Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 118
Capítulo 117


Notas iniciais do capítulo

"QUEM É ESSE CARA NA MINHA FRENTE E O QUE ELE FEZ COM NOSSO AMIGO?"

Só observo haha



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/453816/chapter/118

Eu podia estar revisando matéria da última prova da semana, eu podia estar revirando meu caderno de notas, mas estou eu num canto do saguão da empresa Muniz com Iara, costurando sobre sua mudança nesse fim de semana. Como cheguei super cedo hoje, logo ela me puxou para contar uns pormenores. Vez que a prova da professora Amália ficou pra amanhã, sexta-feira, tenho um tempinho a mais. E escolho descansar a cabeça com Iara.

— Algumas coisas já vão ser despachadas amanhã mesmo. Queremos arrumar as coisas pelo fim de semana. Então nem apareçam na casa do vô sogro até o almoço de domingo. Vai tá uma zona!

— Eu ia me disponibilizar pra ajudar, sabe.

— Por isso mesmo eu digo. Quero que vocês aproveitem bem o aniversário de vocês. Poderiam até usar o apê, se quiserem. Só não vai ter muita coisa por lá, sabe.

Sinto meu rosto dar uma esquentada com essa insinuação de Iara sobre o uso do apê. Ela já havia oferecido o apê uma vez, mas me sinto estranha em ir pra lá pra ficar com o Vini. Acho que eu só não queria chamar atenção, é isso. O Vini insistiu em comemorarmos esse fim de semana, que ele devia estar estudando, mas sabe-se lá por quê, acha melhor antes da sua maratona de provas. Daí pensei em fazer algo em minha casa mesmo, afinal, não tinha ninguém lá. Até já falei com dona Bia para dar uma geral na casa. Tenho um plano mais ou menos formado. Não que eu tenha combinado algo com o Vini ainda... No fim das contas (e de uma saga), talvez consiga fazer uma surpresa.

— Valeu, I, mas com tanto tempo fora de casa... passar um tempo lá, seria uma boa. E fora que... Vai que vocês possam precisar de algo do apê? Não, melhor não.

Dando de ombros, Iara ia dizer algo mais, daí a Roberta nos acha ali logo que entra na empresa. Ela traz um embrulho prateado que chama minha atenção.

— Oi, meninas. Vim só pra deixar o teu presente, Lena. E pegar meu trabalho que deixei salvo no pc daqui. Acredita? Fiz cópia de tanto arquivo, mas o principal eu esqueço! Tenho tanto pra resolver na faculdade hoje, que tô perdidinha.

Roberta me entrega o pacote e sai nos jogando beijinhos, já apressada para falar com um de seus colegas lá na portaria. Por uma sorte de vida, a sua tia tinha mesmo o perfume, consegui reservar e tava num precinho ótimo. Nem hesitei em comprar. Iara espia o pacote aos meus braços tão logo estamos sozinhas de novo.

— É o que tô pensando?

— O perfume do Vini. É o que ele tava usando no ano passado quando... ficamos.

— Saudosa nada você, hein.

Assim que me armo de meu material, Iara se oferece pra levar o pacote, já que andar com tudo isso pelos corredores pode ser trágico. Seguimos juntas pelo caminho, a conversar.

— Ah, nada muito por aí. É que... esse último ano tem tido tantas mudanças. Só acho que o que fica no final, é nossa essência. Daí... essência, perfume... Saca? E, bem, esse perfume nos traz boas lembranças.

Ô se traz!

— Ah, sim. Ah, poxa, queria saber dar esses grandes significados pra presentes. O níver do Sávio é no fim do mês e tô zerada de ideias pra presente.

— Presente? Quero.

Gui brota atrás da gente como quem não quer nada. Quase dei um pulo de susto, assim como Iara, nada que ele parece prestar muito atenção. Não estava de todo ok, embora bem melhor do que ontem. Durante o trajeto para a empresa, com carona do primo, ele já não parecia tão quieto. Só deu chá de sumiço mesmo quando chegamos.

