Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 16
Não há motivo sem razão.


Notas iniciais do capítulo

Por mais que haja coincidências com a realidade, esta obra é uma palhaçada.



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Há coisas no destino que é irônico, como ter seu desempenho em matemática avaliado com uma nota vermelha por não conseguir ter sucesso em cálculos sobre quantidade de frutas, galinhas, abacaxis ou de carros em uma concessionária.

Uma ironia estava presente no destino do homem de terno branco, que presenciava algo irônico. Um encontro irônico para falar a verdade. Não pelo fato de alguém que procurava Xupa chutara o lugar certo e o encontrara – um lugar meio difícil que lá alguém estava, afinal, era um lugar abandonado.

As faces se cruzaram entre alguns minutos até que então, um feixe de escuridão fez com que o olhar de Xupa, agora, pudesse ver perfeitamente o homem em questão. Cômico era o adjetivo certeiro para definir aquele, porém, toda aquela comicidade parecia ser forçada. E por isso já não era mais algo cômico. Parecia ser alguém respeitável com um motivo respeitável para estar por ali.

Expressão facial forte era o verdadeiro motivo para todo aquele respeito. Seu olhar era equiparado a um homem de negócios. Era praticamente um homem de negócios, tirando a comicidade não-mais-cômica de seu traje digno de ser denominado um cosplay de um dos antigos heróis da Marvel. Uma máscara limitava a Xupa ver apenas sua boca, e os olhos marcantes. Porém aquilo já era o suficiente para julgar o homem misterioso, e forte. De fato o restante de seu rosto seria algo fácil de deduzir, principalmente porque não só a máscara como também o resto do traje parecia não ser o número exato de manequim do homem. Era musculoso, no entanto nada estrondoso.

Aquele homem, rente ao homem de terno branco, demonstrava um olhar determinado e pronto para pronunciar algumas palavras. Primeiro, antes de tudo, procurava a palavra certa para quebrar aquele silêncio. Uma palavra errada e tudo o que tinha em mente iria pelo ralo.

A palavra certa, coisa com que Xupa não se preocupava, não veio. O primeiro a abrir a boca e tentar tirar satisfação foi o Imperador Solar que tentava tirar suas dúvidas.

– Quem é você? – A forma com que a incógnita lhe encarava era praticamente assustadora, parecia que tudo que tinha a dizer poderia ser dito com os próprios olhos.

O homem deu um passo atrás, apenas por costume, estava acostumado às batalhas e sabia que geralmente tais começavam assim, com um confronto entre ideais. O ideal do x, na questão, era o de não revelar o seu nome. Porém, esse era o ideal do homem de terno branco. Pelo fato de demorar com suas palavras, Xupa acabou novamente sendo o primeiro a abrir a boca e usar as cordas vocais.

– Quem é você? – Repetiu, como se levasse em consideração o fato de que o homem tinha um sério problema de audição, o que não vem no caso.

Ao abrir dos lábios do super-herói, o vento empoeirado que carregava o sonho dos antigos jovens por um mundo de sonhos caminhou até a esquerda e obrigou ao homem moreno piscar uma ou duas vezes. A visão ainda era a mesma, um homem com a boca aberta, tentando tirar de dentro a palavra correta.

– Não crê que é uma grande e mera coincidência? Encontrarmos aqui e agora, graças ao tal do destino. Em um lugar onde a esperança já existiu? – Respondeu o capitão marvel. Não tinha grande coerência com a pergunta do homem de terno, que ao invés de soltar um “o que?”, limitou-se a soltar um “o que?” mentalmente.

O cenário era nitidamente digno de um filme de terror, porém o clima era muito mais de incerteza e de tédio do que de horror e de agonia. O céu vermelho dava ao local uma pouca e interessante iluminação, o que era exorbitante e – um pouco – exótico. As nuvens, que mais pareciam serem causadas pela liberação constante – que não havia – de monóxido de carbono davam ao local tom de opressão.

– Do que está falando? – Perguntou enfim Xupa, vendo que o “o que?” mentalmente não fora respondido, mentalmente, pelo outro homem.

