Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 138
Capítulo 137


Notas iniciais do capítulo

Pra fechar o combo de hoje, tem surpresinhas - boas, super boas, esquisitas e... nem sei dizer. Preparem o coração para muitas emoções!

ENJOY!



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Ao pisar na faculdade, mais cedo que o habitual e quase no horário de aula, não deixo de lembrar de como me senti há dois dias atrás, preocupada com meus atrasos. Thiago disse que até demorou para eu pedir arrego. Quanto aos meus horários na empresa, digo. Consegui afinal acertar um horário com ele que fosse benéfico para os dois – no caso, eu chegaria mais cedo pra sair mais cedo, e assim vamos seguir e depois ver se fica permanente ou não. O fato de este semestre ser meu penúltimo para formar ajudou na negociação.

Me sinto aliviada por isso, mas ainda muito inquieta em relação a Max. E agora Djane. Ainda na segunda-feira, mandei mensagens, liguei e até usei o namorado de espião. Não que eu tivesse contado o que tava rolando. Bom, não de primeira. Preferi ouvi-lo sobre sua inscrição num simpósio e me divertir com ele e suas expectativas e seus trabalhos acadêmicos. Quando Djane chegou em casa – tarde, por sinal – perguntei pro Vini como Djane estava, afinal, não tinha conseguido falar com ela o dia inteiro. Ele só disse que a mãe parecia cansada, mas demonstrava estar bem.

Vini também perguntou se havia algo rolando, eu disse que não sabia ao certo e só queria saber mesmo o que ela queria falar comigo – nenhuma mentira, certo? Fiquei de deixar que ela me procurasse. Mas depois de tudo, pelo jeito Djane está é fazendo a egípcia, pois, por todo o dia seguinte, ela só me deu perdidos.

Murilo, por outro lado, deu uma oscilada ao saber. As únicas coisas que quis fazer quando cheguei em casa foram tomar banho, falar com meu mano e falar com o namorado. E assim fiz. Ao contar tudo ao Murilo, ele ficou como o Sávio. Aliás, disse que concordava com meu amigo. Não concordava com a reação de Max de jeito nenhum, porém, a situação não era das melhores.

Nessa hora eu meio que baixei a guarda, porque senti – e vi – que Murilo ficou balançado com o fato de Max ter sido agressivo comigo. Ele estava contendo a fera dentro de si e fazendo uma escolha melhor. Isso me fez desencanar um pouquinho. Por isso só quis falar de qualquer coisa com o Vini, pra me sentir mais normal.

Na real, não queria fazer essa história mais do que já é. Ou seja, complicada.

Mas volta e meia esse conflito todo, de ir atrás ou não, me deixa assim, desassossegada. Ora consigo desligar o alarme na minha cabeça, ora ele está apitando coisas. E isso é cansativo. Tento seguir o exemplo do Murilo, de fazer melhores escolhas, mas confesso que está duro de deixar isso ir.

Ao passar as catracas, avanço com essas dúvidas todas, e, distraída com elas, pelo pátio. Precisava comer alguma coisa antes da aula. Como não peguei o infernal engarrafamento do dia, me sobrava uns minutinhos pra um lanche rápido. Mas ao me deparar com um cenário de vários alunos nas mesas parando de conversar e assobiar umas comemorações, me sinto completamente perdida. Olho pra trás pra poder entender o que estava acontecendo e nada. Só havia eu chegando ali.

SERÁ QUE JÁ SABIAM QUE EU TINHA BATIDO NO MAX?

Não fazia sentido algum e mesmo assim meu coração quase parou.

Dou um pulo quando alguém me abraça de lado. Bruno ri, com um sorriso torto e sacana.

— Que milagre você por aqui, antes da aula.

— Isso tudo porque cheguei cedo?

De repente meu colega de turma, William, surge pelo outro lado tão do nada que suas tranças batem em mim e me sinto muito mais perdidaça. Bem, até que:

— Caraca, Milena, que showzaço! Eu não ouvia Avril Lavigne faz uma vida!

Avril Lavigne?? Hein?

ESPERA, O QUÊ?

— Q-que show, gente?

Ninguém respondeu, porque de repente... De repente, todo mundo queria tirar foto. Comigo. Ali. Tipo, vários alunos. Várias pessoas falando sobre minha performance. Minha performance, meu Deus. E me perguntando porque eu andava me escondendo – se cantava muito bem assim. Eu não sabia nem o que dizer. Até lanche completo ganhei!