Eu como boa pessoa que sou, já acuso:

— Tira o olho desse aqui, é do Vini.

É na verdade meu radar, que avalia se ele está ou não de boa. Se está, vai provocar de volta.

— Chata. Aceito outro. Se vocês estão precisando de ideias, tenho muitas.

É, ele tá melhor. Presunçoso todo, eu diria.

Mas ele pegou a conversa fora de contexto... e isso deixa Iara um pouco sem jeito. Olho ela de rabo de olho e decido não interferir. Iara precisa lutar suas batalhas.

— Na verdade, Gui, eu tô procurando algo pro Sávio. O aniversário dele é no fim do mês.

Ela poderia ter desviado o assunto, porém, acho uma boa que esclarece.

— Ah.

Eu diria que ele ia encerrar assunto, vez que isso faz parte de seus limites, mas daí ele volta a falar, e percebo que estava apenas... pensativo? Mesmo andando pelos corredores, lanço um olhar pra Iara, que me lança um tão surpreso quanto de volta.

— É, não sei bem do estilo dele. Mas umas camisas escuras, uns acessórios meio tribal, meio alternativo... É mais a cara do Sávio. Tem algo em específico de que ele é fã?

Enquanto Iara tenta formular alguma resposta, meu cérebro só está modo caps lock: “O GUI PENSANDO NO SÁVIO? O GUI NÃO TÁ FALANDO MAL DO SÁVIO? O GUI CALMO ENQUANTO O PAPO É O SÁVIO? O GUI...? QUÊ QUE TÁ ACONTECENDO?”.

Entro tão em fuso que não consigo comentar nada, só observar.

— Ele é... hmmm... bem ligado em coisas relacionadas a carros, motos, mecânica.

— Hum. Algum kit de ferramentas? De alguma marca que ele goste? Ou miniatura de carros?

QUEM É ESSE CARA NA MINHA FRENTE E O QUE ELE FEZ COM NOSSO AMIGO?

— É... um começo. Acho. Vou procurar por aí. Obrigada, Gui.

Mais animada, apesar de ainda muito surpresa, Iara parece mais segura. Fico feliz por não ter tido bala, nem nada, mas não deixo de me sentir... pasma. É um avanço e tanto do Aguinaldo. Eu realmente não esperava.

Assim que chegamos ao nosso point do café, I puxa o celular para checar algo e passa o pacote do Vini para o Gui, já que este não carregava nada nas mãos, só a mochila nos ombros. Deve ser algum problema, pois o rosto dela se contrai com um pouco de impaciência. Mas sua alegria genuína pela atitude de Gui ainda está ali.

— Preciso dar uma passada em minha sala. Nos vemos daqui a pouco?  

Com cara de maravilhada, Iara se estica um pouco para alcançar o amigo e dá-lhe um singelo beijo ao rosto. Ele fica todo sem graça pelo gesto.

— Obrigada, Gui. De verdade.

Assim que I anda um tantinho pra seguir caminho, Gui a chama de volta, como que se lembrando de algo. Então ele abre a mochila, remexe algo lá e quando Iara está ali de novo, ele entrega pra ela um pequeno saquinho. Os cookies da dona Bia. Encantada, ela recebe o mimo e joga beijo antes de sair novamente. Eu? Tô estupefata total.

E fico mais ainda quando o Gui retira mais um pacotinho da mochila e me entrega. Eu mal tenho como receber de tão atônita que me sinto. Isso não passa despercebido por ele, que provoca.

— O que é que tu já tá me olhando assim?

— Só muito surpresa. E com medo de ti.

Eu tô, não minto não.

Gui arrisca um sorriso sacana.

— Medo de mim?

— Esse surto aí de generosidade. Tu num disse que tava “pobre”?

Faço aspas com as mãos e tudo, averiguando esse seu comportamento.

— Ainda tô pobre. Mas não preciso ser pobre de espírito, preciso? Além do mais, são apenas cookies, não um bolo inteiro.

