Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 30
Alguns problemas.




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Alaúde acordou às sete da manhã naquele dia de Agosto. O dia anterior fora bastante chuvoso, e a noite fria como nunca sentira antes. Conseguia ainda ver o orvalho nas folhas da árvore em que acordara. Tudo estava alagado de água, até mesmo a areia ao seu redor que já se tornara uma espécie de barro. Não lembrava porque havia deitado ali e nem como. Muito menos quando. Levantou-se e sentiu seu corpo e roupa molhados, e suas costas sujas. Era uma boa sensação, até, mas sentia que daqui algumas horas ele estaria implorando para parar de espirrar.

Andou mais um pouco e pisou na grama molhada, descalço. Aquela sim era uma boa sensação, era como se estivesse retornando às suas origens. Sentiu que a natureza naquele local se encontrava em total equilíbrio, diferentemente do lugar onde dormira. A árvore a qual dormira embaixo não era uma árvore qualquer. Era uma árvore bastante egoísta, de certo modo. Toda vez que chegava a primavera, seus frutos ao cair no chão soltavam uma enzima para que nenhuma outra planta crescesse naquele lugar. Era uma árvore gigante, realmente precisava de todo aquele espaço, mas... Não era nada legal. A grama não se sentia feliz de ter um limite para poder viver.

Normalmente, diferente dos animais, as plantas vivem em livre arbítrio. Nenhuma planta precisa devorar a outra para poder consumir material orgânico, pois as próprias produzem. Diferente dos animais, as plantas conseguem facilmente dividir um grande território entre si sem nenhum problema. É claro que há exceções, mas essas exceções não crescem em lugares tão belos e bonitos quanto aquela bela floresta. Alaúde não podia deixar que suas amigas plantas fossem prejudicadas por aquela árvore egoísta, era egoísta sim, até porque espécies daquele tipo não produzem enzimas tão agressivas quanto as que vazavam dos frutos.

Então Alaúde teve de tomar a providência de ter uma conversinha com aquela árvore. Após uma apresentação bastante amistosa, descobriu que o nome dela era Zac. Zac argumentou que, como era grande demais, tinha que ter um grande espaço para si mesmo. É claro que Alaúde não concordou com isso e teve que tentar contra-argumentar. Alaúde já conseguia Zac de carnavais anteriores, era o tipo de pessoa que você vê no colégio, quer ser amigo, mas é tímido demais. Então acaba deixando pra depois. Zac tinha uma grande amizade com Alaúde, mesmo que secreta. Alaúde então, para convencer Zac, deitou-se debaixo dele e dormiria lá. Normalmente 80% das enzimas são liberadas à noite, e também seriam levemente letais no corpo humano. O objetivo era mostrar a Zac que os pedaços de grama queriam ser tanto amigos dele quanto a árvore queria ser de Alaúde.

A árvore teve de se segurar para não soltar nenhuma enzima, se não acarretaria numa doença para seu novo amigo. No final ela entendeu o recado e percebeu que apenas estava perdendo amigos. Não é legal quando alguém cria uma barreira para separar as pessoas dela só porque se acha grande demais e tem esse privilégio. Mas, no final era tudo um mal-entendido, Zac conseguiu seus amigos e o homem pôde sair feliz de manhã vendo que um pouco de lodo já havia nascido no local.

Sem ser as plantas, Alaúde realmente não tinha grandes amigos. Seus únicos amigos eram aqueles cactos, aquelas mudas, árvores, mas nunca consideraria a grama como amigos. Para Alaúde, a grama foi criada pra ser pisada e ficar abaixo de todos. Não que não gostasse da grama, mas ela simplesmente não fora feita pra ser amada. Óbvio que as plantas não pensavam e não eram amigas de ninguém, apenas de si mesmas, mas Alaúde pensava assim porque tinha sérios problemas mentais. Já tentara resolver isso no psicólogo com seus papais marcando uma consulta. Entretanto decidira faltar a consulta para que pudesse cair na farra da noite.