Mesmo com todo mundo falando comigo e, confesso, gostar da muvuca, me sentia o tempo todo atônita. Não entendia como o vídeo do ensaio tinha chegado em tanta gente. Até mesmo chequei no canal da banda e oficialmente não estava lá. Bem, o ensaio de voz estava, com uns closes e trechinhos, um apanhado mesmo. Agora, eu no palco, nem eu tinha esse vídeo. Como se explica isso?

No meio da conversa e toda a caça ao vídeo, vi rapidamente umas mensagens do Vini e que ele tinha me ligado umas três vezes. Também para falar do... meu show. Só não tinha visto antes porque meu celular tem essa configuração de silencioso que literalmente silencia tudo, nem vibra. Vivo esquecendo de ver essa configuração.

Ainda de celular na mão, o nome de Murilo pisca e atendo na mesma hora. Ele diz:

— Isso tu não me conta né, bonita?

— Como assim?

— O teu show. Nem pra me enviar. Tive que receber do Vini.

— Mas eu nem...

Nessa hora avisto a bonita máster aparecer finalmente. Levanto para poder falar com Daniela, que estranha o movimento logo de cara, com várias cadeiras e mesas voltadas para onde eu estava e ao mesmo tempo as pessoas se levantando para ir para suas respectivas turmas. Com o celular ainda no ouvido, mirando Dani, avisto também a professora Silvana passar para a escada e sei que não vou poder fazer nada no momento. Digo um tchau rápido pro Murilo e já pego minhas coisas para ir para classe.

William, Sávio, Acácio, Marcinha e outras companhias se levantam comigo. Ao passo que topo com Dani no pé da rampa, digo:

— Eu e você. No intervalo! Sem falta!

— O quê que houve?

— Até lá tu vai descobrir.

Deixo a coisa toda no ar só pra assustar mesmo, maldosa e palhaça.

Podia não compreender bem o que tava acontecendo, mas agradecia demais pelo que quer que ela tivesse feito. Com expectativas boas, finalmente, sigo para a aula.

 

~;~

 

Se Djane sabia fazer a egípcia, eu também sabia fazer.

Assim que me encontrei de volta ao pátio, no intervalo, vi quando ela saiu da sala dos professores e fingiu não ter me visto. Eu vi que ela me olhou e passou direto com Glorinha para seu canto. Se ela não quer me contar, também não vou mais atrás!

E nem poderia mesmo. Penso isso quando me encontro quase estatelada após um ataque louco de Daniela para cima de mim.

— Ai, meu Deus, ai, meu Deus, ai, meu Deus, AI, MEU DEUS!

Daniela tinha descoberto o babado do dia.

— Eu quem digo “ai, meu Deus”! Pra quantas pessoas você passou o link secreto?

Então... descobri mais ou menos o caminho do vídeo. Quando pensei em gravar umas músicas com a Dani, imaginei postar em um link secreto pra enviar só pra umas pessoas. E assim ela me atendeu quando o vídeo foi editado. Teve uma versão resumida, bem curtinha, que saiu oficial e publicamente no canal da banda, e uma versão estendida, que as pessoas só poderiam assistir se tivessem o link.

— Eu só passei pro Vini e Yuri. Ah, e pro... errr... o Bruno. Eles que espalharam pro mundo. Juro juradinho!

Dani cruza os dedos na frente do rosto pra sair da reta. Cerro o olhar analisando sua expressão por uns segundinhos e baixo a guarda.

— Tá, vou cobrar do Vini.

Mas a Dani fica um pouco receosa.

— Você não gostou?

Digo, ainda embasbacada com a situação toda:

— Eu ainda nem vi! Só um vislumbre na tela do celular do... do William, porque foi o que deu pra ver durante a aula.

Por algum instinto, preferi não dizer Sávio e não sei dizer como me sinto com isso.

— Mas você tá chateada porque a galera da faculdade viu?

— Não estou. De verdade. Só... surpresa mesmo. E...

Vamos andando pelo pátio, pela área do bebedouro, onde já está começando a se encher de alunos e ora e outra alguém acena pra gente ou parabeniza e de algum canto posso ouvir que tem uma música da Avril tocando.

