P.O.V Peeta

Naquele dia, quando o doutor falou aquela frase ele nem precisava ter dito que ela era direcionada a mim. Já fazia algum tempo desde a minha ultima conversa particular com ele, todas as minhas sessões de terapia agora eram junto com as de Katniss, mas teve uma vez que ela me ligou, era tarde da noite, mas obviamente eu estava acordado, esperando dar a hora para buscar Katniss na casa dela e nós irmos para a padaria, o telefone tocou e eu fiquei um bom tempo do lado dele antes de atender, eu não queria atender, mas mesmo assim eu atendi

Flashback da ligação on

Eu não falei nada quando atendi só tirei o telefone do gancho.

— Boa noite Peeta! Que bom que resolveu me atender!— diz a voz do doutor.

—Se for falar sobre eu ir para ai e fazer os exames me avisa que eu desligo logo! — eu digo.

— Não para falar sobre isso que eu liguei! Essa ainda continua sendo a minha opinião ter você por perto para analisar os avanços seria muito mais pratico, mas a vida é sua, eu não posso ir até ai e te trazer pelas orelhas!

— Então a que devo a sua ligação?

— Eu estava aqui dormindo na cama com a minha esposa, e pensando em o que seria de mim sem ela, ela me faz tão bem, ela me deixa são, porque escutar e resolver o problema de todos às vezes nos deixa com problemas, e se não fosse ela eu certamente os teria de sobra... — eu o interrompo.

— Doutor eu realmente não quero saber sobre a sua vida amorosa!

— Eu não terminei! Então eu me levantei e fui dar uma olhada no seu caso que me intriga bastante, o telessequestro não era uma pratica muito usada, mas as poucas pessoas, poucas mesmo que tiveram a mente telessequestrada não sobreviveram, as imagens eram tão apavorantes que consumiram toda a mente delas.

— Doutor isso não está ajudando!

— Eu ainda não terminei! Mas você está ai de pé, e de certa forma, bem! Então eu fiquei pensando o que teria de diferente, e eu elaborei uma teoria enquanto observava minha esposa dormir.

— E que teoria seria essa? Que a sua esposa fica bem dormindo?

— Não! Também, mas isso não vem ao caso! Voltando, minha teoria é: Eles usaram a coisa que você mais amava no mundo e te fizeram odiá-la, mas o amor não pode ser apagado, nem submetido, milhares de pesquisadores já tentaram entender o amor e eles falharam porque o amor não é para ser entendido ele é para ser sentido! E mesmo que sua memória tivesse sido mudada, a gente não ama com a mente, amamos com o coração.

— Doutor eu não estou entendendo a onde você quer chegar!

— O que eu estou dizendo é que, mesmo que sua mente tenha sido mudada, para você odiar Katniss, e querer matá-la, seu coração não foi! E ele está constantemente lutando contra isso. Você percebeu que teve uma melhora significativa depois que voltou? Você está mais perto do que você ama, nós podemos viver sem a mente, mas não sem o coração! O que deixa a sua mente fraca é a Katniss, mas o que deixa seu coração mais forte também é a Katniss. Ficar perto daquilo que te faz fraco, pode te fazer mais forte.

— você está querendo dizer que...

— Que você tem que ficar cada vez mais pero da Katniss, porque isso assim como está fazendo agora, vai te deixar mais forte. Eu não estou querendo dizer, só ficar perto por um tempo, 24 horas por dia!

— E que preço isso teria para ela? Isso é só uma teoria, pode não dar certo, e eu posso acabar a machucando! Ou pior!

— Tente se aproximar mais, e veja se não da certo! Eu tenho que ir, minha esposa está acordando!

