Não é mesmo, Vinícius?

— Sim, senhor.

Acontece que Vini respondeu tão na lata e intimidado, que as gargalhadas ganham o espaço. Mas assim que Djane anuncia que ia buscar Renato na porta, Iara surge para salvar o irmão e o namorado da zoeira dos mais velhos. Eu? Queria era continuar a ver a cena.

Nos jogamos no sofázinho perto da árvore de Natal. Tinha um tamanho sofá vago do outro lado, porém, acabamos nos espremendo no pequeno mesmo. Sávio senta ao lado direito de Murilo e Vinícius ao meu lado esquerdo, no braço do móvel. Iara se junta a nós, no outro braço do sofá, depois de pegar sua câmera. Antes que possa mostrar o presente que ganhou, Sávio cutuca meu irmão, com gracejo e provocação. Sim, o Sávio.

Se bem que ele se dá melhor com o Murilo do que com o Vinícius. Por enquanto.

— Já tá com saudades da namorada, cara?

É claro que eu sou eu nessa hora:

— Nada, é porque não deixaram ele brincar com o carrinho do Vinícius. Só amanhã. Opa, mais tarde.

Murilo, emburradinho, só dá com seu braço no meu. E eu retruco:

— Melhor que ser pego fuçando a gav...

Tanto meu mano, quanto Vinícius, intervêm colocando uma mão na minha boca para não trazer essa informação novamente a público. Mas eu não ia entregar minha amiga. Não ela, pelo menos. Iara, por outro lado, protesta junto, o que chama mais atenção:

— MI!

Vez que sou impedida de falar, Sávio declara:

— Não sei se eu quero saber do que se trata isso.

— Não queira. Melhor ver o que ganhei do meu irmãozinho!

Só assim para eu ser liberada da censura. Quer dizer, dos dois homens da minha vida e suas travessuras realizando sonhos meus e de Iara, de olhos brilhando para absolutamente tudo nesta noite – até mesmo quando teve sua gaveta invadida.

Quando Renato irrompe a sala com Djane, Filipe oferece os pudins para os novos convidados – tinha um de chocolate e um de leite, que funcionavam melhor se juntos. Aproveito essa deixa para puxar Murilo e Vini dali do sofá para Iara aproveitar o momento love com Sávio.

Também porque já estava esvaziada e queria um pouco mais de sobremesa. Vez que o Murilo cola em Filipe e seu Júlio na mesa, de repente vejo como os casais foram se separando dos grupos – mamãe e papai, Iara e Sávio, Djane e Renato – e ficando mais próximos. Vovó e vovô não eram de muitas demonstrações de afeto em público, eram mais de expressar companheirismo e brincadeiras entre si.

E não só eu percebo isso – dos casais, não do relacionamento dos meus avós. Vinícius aproveita essa deixa para me abraçar por trás e tentar se aproveitar do meu pedaço de pudim. O que nego, claro.

— De mim, tu sabe que não vai conseguir nada.

— Sei, é? Vamos ver.

O descarado começa a me beijar no pé do pescoço, assim, sem mais nem menos. Minutos atrás ele tremia na base só de estar perto do meu pai e agora ousa uma jogada dessas na sala. Bem, papai e mamãe se curtiam no sofá maiorzinho, em uma bolha só deles, mas não quer dizer que não existiam outros pares de olhos no recinto nos vendo!

E não, a árvore de Natal não estava nos acobertando, como ele achava que iria.

— Vinícius Garra!

Sibilo, tentando me sair dele, que me prende em seus braços e retruca, aos sussurros quentes:

— Só um homem desejoso.

— Por pudim?

— Por você.

Quem me salva dessa indiscrição é vovô e vovô que pedem para ir para o quarto de hóspedes, estavam cansados e não queriam acabar com a festa de geral. Com essa, vô-sogro também diz que vai se retirar, embora continue perto da mesa conversando com o filho. Djane segue com papai e mamãe para acomodar meus avós. Renato também some pelos corredores, dizendo que vai ao banheiro.

Tudo parece amenizar até que o restante de nós protagoniza uma cena mais do que indiscreta, com seu Júlio curioso sobre um pacotinho no chão e Filipe se abaixando para verificar o que era.

Acanhado, Filipe roda nas mãos o pacote quadradinho preto, com tons laranja neon, e revela, alto e claro:

— É... uma camisinha.

Eu juro, o tempo para. Ninguém dá um pio. Ninguém se mexe. A não ser os músculos de repente enrijecidos, como os de Vinícius, que sinto endurecer ao redor de mim. Acho que nem ele respira. Minha visão periférica conclui o mesmo sobre os cidadãos ao redor, com Iara e Sávio como puras estátuas no sofá, segurando as taças e utensílios de sobremesa, e Murilo paralisado, olhando pra frente, enquanto mexia no pudim. Seu Júlio parece não prestar atenção em nós, só explode numa alta risada.