— E um pouco embaraçada com a movimentação de todos, sei lá. Eu realmente não tava... Espera aí.

É então que me toco de uma coisa.

— Por que você não me enviou? Por que fui a única que não recebeu?

— Oh!

Dani leva as mãos ao rosto, num pequeno susto e com um gritinho. E então um sorrisinho envergonhado e travesso desponta dali.

— Eu posso explicar.

— Acho bom, antes de cabeças começarem a rolar.

Cruzo os braços, toda atriz.

— Então... Eu ia te mandar. Mas aí o Vini respondeu uma conversa no chat e eu joguei o link lá sem dizer nada. E enviei pro Bruno também, num impulso. Nessa hora o Yuri também me chamou numa conversa, pra perguntar da atividade do professor Paulo, e isso me distraiu, porque eu vi que tinha deixado os papéis das questões na pasta que ficou com a Alessa, e aí fui atrás da Alessa pra me enviar escaneado e aí, já era mais de meia-noite e tive que ajudar minha tia com a pia que entupiu... e no fim das contas, eu... er... eu esqueci. Acho que alguma parte de mim pensou que você já tinha recebido. Pelo Vini ou Bruno.

— Então isso foi ontem de noite?

— Foi. E hoje eu tava aperreada com o trabalho da professora Amália, então não vi muita coisa. Desculpa, desculpa, desculpa!

Daniela faz uma carinha de arrependida real e eu fico fingindo que estou analisando o caso. Ela termina por bater seu ombro no meu pelo suspense. Por um segundo só aprecio a cena porque era tão natural e simples. Fazia muito tempo mesmo que não ficávamos assim e sorrio, porque tem acontecido cada vez mais.

— Te perdoo com uma condição.

— Então diz!

— Você gravou a música que te pedi?

Depois de nosso pequeno ensaio na pizzaria, acabamos sentando todos para descansar. Imaginei que a banda se alimentasse de pizza com frequência, mas não, Dani disse que o vício não chegou a esse ponto. CK foi buscar o lanche do ensaio e para minha surpresa eram frutas e sucos.

Daniela contou que eles vinham adotando uma dieta que fosse mais favorável para as apresentações – e isso incluía alimentos que faziam bem para a voz, como maçã e melão, dentre outras. Foi aí que fui entender porque nas histórias populares as professoras sempre aparecem ganhando uma maçã – faz bem para as pregas vocais. O melão era mais por conta da hidratação.

Isso só me mostrou o quanto ela tem investido de verdade nesse trabalho. Não era mais uma mera brincadeira, embora fosse gostoso brincar de cantar. Ela estava cheia de técnicas, exercícios, recomendações e, conforme eu assistia, ela bem cumpria tudinho. Os outros da banda que ainda estavam se acostumando. CK parece que resistiu no começo com esse negócio de maçã, mas viu a diferença que fazia.

Nesse momento de descontração, em que a roda explodia de histórias, eu aproveitei pra ver mais dos portfolios com as cifras e letras. Estava folheando uma dessas quando vi uma música que tive que pedir! Era do Elton John e estava nas tracks da fita de Viviane. Dani comentou que já tinha cantado essa música algumas vezes e, embora não fosse muito fã do Elton John, era apaixonada por essa em especial.

Mas ainda não havia registro oficial de algum vídeo com a música em questão, então ficamos combinadas de fazer um pequeno ensaio, com o teclado mesmo. Um tempo depois Murilo avisou que já estava indo me buscar e ficou apenas a promessa de que Dani iria gravar. Promessa porque eu insisti muito.

— Gravei! O vídeo deve sair até o fim de semana. Como saiu aquele curtinho do ensaio agora, acho que o CK posta pra breve. A gente tenta manter mais ou menos uma frequência. Então estou perdoada?

— Até segunda ordem, está.

Rimos e avistamos nossos amigos do outro lado do pátio, nos chamando. Sem nenhum aviso, no entanto, alguém tromba em mim que cai até minha bolsa. Fico tão sem ação que nem entendo o que está acontecendo, até ver que Dani empurra alguém. Era a Keyla.

Keyla passa batido, de nariz em pé, sem criar caso. Parecia estar possessa o bastante com algo ou alguém. Olho para Dani que quase atira lasers com os olhos enquanto a outra passa pro corredor da xérox. Lembro do que Max me falou sobre as duas e por instinto olho para a porta do departamento, no fundo do pátio, ainda com o sentimento esquisito do embate que tivemos.