Tinha uma garota que Alaúde realmente gostava. Não simplesmente queria pegar, como as outras. Era uma garota inteligente, gostosa, gata, legal,bonita, inteligente e ainda por cima muito loira. Ele a amava de coração, só que desde a infância. Eram amigos há muito tempo e essa paixão sempre esteve escondida no coração de Alaúde. Seu nome era Sedenta. Apesar do nome bastante sugestivo, sedenta era uma menina educada e nem um pouco violenta – em qualquer os sentidos possíveis -, era apenas uma garota normal. Mas era exatamente essa normalidade que fez Alaúde olhá-la de uma maneira diferente. Durante a infância apenas sentia certa atração por ser sua única amiga realmente íntima, mas foi na adolescência – uns 4 anos atrás – que ele realmente percebeu que ela era diferente dos outros. Alaúde queria se declarar pra ela no aniversário dela, em meio aos pais e etc. Foi ao aniversário e como não havia recebido convite algum simplesmente fora rejeitado e deixado de lado. Ain ain mimimimi, não, Alaúde bebeu a noite inteira com seus amigos da night e descobriu no dia seguinte que criara, enquanto chapadão, uma brecha no espaço-tempo. Como castigo, seus pais o colocaram numa dimensão alternativa para que ficasse internado por 2 milhões de anos. Não passara sequer 200 e Alaúde continuava bastante entretido com seus amigos plantas.

Talvez eu pudesse dizer que era graças a esse fato que Mario conseguia viajar no tempo. Mas óbvio que não apenas. O fato de existir uma brecha nas linhas do tempo fizeram com que Mario pudesse retornar a um outro mundo em que a mesma história se repetia. Não estava no mesmo universo que Mario havia nascido apesar das coincidentes semelhanças. Se fizesse tudo certinho nesse tempo para fosse o viajante no tempo herói e decidisse “retornar ao futuro”, continuaria vendo as coisas da mesma forma. Mario até considerava um pouco a teoria descrita neste parágrafo, chamado de TEORIA DE DUALIZAÇÃO DOGMÁTICA, Estefeus, 280. Mas, se não tinha a chance de consertar seu mundo, pelo menos achava que deveria consertar esse mundo. E, aliás, não tinha nenhuma alternativa para salvar seu tempo sem ser esta, então simplesmente teve que apostar tudo nisso.

Mario estava em fim em Fantasy. Mario tinha uma coisa muito importante para fazer em Fantasy, e tinha que ser nessa época do ano. Se não o fizesse, simplesmente o plano cairia em água a baixo. Tinha outras partes do seu plano, e numa delas podia contar com um velho amigo, de tempos antigos.

Mario de primeira agradeceu pela viagem, apesar de ser bastante inquietante. Para sua sorte, a viagem durava menos de uma hora. Havia de certo uma grande distância entre aquela cidadezinha e Fantasy, mas a autoestrada que as guiava era vazia e em alguns pontos muito mal asfaltada. Como o carro do homem, que mais tarde descobrira ser Ikovan, era um dos modelos mais modernos da época a viagem foi bastante exótica. Bem veloz, do jeito que Mario gostava.

Estava no centro de Fantasy. Caso você não conheça o centro de Fantasy, e certamente não conhece porque sua mamãe não te deixa ir, é realmente melhor continuar não conhecendo. Fantasy é sim um país bastante movimentado e rico. Mas, apesar de ser muito rico e movimentado, a movimentação é muito desorganizada. Em sua época esse fato já havia sido basicamente consertado – com alguns casos a parte -, Mario já havia lido em livros de história, mas não pensava que era algo assim, deste tamanho. Mario era apenas mais um em meio de milhões. Mal conseguia andar. De início, quando você entra no centro de Fantasy você encontra uma bela passarela que poucas pessoas passam. Mas depois de descer a passarela, as pessoas vão se acumulando e acumulando...

O centro de Fantasy seria nada mais do que a avenida que liga a rua ligada a bolsa de valores, a rua de moda e a rua dos fast foods da cidade de Wedding Kings. Chama-se centro porque foi cientificamente provado que pessoas passam mais tempo lá por ano do que em suas camas. Muito interessante essa pesquisa. E de centro não tem nada, fica na fronteira de Fantasy com Economist.