Flashback da ligação Off

Aquilo fazia sentido, fazia muito sentido! E eu tentei, eu me aproximei mais, eu sempre inventava alguma coisa pra fazermos, eu passava mais tempo na casa dela, ou fará de casa com ela, do que qualquer outra coisa. E eu estava me sentindo muito melhor. Eu realmente estava as recaídas elas estavam diminuindo, assim como Katniss contou para o doutor, eu parei de aparecer cheio de curativos, porque elas estavam ficando menos frequêntes, mas os flashbacks continuavam, imagens invadiam minha mente, se alguém fizesse alguma coisa ou falasse alguma coisa, coisas como aconteceram na cozinha, geralmente são inofensivas, porque eu me controlo se não elas virariam algo pior. Elas são inofensivas, mas naquele dia eu estava segurando Katniss quando aconteceu, ela tinha dito que estava acostumada a matar coisas vivas e não mortas, e eu sabia que ela estava falando dos animais, mas aquilo atingiu a outra parte, eu não senti que a estava segurando, eu não senti que ela estava ali, tudo tinha sumido eu estava vendo imagens que minha mente me obrigava a ver sem que eu quisesse, imagens feitas por ela, imagens feitas pela capital, imagens de Katniss, sendo algo que eu sei que ela não é. Quando ela me tocou, aquilo tudo sumiu, eu podia senti-la, eu queria sentir, eu estava lutando comigo mesmo para que me deixasse provar daquele momento raro, eu não senti que a estava machucando. Mas quando eu vi, eu me senti um monstro, como eu pude ser tão fraco, tudo o que eu não queria era machucá-la, era tudo o que eu tinha que fazer, não machucá-la e eu fracassei, e era assim que eu estava me sentindo, um fracassado. Derrotado. Ela me disse que aquilo não era nada, mas para mim, aquilo era tudo. Tudo o que eu não devia fazer.

Aquele dia depois que eu saí da casa dela, eu fui andar pelo distrito encontrei com Greasy, eu contei a ela das minhas ideias de coisas que pudessem ajudar, contei do que o doutor disse, contei que estava disposto a perguntar a Katniss se ela aceitava, já que fazia tanto tempo que eu não tinha uma recaída, eu iria fazer aquilo, até que eu vi seu braço, então eu perdi as esperanças. Greasy me falou uma coisa que eu vou me lembrar todas as vezes que eu precisar de ajuda.

— Preste atenção no que eu vou dizer, tem um homem em um deserto sedento por água, tem uma fonte a vários metros dele, mas o deserto não o está ajudando a chegar à fonte! Você é o homem, as visões são o deserto e Katniss e a cura são a água! Você vai desistir de chegar à fonte só porque o deserto não quer que você chegue?

— E se eu fizer algum mal a essa fonte caso eu chegue nela.

— Fontes não secam, e talvez essa fonte também precise de alguém para bebê-la.

Poético. Mas resumindo tudo, eu não poderia desistir de tentar me curar, porque Katniss também precisava que eu me curasse, ela está bem melhor, muito mesmo, ela está quase que recuperada, quase. Eu falei com Haymitch e ele me disse, deitado na cama que estava no lugar da mesa, que Katniss estava preocupada comigo, e que ele achava que ela precisava de mim, e que se não fosse por mim, ela não estaria bem. Então me lembro do que eu falei para ela, vamos ajudar um ao outro, ser fortes sendo fracos, eu estou sendo fraco agora! E esse é o primeiro passo para ficar forte, o outro é estar junto dela!

E aqui estamos nós na casa dela!

— Pode ser que não de certo! — eu digo a ela, nós já entramos, estamos no quarto dela, eu acabei de contar toda a historia da teoria do doutor, ela está bastante corada.

— A única coisa que pode dar errado é você tentar me matar. Nada demais! — ela sorri.

— Então você topa?

— Se for para te ajudar eu topo qualquer coisa! — ela me diz, e essa é a minha vez de corar. — Sinta-se em casa! — ela diz. — Vem cá tem algumas cobertas no antigo quarto da minha mãe! — eu a sigo, até o quarto que parece que não foi mexido.

— você esteve aqui depois de tudo?

— Uma vez! — ela me entrega as roupas de cama. Voltamos para o quarto e eu pego um dos lençóis e forro no chão. — O que você está fazendo? — ela me pergunta.

— Arrumando as coisas para dormir, o dia rendeu hoje! Estou cansado!

— você não vai dormir no chão! É gelado você vai pegar uma doença!

— Katniss só de estar na mesma casa que você já é perigoso, eu não vou dormir na mesma cama que você! Já é forçar demais!

