Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 51
Uma única tarefa.




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Roberto Defreire morreu em um acidente de carro, mas sua teoria atravessou universos e chegou por intermédio de um programa tuglaniano de busca multiuniversal de arquivos acadêmicos. Enquanto os tuglanianos viram a teoria de Malark Butt como uma grande merda, pensaram que era na teoria ridicularizada de Defreire que encontrariam o que estavam procurando. A existência dessa teoria em múltiplos universos fez com que eles pensassem que isso talvez existisse de verdade porque até mesmo um tuglaniano havia criado essa teoria, milênios atrás, e então eles colocaram essa teoria no arquivo de “pode ser verdade”. Após a comprovação da existência em uma localidade de outro universo que apresentava uma civilização muito menos avançada que a tugliana, fizeram com que refletissem: Somos burros ou esse homem em particular era muito inteligente? Mesmo após pesquisarem sobre Roberto Defreire, e descobriram que ele era um grande homem e inteligentíssimo para sua civilização, ainda existiam dúvidas, logo decidiram colocar no arquivo “ou é verdade ou é mentira”.

Alguns anos depois um Tugliano chamado 5ª5a5a5a5abb decidiu pesquisar novamente nesse mesmo programa, agora com uma criptografia um pouco mais desenvolvida, se outra pessoa talvez tenha pensado como Roberto. Conseguiu um resultado. Em um outro planeta Terra uma criança havia nascido com um mutação num gene incomum para um ser humano, as enzimas mitocondriais e nucletídeas apresentavam uma alteração que, mesmo de leve, era notável para qualquer um geneticista expert. E 5ª5a5a5a5abb era exatamente isso. Mandou um de seus homens, um que gostava de se arriscar em trabalhos e adorava fazer a parte suja da coisa, 4ª4a4a4a4a4a4a444444c, viajar até essa dimensão e conseguir amostras bioquímicas do gene dessa criança. Era uma tarefa fácil, era o que pensava 4ª4a4a4a4a4a4a444444c, então decidiu ficar em casa tomando café porque não gostava de tarefas fáceis. Ele decidiu mandar o seu capataz, xxx4, ir resolver isso. Esse que disse que sim e então viajou para o planeta Terra em questão.

Houve um problema e xxx4 teve que se virar rapidamente. O habitat dos seres humanos estava claramente em pedaços, havia ocorrido alguma guerra devastadora ou algo assim, e parecia que toda a tecnologia que restou da raça humana – que não povoava mais as cidades e nem mais os universos – estava protegendo exatamente a localidade que esse bebê crescia. Não sabia se os humanos haviam notado essa diferença genética no ser humano e se eles acreditavam na teoria do Humano-Deus, ou se aquela era uma espécie de colônia em que os humanos estavam usando tudo o que restava para se protegendo e o bebê ainda sendo considerando como parcialmente um humano, estava ali no meio de todas aquelas pessoas. De uma forma ou de outra, xxx4 teria que se infiltrar. Estava claro que a engenharia do local era feita para exterminar qualquer forma de vida não-humana que colocasse os pés nas proximidades do edifício. Sim, apenas um edifício, só que alto, com cerca de cinquenta andares. Avistava grandes máquinas flutuantes que escaneavam por completo cada átomo ao redor do estabelecimento. Não teria uma forma de atravessá-lo, pelo menos não batendo na porta e mesmo que esse fosse o melhor espião tugliano era impossível passar por aquele sistema. No final, não era uma tarefa tão simples assim.

Mas tinha uma missão, e seu objetivo era cumpri-la. Seu chefe havia dito que era tão fácil que nem havia necessidade de um plano, mas xxx4, teimoso, prosseguiu indagando:

– Chefe, qual o plano?

– Pegar amostras bioquímicas do garoto.

– Mas esse não é o plano, é o objetivo.

– Vai ser fácil. Você chega lá, bate na porta e eles vão entregá-lo. Claro que não, né otário, se fosse isso eu mandava um louva-deus fazê-lo – disse, menosprezando a inteligência do inseto. – Você sabe como é o sistema de segurança humano, teve cinco anos de curso em relação a isso, e também sabe muito bem como é o habitat deles. Não vai ser difícil, vai ser fácil – continuava repetindo.

