Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 139
Capítulo 138


Notas iniciais do capítulo

VOCÊS NÃO SABEM O PRAZER QUE É ESTAR DE VOLTA POSTANDO MAIS CAPÍTULOS (E VER O PICO DE LEITURAS SUBIR COM A LEITURA DE VOCÊS AAAAAAAAAAAAA). Mesmo que seja um capítulo difícil para nossa Milena.
Diria para mandar abraços quentinhos, mas, como vocês verão, abraços viraram um tópico delicado para ela.
Já tô spoiletando o que não devia, então ENJOY!

P.S.: Obrigada por não desistirem dessas criaturas, obrigada por continuar aqui.



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Não acredito que fiz, no que estou fazendo, no que está acontecendo. Só deu tempo de pegar minha bolsa e uma das minhas pastas e dar no pé. Assim, simplesmente, feito bala. Ao chegar na esquina, viro pra trás pra ver se era seguida – pela Flávia, mas não há ninguém.

Observo a rua por mais um instante e me sinto sem energia alguma. Não poderia andar até a avenida principal para o ponto de ônibus. Apesar de a área ser movimentada, era perigoso e eu não tinha condições alguma. Do outro lado da esquina, espio uma lanchonete com suas mesas bastante cheias. Avisto uma vazia no fundo e atravesso a outra rua.

Ao finalmente sentar, descarrego meu material na mesa, quando na verdade eu só queria desabar. Mas estava longe de casa e de tudo. Alcanço o celular e ligo pro Murilo. Caixa postal. Suspiro. Não quero ligar pro Vini, pelo horário ele ainda está em aula. O Sávio já deve estar em casa. Pra quem mais poderia ligar?

Uma garçonete aparece e eu peço uma água. Digo que estou esperando alguém. Logo que ela sai, disco o número do Bruno. De pronto, ele atende:

— Oi!

— Ei! Você ainda tá na faculdade?

— Nada, já tava entrando no banho. Precisa de algo?

— Hã. Era algo que... Eu só... Precisava confirmar. Mas deixa.

— Lena, você...?

— De boa. Eu vejo isso depois. Tchau.

Desligo. E me vejo ainda presa à situação. Torno a ligar pro Murilo e novamente cai na caixa postal. Recebo a água que a garçonete traz e agradeço em tom baixinho. Não sei por quanto tempo vou aguentar apertar tudo isso dentro de mim. Abro a garrafa e viro um copo. Para quem mais posso ligar?

Dou uma olhada no visor de ligações de emergência do meu celular e por fim decido por uma pessoa. Tomo um novo gole de água para me controlar enquanto espero. Chama até cair. Ligo de novo. No primeiro toque, a pessoa atende:

— Alô?

— Dja-ne.

— Querida, o que...?

— Você tá na faculdade?

— Não, eu já saí, eu vim na casa de...

— Ah. Tudo bem. Eu... Eu vou dar um jeito aqui. De ir pra casa.

— Você ainda não f...? Querida, o que está acontecendo?

— Não sei.

— Onde você está, Milena?

— Não sei.

— Me diz exatamente onde você está e vou aí.

Explico as coordenadas e dentro de 10 minutos, vejo Djane à minha frente. Estou imóvel na mesa, debruçada e prestes a desabar.

— Milena, o que houve?

E aí eu desabo. Eu levanto e agarro o torço dela com força e desabo.

— Querid...?

~;~

Djane de alguma maneira consegue me mover. Depois de suas tentativas sem sucesso, ela só me abraçou e ficou comigo quieta por um ou dois minutos. Não ligava se chamava a atenção das pessoas ao redor. O grande aperto que sentia por dentro me deixou sem filtro algum.

Ao entrar no carro e, no automático, colocar o cinto de segurança, finalmente tomo um fôlego. Ainda não conseguia balbuciar coisa alguma, mas precisava respirar, mesmo que de boca aberta. Precisava reagir.