Ele não vai esquecer aquele bolo que comprei pro meu chefe tão cedo.

Puxo a fitinha da sacolinha e pego um cookie. Desconfiada toda, encaro-o de olhos pequenos, estudando seus poucos movimentos, sua postura largada e seu ar de metido. Tem algo aí!

— O que tu quer?

— Eu? Nada. Não posso mais mimar minhas garotas? As garotas que... me apoiam?

Ok, isso me pega. Me desarmo toda.

Isso significa muito. E sendo assim, pode me mimar sempre.

E só assim para eu comer com gosto.

— Você tem um aí pra Flá, né?

— Não estaria vivo amanhã se não tivesse.

Ele me ajuda a equilibrar o presente em cima do meu material e saio para minha mesa mais tranquila. Que permaneça um bom dia, penso. Estou precisando de doses e mais doses de açúcares assim.

~;~

— Oi.

Rabiscava eu umas notas durante o intervalo da aula quando dou conta de que Daniela havia sentado na mesa. Só assim levanto a cabeça do caderno e me apercebo do mundo ao redor. Apesar de ser um break das aulas, havia muitas rodinhas com gente estudando. Gui e Flávia tinham saído pra biblioteca não fazia uns cinco minutos e eu ficara a guardar lugar. Outros da minha turma também deixaram materiais na mesa que eu estava, enquanto iam para a xérox, pra sala dos professores ou outra coisa do tipo.

Volto-me para minha am... para Dani. Parecia cansada, mas quem não está, não é? Essa semana bagunçou as ideias de todo mundo. Se eu não soubesse, diria que o Bruno escolheu a dedo pra... Enfim. Vez que tá todo mundo espalhado, tava aproveitando um pouco mais de um tempinho sozinha. Sem jeito, respondo:

— Oi.

Dani procura uma melhor posição na cadeira e mesmo assim não parece confortável. Fecho meu caderno pra mostrar que estava me disponibilizando, e não me fechando pra ela.

— Eu... Hmmm... soube que... Feliz aniversário.

Fico mais sem jeito ainda com ela sem maneiras também. Essa versão da Dani, morna, quieta, inanimada... É desconfortável demais. Tento me sentir melhor por considerar que ela me procurou. Que ela está falando.

— Obrigada.

Assinto, em agradecimento, e não consigo falar nada mais. É como se não tivéssemos mais assunto. Ou todo assunto fosse perigoso. Acho que ela também nota isso. O que ajuda a ficar mais estranho.

— Parece que vocês estão juntos há mais anos.

Dou um sorrisinho pra quebrar mais esse gelo.

— As pessoas nos dizem muito isso.

E Daniela não só quebra o gelo, como já joga água quente. Melhor dizendo, é direta. Suspiro, concordando com ela.

— Sinto sua falta. Falta daqueles dias.

— Também sinto.

— Outro dia até sonhei que a gente... a galera... Estávamos matando aula de novo. Não sei dizer bem onde fomos parar, mas era uma mistura entre a casa do meu tio-avô, o Center e a casa de Djane.

Rio, mais branda. Porque logo bate a lembrança do Vini falando que nossas comemorações envolviam tantas aulas matadas.

E posso dizer que ainda olho e disseco nossas fotos nos dias difíceis?

Não, não posso.

— Que... mistura insana.

E Dani é mais uma vez direta.

— Será que a gente... A gente poderia esquecer nossas diferenças por uns... dez minutos? E só... ser?

— Só ser?

Massageando as têmporas e então apertando o rosto, Dani transparece muito mais cansaço. Esse, porém, não é pela semana de provas. Quer dizer que a situação anda pesando pra ela.

— Eu só queria um pouco de normalidade por aqui. Não ando me concentrando bem... Nem pra estudar, nem pra cantar. Mas não digo de maneira egoísta, é que... Realmente sinto falta.