Antes que eu recolha minha bolsa, alguém pega pra mim e não é a Dani.

— Não leve a mal, ela está assim porque... bem, é a Keyla. Hoje ela não é centro das atenções. Muito boa sua apresentação, aliás. Não sabia que cantava também.

Agradeço pela bolsa e entendo a insinuação de Pompeu, porque ele tem esse jeito de falar coisas às vezes com umas segundas intenções. Quer dizer, flerte, não cantadas de fato. Mas ele é o tipo do cara que mesmo muito charmoso, sabe o limite das coisas. Como sempre, sou gentil.

— É, pra extravasar às vezes. Mas nada como nossa profissional aqui.

Faço praticamente uma mesura pra colocar Daniela no centro das atenções, coisa que, diferente de mim, ela ama, mas ela está... estranha. Dura. Indiferente. Sei lá.

— Vocês cantam super bem juntas. Na próxima, quero ir. Tchau.

Assim que Pompeu segue seu caminho, cutuco Dani.

— Tá tudo bem? Algum problema?

— Problema? Que problema?

— Não sei, você que ficou, sei lá, silenciosa de repente.

— Eu? Nah.

E coça a cabeça, disfarçando. Eu olho diretamente pra ela e Dani parece querer desviar a atenção a qualquer custo.

— Você vai pra fila primeiro ou...?

Me posiciono em frente a ela.

— Daniela Azevedo. Não me diga que tá a fim do cara.

— O quê? Deus me livre! Não quero nem ficar perto.

— Hum. E por que não?

— Porque... Porque... Humf.

De reticente, Dani vai para suspirante. E não de um jeito bom.

— Já notou que tem acontecido umas coisas estranhas por aqui?

Sinto um negócio estranho no estômago com essa pergunta.

— Estranhas como?

— Não sei explicar. Só... coisas estranhas. Parece que... tem uma vibe diferente.

Ela olha para o ambiente ao nosso redor, um pouco retraída.

— E o que o Pompeu tem a ver?

— O Yuri me disse que ele não é esse cara legal que ele aparenta ser. E o Yuri... Ele não iria mentir sobre isso. Na verdade, ele fica bem arredio quando o Pompeu está por perto. Lembra do outro dia aqui no pátio? Que você e o Yuri ficaram se estranhando por conta da tal camisa que o Pompeu te emprestou lá no evento?

— Lembro.

— E ele tem tentado se aproximar de mim, acho. O Pompeu. E o Yuri tá meio encucado com isso. Acabei prometendo pra ele que ia ignorar o cara. Não sei o que está havendo, mas sinto que tem algo acontecendo. Eu só não sei explicar.

— Que... esquisito.

É tudo o que consigo falar, mas minha cabeça salta em teorias no mesmo instante. Porque lembro do caso gossip girl que teve na classe de Dani um tempo atrás e que o Yuri estava no meio. E teve aquela blitz no outro dia. E Max tem estado hiper cansado e estressado. Qual seria a ligação entre esses fatos? Haveria ligação?

Só não sei o que pensar sobre o Pompeu.

— Não é isso o que tô dizendo?

Ia dizer para deixar isso de lado, porque eu que não ia alimentar as desconfianças de Daniela, quando Ananda chega entre nós, muito animada, e diz, na lata:

— E aí, vai ou não vai ter uma palhinha pra gente?

Acho que tanto eu quanto Dani adoramos que alguém desviou o assunto.

 

~;~

 

Desde o ocorrido com Max, não o vi mais pela faculdade. Me perguntava o que ele faria com suas turmas, se apareceria ou não para a aula. Confesso que estava torcendo para vê-lo em classe, nem que fosse só pra me imaginar estrangulando ele enquanto o próprio pincelava algo no quadro com a matéria. Mas o sentimento de preocupação por esse bendito também não me deixava.

Qual não foi a minha – de todos, na verdade – surpresa quando, ao retornar do intervalo, Djane estava na nossa sala. Como uma boa profissional, ela explicou que o professor teve um problema pessoal e por isso seríamos dispensados mais cedo. Antes disso, no entanto, ela passaria um trabalho para a turma conforme orientada por ele.

