Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 26
Briga de galo.




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O caolho certamente ainda estava só brincando, e a brincadeira cada vez ficaria mais e mais interessante. Já que seu oponente não sabia brincar, o melhor a fazer era mudar o joguinho.

Talvez fosse mais interessante, muito mais interessante, largar as brincadeiras e encararem-se um contra o outro feito homem.

O grande problema estava na questão de que Robin era uma criança; e crianças normalmente só aprendem brincando. Foi assim que aprendemos sobre o que os portugueses desgraçados fizeram com o nosso país através do famoso pique-bandeira. Sim, era uma mensagem subliminar que você não notou principalmente porque a sua bandeira normalmente era uma planta e você tinha que roubar a planta do seu adversário. O resto você provavelmente já consegue supor.

Robin sentia como se estivesse fazendo o papel de um fracassado perdedor em um filme de boxe que tem como a temática a superação. O que o perturbava era que esse filme estava no inicio, e continuaria apanhando até chegar ao lúcido final.

O cinturão de campeão mundial ainda estava longe de suas mãos, mas o que interessa era que precisava fazer do filme um curta-metragem. Talvez o curta-metragem, por ter um menor tempo, que trata a superação deve começar com o carinha protagonista enchendo a pancada no rosto do oponente.

Mas não é assim que a banda toca. Isso não era apenas um curta-metragem. Mas estava longe, mesmo sendo um filme, de conseguir alcançar o [i]Academy Awards[/i]. Robin estaria satisfeito com um final digno.

Molly, por ser um velho, conseguia prever que estava brincando muito apesar dos apesares e de que aquilo era apenas uma brincadeira. Percebia que a brincadeira era infantil demais, talvez Robin fosse ainda um garoto de onze anos e tivesse enfrentando um desafio de um jovem infantil de seis a oito anos. Precisava adequar um pouco mais a temática e o objetivo do jogo.

Sua experiência também dizia que aquele moleque estava em um processo gradual de resfriamento de alma e mente, logo, logo já estaria consciente novamente e com seu coração apto para pouco influenciar no efeito anabólico do chip.


A bochecha de Robin mais do que formigava, conseguia também sentir totalmente a sensação tátil de ter sido arrancada por um vertebrado carrancudo com asas e agulhas como unhas e ao mesmo tempo sentia-se esmagada por um grande navio que mais tarde acabaria naufragando em um iceberg. Doía bastante, e ela se propagava também para o pescoço onde atingia de forma mortal as veias e os tendões musculares.

Bem, esse é o efeito colateral de ser alvo de um usuário de Handback, uma arte praticamente proibida de tão mortal que é no restante do mundo.

Agora já estava na hora de começar a levar a luta de forma séria, provavelmente seus subordinados lá fora já estavam de saco cheio de tanto esperar a consciência de Molly tornar-se limpa por seus atos. O comandante não tinha mais tempo a perder, e se tivesse, preferiria perdê-lo no banheiro mesmo.

Porque de qualquer jeito, veria merda. A merda em sua frente ou a merda no papel higiênico.

– Merda – disse Robin, sentindo cada vez mais o pós-impacto do golpe do caolho.

Estava se acalmando, e isso era bom até demais.

Robin ainda tinha um truque na manga e é praticamente agora quando a nossa batalha se torna realmente um jogo de cartas ou de tabuleiro, interprete da maneira como quiser. Mas a vida é um jogo. Se a vida é um jogo, a morte é o final iminente – ou você zera ou [i]game over[/i] meu querido –, podemos jogar dentro deste jogo outros mini-jogos iguais às aulas de Inglês do jovem Jimmy quando se trata de [i]Bully[/i].

Molly não tinha mais truques na manga nenhum e não esperava nada de mais vindo de uma imitação mal-feita que nem ao menos sabia manipular a energia solar. Na verdade não tinha muito com que se preocupar, simplesmente precisava liberar um pouco mais de força e tentar ser menos humilde ou misericordioso.

Não ser humilde era contra os princípios alegres e felizes de Molly desde que largara de ser um jovem totalmente arrogante e sentira no sangue a adrenalina e a pura desgraça da Guerra. Ver pessoas morrendo sem mais nem menos, como se morrer fosse normal – na verdade morrer é normalíssimo, só que os humanos adoram ser dramáticos – e o mundo fosse o parque de diversão do diabo. Mas de vez em quando burlar as leis é necessário, e também legal quando se tem ao seu lado um bando de adolescentes drogados procurando alguma coisa para rir, e daí você vai lá e dá uma de palhaço. Esqueça. Aquela garota nunca vai ser sua porque mulheres não se impressionam por palhaços sardentos.