Mas eu não conseguia me desligar do que ouvi de minha melhor amiga. E do meu melhor amigo. Que já não sei dizer se eram os melhores ou menos ainda amigos depois disso. Logo tudo me comprimia e só conseguia fechar os olhos e sentir as lágrimas tomarem de conta.

— Milena, você precisa me dizer algo, querida. Assim eu não sei nem como dirigir.

— Desculp-pa, Djane.

— Não, querida, que é isso, eu só... Não consigo não fazer nada.

— Eu só preciso chorar agora, Djane. Só me leva pra casa. Por favor.

O caminho não foi tão longo ou era eu quem estava fora do mundo, apática. O movimento suave do carro atravessando as avenidas luminosas e já pouco agitadas era um pouco confortante. Minha respiração tinha sua trégua, encontrando um compasso mais quieto. Poderia seguir até o fim do mundo assim, sem me mexer. Queria ir até o fim do mundo e não voltar.

Ao chegar na porta de casa, eu só passei a mão nos olhos para poder enxergar melhor o buraco da fechadura. Me forcei a entrar e nem liguei se Djane vinha logo atrás no meu encalço. Na sala, a primeira coisa que fiz foi soltar meu material no pé da porta e desligar a luz quente. Meus olhos ardiam naquela luminosidade. Arrastei-me até o sofá e nele sentei, quebrando-me aos poucos até finalmente me estirar nele.

O que se sucedeu depois entre Djane e meu irmão se encontrando ali eu não captei nada. Só encarava a tv ligada em um canal aleatório que passava um jornal noturno. O volume estava bem baixo e agradável. Não ouvia o que a âncora falava e nem o que ninguém mais falava.

Um tempo depois o rosto de um Murilo preocupado me alcançou. Apoiado nas pernas, ele me analisava e me chamava. Não sabia dizer se estava ainda tão congestionada do choro a ponto de ouvi-lo tão longe ou se era o cansaço me desligando aos poucos. Sem forças alguma, durmo. E tenho um pesadelo doido comigo e o Murilo na praia, quase se afogando.

Tomo consciência com um salto e o coração disparado. Murilo também se assusta. Ele estava ao meu lado no sofá, com minhas pernas sobre ele e um lençol levemente espalhado sobre mim. Sento e entendo o surto: era a minha mão formigando. Era um alerta do corpo de que eu devia me mexer. Reagir.

— É só minha mão. Tá dormente.

— Ah. Hum. Você jantou?

— Hã... Lanchei na faculdade, mais cedo.

— Ainda tem comida.

— Não tô exatamente com fome. Cadê meu celular?

Meu coração ainda não tinha achado seu ritmo certo e me eu sentia completamente perdida no tempo e espaço.

— Um achocolatado então? Faço rapidinho.

— Acho que tô enjoada para algo com chocolate, mas valeu, Mu. Você viu meu celular?

Me ajeito no sofá só o suficiente pra deitar em melhor posição. Já havia dor demais em mim para adicionar outra.

— Coloquei suas coisas no quarto. Fiz mal?

— Não, tudo bem.

— Tem uma daquelas sopas instantâneas. São só três minutos. Coma alguma coisa, mana.

— Murilo.

— Só coma metade, então. Só um pouquinho, tá?

Assinto por fim, porque sabia que ele não iria me deixar sossegar sem me alimentar. Abraço uma almofadinha quando me vejo sozinha no escuro da sala e me sinto assim, sem forças, sem foco, sem segurança. Me pergunto se um dia poderei confiar em mim de novo. Se haverá segurança no simples pensar.

Em breves minutinhos, surge uma xícara grande e quente numa bandejinha que quase não usávamos. Às vezes eu até esquecia que ela existia. Era curioso como antes achava que iríamos usar e abusar dela quando estávamos organizando a casa e discutindo sobre tarefas domésticas. Murilo sempre querendo sair por cima.

A madeira amarelada e lisa me faz revisitar esses tempos engraçados, mas é o cheirinho da sopa que me revigora ao menos um tantinho. Sorvo um pouco e mais um pouco e vou tomando tudinho quase sem pausas. O que me afirma que ainda estou aqui é que sou capaz de sentir o sabor e a temperatura dessa refeição.