Ikovan ia pra direção contrária a que Mario destinava-se, então tiveram de dizer adeus. Mario podia se virar dali, não sabia exatamente como, mas se até agora conseguira virar-se, conseguiria dar seu jeitinho agora também.

Não muito mais tarde o viajante do tempo decidira comer alguns hambúrgueres em um restaurante qualquer e ficou numa bela fila de 50 metros. Foi uma interessante experiência de reflexão, uma vez que o que mais tivera naquele dia fora tempo livre para refletir em sua vida. Estava sendo um saco as complicações pra conseguir concluir esse plano, mas, no final chegou à conclusão que realmente valia a pena.

Pediu três hambúrgueres denominados “Double bacon”, que não tinha um gosto muito bom, mas o suficiente para encher a barriga. E eram incrivelmente pequenos, conseguia pegar dois daqueles e morder sem que tivesse que estender demais o maxilar. No meio da refeição um rapaz de olhos claros teve de sentar a sua frente na cadeira, uma vez que todas as outras cadeiras do estabelecimento estavam cheias. Era um rapaz incrivelmente esbelto, usava um crachá de “Clark”. Mario não era de puxar assunto ainda mais em situações tão abençoadas como o almoço, mas fora Clark que decidiu começar a falar.

Vestia uma jaqueta jeans e sobre ela estava o crachá, por baixo usava uma camisa vermelha e suas calças eram igualmente jeans só que um pouco mais escuras. Não parecia ser o tipo de cara que usava brilho para surpreender as garotas de sua idade mas seus lábios eram incrivelmente... doces, diga-se de passagem, ou era essa a impressão que se passava. Seu olhar era vago como um cardume de peixes em meio ao oceano. Se Mario fosse uma mulher, de certo já estaria mais que apaixonada.

– Nunca vi seu rosto por aqui – disse Clark, como se gravasse os rostos das centenas de pessoas que passavam os dias por ali.

Mario não esperava que Clark puxasse uma conversa assim, do nada, até porque Mario estava muito bem quieto e Clark aparentava estar no mesmo espírito.

Após uns segundos surpreso, Mario disse:

– É, estou passeando, meu caro.

– De Pinball Wizard, não é? Não é normal o seu pessoal por aqui.

– É, mas sempre há aquela exceção, meu caro. – Mario precisava comprar roupas novas, essas roupas entregavam na cara que não era da região, qualquer região que fosse.

– Do que está falando? – Clark parecia confuso com a resposta, apesar de Mario não ver nada de estranho, decidiu reconstruir a frase.

– Bem, meu caro, Pinball Wizard não é um conjunto de pessoas que moram em iglus e pescam com seus lobos albinos. Apesar do ambiente congelante, somos tão modernos quanto as pessoas de outras regiões – reformulou Mario. Clark havia entendido, dessa vez.

– Você entendeu errado se pensou que estava te ofendendo – disse enquanto balançava o maior dedo de sua mão esquerda de uma forma bastante homossexual.

Ignorando o ato de sexualidade duvidosa, Mario disse que estava ok e que estava acostumado com isso. “Tanto faz, há xenofobia em todo lugar”. Clark, interessado na opinião de Mario, viu que aquele homem talvez fosse uma pessoa boa de se conversar e, como ambos já tinham terminado seus pequenos hambúrgueres naquele pequeno espaço de tempo, Clark decidiu dar-lhe seu cartão.

– É boa pessoa, ligue para mim se tiver problemas.

Clark era um advogado. O que era estranho. Um advogado num centro de consumismo com um crachá. E nem por um cacete que Clark era sócio de uma firma de advogado sendo tão novo. Talvez era um garoto superdotado o que fez crescer bastante seu potencial na firma durante seus primeiros anos, chegando a ser sócio precocemente.