— Não aconteceu nada da ultima vez! — fico feliz que ela esteja insistindo, minha vontade é de puxá-la para cama abraçá-la e dormir daquele jeito mesmo. Mas não o faço, obvio que não.

— Dá ultima vez foi um acidente.

— Tudo bem, mas você não vai dormir no chão! — ela sai do quarto, e penso, tudo bem! Ela desistiu rápido. Mas então um colchão de casal aparece na porta e ele aparece o empurrando.

— você não precisava pegar um colchão! — pelos lençóis que ainda estão nele sei que é do quarto da mãe dela.

— Não tem ninguém lá que vá usá-lo! — ela coloca o colchão do lado da cama, e começa a arrumar.

— Ei sou eu quem vai dormir ai, deixa que eu faça isso! — arranco os lençóis da mão dela ela levanta os braços em sinal de rendição e se senta na cama. Depois que eu termino de arrumar são 4:15, eu não sei o que fazer nem o que falar, mas sei de uma coisa que eu não posso deixar de fazer, desço as escadas correndo e vou até a cozinha e pego uma faca de cortar carne na gaveta, quando volta para o quarto Katniss me olha intrigada então ela vê a faca na minha mão e sei o que ela pensou, mas ela não faz nada só me olha, isso me deixa ao mesmo tempo feliz e triste, feliz por ela não ter medo de mim, e triste por saber que se algo acontecer ela também não vai ter medo de mim, o que pode ser ruim para ela.

Olhos para a faca decidindo se vou mesmo fazer aquilo, então a seguro pela lamina e caminho até ela, ela continua sem se mexer, só me olha, não vejo pavor em seus olhos só preocupação, não com ela, mas comigo.

— Toma! — eu entrego a faca com o cabo virado para ela. Ela segura a faca sem saber o que fazer com ela. — Fica com ela ai, e se acontecer alguma coisa... — ela se levanta e me devolve a faca.

— Eu não vou fazer isso! Não vou virar um Haymitch! Não vou esfaquear você, nem que você tente me matar.

— Katniss eu vou ficar melhor sabendo que você tem como se defender!

— Eu não preciso me defender, eu sei que isso vai dar certo!

— E se não der?

— Se não der, não deu, a gente tenta outra coisa, eu sei que você tem outras ideias! — Greasy deve ter falado com ela, será que não se tem mais sigilo nesse distrito?

— Mas pelo menos você vai estar segura!

— Se der alguma coisa errado eu saio, e te tranco aqui, mas eu não vou te machucar! — é melhor do que nada, desço e devolvo a faca para a gaveta, não é uma boa ideia ficar com a faca lá se ela não estiver com Katniss para se proteger de mim, poderia estar nas minhas mãos para matá-la.

Quando subo de volta ela já está deitada na cama. Ela não dorme de pijama, mas sim com uma roupa qualquer, os cabelos soltos caem pelos ombros, ela consegue ser bonita sem nem tentar, ela me vê a encarando e eu desvio o olhar tiro os sapatos e me deito com colchão. A luz fica acesa. A chave do lado de fora da fechadura para se algo acontecer. O silencio é mórbido. Como se alguém realmente tivesse morrido e estivéssemos em um funeral, porque estamos agindo assim? Nós só estamos dormindo, não estamos nem na mesma cama.

— Haymitch tem uma cama na mesa de jantar! — eu digo. Ela ri. Boa ideia, fazer rir tira a tensão das coisas.

— Eu sei! Aquela cama quase me matou hoje!

— Como? — eu me viro ficando de lado apoiando a cabeça na mão, ela se vira também e vai para a ponta da cama para poder me olhar.

— Eu estava subindo as escadas quando ele jogou a cama lá de cima! — eu rio imaginando a cena.

— Desculpe acho que fui eu quem deu a ideia a ele.

— De jogar a cama da escada?

— Não! — eu rio. — de trazer a cama para baixo. — ela ri.

— Se ele não andava antes, agora que não vai andar mesmo.

— Tenho pena da pessoa que limpa aquilo lá.

— Eu também! — silencio novamente.

— Katniss?

— Sim?

— Obrigado!

— Pelo o que?

— Por me deixar ficar aqui!