Isso ao menos agrada meu irmão, tão atento que até quase esquece de me dar um naco de pão. Recebo seu carinho e amor sem me perguntar nada e ele não sabe o quanto agradeço. Meus olhos se enchem de gratidão líquida com ele assim, assistindo-me, tão afetado como eu, mas quieto e respeitoso de meu espaço.

Ao menos agora alguém respeita.

Ao fim, ele leva tudo para a cozinha e depois de um tempo, ainda silencioso, torna ao seu lugar e me recebe em seus braços, onde poderia descansar e digerir tudo, desde a comida ao grande golpe que fazia meu peito inchar.

— Acha que pode conversar agora?

Só balanço a cabeça em negativa.

— Pode pelo menos me d...

— Mu. Não.

— Me diz alguma coisa, pequena. Pra eu poder fazer alguma coisa.

— Você não pode fazer nada. Nem eu posso fazer nada. Nem...

— Nem?

— Nem minhas próprias defesas.

— O que isso quer dizer?

— Meu cérebro.

Murilo abre a boca e depois fecha, confuso.

Apática e me enterrando mais em seu pescoço, continuo:

— Ele não bloqueia como deveria.

— Seus pensamentos??

— Invasores.

— Mana, você não está falando coisa com coisa.

Eu sabia que não estava facilitando, mas também não conseguia formular algo melhor. Só suspiro e penso em como a coisa toda meio que se retroalimentava.

— E é assim que começa, Mu. É assim que começa. Até eu falar muitas verdades, coisas que saem totalmente do meu controle.

— Vamos começar do começo: o que te deixou assim? Quem te deixou assim?

Não consigo mais responder. Mesmo após me alimentar, as forças eram mínimas. Murilo fica um pouco impaciente, porém, nada diz também. Só espera. Só fica.

E por longos minutos permanecemos assim. Só descobri que era quase meia-noite porque apareceu na tela de outro jornal noturno que passava na tv. Isso esvaziava minha mente.

Só... aconteceu.

Mas ela também não era muito gentil em imagens e lembranças comigo.

Para vomitar parte desse embrulho, quebro por fim o silêncio:

— Lembra um tempo atrás que você me disse que meus amigos iriam me perdoar por esconder a história de ter a polícia na faculdade? Que não seriam meus amigos se não compreendessem a situação?

Murilo não faz alarde, só segue minha iniciativa.

— Sim. Vocês brigaram?

— Eu... fui invadida.

— Pode ser mais específica?

— Invadiram meu cérebro.

— Lena...

Ele suspira.

— Desculpa, Murilo. Eu ainda tô... Nem sei dizer.

— Mas poderia explicar melhor?

— Acho que não. Desculpa. Eu... não consigo.

— Tudo bem. Eu tô aqui, valeu? A gente vai dar um jeito.

Não era mesmo hora de reagir ou agir. Só de sentir.

~;~

— Bom dia, senhori... Senhorita, Milena.

Assinto com educação ao guardinha que me recebe na porta da empresa e devolvo o bom dia, embora mais fraco e sem ânimo. Mas sei que não é só o modo que falei. Não havia maquiagem no mundo pra esconder meu estado, não havia um portar no mundo que camuflasse esse peso que carrego. Afinal, não era mais essa pessoa que finge. Mas também não queria corresponder ao mundo. Faz sentido isso?

O mundo, por outro lado, queria respostas. Se no mínimo segundo que olhei o Sam, que vi que ele ficou preocupado, que dirá o restante das pessoas.

Falei brevemente com Djane pela manhã e com o Vini também. Não conseguiram nada que o Murilo tenha conseguido de mim também. Em algum tempo, eles só respeitavam meu espaço e isso me fazia lembrar mais ainda da invasão que sofri. Não foi como um beijo roubado, foi algo bem mais... sei lá. Não sabia até se sentir vergonha ou culpa era algo válido de sentir. Só confusão.