Mas o que parecia era que os anos de curso foram um desperdício. O curso estava muito ultrapassado, aquilo era tecnologia de ponta, como a dos tuglianos ou talvez ainda mais avançada. Tinha que pensar rápido, mas pensar inteligente, como os tuglianos faziam quando não conseguiam prosseguir em uma equação matemática: usaria um artifício. Sim, um artifício. Um artifício matemático. Fez as contas na sua cabeça e percebeu que realmente não havia nenhuma falha no campo de visão das máquinas quadradas que vigiavam todo o local. Não conseguia ver se estavam armadas, mas sabia que se fosse notado ninguém deixaria entrar. E a porta não estava aberta.

Aquele lugar ou era a última esperança da humanidade ou o seu último refúgio, não poderia haver erro na cabeça dos humanos. Para que se virasse melhor, teve que pensar como um humano. O que um humano faria se tivesse acontecido uma grande guerra... Espera. Se aquele sensor era realmente um sensor para destruir formas de vida não-humanas quer dizer que a preocupação deles era com alienígenas, e não com humanos. Talvez até biomáquinas, mas com certeza não era uma guerra entre humanos que havia liquidado a civilização daquele jeito, se não os sensores seriam totalmente diferentes – como sabia diferenciar os sensores? Aula de sensores de tecnologia humana, página cinco do livro e segunda linha, e aquele com certeza era um sensor que era amistoso com humanos, mas abominável contra vacas, tuglianos ou qualquer outra forma de vida. Alienígenas haviam invadido o mundo humano? Isso não faz sentido, para que? O planeta Terra é apenas um pedaço de merda completamente sem recursos e com uma civilização completamente fraca tecnologicamente. Mas... Pensando bem... Então como aquele prédio era tão bem protegido? Pensando bem... Aquilo não era arquitetura humana...

MERDA. Alguma outra raça extraterrestre já havia pegado o garoto, e aparentemente havia destruído inteiramente o planeta para isso. Mas o que? Isso não faz sentido algum. Não havia registro algum de que qualquer outra espécie em qualquer outra linha temporal, em qualquer dimensão ou em qualquer universo tinha total conhecimento da teoria Homem-Deus, ou que pelo menos a considerava alguma coisa. Meu deus... E se... Essa raça também tinha um sistema de leitura de arquivos multipolares e quando descobriu que havíamos movido a pasta de arquivo para outra parte do arquivo, decidiu ir com tudo e realmente foi com tudo? Destruíram o planeta sem nenhuma piedade só para conseguir o garoto em si, que era a melhor amostra bioquímica que poderia se ter? Meu deus... Mas que merda. Se quisesse levar o garoto teria que destruir provavelmente uma esquadra gigantesca de alienígenas que nem sabia que espécie era, para poder saber qual era o estilo de combate ou a engenharia de guerra que utilizavam.

Mas, espera... Se eles não eram humanos, porque usavam tecnologia humana e um sensor desenvolvido pelos humanos para destruir forma de vida não-humana? Ninguém entrava e nem saía do local? E os humanos que aparecessem, implicando que não foram extintos, poderiam entrar como bem quisessem? Isso não faz sentido nenhum. Espera aí. Ah, como sou idiota. Não é tecnologia humana. Sendo alienígenas mesmo que estão ali, como parece que são pela arquitetura diferenciada e tecnologia avançada, a lei dos sensores humanos não se aplica para aquelas máquinas que rodeiam o local. Vamos voltar para a quinta aula de Engenharia Geral Intergalática e Extraterrestre para pensar... Que tipo de sensor é esse? Foi então que pegou o seu Nanophone para verificar arquivos online sobre esse assunto. Tirou uma foto do sensor, já que tinha um aplicativo de reconhecimento de sensor chamado ISensor, e o aplicativo disse que era um sensor Tuglaino. Mas o que???? Mandaram-me para cá como uma cilada? Eles já fizeram todo o trabalho e eu só virei uma piada?

Antes que pudesse pensar mais, escondeu-se por trás de vestígios do que já foi um grande arranha-céu de arquitetura humana. Havia se tornado uma grande rocha. Por que se escondeu? Ouviu um barulho, o que era um pouco pitoresco considerando que era para não haver nenhum movimento – a raça humana havia sido destruída. Era uma grande esfera programada para viajar silenciosamente, a não ser pelo fato que apitava quando estava próxima do local. Aquilo não era uma nave militar alienígena, seria imbecil criar uma nave que apitasse mostrando ao inimigo onde estava chegando. Aquilo era uma aeronave de pesquisa cientifica típico de cientistas preguiçosos que dormiam durante a viagem porque não conseguiam dormir em momento nenhum de suas vidas – estavam sempre estudando –, então se despreocupou um pouco e analisou perplexamente a situação quando percebeu que estava pousando em frente àquele edifício. Estava parando. Os quadrados continuaram voando e ignoraram completamente a presença daquela nave, até mesmo quando de dela saiu um ser humanoide que utilizava um traje de explorador galáctico tugliano número dois.