Uma coisa que ainda não havia reparado era que o capitão América tinha uma voz incrivelmente grossa. Que lhe dava ainda mais a certeza de que aquele homem era alguém perigoso. Por mais que assim parecesse, não demonstrava nenhuma intenção assassina e nem ao menos emitia uma aura. Caso emitia, era pequena demais e, praticamente, imperceptível para alguém como aquele Imperador Solar.

– Estou falando de Pellots, onde todos viam para sonhar, sem ligar para quando iriam acordar. Sejamos francos, ninguém queria acordar para a realidade. Impostos a pagar, problemas de família, injustiça... Isso tudo era inexistente por aqui. O resto, como sonhos se realizando, é apenas lucro – disse o homem, exaltando suas palavras.

Xupa percebeu que a conversa havia mudado de rumo – E isso tudo era verdade?

– Não. Depende do que você considera verdade, é claro. Todavia em meu ponto de vista, não chegava nem nas proximidades do que ouso chamar de verdade.

– E o que seria essa... Sua... Verdade? – De certa forma ainda sentia-se

– Não há maior verdade do que a realidade. – Curto e grosso.

Vendo que a conversa continuaria a fugir do rumo que desejava seguir, Xupa insistiu em saber quem era o homem. – A realidade é que eu perguntei quem é, e não fui respondido.

– Resposta é opcional, a não ser que tu não me obrigues a responder. Tens uma arma? Seria de bom uso no momento. Mesmo considerando que armas não surtem efeito em mim, e creio que em você também não – respondeu o misterioso, com sua postura ereta e respeitável.

– Não vai responder nada que eu pergunte?

Não houve resposta. Apenas um olhar firme que encarava o homem de terno branco à espera que chegasse a hora certa de falar o que tivesse que falar. Não sabia Xupa que o homem estava falando com os olhos, porém, não era uma língua entendível para o dominador de energia amarela.

– Você só pode estar de brincadeira – Xupa resmungou, parecia não estar de bom humor.

– Não estou brincando, apenas creio que revelar meu nome agora não seria algo... Interessante. E nem um pouco relevante – explicou o homem.

Antes do por que vir dentre os lábios do outro, a incógnita respondeu, lendo os pensamentos do outro a partir de sua expressão facial.

– Pois você não me conhece.

– Para eu conhecer-te, é necessário saber do seu nome.

– Na verdade creio que isso não é necessário. Um nome é apenas um nome, é apenas a forma a qual minha mãe me chamava. Caso eu dissesse que me chamo Jorge Bush ou o Rei Pelé, sem que saiba que são essas figuras da sociedade, de nada adianta. Caso eu respondesse, viria uma série de perguntas a seguir de sua boca com o intuito de realmente conhecer-me. Até porque não conheces meu nome, nem que sou eu, e a curiosidade é inevitável.

– Sim, mas o nome é essencial.

– Nem tanto – insistiu em sua tese o herói.

– E se eu lhe perguntasse apenas o nome? Sem lhe perguntar o resto? Ou melhor, eu pergunto, no entanto você decide caso responde ou não – Teimou o homem de terno branco.

– Está vendo? A curiosidade é inevitável – confirmou sua tese. – Já disse que meu nome é irrelevante no caso. Pare de teimar feito uma criança, olhe sua idade!

– A curiosidade é inevitável – repetiu como se fosse uma desculpa para seu comportamento.

– Está vendo? – Confirmou novamente a tese, de forma orgulhosa.

– Posso perguntar outras coisas, então? A curiosidade é inevitável, como já disse. Portanto, por favor, coopere em ao menos terminar com cinqüenta por cento de minha curiosidade.

– Cinqüenta por cento? Metade? Isto é demais... Sabe quanto é metade, ou cinqüenta por cento de mil dólares? Quinhentos dólares! E isso é bastante dinheiro meu caro.

– Não entendi. Você quer que eu lhe pague? – Xupa não entendeu a metáfora.

O homem limitou-se a fechar a boca, antes de falar uma ou outra coisa em relação ao gênio do homem de terno branco que não lhe agradaria nem um pouco. E como estava ali a negócios, nunca é bom insultar o cliente. Não respondeu, também, porque a resposta é opcional.