Robin começou a lembrar-se de algo que talvez podia ajudá-lo na ocasião. Mas nada lhe vinha à cabeça, mesmo repetindo intensamente várias e milhões de vezes em sua cabecinha de moleque que estava em perigo. Estava ficando nervoso – não nervoso por estar nervoso com algo, mas estava impaciente e essa é a palavra certa.

– Agora faço cócegas?

– Mais que isso – admitiu o assassino.

– Suponho que agora deve conseguir prever o fato de que eu de fato sou muito mais poderoso do que um garotinho feito você. Não estou me vangloriando, não sou de vangloriar-me. Se você fosse algum conhecido meu, realmente saberia que eu não sou disso, sou uma pessoa legal.

– Não, você está falando a verdade. Eu realmente sou um garotinho, preciso crescer.

Molly franziu as sobrancelhas.

– Agora entende?

– Não, há fatos que as pessoas não precisam aceitar.

– Mas você não pode negar que é um fato. Um fato é um fato, é a verdade.
A verdade não pode ser modificada.

– Mesmo assim, não me importo com verdades ou mentiras. Sendo uma verdade ou uma mentira, eu não vejo de aceitar o que você diz. Simplesmente vou te ignorar – disse.

– Está se contradizendo, agindo feito uma criança. – Molly coçou a nuca.

Foi ignorado, é claro.

Era um ótimo momento para Robin atacar, só que nesse caso, sem a total disponibilidade de seu braço mais apto em batalhas, não tinha a mínima idéia do que realmente fazer.

Hipoteticamente falando, usar as pernas levaria a um nocaute que todo mundo já sabe que de qualquer maneira aconteceria. Mas tinha essa coisa, que tinha se esquecido. E desde então cismava que essa mesma coisa podia levá-lo à improvável vitória. O melhor a fazer era acreditar, né. Até porque, outras opções não haviam.

Molly inclusive estranhou não ter ocorrido uma arrancada imprudente e inútil por parte de Robin, mas, pensando bem, chegou à conclusão de que Robin não tinha mais nenhuma carta em seu baralho para jogar.

Como Robin não estava mais vestido com a parte de cima de sua roupa, simplesmente a carta só poderia estar no bolso de trás de sua calça social.

Mas era um desconforto pensar que teria que meter a mão no seu bolso traseiro para poder enfim colocar no jogo A Carta. A Carta estava muito bem escondida, tão escondida que inclusive esquecera-se em qual bolso tal estava armazenada. Limitou-se a prosseguir concentrando-se.

Molly, como era o único tendo o tempo a perder no enrolo do jovem assassino, decidiu tomar algumas providências até para que finalmente pudesse retornar aos braços de sua discípula e poder almoçar.

Mas antes ia ao banheiro, antes de tudo, o banheiro. Iria relaxar com uma boa cagada.

Agindo de uma forma completamente inusitada para os olhos do assassino, que estava apenas concentrado no mais maciço e concreto chão que regia sob os seus pés, teve de surpreendê-lo antes de tudo com consecutivas amostras de sua verdadeira força. Esteve por pouco próximo a usar o total, mas como na havia necessidade disso tudo, metade mais um quarto estaria de mais do que bom tamanho, já era coisa demais para o assassino agüentar em sua humilde opinião. Mas não foi bem desta maneira que Robin reagiu, tendo em vista sua reação quase nula. As punhaladas massivas que abririam crateras em terra comum não obtiveram qualquer reação no estômago e na face de Robin, a não ser por leves reações que levaram seu olhar a trocar de direção, apesar de não ser a preferência momentânea.

A saliva foi à única coisa que emanou dentre seus lábios, o sangue esperado não cumpriu sua presença, apesar do convite. O abdômen de Robin estava revestido com a mais alta fibra dos mais altos alimentos. Estranho, Robin odiava qualquer tipo de alimento natural a não ser os bons e velhos vegetais. Principalmente aqueles verdes sem gosto que apenas estão lá para encher o prato e fazer com que a comida quando for pesada seja muito mais barata. Isso obviamente era efeito do chip que estava quase no apogeu máximo quando a bala é disparada pelo canhão, e o estranho foi que Robin nem ao menos se irritou com os socos que foram desferidos – porque não os sentiu.

