Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 81
Enquanto Ele Voava




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Robin não olhou para trás, Robin não olhava para trás há muito tempo. Só voou de volta para onde era seu local de origem.

Essa é mais uma das histórias isoladas de Robin enquanto os outros personagens estão vivendo distante do nosso assassino, suposto protagonista que passou por diversas reflexões nos últimos capítulos para chegar aos últimos capítulos e conseguir salvar o universo com o seu novo eu. Mas isso está errado. Robin não pode salvar o mundo e ele sabe disso, ele nem saberia por onde começar... Em sua cabeça, o mundo não poderia ser salvo mais.

Tentara salvar o mundo  matando outras pessoas, mas em uma noite de sono percebeu que nada teria valido o sangue derramado. Caso estivesse pensando nisso, duvidaria demais se podia, sozinho, mudar o mundo para o melhor. Também duvidaria se o mundo deveria ser mudado para o melhor. Não queria agir como uma força benévola caótica que oprime aqueles que não aceitam a sua abstração de sobre o que é o bem. Devem ser bem porque são do bem, e não porque um mal maior os forçou. Seus pensamentos não estavam nisso, seus pensamentos estavam distantes de qualquer plano material.

Pensava no seu amigo, Frota, mas que saudades de Frota. Será que o veria em breve?  Frota também não era o seu objetivo. Ele só queria poder rever as ruas que antes vira manchadas de sangue. Enquanto esteve fora, esse tempo todo, teriam as ruas se inundado de sangue derramado em disparos de pólvora como na pequena vila que disse adeus antes de chegar à montanha? E a montanha, que fora destruída sem nada poder fazer?  A impotência que sentira, como quando fora facilmente derrotado por Molly, fora substituída pela certeza e o foco.

Seus olhos apenas se fixavam em uma direção. Para frente. Voava e olhava para as nuvens ao seu redor. As colunas de ar reagiam à sua chegada pesando ao seu redor, mas não atrapalhava sua aerodinâmica. Seus olhos permaneciam abertos como se fossem inertes ao efeito das correntes de ar que deveriam, e estavam, queimando seus olhos. Ele não sentia isso, ele não sentia as consequências que o meio faziam ao seu corpo, ele não sentia seu corpo como uma parte física sua. Era o casco onde estava concentrada a sua alma.

E desde então ele só conseguia sentir a sua alma e o que ela representava. Não era o princípio espiritual que se opunha ao corpo, nada com o corpo sua alma tinha a ver. Não eram suas qualidades morais. Era a percepção dos fenômenos da sua existência, como a sua consciência. Sendo sua consciência, o inconsciente se tornava o que normalmente lhe seria consciente. Na verdade, aquilo tudo lhe era consciente, sabia que estava voando e assimilava por achismo que seus olhos estariam doendo, mas existiriam dúvidas caso ele ainda duvidesse de acontecimentos. Existiriam suposições se ele ainda fosse supor. Ele não estava em estado para isso.

Centenas de metros abaixo o deserto tornava-se pequenas cidades, montanhas com vegetação tropical, montanhas congeladas pelo ar gélido que deveria machucá-lo, e talvez o machucasse, mas não há como concluir o que ele o jovem sentia se nem o próprio sabia o que estava sentido, se ele nem estava consciente do que acontecia com seu corpo. Estava apenas ciente da sua alma, da sua existência, dos fenômenos que ela tinha causado como o próprio fenômeno que ela já era. A vida inteira era um fenômeno, todos os acontecimentos na história do universo eram fenômenos e ele sabia disso, mesmo sem saber quais acontecimentos eram esses. Ele não ansiava por proteger esses fenômenos tal como Don Ramon fazia, por puro prazer e não por altruísmo, ele apenas ansiava pelo seu objetivo, diferente do velho guardião agora falecido.

Não olhava para o céu acima dele ou para o fenômeno natural e humano abaixo dele. O cosmos e a natureza eram maravilhas que deviam ser apreciadas e ele apreciaria, mas agora era seu objetivo o seu foco, e em nada ele pensava nos longos momentos de voo que ele passou. Foram horas de mudanças climáticas que ele talvez não tenha conseguido notar, foram horas de mudanças de correntes de ar que ele talvez não tenha conseguido notar, porque tudo que era notável que ele estava dentro de si demais para conseguir olhar para os lados e notar os patos que voavam à sua esquerda migrando para terras quentes.