Dani está sendo verdadeira, isso posso dizer com certeza. Está doendo nela mesmo. Bem, tudo o que ela fez com o Sávio ainda está doendo em mim também. Mas já não quero que isso doa mais que o necessário. Tento reforçar ao cérebro que eu sei coisas e ela não, e que é uma merda ter o “dom do conhecimento” assim. Como estou debatendo isso na cabeça, fico calada, ora olhando pra ela, ora fugindo das lembranças ruins que ela me traz. Daniela reage a isso enfatizando seu desconforto, embora tentativa.

— Acho que eu precisava dizer isso em voz alta também.

Entre agressividade e calmaria, acho que eu devia aproveitar essa segunda opção. Assim, assinto, em solidariedade. Ela engole em seco, embora um pouco mais rosada e feliz pelo gesto. Pra mudar essa vibe, Dani volta no assunto da semana. Entendeu que eu havia lhe dado a passagem e estava de guarda baixa.

— Não acredito que agora que fez um ano. Do aniversário de vocês.

— Pois é, tantos altos e baixos em um só ano. Espero que o próximo seja mais tranquilo. Até porque... monografia.

— Awn, temos só mais um ano junt...! Quer dizer... Você já tem um tema?

Relevo esse seu pequeno momento conflituoso e sigo a vibe. Afinal, só ser. Por dez minutos. Acho que consigo.

— Algumas ideias, nada muito concreto. Ainda não me bateu nenhuma grande sacada. Pro ECAD, vou até repetir uma pesquisa.

ECAD é um Encontro Científico de Administração de uma instituição vizinha. Me inscrevi lá por me inscrever mesmo, pois de créditos extras, tenho quase pra dar e vender. Vai ser um evento curto e – graças a Deus! – local.

— Também vou repetir! Aquele do EREAD mesmo. Se você precisar de gente pra encher sala... Bem, tô lá.

— Acho que seria uma boa. Mas dá uma checada na tua blusa antes de sair de casa. Só pra todo caso mesmo.

Mais que quebrar o gelo de vez, parece que ambas podemos suspirar de alívio. E saudosismo. Parece tão distante e tão perto ao mesmo tempo. Isso, no entanto, dura uns poucos segundos, pois Dani puxa um tópico que eu consideraria perigoso de falar. Mas, novamente, sigo a vibe.

— Aquela viagem foi épica, não foi? Estou tentando não me sentir mal pelas coisas que aconteceram e estragar minhas lembranças. Houve coisas ruins sim... Mas também houve coisas boas.

Me debruçando mais sobre meu material, ajeito umas canetinhas no estojo. Não olho diretamente para ela, do outro lado da mesa, por estar imersa nessas lembranças que, imagino eu, Dani também perpassa.

— Acho que é um bom exercício. E sim, foi épica. Aquela confusão das malas no aeroporto... Eu tropeçando lindamente nelas... Os garotos ajudando a fazer a barreira pra trocar de blusa... Eu arrancando 60 reais do Gui...

— Pensei que fosse 40.

— Teve mais 20... em um caso à parte.

Soo misteriosa porque, bem, foi na boate. Onde aconteceu tudo aquilo entre ela e o Bruno, sendo assim, parte dos tópicos perigosos.

— Acho que você não soube que o Murilo tinha pagado ele pra me “vigiar”.

O Vini também, mas prefiro preservar as inseguranças do namorado. O Murilo já tem ficha suja nesse departamento.

— Eu lembro de você ter digo algo assim, mas achei que não fosse sério mesmo.

— O Gui diz que money mesmo nunca rolou, era só força de expressão... Não foi mesmo o melhor deles naquela época. Masssss... Águas passadas.

— O Murilo também mudou bastante no último ano. Acho que dá pra relevar nesse ponto. Bem, você o perdoou, afinal.

Mordo o lábio, um pouco mexida. Perdão é uma coisa tão complicada.

— Foi... uma bela jornada para ele entender o que realmente se quebrou entre nós e então... se redimir.