Sabia, claro, que ainda tinha de falar com o Max, mas nesse primeiro momento quero um espaço pra mim. Isso. Pra as coisas se assentarem dentro de mim. E neste instante, o máximo que consigo é não chorar. E não faltar com meu compromisso. Se me sinto oca com isso, é outra coisa.

Passada a entrada, vislumbro Iara na minha direção, concentrada em alguma prancheta que Roberta, acompanhando o passo dela, esperava a análise e devolução. Não quero mais exposição do que já está exposto, por isso mudo de corredor, porque não estou em clima para qualquer explicação ou interação. O aperto no meu estômago volta a doer só de pensar nessa possibilidade de encontro.

Na minha mesa, também evito a todo custo meu chefe. Sempre que ele se aproxima, eu dou um jeito de virar ou abaixar o rosto, para que não me veja. Eu só vim mesmo pelo novo acordo com ele, não poderia simplesmente dar um chá de sumiço no segundo dia. Reúno forças de não sei de onde para cumprir todas as tarefas. Em mente, eu me forçava a fazer com calma e uma coisa de cada vez. Se isso me afastava daquela conversa, era no que me concentrava.

No meu limite de faltas, decido que não vou para a aula. Zero condições. Zero condições até mesmo de pegar um ônibus. Combinei com o Murilo de ele me buscar na esquina, então me arrasto para lá para poder esperá-lo. Quem me recebe lá, por outro lado, é o Vini. Ele sabia dos meus novos horários, claro, e que ainda me encontrava em um estado catatônico sobre o que aconteceu. Sei que ele se esforçou bastante em não me encher de mensagens, mas não duvido nada que ele e o Murilo estivessem trocando informações. Nada que incomodava tanto, na verdade. Eu só queria ir pra casa mesmo.

Arrasto-me para onde ele está, encostado no carro, atencioso a qualquer passo meu. Estou tão além de mim que sequer me afeto por atrapalhar seus horários ou roteiro. Assim que me encontro frente a frente com ele, Vini vacila, com receios de um afastamento, porque fui bem esquiva mais cedo.

— Precisava te ver.

— Tudo bem. Oi.

— Oi.

— Me leva pra casa?

— Levo.

Mas eu não me movo e para isso Vini também está atento.

— Me abraça?

— Ô, amor.

Sou aninhada em seus braços e beijos ali mesmo na calçada, próximo a portaria. Mais uma vez, não ligo para quem está olhando. Luto contra a vontade de chorar de novo porque se abrir a torneira, sinto que não vou saber fechar.

— Me conta o que aconteceu.

— Só... aconteceu.

Foi essa fala de Gui, que encerrou a conversa, que ficou comigo.

— Mas do que se trata?

— Eu não... Não consigo dizer.

Vinícius se desvencilha de mim para poder me segurar no rosto e dizer:

— Consegue sim. Não tem nada nesse mundo que você não consegue lidar. Ou me falar.

— Até mesmo com quem... Com quem se infiltrou no meu cérebro?

Como o Murilo, ele fica confuso.

— Não sei dizer se entendi.

— Ninguém entende.

Retruco, um pouco cansada. Volto a abraçá-lo e quase posso deitar nos seus braços.

Então me vem uma imagem, uma lembrança. Um flashback. O dia que tanto a Flávia quanto o Gui estavam péssimos na faculdade. Tão péssimos que achei que tinham brigado. Tudo volta tão rápido que meio que estanco.

Aperto os olhos com o dorso da mão e entendo tudo. Foi aquele dia. Foi aquele dia que eles começaram a esconder tudo. Que dormi com o Gui. Que a Flávia o convenceu. Foi... Foi aquele dia que estava vulnerável.

Foi o que a Flávia fez de tão tenebroso.

Vini me chama de volta para o mundo presente:

— Vamos sair daqui primeiro, ok? Está quente.

Concordo e aproveito esse momento para tomar um fôlego.