— Sempre bom se proteger, né?

Nem Filipe responde essa. Só deixa o pai pegar o pacotinho e colocar sobre uma mesinha ao lado.

— Vamos deixar aqui, que uma hora o dono aparece. Agora sim, posso ir me deitar. Boa noite, garotos e garotas. Tenham juízo. Vejo vocês no almoço.

O que faz a gente sair do modo mármore é Djane que retorna à sala e nos encontra quietos demais. Logo os mais barulhentos da turma.

— O que foi?

— N-nada.

Meio que respondemos uníssonos, quase como combinados. Bem, viramos estátuas juntos e deviramos juntos, sem, também, juntos não querermos descrever o que acabou de se passar. Bom, eu que não ia explicar.

Vinícius menos ainda, vez que me puxa pela mão para irmos pelas beiradas da sala e sair do espaço. Mal deu pra eu deixar meu pratinho no sofá perto de Iara. Até fico feliz de estar fazendo bastantes exercícios no pé, pois assim consegui apressar um pouco do passo para sair dessa zona de climão.

Na varanda, Vini me dá um suporte para descer os poucos degraus. Essa parte ainda é dificultosa, então vou mais lenta, prestando atenção em cada nível e na transição de peso de uma perna para a outra. O namorado, por outro lado, apesar de me segurar as mãos, fica absorto em algo, que noto sim. Embora houvesse pouca luminosidade do local, deu pra perceber que algo maquinava ali em seus pensamentos.

Ao chegarmos no caminho para o jardim, ele não demora em soltar o que é.

— De quem será que deve ser?

Ele quer mesmo saber? Porque eu não.

— Como o Sávio disse no começo, não sei se quero essa informação.

— Bom, de alguém deve ser. Não ia aparecer ali do nada.

Ele realmente tá encucado com isso?

Ele tá. Pelo modo com que coça a cabeça, entendo que está. Mas se eu, que sou eu, acho melhor não ter essa informação, o que ele queria com ela?

— Pra mim, ou brotou do chão naquela hora ou algum dos duendes daqui do jardim colocou lá só para zoar com a gente.

Encaro ao longe um dos duendes atrás do namorado, que não é assustador nem nada, e me pergunto novamente quem curtia tal figura, se seu Júlio, se a dona Catarina. Uma das minhas ideias de presente ao vô-sogro era de algo no estilo, algum quadro, uma cerâmica ou escultura. Mas até hoje não sei dizer se é a praia dele, apesar de encontrar vários itens desses pela casa. Também não sei por quê tiraram o aquário. Eu gostava de olhar os peixes. Porém, considerando o filme do Nemo, era melhor deixar os peixinhos no canto deles. Ou melhor, na área deles.

Volto o olhar para o Vinícius a minha frente, que permanece bem mais pensativo. Pelo jeito, vou ter que perguntar sobre isso e com todas as letras.

— Jura que você quer mesmo saber?

— Curiosidade, só. Não mata.

Ele dá de ombros e eu me forço a não rir. Porque... bem...

— Até você saber de quem é, né?

— Então você sabe coisas, namorada.

Vinícius tem mesmo a coragem de entrecerrar os olhos e desconfiar de mim. Eu, logo eu, que tô tentando proteger ele de respostas bem surtáveis. Mas vou com calma.

— Não, não sei. E acho que você também não vai querer ter em mente outras pessoas em seu... hmmmm... momento íntimo. Ou quer? Quer dizer, Iara ou...?

Isso o desperta enfim, que dá um pulo pra trás e tenta bloquear algo ao universo.

— NÃO, não quero saber. Me basta vê-la feliz. Esses detalhes... Não.

— Viu, só? O mesmo eu diria do, ugh, Murilo. Ou, ugh, ele da gente. E, meu Deus, por que eu tô pensando isso? Culpa tua!

Dou um soquinho no braço dele porque sim. Também não quero IMAGENS.

— Eu? Eu só... deixa pra lá. O importante é ser feliz. E eu tô feliz.

Com essa, ele volta a unir nossas mãos e me guiar para a área da piscina. Em dado momento percebo que balança rápido a cabeça, acho que ainda tentando tirar a questão da mente. Apesar da pouca iluminação, tanto do local, quanto da própria lua no céu, era possível ver muitos de seus traços. Este ano foi possível ver muitos deles, na verdade.

Nesta noite em especial também.