O humanoide aproximou-se do grande portão que selava o edifício e olhou para trás, teimando a procurar alguém. Olhava diretamente para a rocha e conseguia ver através dela que havia uma forma de vida. Xxx4 sabia que estava sendo observado, porque sabia que aquele traje era equipado com um detector de variação de calorias e de muitos outros detectores que conseguiam enxergar diferentes formas de vida, mas continuava escondido por trás da rocha, completamente paralisado com a situação e suando frio de medo, nem mesmo mais espiando o humanoide. Assim que esse visou sua direção, colocou sua cabeça curiosa de volta para trás da rocha e armou-se com uma pistola solar. Óbvio que se lutasse estaria em grande desvantagem. A missão era “fácil” e não estava trajado para combate. Foi então que o humanoide, supostamente tugliano teve suas ondas sonoras maximizada a partir de uma função do traje explorador e suas frases tornaram-se grandiosas, provocando eco no local desabitado:

Você pode entrar, eu não mordo.

O capataz se acalmou, ficou desentendido com a situação.

Esse ar não faz bem para nós, você devia saber disso. Nós já estávamos te esperando.

Suas juntas ainda travadas de nervosidade. Continuava a suar frio e cada movimento para conseguir se levantar e cada passo para que saísse de trás da rocha e se mostrasse para o explorador era o sentimento de uma porta lenta e velha sendo aberta, com todo aquele bagulho sem graça que mostra que a porta está tão velha que está começando a emperrar e é necessária uma grande força para abri-la por completo. Assim que ficou de pé e de frente para o humanoide, esse mesmo abriu a porta e mesmo depois de entrar no edifício manteve-a aberta, convidando xxx4 para entrar.

Xxx4 caminhou lento pelo terreno composto por buracos criados por armas de destruição em massa, vestígios de arquitetura humana e grandes rochas, assim como composições arenosas que provavelmente eram o que restou após a utilização de raios vetorais centrípredatórios. Estava com medo, não sabia se seria atacado pelos sensores, mas não foi e por fim entrou no edifício.

Era mesmo uma arquitetura tugliana. Alguns detalhes minuciosos que diferenciavam brevemente, mas continuava acreditando que eram mesmo tuglianos. Era a única teoria que fazia sentido, mas ao mesmo tempo não fazia. Tuglianos eram conhecidos por serem uma das raças mais pacificas do universo, não por extinguirem quase por completo o biótipo de todo um planeta tão denso e vivo como já foi o planeta Terra. Ok, aparentemente eram tuglianos, só que tudo para ele parecia ser tão estranho e por isso mantinha sempre a sua guarda acesa para qualquer fato que pudesse provar a sua ideia de que tudo aquilo era alguma espécie de cilada ou armadilha. Sua cabeça estava confusa, mas como um agente – até mesmo como um mero capataz – devia estar treinado para situações como essa. Não estava, mas talvez uma das melhores maneiras de estar treinado para qualquer uma das situações é pensando que realmente se está, gerando autoconfiança e dizendo para si mesmo “é claro que eu sei o que fazer, eu fui treinado para situações como essa”. O problema era que xxx4 nunca foi um jovem muito autoconfiante, acreditava apenas na verdade e era por isso que foi o aluno com as melhores notas de sua sala – porque tudo que caía nas provas estava escrito em um livro que tinha acesso, logo eram realidades que passavam na sua cabeça, não existia dúvida e nem meio termo, só nunca lera um livro e muito menos um artigo que mencionasse uma situação como aquela. Na verdade era uma situação muito peculiar. Não conseguia julgar com que raça estava lidando com total certeza, suspeitava que eram mesmo tuglianos, mas não podia se basear no que pensava. Tinha que se basear em verdades, e eram poucas as que ele tinha. A primeira: a raça humana sofreu uma grande perda. Segunda: O alvo estava sendo analisado por alguma outra espécie. Terceira: Ou essa espécie foi sortuda por chegar ao planeta Terra destruído e com apenas aquele ser humano e estavam o estudando para estudos biológicos, ou eles tinham destruído o planeta inteiro apenas para conseguir aquele ser vivo. Seria coincidência demais que a terceira verdade fosse mesmo realidade a primeira ideia proposta, logo a anulou e prosseguiu andando lentamente.