Ele não voltaria para o seu bairro natal, o bairro onde mais derramou sangue em nome de um ideal que verificou durante a sua reflexão errado e agora não julgava como nada. Ele não tinha assuntos pendentes com o seu bairro também. Ainda existia dentro dele memórias que permaneciam calorosas nesses momentos de introspecção tão intensos e estavam ligadas àquele local. Pelo simples anseio de querer lá para sentir essas memórias novamente, para verificar se a pólvora permanecia acima da vida naquele local, para ver o que estaria para acontecer. Estava distante, muito distante de onde deveria chegar.

O oceano não tinha fim e ele nem percebia.

Não existem outros assuntos a serem tratados nesse capítulo para que ele não perca o sentimento que ele deve passar. Existe uma certa dificuldade para que entendamos o que está acontecendo com Robin ou o que aconteceu. Durante um grande tempo da sua vida ele viveu pensando que de alguma forma fazia o bem, isso ajudava-o a dormir de noite. Seus sensos morais foram apenas os que cresceram com ele durante a sua vida na rua, e descobriu em um dia que ele estava errado. Mas antes de descobrir que o que ele tinha feito por anos estava errado, ele descobriu que estava sozinho. Mas ele deixou de estar sozinho numa noite em um bar. É ficção demais, chega a ser história de super-herói, pensar no primeiro encontro de Frota com Robin como uma luta, mas foi isso que aconteceu, e de uma forma estranha. Frota também não conseguia entender o motivo de terem entrado em contato físico tão violento quando o que ele mais queria agora era ter o seu amigo de volta. Foi um erro lutarem, mas foi o jeito de que naquele momento o Robin enfurecido e desconfortável com o que estava acontecendo conseguiu dizer Oi para Frota. Agora Frota respondia Oi para sempre, até mesmo estando milhares de quilômetros de distância.

Frota pensava em Robin enquanto comia seu cachorro-quente e ouvia o silêncio tenso entre os seus outros companheiros, um assustado e chocado e o outro indignado e machucado. Era difícil conseguir pensar em Robin naquele momento tenso. O cachorro quente estava bom e ele não se forçou para manter o pensamento no seu amigo e nunca se forçou para isso, vinha naturalmente. Frota sabia disso. Frota olhava para a parede às vezes e pensava em seu amigo. Quando almoçava os hambúrgueres amassados do centro da cidade com uma companhia qualquer que Frota nem sabia o nome e só estava ali para poder comer rápido e voltar a trabalhar, ele pensava ligeiramente em Robin. Estava sempre pensando em Robin e mais alguma coisa porque Robin não era um pensamento, Robin era um sentimento para o jovem de óculos escuros e também era um painel sobre o que ele podia ver o mundo inteiro. Era como uma forma de arte, uma forma com que ele conseguia ver as coisas de uma forma diferente, como um técnica de pintura. E Robin tinha uma textura e umas cores que faziam com que ele experimentasse diferente o mundo.

Picone disse alguma coisa fútil em um ambiente fútil enquanto o mundo estava acabando e ele não tinha noção de como o mundo estava acabando ou como ele acabaria. Não sabia também como prevenir ele de acabar, não conseguia ter uma noção tão grande da vida e de tudo como seu mestre tinha, e quando lhe perguntou o que deveria fazer quando chegasse a sua vez, Ramon não soube o que responder e disse alguma coisa qualquer como “Deixe o seu coração guiar você, você tem potencial”.

Molly também não entendia como o universo estava acabando, e talvez não tivesse certeza nessa coisa toda de que ele estava acabando, talvez fosse para acabar desde o início. Ele acreditava que tudo aquilo teve um início, e as coisas tem início meio e fim. Diferente de Ramon ele também não conseguia ver uma figura maior em que o universo estava acabando, nem Ramon conseguia ver isso, sinceramente, de uma forma clara. Essa era apenas uma interpretação do velho. Esse desespero podia muito bem ser uma má interpretação na qual eles estavam se baseando.

Molly sabia que não teria como salvarem o universo, e foi quando sentiu uma dor estranha em várias partes do seu corpo e não entendeu de onde vinha essa dor. Estava ficando velho, é verdade, e não estava em idade para salvar o universo. E nunca esteve, ele nunca foi um guardião universal, ele foi apenas uma máquina de guerra que foi utilizada para matar os homens de um outro pedaço de terra cujo era ambicioso tal como o dono do pedaço de terra que o caolho nasceu. Picone também era uma máquina de guerra e Frota era um rapaz que não consegui aproveitar a vida porque nasceu sem nenhuma perspectiva, e os bons momentos que o rapaz tinha foram os momentos quando ele estava tentando conseguir alguma perspectiva de vida. Eles não eram guardiões do universo... Eles eram apenas consequências da pior parte da humanidade, não venceriam qualquer batalha contra o mau maior do universo.


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