— Sempre! — ela hesita em dizer, mas diz, eu desvio o olhar e ela também, quando ouço aquela simples palavrinha pequena meu coração pula, uma, duas, três vezes, então para, e volta. Eu queria levantar e abraçá-la, quando uma palavra passou a ser tão importante? É melhor eu mudar de assunto antes que eu faça alguma bobagem como me levantar e agarrá-la, por que não é mais segredo. Sim, eu me apaixonei por ela outra vez, me apaixonei por ela não desistir de mim, me apaixonei por ela ser a primeira pessoa na face da terra que realmente precisa de mim, eu me lembro que ela me disse isso na arena e eu achei que fosse encenação, agora eu sei que não é. Ela precisa de mim, assim como eu preciso dela!

— E também por pintar direito os desenhos da padaria. Teria me dado muito mais trabalho se você tivesse pintado como a Mariliza outra vez.

— Muito obrigado pela sua consideração! — ela diz, mas sinto o sorriso em sua voz.

— Ei, eu não sou um idealizador! — eu digo lembrando de que foi algo parecido com isso que ela disse para os idealizadores dos jogos na primeira arena.

— Que bom! Porque se fosse já estaria morto — eu me retraio, e ela percebe — Desculpe, eu não devia falar esse tipo de coisa, já percebi que não faz bem.

— Tudo bem! Essa é a nossa realidade e eu tenho que aprender a conviver com ela. Bom, acho que é hora de dormir. Bom dia Katniss! — ela ri.

— Bom dia Peeta!

Eu me deito de bruços, demoro para pegar no sono, estou com medo de fazer alguma coisa errada, então me viro para o lado, ela dormiu na ponta da cama, agarrada ao travesseiro com o rosto virado para mim, tenho a súbita impressão de que ela estava me observando antes de cair no sono, e agora é a minha vez, como no dia em que ela dormiu no sofá, seu rosto sereno de um sono profundo me acalma, e eu sei que jamais conseguiria fazer mal aquela pessoa, e é assim que nós dormimos, um olhando para o outro, sem nos olhar de fato.

Quando abro os olhos ainda estou na mesma posição em que estava quando dormi, e ela também, a diferença é que agora nós estamos nos olhando de verdade, assim que abro meus olhos eles encontram os dela, tão bonitos, tão cinzentos, tão ela, que é como uma tarde cinzenta, imprevisível, às vezes feroz com chuva, às vezes serena com um pouco de sol brilhando por trás, e é assim que ela está agora.

— Sem pesadelos! — ela diz e sorri acordar e ver aquele sorriso faz meu coração bater mais rápido, por um momento eu esqueço até meu nome, só com aquele sorriso logo pela manha.

— Sem pesadelos! — eu respondo depois de retomar a minha mente. O que não é inteiramente verdade, lembro-me vagamente de uma imagem, uma única imagem ruim, melhor do que a noite inteira, então deu certo.

— Eu falei que daria certo. — ela se senta na cama e olha para o relógio. — Dormimos até demais! — ela diz se levantando. Sento-me e olho o relógio! 12:37, dormimos muito mais, as pessoas devem ter sentido nossa falta. Mas acho que nós merecemos dormir um pouco.

Levanto-me e dobro as roupas de cama, Katniss sai do quarto com as roupas na mão, o que não faz muito sentido já que tem um banheiro no quarto, acho que ela não quer se trocar perto de mim, nem mesmo que esteja com a porta trancada, eu rio, esse pudor dela é muito engraçado. Arrependo-me de não ter trazido uma roupa para trocar, poderia ter trocado na frente dela, só para ver como ela iria reagir, seria engraçado, vou fazer isso amanha! Amanha? Eu já estava programando voltar e nem sabia. Mas por que não? Deu certo.

Ela volta depois de alguns minutos, eu estou terminado de obrar as roupas de cama dela. Ela está simples, mas mesmo assim linda. Ela prendeu o cabelo em um rabo de cavalo deixando os cachos soltos, e o rosto a mostra, é a primeira vez que a vejo assim.

— Obrigado! — ela diz se referindo a roupa de cama.

— É o mínimo!

— Na verdade o mínimo seria o almoço! — ela sorri, e eu rio.