Havia uma parte do corredor que dava às caras à parede, logo o agente teve que escolher entre esquerda e direita. Esse era o problema. Pensava que em um dos lados se localizava a resposta de tudo e no outro seria assassinado, não havia confiança em seus atos. Não jogaria cara ou coroa nem nada do tipo, até porque não havia nenhuma espécie de moeda em sua civilização, nem contaria unidunitê. Sem pensar muito deixou os seus instintos levá-lo para a esquerda e não foi assassinado. Não viu respostas alguma, apenas alguns corredores com algumas portas entreabertas compostas por vidros. Olhou para trás e pensou “Talvez se eu voltar, lá esteja a resposta...”. Não, eu, xxx4, tenho que seguir meu instinto tugliano. Os tuglianos são inteligentes desde seu primórdio, o primeiro tugliano compôs uma das difíceis leis da física a partir de um pedaço de madeira e um relâmpago que havia caído em uma rocha há 30 mil quilômetros de sua localização. Se ele conseguiu fazer isso no meio do habitat selvagem, eu consigo fazer muita coisa usando todo o conhecimento e tecnologia que tenho ao meu dispor.

Olhou para frente antes de dar qualquer passo. Deu à cabeça uma seguinte ideia: Tentar usar o GPS do celular. Revelaria, caso fosse uma base não-secreta da espécie alienígena que a habitava, de quem que esse edifício pertencia respectivamente. Foi então que usou. Clique. Clique. É. Era um edifício tugliano. E se for de outro universo? .................

Realmente podia ser isso, guardou o celular e prosseguiu andando. Agora que sabia mais ou menos como os sistemas de defesa funcionavam, sabia muito bem como se movimentar e qual postura deveria aderir. Apesar disso e do celular apontar como arquitetura tugliana, o que xxx4 já suspeitava, houve dos seus olhos encontrarem falhas tremendas no sistema de segurança do local. E então, após encontrar uma falha brutal, percebeu: Não são tuglianos. São sim, meu celular disse que sim e, se ele disse, é um fato. Então talvez seja uma espécie que não tenha se desenvolvido no meio bélico ou de espionagem. Não havia câmeras, obrigatório em qualquer edifício Tugliano.

Prosseguiu e encontrou uma sala vazia. A não ser por um elemento: o mesmo explorador que havia encontrado xxx4 no lado de fora estava revirando os dedos pelos ares. Um movimento estranho, mas depois olhou claramente e percebeu que estava teclando em uma tela nanoinformacional. Como em um aparelho touch, só que com medidas atômicas logo não havendo necessariamente um aparelho. Isso era sim uma tecnologia muito avançada, tanto que seu povo estava tendo dificuldades para desenvolver o protótipo que haviam começado nesse mesmo projeto. Tudo se contradizia. Caso era uma grande antítese ou um grande paradoxo xxx4 não sabia até porque nunca dera uma mínima para as ciências literárias. Num movimento rápido e instintivo, virou o aparelho bélico que segurava com os braços retos direcionando no capacete do traje assim quando aquele que o utilizava virou-se a fim de observar quem é que estava às suas costas.

– Não precisa ser tão excêntrico assim, estamos em mesma espécie. Temos a mesma mãe e os mesmos pais, não é mesmo? Abaixe essa arma. – Foi então que retirou o capacete. – Nós podemos conversar civilizadamente agora, desde que abaixe essa arma letal.

Xxx4 então ficou surpreso. Era exatamente como ele, não que houvesse diferenças na face ou na fisionomia de qualquer um da espécie, mas era claramente da mesma espécie. Parecia ligeiramente mais pálido, sinal de que estava doente, resfriado talvez, não resplendia o roxo assim como o agente. Abaixou a arma no mesmo momento que abriu a boca, perplexo, e sem mais delongas perguntou:

– O que fazem aqui?

– Você pode relaxar. Eu posso explicar tudo, meu nome é aaa1 e sou apenas um biólogo, um cientista, um dos poucos que restaram nesse edifício. Disse que somos da mesma terra, da mesma mãe e do mesmo pai, somos todos filhos do universo, não somos? Mas é bom deixar claro que não somos do mesmo universo. Na realidade eu já esperava por você.

Sentiu vontade de perguntar “como assim, já esperava por mim?”, mas o cientista respondeu calmamente enquanto o capacete era nanoatomizado tornando-se apenas uma bolinha cristalina que o cientista largou ao chão e que foi consumido por um pequeno buraco, aparentemente uma representação por menor do vácuo, que guardou a bola cristalina. Meu deus, aquilo estava longe da tecnologia que os seus tuglianos conhecia.