Ao seu lado e abraçando seu braço, encaro à beira a água da piscina ao luar, e então o rosto dele, sentindo a brisa leve mexer meus cabelos.

— Para um primeiro Natal juntos, com exposed, choros e abraços, muitos choros, e... outras coisas, até que estreamos bem.

Isso lhe traz um semblante amável e uma postura mais relaxada.

— Formamos uma boa parceria.

Uma de que ainda quero respostas. As boas respostas.

— Ei, o presente da Iara. Como você teve a ideia?

Como eu em segundos anteriores, ele encara a água da piscina, pensativo, ao passo que me puxa mais para seu dorso e repousa o braço em minha cintura.

— Meu pai deu a dica. Não queria algo genérico, só que ainda não a conheço tão bem. Não em seus gostos e interesses. Meu pai disse que qualquer coisa vinda de mim já seria muito e lembrou de como a I sempre quis só estar junto, ter uma família.

Deito a cabeça no seu ombro, concordando ao íntimo sobre isso. Ela poderia receber um chaveiro dele e ficar encantada com isso, porque sua história sempre foi assim, esperando migalhas de amor e carinho. Agora não mais. Agora Iara pode apreciar ter um irmãozinho que quer sua felicidade e que também quer fazer parte dela.

— Isso me lembrou também de um comentário dela sobre câmeras quando estávamos lá no rancho. Aí tudo se encaixou de repente. Fazer um mural e dar uma câmera profissional, para ela encher de fotos e ter registros de sua louca família.

Poderia perguntar sobre como foi escolher o modelo, mas só de saber o processo da escolha e como tudo se deu, fico enternecida. Também porque ele sabe o valor disso.

E agora de sua família.

— Gostei da classificação “louca família”.

— E loucos amigos.

Besties.

Besties?

Ao segundo que Vini vira o rosto pra mim com uma interrogação por esse termo, me dá uma coceirinha no cérebro de alguma conversa distante com alguém sobre isso. Mas não tenho ideia de com quem foi, só continuo e esclareço.

— “Melhores amigos”.

— E como se diria o “melhor namorado”?

A pessoa sabe usar ganchos e tornar meras conversas em flertes divertidos. Ainda me brinda com seu sorriso falso inocente, que me distrai e me magnetiza toda, que mal percebo quando se vira por completo para mim, de postura já não tão relaxada e sim concentrada. Eu, por outro lado, embora me anime com isso, quero brincar um pouco. Enrolar um pouco.

— Sei lá, best boy? Só não parece um bom termo.

Ele sabe que tô de sacanagem e mesmo assim me chama a atenção, chegando bem próximo de meu rosto.

— Lena.

— A Beyoncé tem aquela música, né, Baby Boy. Mas acho que não contempl..

Enquanto um braço me envolve para estreitar ainda mais o espaço entre nossos corpos, uma mão sua encaixa no meu maxilar para me centralizar naqueles olhos de repente sedentos.

— Lena.

Não dá nem tempo de pensar, porque sua boca vem na minha com vontade, sugando meus lábios com urgência e certa calidez. Era seu jeito de dizer que não importava haver ou não um termo, ele não queria saber de verdade, senão ser o próprio termo ou significado. Mover-me em correspondência era dividir essa paixão e então equilíbrio. Apesar de o ritmo exigente reduzir, nosso beijo não diminui e podemos sentir um ao outro com mais profundidade.

Sinto também meu cabelo todo esvoaçar para meu rosto e nos atrapalhar um pouco. Por isso, em meio ao escuro desse contato, tento nos posicionar melhor, mesmo sem ter muita noção de espaço. Puxo-o pela camisa para virarmos de lado, só que acho que ele entende essa puxada como convite ou maior impulso e assim a urgência que o toma acaba sendo demais.

Porque se num segundo ele está todo empolgado em mim, em outro só sinto o vago, o vento e um sonoro tchbum! Um baita banho de água fria para nós dois e por muito pouco não me levou junto.

Abro os olhos com ele já inteiro dentro da piscina.

— VINI! VINI!

Me desespero, claro. Embora ele saiba nadar e a piscina não ser tão funda assim para ele, levo um susto tremendo, desses que não sei nem o que fazer se não gritar. Não posso nem o ajudar a subir, vez que o raio da minha bota tampouco me deixa me abaixar. Mas, graças, ele logo emerge.

E a peste surge ao jardim me gritando:

— TU EMPURROU O CARA?

Tô tão doida que travo até na resposta:

— Não, a gente tava...

Se pegando? Se agarrando? Se... Não tem palavra adequada!

Segurando-se à beira, Vinícius tosse um pouco, mas responde:

— Só... pisei errado.