No silêncio do carro, minha mente vaga por aqueles dias. Coisas que aconteciam e eu não dava a devida atenção. Os meus sonhos tão vívidos. Era isso, era a traição. Era uma invasão. Era errado.

Passamos em frente da faculdade, que era caminho, e eu sequer olho para lá. Volta e meia Vinícius me dá algum suporte apertando sua mão na minha, quando pode desgarrar do volante e da marcha.

Eu, no entanto, não consigo reagir a mais nada nesse mundo.

 

~;~

 

— Desculpa a demora.

Digo ao retornar à sala, onde Vini ficou à minha espera. Fiquei no banho mais do que imaginava porque lá encontrei um bom refúgio para minha cabeça. A água estava num ponto geladinho muito bom para refrescar, não só o corpo como a mente. Parece que as coisas se encaixavam cada vez mais.

— Tudo bem, ainda temos um tempo.

— E se você pegar engarrafamento?

Era por volta de 19h e só concordei do Vini ficar por aqui pois teria aula apenas nos dois últimos horários. Ele insistiu em ficar, na verdade. Eu... Só queria ficar um pouco sozinha e entender algumas coisas. Entender alguns sinais talvez. Entender como fui burra e estúpida e cega. Entender o que era esse novelo de coisas me envolvendo ao mesmo tempo e como dele poderia me desgarrar. Como poderia puxar e desfazer cada nó.

— Ainda temos um tempo. O Murilo disse que já está vindo e vai trazer o jantar.

Vini se fazia parecer distraído com a tv, porém, estava me acompanhando a cada passo. Murilo estava assim também quando chegou para o almoço. A essa altura, eu já me importava, passou a me incomodar. Apesar de mal processar qualquer interação. Mas havia muitas coisas na minha cabeça ainda para eu também reagir a essa vigilância toda.

Como o fato de que em alguns daqueles sonhos vívidos eu abraçava meu irmão. E aparentemente estava abraçando o Gui. E o Gui me envolvia de volta enquanto a Flávia me fazia perguntas certas. Já não lembro o que eu disse ou como dizia, só que houve conversas. E enquanto eu me devotava de amor e saudades pelo Murilo, eles faziam todo um teatro para eu entregar mais e mais informações. Quão baixo era isso, eu já não sabia dizer.

E doía, como doía. E me inflamava, como inflamava.

Isso porque o Gui passou meses me dizendo que as pessoas poderiam se aproveitar da minha gentileza e até inocência. Que o Sávio estaria fazendo isso quando eu entendi sua história. Mas a história do Gui e da Flávia não se justificava. Eles encontraram a brecha e... só aconteceu.

Me pego de pé na cozinha, apoiada no alto de uma cadeira, querendo chorar de novo. Mas não quero chorar mais uma vez. Não quero lembrar mais uma vez. Mas lembro. Lembro da resistência da Flávia e do Gui de repente soltando tudo. Lembro que estavam juntos numa mesma jogada. Lembro que só quis correr. Só quis estar em casa.

— Sabe quem adora dar abraços em entrevistas?

Vini aparece na cozinha de repente, segue direto para a geladeira, e eu me movo procurando algo para fazer e disfarçar. Algo em mim não quer abrir o jogo; não por como ele vai reagir, mas por como eu estou reagindo. Eu ainda não sei como reagir a isso. Eu ainda não sei explicar isso. Então assim que vejo a pilha de louças na pia e lembro que é meu dia, resolvo adiantar alguma coisa.

Vez que eu nem respondi, Vinícius continua a história que começara. Com um copo de água na mão e apoiado na bancada, ele diz:

— O Ryan.

Vez que mais uma vez eu não reajo, ele esclarece:

— Tá, o seu Ryan. Ryan do One Republic. Tava lendo uma entrevista ali enquanto você tava no banho. Te enviei no chat.