– Já sabíamos da verdade dessa teoria Homem-Deus há muito tempo, mas não é para poder e melhoria da saúde que nós a estudamos. É por simples interesse científico e biológico, não há porque estudemo-lo antes de outras civilizações de outro universo porque não há outras civilizações. Vocês precisam saber de tudo antes porque é assim que se tornarão mais fortes e numa eventual guerra, que obviamente acontecerá e selará o fim da vida no universo de vocês da forma que vocês conhecem, mas nós não precisamos disso. Você percebeu que não existem câmeras nem nada dentro desse edifício, nenhum aparelho de segurança. Não existem armas. Apenas do lado de fora uma vez que esse mundo é um mundo impuro, mas dentro todos nós confiamos em nós mesmos.

Ele disse, sem armas?

Foi como por puro reflexo, mas xxx4 rapidamente ergueu sua pistola e atirou sem hesitar no outro. Não houve efeito algum, o outro aparentemente já fora treinado para esse tipo de situação e, ao juntar o indicador ao polegar formou-se uma bola. Do centro dessa bola rapidamente formou-se uma amostra singela e frágil de vácuo, ou energia escura. Não conseguia distinguir daquela distância porque era realmente uma amostra muito pequena. Essa mesma amostra simplesmente fez aquela energia transmitida mortiferamente pela pistola transparecer. Aquilo não era uma particularidade da espécie do cientista – como o que acontece com os humanos em relação à energia solar – e sim algum equipamento: Era o traje explorador.

– Nós já havíamos calculado que alguns fariam isso, ou até mesmo o próprio habitat do planeta. Entretanto esse traje não é o que você consegue. Tem muitas outras possibilidades que o traje explorador versão dois de sua espécie não tem. Qualquer medida de energia acima dos padrões é espessa por 5,9 gamas de vácuo. Não é porque não somos voltados para o bélico que não estamos preparados.

– Eu só estava testando, já esperava isso. Estou vendo nanocoisas e uma tecnologia incrível nesse edifício, mas para que exportar essa energia para um planeta findado? Ou melhor, para que destruí-lo?

– Eu já dizia, ia explicar tudo.


– Eu não tenho tempo para isso, você deveria saber já que me espera.

– Eu sei, mas tempo não é a questão. E sim o que você sairá daqui conhecendo.

– Eu apenas quero a criança.

– Você deve saber que a vinda da minha civilização tugliana para esse local que já estava acabado quando chegamos foi pesquisas cientifica não apenas no habitat terrestre, mas esse garoto é especial. Esse garoto pode provar muitas coisas que até nós, mais desenvolvidos que vocês de sua raça, não conseguimos ainda ver. Roberto Defreire, um grande homem, talvez não devesse ter nascido humano. Se nascesse entre nós ou até mesmo entre vocês teria a mentalidade que tinha, junto com o conhecimento adquirido por nós. Só que os seres humanos estão repletos de particularidades, não são como outra qualquer forma de vida que existe. São os únicos que tem liberdade e sabem disso, apesar de se indagarem pouco perdem tempo para filosofarem perdendo tempo – não que a filosofia seja uma perda de tempo, mas sim a autocrítica socrástica dialética.

– Eu estou entendo. Mas acho que a conversa terminaria aqui. Preciso da criança.

– Eu sei que não o machucará. Mas você deveria saber que ele acaba não podendo ser um objeto de pesquisa que podemos compartilhar.

– E o que você pretende?

– Eu, representando a minha espécie tugliana, estou oferecendo a você, que representa a sua espécie tugliana, uma chance de cooperarmos um com o outro. Ofereço uma diversidade de arquivos que prediz como que minha espécie tugliana pretende estudar essa relíquia da biologia que é esse jovem rapaz. – Ergueu o braço demonstrando um dispositivo USB mais conhecido como pendrive. Esse pendrive parecia conter uma gama de informações que valeriam muito para os tuglianos de xxx4.

– Engraçado, são tão modernos e ainda utilizam pendrives.

– Tivemos que nos adaptar para interagirmos com vós. Espero que leve esse pendrive para o seu universo natal e discuta com os líderes qual será sua decisão. Se for sim, volte e diga que sim, se for não volte e afronte-nos – o que espero que vocês façam.