– O que você está fazendo aqui? – Indagou o homem de terno, como estivesse resmungando. Seu saco estava quase cheio, e não agüentaria mais.

– O mesmo que você, o destino nos levou para este lugar. É pura coincidência, é algo vindo do tal do destino.

– Não é coincidência, não pode ser. – Respondeu o homem de terno branco.

Alguns segundos de silêncio, enquanto o misterioso homem permanecia-se calado, o outro, com pouquíssima vontade de criar uma tese para tentar decifrar o que estava acontecendo viu-se obrigado a criar uma linha de raciocínio. Por mais que não gostasse, era obrigado a tentar montar um quebra-cabeça. De poucas peças, porém, com um cenário de fundo bastante obscuro. Poucas eram as peças que reunia ao chão, parecia faltar uma ou outra. No entanto, era uma questão fácil. Por mais que não soubesse o valor de x, poderia supor algo.

O que supunha não parecia ter muita coerência com a realidade – ou com a verdade –, até porque, um homem como aquele não poderia ter força o suficiente para aquilo. Talvez estivesse escondendo sua força, pois, se fosse tão pequena quanto parecia – algo equiparado à raiz quadrada de dois – não seria possível.

– Por que me tele transportou para cá? – Uma conclusão bastante interessante, e também contraditória.

– Não tele transportei pessoa alguma. – Seu olhar confuso e perdido parecia ser realidade.

– Então o que está fazendo aqui?

– Foi o destino, já lhe disse.

– Não me venha com esse papo de destino, pessoas que acreditam em coisas como esses são tão repugnantes quantos aqueles que acreditam em deuses. Deus não existe, assim como o destino. Tudo que ocorre no mundo é mera coincidência, não há razão para nada acontecer, e por isso, tudo que acontecesse, acontece pelo simples fato de acontecer.

– Acredito tanto no destino quanto na coincidência, no meu ver, são sinônimos. E creio que um esteja dentro do outro, ou seja, você está se contradizendo. Uma coisa acontece por acontecer já tem um motivo para acontecer. Que é acontecer. Tudo acontece por um motivo, uma garrafa cai porque alguém a empurrou e deixou a força peso entrar em ação.

– Por favor, poupe-me – disse o homem de terno branco.

– Se diz que foi o destino que nos deu este encontro, por que está falando comigo? Não deveria apenas ignorar-me?

– Pelo contrário, falar com você foi à primeira coisa que pensei nesta amanhã após escovar os dentes. Coincidência, meu caro, destino. Está vendo? – Indagou, orgulhoso de outra tese sua.

– É coincidência demais, e pensar que você se tele transportou para cá, um lugar abandonado, pensando que iria encontrar-me? – Opinou, suspeitava bastante daquele homem.

– Não, não tele transportei pessoa alguma. Afinal o dom do tele transporte é uma proeza desnecessária. Se um homem quer ir a algum lugar, suas pernas estão sempre ao seu dispor – opinou o misterioso.

– Mas isso não quer dizer que você não me tele transportou, não é? E de brinde trouxe o meu capanga inútil. Qual o seu plano? É um daqueles que quer me matar, e entregar a cabeça para os parlamentares? Caso é isso, está perdendo tempo.

– Na verdade os parlamentares já providenciaram alguém, porém isso não vem ao caso. O que vem ao caso é que minha mais pura intenção é conversar, com você, e o destino foi cooperativo ao deixar-nos neste lugar, a sós. É um assunto bastante importante, que creio que também deseja ouvir.

– Também quero ouvir quem é você, diabos – a dor de cabeça era perturbadora.

– O assunto em questão não sou eu, é você – tentou mudar o rumo da conversa.

– Largue de palhaçada, e pare de negar a realidade – insistia.

– Pare você, Xupa Cabrinha. Pare de negar sua posição como Imperador Solar, o que é um ultraje. Sabes ao menos o que poderia aproveitar sendo um herói de guerra nesse cargo? Sabes a vantagem que teria? Sabe o quão seria vantajoso se eleger a presidência?

– Eu, presidente?

– O público obviamente apoiaria um herói, que ressurgiu do nada, e de quebra ainda matou o ditador banal e capitalista desta era...