Pensei ter escutado ele falando com alguém quando eu tava no banho, talvez o Murilo, ou Djane, todos ansiosos por qualquer tipo de informações. Não posso afastar quem quer me ajudar, posso? Afinal, não queria eu estar em casa? Estar com quem confia em mim? Me esconder em quem amo?

Ajusto devagar alguns utensílios na pia antes de começar a lavar.

— Um dia, quando a banda vier pro Brasil, e a gente for no show, posso ver maneiras de fazer você ir até o camarim e pedir um abraço. Sim, seu agente especial pode descolar uma pequena invasão com os contatos certos!

O tempo todo eu quase não ouvia o que Vinícius falava ou o que qualquer um me falava, mas justo nessa, quando me esforço pra ouvir e me dispersar, me arrependo assim que ouço abraço, invasão e contatos certos. Isso me faz virar de ladinho, encará-lo de imediato e logo desviar. Sei que não fez por mal, que está tentando brincar, me agradar e até me fazer falar, mas isso toca em mim de um jeito que não consigo dizer. Não consigo dizer que é errado, quão errado, quão foi errado. Que é esse todo errado que tá me consumindo.

Tá tudo muito errado.

Me pego saindo da cozinha e ele também.

— Eu disse... alguma coisa errada? Lena? Você... não gostou?

Apertando um lábio contra o outro com toda força para não aceitar a emoção forte que quer me tomar, olho para o relógio da parede e isso ele também percebe. E brinca mais uma vez:

— Ô, amor, até parece que você quer se livrar do seu namorado.

Tô tão confusa que nem respondo. E ele se afeta, rindo um riso nervoso.

— Ai, meu Deus, você quer mesmo que eu vá.

Não sei dizer se ele está mais uma vez brincando comigo ou se falando sério está.

— Não é isso, Vini. Eu... eu só não estou muito para interações. Estava checando o relógio para saber do horário do Murilo. Eu... eu sei que você... que vocês querem respostas, eu só não sei como processar tudo, ok? Só tem sido muito, tá bom? Tem muito barulho aqui dentro. Entende? E tô me sentindo vigiada. Ent-tende?

Eu não tinha me percebido trêmula até vacilar no último segundo, o que leva o Vinícius me envolver por todo e muito cauteloso, fitar-me com intensidade e entregar o seu jogo:

— Lena, você não precisa enfrentar nada sozinha. É isso que queremos que entenda. Estamos aqui, fale com a gente. Nos dê a passagem, independente do que seja. Por favor, me ajuda a entender isso.

Nesse momento ouvimos o portão da garagem e o carro do Murilo se preparar para entrar. E como de novo eu não reajo, eu não digo nada, e aliás, só me afasto, me desvencilho, Vinícius finalmente entende. Vejo pelo seu porte derrotado de quem prefere retirar o time da batalha perdida. Não estava correspondendo seu olhar para saber havia o magoado ou não. Mas desconfio quando ele cede a pressão.

— Tudo bem, você quer espaço. Você quer processar. Se é o que precisa... Tudo bem. Mas assim que você quiser falar, me chama. Ok? Me fala. Não importa o horário, me liga.

— Obrigada por respeitar.

É a última coisa que lhe digo nesta noite.

É a última coisa que consigo articular bem nesta noite.


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Notas finais do capítulo

Não sei o que é pior, a atitude atrevida e tenebrosa da Flávia (agora descoberta) ou a Milena tão em pedaços que assusta todo mundo. Nossa, me quebrou demais esse capítulo. A cena com o Vini então, com ela se esquivando, lágrimas apenas. Mas é compreensível para o que ela tem de lidar.
E você, como bateu o capítulo por aí?

Trechinho do próximo:
"- Isso seria um “sim”?
Suspiro, cansada e desanimada.
— Isso é 'talvez esteja pensando no caso'."

e

"- Só converse um pouco comigo, Milena.
— Acho que não é momento pra conversa.
Falo, ainda com uma mão na boca, porque me bate um enjoo pesado.
— É momento pra encher a cara?"

Dane-se, só quero abraçar e cuidar dela *chora*



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