Xxx4 achou extremamente estranha a coloração da pele, que deveria ser roxa, de aaa1. Estava claramente doente e parecia estar em um estado terminal. Estava prestes a dizer “Não acho que você sobreviva até voltar, está muito doente”, mas uma ideia talvez estúpida só que viável e verdadeira veio até a mente do rapaz.

Xxx4 estava muito pensativo sobre toda essa situação. Estava entendendo, mas não foi por isso que já havia sua atitude. Talvez 1aaa esperasse um tugliano que apenas levava em consideração o instinto ou os pensamentos, mas xxx4 era um homem de fatos. E apenas fatos. E a verdade era que a proteção quântica era apenas proveniente do equipamento, e, bem, o doente tinha apenas despido a sua cabeça bem em sua frente. Pensou que isso não tivesse muito a ver, talvez a proteção se aplicasse para o corpo inteiro mesmo com apenas uma parte do corpo vestida. Reviu os conceitos de engenharia que conhecia e, mesmo essa engenharia tão moderna sendo desconhecida para ele, percebeu que aquilo não seria possível. A cabeça: um local perfeito para que houvesse uma interação entre os raios solares e os nervos, o que causaria uma paralisia tremenda de vários dias, como consequência da doença o cientista morreria. Não foi difícil escolher, não tinha o que perder. O tugliano de universo diferente não tinha maneiras de machucá-lo, apenas queria conversar. Mas talvez tivesse subestimado xxx4.

– Isso não vai funcionar comigo. – Rapidamente ergueu de novo a pistola, aaa1 apareceu perplexo, não se moveu. Atirou antes de qualquer reação considerável do alvo, e então ocorreu o esperado.

1aaa caiu no chão, como uma estátua. Não o encarou e apenas atravessou a sala sem móveis algum para com suas próprias mãos pegar os arquivos – ainda intactos. Seguiu para explorar o edifício, agora focaria em procurar o garoto. Aaa1 havia citado uma equipe completa de cientistas de primeira categoria – ao que parecia ser pelo seu vocabulário –, mas nem cadáveres pálidos e mortos pela doença que afetou 1aaa estavam presentes. Talvez já tivesse ocorrido de existir uma equipe completa, talvez tivessem morrido da mesma forma que 1aaa estava prestes a.

Não foi difícil de encontrar Mario, não havia trancas, senhas e nenhum sistema de segurança – os tuglianos não necessitavam disso – encontrou o garoto e foi aí que a história de Mario realmente começou. Xxx4 estava curioso, é claro, de como que a espécie tão moderna havia se interessado tanto no caso Homem-Deus e o Pesquisador Profundo – sistema de procuras multiuniversal de seu povo – não havia captado isso. Queria saber o que havia acontecido no planeta Terra e como que sua civilização não sabia de todas essas informações. Isso tudo era uma incógnita. Era um homem que não gostava de achismo, é verdade, mas levava os fatos em cima de tudo. E o fato era que ficar ali não completamente seguro e não estava com vontades de acabar com uma missão tão importante. Na realidade talvez até devesse premiado, como foi, ao presentear os líderes acadêmicos com a história do que acontecia, assim como os arquivos importantes que tinha obtido. O fato era: conseguiu completar a missão.

Óbvio que grande parte dos arquivos era de suma modernidade para que fosse lido por aqueles tuglianos e pouca parte conseguiu ser interpretada – e quando foi, foi pelos melhores doutores de criptografia multiuniversal e cronológica –, entretanto tudo que foi descoberto naquele pendrive foi de grande importância para aquela civilização. Conseguiram se modernizar, não tanto como a sociedade aparentemente perfeita tugliana que xxx4 ouviu de 1aaa. O mais importante foi o projeto de estudo de Mario: Seria isolado num universo paralelo simulado por uma criptografia que conseguiu apenas ser parcialmente lida: o suficiente para prosseguir com o projeto e evoluir com a informática tugliana.

Se houve um fator Mario, foi a partir desse momento que ele começou a ser consideravelmente importante para a linha do tempo que será discutida – ou melhor, as linhas do tempo – nessa obra. Grande parte do que for escrito a partir do ponto final dessa frase não será entendido por todos, mas o que é sugerido é que apenas se levem pela obra.

E duas bananas foram mordicadas por pedras do Alasca e, porém os gafanhotos fossem grandes, as naves do Doze não comandaram, mas avermelharam o verde e o H do pontífice anglicano.

Pronto, agora o leitor pode se acalmar, todavia conseguindo interpretar corretamente o parágrafo anterior, já pode fechar o livro porque os acontecimentos previstos estão resumidos metaforicamente lá.


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