Não é preciso dizer que o careca viu-se surpreso se um espelho estivesse localizado em sua frente. Mas Robin era basicamente um espelho, um espelho mágico como tal poderia mostrar-lhe o passado, um jovem tão arrogante e tolo quanto o representante de sua juventude. Trazia-lhe más lembranças, sobretudo tinha que evitar as comparações por isso. O remorso era conseqüência.

Recuou um pouco, até porque o suspense corria no clima. A cabeça de Molly tinha como principal pensamento de que a qualquer momento, em qualquer posição, o jovem assassino esperava o momento certo para causar um estrago em sua parafernália. O anabolismo já entrava em ação, e os músculos de forma gradual e lentamente eram postos como pneu ao ser enchido. A única diferença era que no caso do chip dos Hitmans, não havia mesmo uma maneira de literalmente estourar os músculos, só sobrecarregar os tendões e isso não termina mesmo de uma forma legal.

A idéia principal de Robin era esperar para ver se A Carta viria à mente, a idéia de Molly era terminar aquilo antes mesmo de ter uma diarréia ou que Robin mandasse o seu tal “super ataque”. Se esperasse demais, a diarréia acabaria dando-lhe um final prévio. Atacar, de qualquer forma, parecia ser inútil vendo que o garoto conseguira sobreviver a mais de metade do poder total de seu punho. O jeito era usar todo seu poder, um exagero a parte, ou quase todo, o que não causaria tantas conseqüências como a provável destruição do local. Molly estava confuso, mas rapidinho conseguiu se acalmar. Era como se tivesse um coito, acalmou-se de maneira uniforme e geral.

Relaxou tanto que a lama quase escorregou da bota. Era agora. Se não fosse agora, teria de teclar rapidamente os números do humilde telefone do senhor Raul. [i]Agora ou nunca[/i].

Quase toda a força era suficiente em um soco, ou em um raio. O raio seria um problema porque seu adversário já havia o visto e o analisado com uma destreza incrível, então só lhe restava um soco. [i]Um gancho de direita[/i], parecia ser uma idéia sensacional.

Molly já fora em tempos remotos da infância o campeão na briga-de-galo no gueto com seu galinho Wimpy, faturou altas notas, mas as notas eram tão baixas que sua mãe preferiu pegá-las para si mesmo. O filho não merecia essas notas, sempre procurou estudar. Agora era hora de ir pra briga e mandar seu gancho de direita igual ao de Wimpy, que era um grande campeão.

O gancho foi mortal e a cachoeira mudou de direção, Robin fez como um ser a tentar voar. Sua insegurança quando esteve livre do chão sólido mostrou a conseqüência de que não é possível, biologicamente falando, um humano voar – apesar de ser possível tecnologicamente falando. Robin caiu sólido como uma pedra, e com o sangue jorrando de seu nariz e sua boca como a cachoeira que conduz a água. O sangue jorrava até manchar o tapete também rubro, o que não dava tantas conseqüências para a visitinha do Molly.

Era ridículo pensar que fora nocauteado assim, sem mais nem menos, já que não tinha mais alternativa alguma para atacar. E, logo assim, não havia como contra-atacar. O mais viável era esperar a dor passar e dar no pé, mas tentou se levantar.

[i]Meu braço ou o tempo de recuperação que se dane, mas devo manter a minha honra.[/i] E assim fez as mais vastas sequências com ambos os punhos, sendo que a dor era ignorado de uma forma tão brutal que seu olhar demonstrava todo o sofrimento passado ao seu cérebro pelo corpo, sua expressão facial demonstrava seu limite ao decorrer do soco.

Mas as punhaladas foram falhas, nenhuma delas teve total êxito a não ser a última, uma surpresa, logo após Molly dizer;

– Já chega garoto.

Pegando-o de surpresa, um soco de simples pirraça. Era um garoto que precisava de educação, e percebeu que agora era hora de parar.

Molly pôde sentir pela primeira vez, a primeira e inclusive também a última, a força do braço esquerdo, totalmente desesperado. Se contássemos com o anabolismo, todos os fatores juntos causaram uma sensação de agonia no rosto do caolho. Era como andar nas nuvens, carregando em suas asas pesos de cinqüenta toneladas. Não era legal, mas era quase como ter um coito.

Enfureceu-se, mas estava calmo no momento. Qualquer emoção negativa ou positiva demais o levaria a borrar as calças, então acalmou-se.

– Terminou – repetiu, contendo a sua fúria em um recipiente chamado corpo.

Robin apenas via a figura indo afora da igreja enquanto, sentado ao próprio chão observava a famosa obra de arte gravada nas paredes e nos tetos.


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