Assim, formei um grupo com Acácio e Sávio mais uma vez e pegamos todas as instruções antes de sermos liberados. Como nas outras matérias, nossas notas finais dependeriam de trabalhos e não de provas, e isso me deu um grande alívio. Não apenas porque não teria que me matar de estudar, mas porque poderia contar com meus amigos para passar nesse período.

Os faltantes – no caso, Gui, Flá e Cardoso – seriam um outro grupo e por isso decido passar na casa do meu amigo para explicar as últimas atividades. O Gui vem se recuperando bem, porém, precisa ficar de repouso e por isso tá tudo bem ele faltar algumas aulas. A Flávia, por outro lado, embora tivesse muitos créditos para poder faltar um monte de aulas, não precisava faltar tanto assim. Talvez precisasse conversar com ela.

De qualquer modo, reúno o material para as duas criaturas e Sávio me dá uma caroninha para a casa de Gui. Encontro a mãe do meu amigo logo na porta, colocando o lixo na rua. Ela ainda parece abatida e por isso tento ser um frescor de visita. Digo-lhe que estava com o material das aulas para que o Gui pelo menos não ficasse perdido. Pela sua reação, parecia que eu carregava uma boa notícia no meio de um péssimo dia. Não iria invadir sua privacidade, mas posso apostar que parte do seu cansaço se devia ao ex-marido.

Ao entrarmos, sigo com ela para a cozinha. O jantar estava pronto e ela iria levar numa bandeja. Me ofereço para levar, tanto pra aliviar um pouco o lado dela, como pra surpreender meu amigo. Consigo convencer sua mãe de ficar para jantar e descansar. Ela de fato parecia extremamente exausta.

Com tudo nos trinques na bandeja, deixo todo o material da faculdade na sala, fico só com o celular no bolso e equilibro as coisas, andando devagarzinho para o quarto. Rio para a florzinha que achei e coloquei ao lado do suco da criaturinha. Tava uma arrumação bem bonita e eu não queria derrubar. Caso acontecesse, iria limpar, claro, mas Deus me livre dessa vergonha. Não teria cara caso acontecesse!

Ao chegar no corredor do quarto de Gui, vejo que vou ter que dar meus pulos, porque a porta tá fechada e vai ser difícil abrir com tanto peso numa mão só. Analisando a situação, consigo apoiar parte da bandeja numa das luminárias baixas do corredor e só giro de leve a maçaneta, o suficiente para abrir. Iria empurrar a porta com as costas ou mesmo com a bandeja quando ouço uma conversa que demonstra que o Gui não está sozinho no quarto e que o papo não era dos bons, porque ele quase vocifera pra outra pessoa:

— Você NÃO tinha o direito!

— O que queria que eu fizesse?

Era a Flávia. Congelo do mesmo segundo e fico onde estou pra entender a discussão deles. Na verdade, fico sem jeito, não sei se volto com bandeja e tudo pra cozinha ou se espero ou se entro ou se sei lá.

— Pra começo de conversa, devia ter me dito. Desde o primeiro dia.

— A sua mãe me fez prometer, tá bom?

— Dane-se! Dane-se vocês! Não acredito que esconderam isso de mim! E em pensar que...

— Eu fiz o que precisei fazer, Gui, e não pense que não considerei v...

— Você não confiou em mim. E você sabe como eu fiquei me revirando todos esses dias, tentando entender o que aconteceu, tentando entender o que eu fiz... E você sabia o tempo todo.

— Eu só quis...

— Me enganar.

— NÃO! Não foi bem assim. Gui, tenta ver o meu lado. Por favor.

— Sai. Sai daqui!

Com o coração pequeninho e em dilema, fico sem saber se vou, se fico. Se eu sair correndo, posso derrubar a bandeja. Se eu ficar, a Flávia vai me ver. Se ela sair.

— Não, Gui, não faz assim. Eu só não queria que você fizesse alguma coisa precipitada. E, convenhamos, isso é sério o bastante.

— Por isso mesmo, Flávia, por isso mesmo. Eu tenho que falar com o Max.

Espera, o quê? Max?? Por que ele tem que falar com o Max? Acho que não é algo a ver com as faltas e trabalho atrasado. Esses dois não brigariam dessa forma por isso. Mas o que mais poderia ser?

— Mas aí eles vão saber! Eles vão saber que a gente sabe.