Tomada por vários sentimentos, posso dizer que isso saiu sem querer. Juro! Não foi uma alfinetada para ela e por me ver hesitar, acho que ela percebe que não foi indireta. Foi o que foi.

Mas logo algo a chama atenção atrás de mim e ela se endireita na cadeira. O que diz soa um pouco apressada.

— Obrigada pelo seu tempo. Não vou mais te atrapalhar.

Num segundo mais ela se levanta e sai.

Por ímpeto, sinto que deveria tê-la chamado de volta, mas não sei... Alguma vozinha se mete no meio e me diz para esperar. Era a jornada dela. Mais um tempo para pensar era assim necessário.

Gui e Flávia voltam para a mesa, ainda conversando sobre algo, que não presto atenção. Acho que não perceberam o que aconteceu. Só com os olhos procuro Dani entre os alunos ali e mesmo não a encontrando, me pergunto por que ela teria se levantado com pressa daquele jeito.

Deixe, Milena, deixe.

Esse também era um exercício difícil.

~;~

Nos últimos tempos eu não estava sendo uma das alunas mais exemplares. Matar aulas, pelo menos da maneira que eu vinha fazendo, tinha um preço alto, principalmente se as provas de recuperação envolviam pagamentos extras. Por isso mesmo me esforçava em reaver as matérias, ficar com cérebro sobrecarregado até, pra me recuperar desse período em baixa. Apesar dos apesares, eu não podia me dar o luxo assim de cair no rendimento. Mas uma coisa que nem me preocupei foi com o que iriam pensar de mim. Ou como isso iria repercutir pelos... corredores.

A vida – complicada – é minha, afinal.

É o que converso com Sávio enquanto ajeitamos nossas carteiras para unir ao espaço da sala. O último horário era do professor Max e, vez que ele não tinha as provas todas corrigidas, realizava uma atividade em dupla. O “professor” mesmo que fez as separações de dupla. Em teoria, eu ficaria com Acácio, porém, por ele e outros alunos terem faltado, fiquei com o Sávio. Achei foi bom. Gostava de estar em sua companhia. Ele já tinha conquistado minha confiança de volta faz um tempo. Porém, pouco vínhamos passando algum tempo ou conversando... Nos vemos basicamente só nas aulas e olhe lá.

Max fez um comentário sobre os alunos ausentes e isso me lembrou de uma situaçãozinha que passei com diretor ao final do intervalo.

— Acredita que Fabiano estava perguntando se eu tava fugindo da aula?

Risonho, Sávio me olha com aquela cara de “bem, você fugiu de algumas, né?”.

— Ele me viu indo pro estacionamento de trás com uma chave na mão e perguntou “pra onde eu achava que estava indo”. Quase dei um pulo quando ele chegou todo sorrateiro.

— E o que tu disse?

— “Eu? Vou só deixar isso no carro do Gui e volto pra classe, senhor”.

Como chegamos tão em cima da aula, não deu pra ir deixar o embrulho do Vini no carro, um local mais seguro, e quando descemos para o intervalo, isso fugiu totalmente da minha cabeça. Só me toquei mesmo quando estavam todos voltando pra classe, daí pedi a chave pro Gui. Me senti no lugar errado na hora errada, mas não levei a insinuação do diretor como algo pessoal. Ele só estava fazendo o trabalho dele. Foi até um pouco engraçado, porque ele tava usando aquela voz séria dele que nem é séria assim de verdade (pra quem conhece) e eu tava um pouco sem graça porque queria rir por ele pensar que eu iria sair assim, dando na cara. E isso porque ele sabe que eu não sei dirigir.

Fabiano ainda perguntou se tinha algo que ele precisava saber, e eu tentei fazer a maior cara de inocente no cartório. “Isso foi mais acidental que armado, senhor”, eu disse. O diretor me observou mais um pouco e me deixou passar. Até parece que eu iria armar uma coisa dessas. Fiz uma nota mental de perguntar para Djane sobre isso.

— Teve umas reclamações dos professores sobre boicote a aulas. Eu poderia ter dito sobre a semana de provas, mas eu que não ia esticar história. Com Fabiano a gente tem que ser o mais direto possível.