Mario por curiosidade olhou para a parte de trás do cartão que dizia escrito por canetinha roxa “Eu sei porquê você está aqui.” Mario ficou assustado, não era a primeira pessoa que lhe dizia algo do gênero nesse dia. E não tinha visto Clark grafar essas palavras enquanto comia com Mario, parecia que ele sabia que estava ali naquela época. Outro viajante no tempo? Quando pensou nessa possibilidade, olhou para os lados, mas não conseguiu encontrá-lo no meio da multidão. Naquele instante, só tinha um meio de comunicar-se com Clark – com o número de sua firma de advogados. E estava sem um telefone.

Talvez Mario não conhecesse Clark, mas seu amigo Molly de certo conhecia. Entretanto não era por esse nome que Molly o conhecia...

Wilson andava por aí com seus músculos inchados e a sua cara barbuda e cheia de rugas por aí. Era velho sim, mas ele não era o típico velhinho “ai minhas costas”. Se as costas de Wilson estavam doloridas, provavelmente isto não seria uma doença. Isso seria um indício de morte para aquele que havia conseguido tal feito. Só que nesse dia as costas dele estavam doloridas porque havia dormido realmente mal, e não tinha ninguém para esfolar. Se pensou que Wilson fosse um velho brutão pensou errado, não é o tipo de pessoa que não sabe usar o seu poder e sai esfolando qualquer um que encontra pela frente. Óbvio que o velho consegue distinguir a quem seguir e a quem destruir. Mas de fato não estava em seus tempos mais áureos.

Quando era homem, aproximadamente aos vinte e cinco anos de idade, participara da guerra e rapaz, isto lhe deu um poder incalculável. E graças a esse poder ele e seus outros amigos foram conhecidos como Imperador Solares. Mas só dois deles, porque o outro morreu em batalha infelizmente.

Wilson só tinha a lamentar, a guerra não havia sido algo tão bom para ele. HA, ele ganhara um poder gigantesco, mas também perdera amigos e quando retornou para casa, sua esposa queria um homem completo e não com um dedo mindinho a menos. Sim, Wilson o perdera durante a guerra e não se orgulhava disto. Era uma cicatriz que estaria ali para sempre, para as pessoas verem que, mesmo um homem tão imponente pode ser partido ao meio.

Não, Wilson não apenas simplesmente andava por aí. Ele tinha um lugar para ir. Alguém para visitar. Um velho amigo. E quando digo um velho amigo estou falando de uma pessoa com talvez o dobro da idade de Wilson. Mas quem o velho iria encontrar realmente não está muito em quesito, e sim quem ele encontrou, por coincidência, no meio do caminho.

Molly caminhava da mesma maneira que Wilson. Ereto e sem olhar para trás, com o olhar profundo em direção ao templo.

O Caminho das Sombras, como era conhecido, é uma dimensão de intermédio para que as pessoas do mundo humano possam encontrar o Templo de Wilson. Não é uma coisa tão fácil de ser encontrada, entretanto Molly e Wilson sabiam exatamente onde ela se localizava. Havia um pequeno corte dimensional em uma das florestas do país de Boris – um lugar bastante verde se for permitido dizer –, ao sudeste da capital. Ao atravessá-la, se você conseguir sobreviver perante a pressão pandimensional, será levado para uma eterna escuridão em que a única coisa que é possível enxergar é um enorme templo. Só que não é apenas um templo, são vários templos.

Sim, pra todo lado que você vê encontram-se diferente templos, isso é gerado pelo fato que a mente do individuo não sabe o caminho e diz isso a si mesma. É apenas uma ilusão de ótica. Aqueles que conhecem o caminho ou que se vêem dispostos a seguir um caminho apenas vêem o caminho verdadeiro. Permanecer na duvida e seguir a um lugar apenas acarretará numa caminhada eterna.

Molly e Wilson já percorreram essa caminhada há anos atrás, junto com Xupa Cabrinha – o outro Imperador Solar.

Molly percebeu uma presença realmente poderosa e olhou para trás.

– Oh Molly, então também está procurando o mestre Ramon – supôs.