— Dane-se, Flávia! É com isso que você tá preocupada? A gente sabe dessa droga pra quê? Pra não contar pro investigador que algum desafeto do meu pai mandou me escorraçar? Sendo que meu pai tá sendo investigado?

O qu...? O QUÊ?

— Gui. Por favor. Vamos pensar melhor sobre isso.

— Eu não consigo nem olhar pra você agora. Pode sair, por favor?

— Gui.

— Por favor. Sai. Eu não vou fazer nada agora. Afinal, eu estou preso em uma cama depois de ter sido espancado e... E o recado foi dado ao meu pai. Sai, Flávia, eu preciso... Preciso ficar sozinho.

De tão chocada que estou, eu não me movo. Mas a porta do quarto sim e ela revela uma Flávia cabisbaixa, que me encontra ali e ela fica pálida, como se tivesse vendo um fantasma.

— Lena?

E pela minha expressão, ela não precisa perguntar se eu estava ouvindo. Ela sabe que eu ouvi. O que eu consigo dizer diante desse abalo é:

— O q-que está acontecendo, Flá?

— O que est-á acon-com-tecendo? Nada. Não está acontecendo na-da.

Eu sei que ela sabe que eu ouvi, mesmo que seja absurdo, e ainda assim Flávia mal consegue me olhar de tão assombrada e aturdida que está e por estar me vendo ali. Mas eu não iria deixar essa passar.

— Eu ouvi. O Gui acaba falar do Max. Que precisa contar algo ao Max.

Quando eles descobriram? Como eles descobriram?

As palavras não conseguem sair da minha boca.

Minha amiga passa a mão no rosto e pela pouca claridade do corredor, percebo que estava mesmo chorosa como se mostrava na discussão e isso me deixa agoniada, a ponto de chamar sua atenção, com um sibilo baixo, e a bandeja balançar.

— Flávia!

Não sei se ela se assusta mais por mim ou pela bandeja vacilante, só sei que ela me dá apoio ao segurar parte da superfície de aço e diz:

— Não é nada. Mesmo. É só que ele vai perder aula.

É isso mesmo, Brasil? Ela está tentando me enganar?

— Não é nada disso e você sabe!

Basicamente jogo a bandeja para ela que por pouco mal se equilibra e entro com mais de mil no quarto. Ainda ouço ela me chamar pra tentar me impedir, mas, uma vez dentro do quarto, com o coração saltando e ainda processando as informações, eu sinto que ainda vem coisa pior.

Um Gui raivoso vira um Gui desnorteado ao me ver. Ele se senta na cama e antes que diga alguma coisa, eu metralho:

— O que você precisa contar ao Max?

Flávia aparece logo atrás. Ela consegue colocar a bandeja numa mesinha lateral e se aproxima de mim, quando falo de novo:

— E por que ao Max?!

Os dois trocam olhares e meu peito falta explodir. Eu ouvi tudo, mas ainda não consigo processar e preciso ouvir da boca de alguém isso. A Flávia censura o Gui com alguns gestos e ele, ainda raivoso, termina por me responder:

— A gente sabe que ele é um policial.

— NÃO, GUI!

— A gente sabe que ele tá investigando algum esquema envolvendo meu pai.

— GUI!

— É a minha vida, Flávia. Mas que droga! Mandaram me espancar como retaliação de algo envolvendo meu pai. Sabe como isso me faz sentir?!

Eles dois estão tão alterados um com o outro que parecem até esquecer de mim no recinto. Mas se dão conta quando me sento na ponta da cama e o choro, ele vem. Gui tenta se mexer de onde está, mas por fim para e só provoca a Flávia, que está imóvel, perto da porta.

— Viu só?

Meu Deus. Meu melhor amigo. Meu melhor amigo não sofreu um assalto. Como o Sávio, ele sofreu um atentado. Ele apanhou por conta de algo mandado por alguém. E vão falar com o Max. Mas... espera aí.

— Como vocês sabem do Max? Quer dizer, como sabem q-que eu sei?

Eles trocam olhares novamente e dessa vez nada conflituosos, mas sim muito cúmplices e embaraçados. Por fim, Aguinaldo respira fundo e declara:

— É melhor contar logo. Ela precisa saber.

— O que eu preciso saber?

E enquanto ouço, quero apenas deixar este mundo.

Mas já que não posso, faço o que consigo fazer: fugir.


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Notas finais do capítulo

Eu não faria diferente depois dessa.

Até breve!



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