Djane que o diga. Quando quer, ele pega no pé mesmo. Por outro lado, tem um coração bom demais da conta. Aquela seriedade toda é mais pelo cargo dele, uma exigência do trabalho por assim dizer.

Sávio concorda, assentindo. Ele nunca teve problemas com o diretor, mas também já esteve próximo o bastante em determinadas situações e já viu de um tudo por essa faculdade. Quando sentamos de fato, com as carteiras então emparelhadas, não deixo de observar como agora ele está mais relaxado, mais solto – à sua maneira, claro. Às vezes eu posso ser bem tagarela.

— E ainda assim algumas pessoas acabaram...

Max passa por nós entregando folhas da atividade às duplas ao nosso lado, estala os dedos e faz sinal de silêncio. Ele nos olha com graça, presunçoso todo, quando entrega nossa folha. Impressão minha? Disfarço a sensação abrindo meu estojo e segurando o riso. Tem dia que Max é engraçado assim, nos silêncios e mínimos gestos. Acho que gosto mais dele assim. Não que eu vá admitir.

Quando o “professor” caminha para as duplas mais da frente, que dou uma olhada rápida no naipe dos exercícios, um papelzinho surge em cima de minha mesa. Sem levantar a cabeça, por visão periférica, checo se tem alguém por perto. Não, a classe está quieta e aparentemente concentrada. Max está em sua mesa olhando suas anotações. Só assim eu leio o conteúdo daquela nota.

(S) “Então você SABE mesmo”

Evito olhar pra criatura ao meu lado, mas posso sentir seu estado de espírito. Acho que ele também percebeu as entrelinhas daquela olhada que Max nos deu. E, bem, eu já havia conversado com Iara sobre isso.

(M) “Ao que parece”

Escrevo pouco, sem entregar nada. Sou noiada de essas evidências vazarem, nunca se sabe. Discreta toda, como se estivesse lidando com a atividade, repasso o papel para a mesa de Sávio, que compartilha dessa vibe ultrassecreta. Em menos de um minuto ele devolve.

(S) “Acho que nunca disse o suficiente: obrigado”

Isso me faz olhar pra ele, de perfil, rabiscando nossos nomes no alto da folha. Capturo sua genuína gratidão na suavidade de sua expressão. Comedido, quieto e reservado sempre foram grandes características suas, mas quem é próximo o bastante, consegue ler seu contentamento com algo. Bem, eu enxergo. E guiada por esse comportamento, bato meu ombro no dele, o que lhe faz deixar escapar um risinho.

Curtindo essa bolha de movimentos mínimos, rabisco uma resposta e repasso o papel.

(M) “Estamos juntos nessa”

Queria espiar mais de sua reação, por se sentir apoiado, mas Max mais uma vez espeta nossa bolha quando chama a atenção de uma dupla, pedindo para não conversar. Para ser mais específica, a atenção de Flávia e Gui, que estavam virados para nós, e um pouco desnorteados com o puxão de orelha. Me pergunto mais uma vez nessa semana o que está havendo com eles dois, se estão discutindo, se estão... Sei lá.

Sávio me puxa a atenção de volta quando pega o papel que estivemos escrevendo e, astuto, leva para o bolso de sua calça. Gosto da maneira com que pensa.

Evidências.

— Então... Primeira questão?

Mais confiante e disposta, assinto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até que enfim um sossego pro coração do Sávio, né, gente?

Trecho do próximo?

"Bem que ele disse para eu segurar aquele pensamento.
— Gosto do modo com que você pensa, namorado.
— Ah, você ainda não viu nada."

#uiuiui

"- Nem um pouco curioso, namorado?
— Eu sei que vou gostar.
Besta nada ele, mas presunçoso todo sim.
— Mesmo que fosse um par de meias?
— Mesmo que fosse um par de meias trocadas."

See ya!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mantendo O Equilíbrio - Finale" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.