– Mas é claro, estou com alguns problemas. Você já deve saber deles, provavelmente, deve conseguir prever pela minha aura que estou loucamente ansioso pela batalha contra Xupa Cabrinha – assentiu Molly.

– Não, na realidade não sabia disso. Mas sabia que você estava de volta – e sorriu -, é bom ver que um amigo não está morto.

– Devia se preocupar mais com você, velhote. Ouvi me dizerem que você enfraqueceu nos tempos em que estive fora.

– Ora, isso até pode ser verdade, mas é claro que você também decaiu bastante. É possível ver que você mal consegue andar direito, sua postura está torta demais e seus pés não tateiam o chão da maneira correta para um usuário da energia solar – explicou Wilson.

– Sim.

– Consigo ver também que você não consegue posicionar bem os seus punhos, nem o foco em seus olhos. Nossa Molly, realmente parece que você esqueceu das coisas mais básicas ensinadas para ti. O que ocorreu contigo? Ficou morto por um tempo? – Sorriu ao concluir sua suposição.

Molly não demorou para assentir com sua cabeça careca. Molly era um homem moreno, caolho, careca e depois disso não se há mais nada para comentar. Estas são as únicas características únicas dele. Vestia um terno, o mais casual possível.

– Você deve estar brincando – Wilson arregalou os olhos. – Quer dizer que você teve que se reduzir a uma mísera molécula para conseguir derrotar o seu adversário?

– Eu nem sei se ele está realmente morto – disse Molly.

– Rapaz, espero que isso não lhe cause problemas mais tarde porque este homem provavelmente é tão forte que poderia derrotar tanto a mim quanto a ti ao mesmo tempo – disse Wilson. Qualquer um que fizesse Molly se humilhar tanto para que escapasse a apenas uma molécula de vida era um homem tão poderoso que poderia destruir uma galáxia apenas com as duas mãos.

– Bem, eu espero que eu tenha cumprido a minha missão na época. Ter ajudado quem eu realmente ajudei.

– Eu entendo. O jovem me deu trabalhos. Frota, não é? Era um garoto e tanto – disse o velho.

– Eu estou aqui para tentar reaprender algo, mal consigo utilizar as minhas forças para emitir alguma onda de calor – assumiu o caolho, com vergonha de suas palavras.

– Rapaz, não se envergonhe. Eu tenho certeza que o mestre Ramon poderá ajudá-lo.

Já estavam bem próximos do templo, então não precisaram dar muitos passos para conseguir chegar próximos a ela. Subiram uma escadaria bem longa, mais longa do que o próprio Molly ou Wilson poderiam lembrar. Mas eles estavam preparados para qualquer coisas, Ramon sempre fora um homem bastante inconveniente. Então simplesmente subiram a escada sem estranhar o fato de estarem andando por mais de algumas horas. Então que perceberam que não estavam andando por mais de duas horas. Estavam presos. Aquela dimensão não era mais de Don Ramon, conseguiam sentir uma aura bastante mais poderosa vindo dali.

Molly mal conseguia captá-la, é óbvio, até porque estava há anos sem treinamento, mas sentia uma breve freqüência poderosa adentrar seu corpo e roubar a pouca força que conseguia manter em sua postura. O tatear de seus pés tornou-se mais pesado, o que não é suposto para um controlador de energia fazer, até porque isso acaba maximizando sua energia geral em uma parte do corpo, e, por mais que os pés tenham que ser fortes para sustentar o corpo, a idéia da manipulação de energia é deixá-la fluir em todo o corpo e para fora deste também.

Mas Wilson, ele conseguia sentir aquilo como se estivesse debaixo de seu nariz. Mas não foi embaixo de seu nariz que a coisa surgiu, foi debaixo de seu queixo. Tomara um grande gancho de direita no seu queixo, e sentiu-se bastante grogue, incapaz de levantar por ter tomado um simples golpe. Não conseguira captar nenhuma espécie de energia naquele ataque, era um ataque puro, provavelmente.