Me afasto quando ele dá um impulso para sair da piscina, molhando tudo ao redor, e o Murilo o puxa mais um pouco. Dá uns tapinhas nas costas do namorado, que ainda tosse um pouco.

Minha cabeça tá tão a mil que nem noto Iara surgir até que me alcance os ombros:

— Por que ninguém me chamou pro banho ao luar?

Como não respondo, ela nota que fiquei realmente assustada, assim como o próprio, que tenta me acalmar enquanto levanta.

— Tá tudo bem, amor. Só realmente não vi que tava na beirada.

— Engoliu muita água?

— Só um pouco de cloro, nada demais.

Seu meio sorriso tenta me convencer, mas não deixo de ficar preocupada. E acho que por me ver titubear, ele se aproxima com cautela, pra não me molhar, e me toca o rosto com carinho e certezas.

— Sério, amor, tô bem.

— Sou só eu ou esses dois tão ignorando a gente aqui?

Fuzilo o Murilo quando diz isso. Iara intervém, se metendo entre mim e a criatura.

— Tá, casal fofo, temos que tirar essa roupa. Quer dizer, o Vini precisa trocar. Melhor tirar os tênis e... tá de celular no bolso?

— Não, ficou lá na sala. Ainda bem que minha carteira também.

— Ótimo, uma tragédia a menos. Bom tirar a camisa, pra não molhar a casa mais do que o necessário.

Vinícius até começa a puxar a camisa, mas termina por torcê-la ali mesmo, sem retirar do corpo. Num movimento rápido, tira os tênis, remove as meias, junta as peças, e Iara insiste.

— A camisa, Vini. Precisa tirar.

— Prefiro não fazer uma aparição. A casa tá cheia.

— Tá. Vai na frente que eu acompanho a Milena de volta. Mu, vê com papai uma toalha e umas roupas secas.

— Por que eu?

— Porque sim. Só vai.

Meio impaciente, Murilo vai com o Vini pelo gramado e Iara me segue nos passos curtos e lentos, para retomar a calmaria e a sanidade. Ou assim eu pensava, pois ela é bem direta:

— Vocês tavam se pegando, não tavam?

I!

— Vocês se entregam demais. Mas não sei dizer se o Murilo percebeu de verdade.

— Ele... só pisou errado.

— Sei, senhora meu-batom-já-era-há-muito-tempo.

— Eu não retoquei naquela hora, só isso.

Porque depois da sessão de desabafos e choros, Iara levou sua nécessaire de maquiagem para a sala para todas podermos ajeitar os borrões que ficaram na nossa cara. Acabei me distraindo com as conversas e não mexi mais do que limpar o rosto com papel. Mas por que tô me explicando mesmo? Ou melhor... me entregando?

— Não me sacaneia, I, que acabei de levar um susto.

— Um susto dos bons ou dos ruins?

I! Não faz pergunta difícil.

— Tá, eu guardo segredo. Sempre guardo vocês.

Dou um soquinho ao ombro dela, meio de birra, meio de agradecimento. Pra todo caso, me expresso verbalmente também.

— Obrigada.

— De nada. Juntas tocamos mais terror.

— Parece algo que eu diria... O quanto de vinho você já tomou?

— O bastante pra começar a tocar de fato o terror. Mas não em você.

Depois dessa, fico em dúvida sobre acompanhar a gargalhada dela ou só continuar a ser escoltada. Bem, faço os dois.


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Notas finais do capítulo

Não sei de quem tenho dó nessa, porque só me sobram gargalhadas HAHAHAHA
Com toques fofos de amor, claro. E com MUITO INTERESSE DE REVELAR QUEM É O DONO DO PACOTINHO ACHADO. Façam suas apostas que revelo pra breve hahaha

Trechinho do próximo?

"- Você não faaaaaaz ideia. Aliás, não faz ideia do que foi fugir do Murilo ontem. Quer dizer, na madrugada.
— Fugir?!
— Sim, de repente todo mundo queria pra eu [SÓ VAI DESCOBRIR NO PRÓXIMO]."

e

"- Não estragou não, tá? Só mesmo o tapete branco quando descobriu sobre a gaveta de calcinhas.
Ela não ri e isso demonstra a seriedade. Ou uma sobriedade cansada. Não era hora de piadinha."

e

"Dou uma rodadinha no máximo que a bota protetora me permite e não paro:
— Um segredo meu e seu... que ficaria melhor se você tirasse uma foto... Porque é um momento único... não, melhor seria se dançasse comigo... Um mistério só nosso pro mural... O que acha?"

PREENCHER ESSE MURAL VAI SER TUDO ♥



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