– O qu... – Antes que Molly pudesse completar também fora ao chão, não lhe restariam muitas forças depois de uma bofetada daquela bem no meio do rosto. Não caíra ao chão, uma coisa que Molly conseguia fazer como ninguém era bloquear ataques, mesmo no seu péssimo estado. Conseguiu bloqueá-lo e apenas foi empurrado para trás, mas a força daquele soco foi o suficiente para fazer seus braços arderem.

Logo Wilson acordou, e pôde presenciar aquela aura tão poderosa e violenta. Era como a juba de um leão. E ele não precisava rugir para que seus adversários fugissem ou, no caso como Molly e Wilson eram guerreiros orgulhosos demais, suar.

Aquela pressão toda emitida em freqüências de energia solar era poderosa demais. Penetrava e saia do corpo de Molly sugando as pouquíssimas energias que continha atualmente. Wilson conseguia bloquear essas pequenas partículas graças à aura que conseguia emitir, mas não conseguiria fazê-lo por muito tempo.

– Quem é você? – perguntou o velho, em posição de combate.

A posição do adversário dos Imperadores Solares era bastante interessante. Apoiava sua perna esquerda em alguma coisa no ar que era simplesmente nada. Apoiava-a e ainda apoiava o seu cotovelo nela, numa expressão de “estou entediado, simplesmente morram”. Abriu um sorriso no rosto mas não saiu da maneira que queria. Parecia mais uma criança infeliz. Uma criança ruiva, infeliz e completamente sarcástica. Era para parecer um adulto sádico, mas não se saiu muito bem. Era uma pena, treinava tanto os seus sorrisos, o ruivo.

– Eu só direi uma vez – E fechou os olhos, para demonstrar com o dedo indicador de sua mão esquerda que aquela realmente seria a única vez. – Hian.

Não conheciam aquele nome. Era... Estranho. Nunca conheceram um homem chamado Hian em toda a sua vida. Também nunca conheceram ninguém que conseguisse manejar a energia solar tão bem quanto outros Imperadores Solar. E Hian obviamente não era um Imperador Solar. Seu nome não estava na guerra.

– Acho que você não entendeu a pergunta – insistiu Molly.

– Cale-se. Provavelmente você se vê no direito de latir, mas em breve quebrarei tantos dentes que você nem mais conseguira sentir a sua boca, apenas o gosto de sangue – disse. Molly não duvidava disso, mas também não o temia. Molly nunca temera um inimigo em sua vida e não seria esse moleque.

Hian por sua parte não vestia um terno, tal como Wilson que só vestia shorts havaianos e deixava o tanquinho a mostrar. Vestia uma camisa vermelha e calças militares. Seus olhos verdes e seu nariz... Rapaz, se alguém olhasse seu rosto por alguns segundos perceberia que a parte mais bela do rosto de Hian, em geral, essa seu nariz. Era perfeito! Impossível de encontrar um nariz mais simétrico do que o do ruivo.

– Eu estou aqui porque as coisas vão mudar – disse Hian. – E queria deixar os velhotes certos disso, para não reclamarem mais tarde que quem é amigo tem que avisar e etc. Mas eu não sou amigo de vocês, não vim aqui para apenas avisá-los.

– Estou aqui porque preciso de uma coisa dentro deste templo. Uma coisa que eu não consigo pegar, infelizmente, porque eu não consigo invadi-lo. Simples assim – sorriu. – Se vocês puderem me ajudar, eu agradeço. Pode ser do jeito bom e do jeito ruim.
Wilson lançou um olhar de lado para o caolho, que confirmou com a cabeça. De repente, sumiram.

– Mas que truque velho.

De repente tudo ficou lento demais. Era como se o tempo tivesse parado, ou quase isso. O ar não fluía tão depressa e o Molly conseguia sentir as coisas mais simples em seu corpo, como o sangue correndo a sua veia. Tudo voltou ao normal quando estavam ao chão e com leves cortes nos ombros.

Era inútil. Qualquer esforço era inútil. A força daquele homem era demais para qualquer um dali. Ele não dominava só a energia solar, mas mostrava displicência na arte de manipular a fatal energia negra e na manipulação da matéria em si. Isso era impossível.

– Q... Quem é você? – Indagou Molly.

– Eu disse que não responderia de novo.

Wilson tentou levantar-se usando seu braço como apoio. Mas o corte naquela região era problemático demais, apesar de ser superficial, e o atrapalhava na situação que se encontravam.

– Vocês não vão mais conseguir fazer movimentos bruscos demais com seus ombros, eu diria que é melhor tentar levantar-se apenas utilizando as suas pernas. Vocês conseguem isto, não conseguem? São Imperadores Solares.

Wilson conseguiu, apesar de ter certa dificuldade, mas Molly continuava forçando seus ombros, até que o corto – até então superficial – abriu e o sangue seguiu a jorrar. Teve que estacar o corte para então tentar usar as suas pernas.

– Tudo bem, eu te ajudo – sorriu Hian, como uma criança prestativa que ajuda os pais a lavar a louça.

Se seus punhos agora não conseguiriam se erguer por causa do ferimento no ombro, teria que tentar um truque mais sujo. Quando o ruivo agachou-se para ajudar Molly num ato misericordioso, erguendo a mão, Molly usou suas pernas fortes para acertar o queixo do ruivo. Nem se acertasse seria capaz de nocautear Hian, as poucas forças que restavam a Molly foram todas utilizadas apenas naquela tentativa inútil. Hian previu o ataque, lento demais, e então usou seu punho para socar o joelho de Molly de volta ao chão. Aquilo doeu.

– Bem, realmente não é preciso de dois cachorros para guiar um cego em sua caminhada mesmo. – E ergueu seu punho em direção ao coração de Molly.

– NÃO FAÇA ISSO – gritou Wilson desesperado.

Molly não tinha forças para reagir. Sentia-se humilhado, em uma posição que o tirava de qualquer honra. Seu amigo tinha que implorar para um moleque para não matá-lo. Não podia se defender. Nem força para falar ele tinha.

– Eu te levo até o que você quer.

– Ah, muito obrigado. Mas... A morte deste velhote é inevitável. As particulas de energia solar continuarão a bombardeá-lo até que enfim morra. E como ele não tem nenhuma aura para protegê-lo...

– Ora bolas, então que você pare de emitir estas partículas.

– Hfm... Realmente acha que eu que estou emitindo estas partículas? Isso é radiação solar que é regida por esta dimensão. Ela está se destruindo, a camada protetora dela está se desfazendo logo para que enfim exploda – explicou Hian.

– E quanto tempo nós temos?

– Ele? Trinta minutos. Você tem trinta até esta joça explodir. E eu não vou morrer para uma mera explosão – dizia isso como se fosse um deus ou algo parecido. – Leve-me para o que “tesouro” que então eu tirar-nos-ei daqui. Esse é o nosso trato. Como eu não conheço o caminho para o tesouro, eu acabo caindo na lógica que esta dimensão é feita. Como estou em dúvida, o templo mais parece um labirinto. Venha... Acompanhe-me até a sala principal.

Agora tendo alguém para guiá-lo, o ruivo tinha certeza que encontraria a luva. E o caminho era bastante simples, havia uma porta dentro da sala principal do templo feito da mais pura e nobre madeira. Wilson guiou-o até a porta.

– Nossa, mas que dimensãozinha filha da puta – Hian resmungou para si mesmo.

Abriram a porta e lá estava o que Hian procurava. Era um simples átomo. Um átomo do tamanho do punho de um homem, ele estava próximo a parede, dentro de um quadrado de vidro ou algo parecido.

– Não pense que vou entregar isso para você tão facilmente – disse Wilson, de costas para Hian. Sua aura fervia e a tonalidade de sua pele parecia cada vez mais e mais amarela. Estava emitindo ondas cada vez mais potentes de energia solar.

– Você quer mesmo assinar seu atestado de óbito? – Hian sorriu, e se colocou em posição de batalha, tal como o velho.

– Um minuto.

– Hã?

– Eu te mato. Em um minuto.


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