O assunto fez com que o homem de terno em questão mudasse de olhar, e também de expressão facial. Parecia um pouco mais preocupado em relação a isso, abaixou e levantou a cabeça.

– Não olhe para baixo, é um sinal de fraqueza.

– E o que sabe sobre mim? – Indagou.

– Eu sei quem você é, Xupa Cabrinha. – A voz voltou a exaltar-se e o olhar de repressão surgira na face do homem.

– Ultimamente todos estão sabendo. Sou aquele vagabundo que matou o presidente. – Já estava cansado dessa estória.

– Pelo contrário, caso não houvesse a polícia para reprimir os engraçadinhos e os cidadãos mais pobres, a burguesia iria sofrer com a comemoração. Iria refletir o dezenove de setembro de oitenta anos atrás, a queda do grande Blarir.

– Não sei desse.

– Você tem a graça do povo, ó herói de guerra, ter matado aquele presidente desgraçado e corrupto foi um golpe de mágica. Mesmo sabendo que você não matou ninguém, seu nome deve estar na boca do povo. Isso lhe daria certas vantagens, caso voltasse a assumir seu cargo, e não negasse o fato de ser um assassino.

– Como você disse, eu não matei Sparrow.

– Porém não pode esconder o fato de que esse era o seu desejo. De criar um novo governo, onde os pobres são injustiçados e os ricos, gastam mais do que deveriam. É uma sociedade injusta. Falar que não matou o presidente nada vai mudar, enquanto for isso o que a mídia disser. Você não pode lutar contra a mídia, Jacken lutou contra isso, e perdeu. – Argumentou o herói.

– Não sei desse.

– Aliás, é claro que pensar que matar o presidente lhe daria o direito de ser o novo líder é algo extremamente tolo. Você tinha um plano, não é? Por trás dessa idéia estúpida de matar.

– Claro, não me subestime. A história mostra que aqueles que tentam levar tudo na porrada se dão mal. Soluções diplomáticas são o que há. Mas não pretendia dar um documento para cada parlamentar assinar, isso seria uma idéia ridícula. O cara ganha trilhões por ali, o que ganharia com um governo comunista? – Revelou Xupa.

– Não sabia que eu estava lidando com um comunista – disse o misterioso, surpreso.

– Nacionalista. – Corrigiu.

– Conte-me seu verdadeiro plano, grande herói de guerra. A única maneira seria tentar mudar o povo, não é? Afinal, são eles quem vota – opinou.

– Sim, entretanto isso não é tão fácil – revelou Xupa.

– E tem um motivo para tanto trabalho?

– O que?

– Digo, e existe um motivo, uma razão, para que o senhor se esforce tanto tentando fazer desse país um lugar justo? Creio que há, pois se não houvesse, teria desistido disso sem mais nem menos.

– Se tem um motivo... – Xupa não tinha.

De fato havia, no entanto não era isso que o seu cérebro dizia. O motivo era algo simples, havia. No entanto, assim como não sabemos o significado da palavra subir ou como explicá-la para leigos – e sabemos o que é subir uma escada ou subir no cano –, Xupa sabia do motivo. Não sabia, sabia. Sua memória dizia que não, não se lembravam. Eram poucas as coisas que o herói de guerra lembrava da época quando era ainda um militar. Esse motivo, talvez, criou-se nesta época. E parecia ser algo pouco importante, para que pudesse esquecer assim, de um dia para o outro.

– Lembre-se de sua mãe, de seu pai... – Disse o misterioso.

– O que?

– Nada, apenas estou tentando ajudar – o homem parecia saber mais de Xupa do que o próprio.

– Por mais que tente, não consigo lembrar de motivo algum. Talvez não fosse algo tão importante assim...

– Eu posso dizer que é. Sentimentalmente falando, é claro – disse.

– E qual seria esse motivo?

A resposta, sempre, é opcional.

– Ajudar os pobres. Afinal, você é um... Lembre-se de sua mãe, de seu pai... – Respondeu, logo após deu as costas.

Xupa percebeu que aquele homem sabia demais sobre si, realmente, demais.

Andava vagarosamente em direção a um beco, este que dava em uma enorme parede. Esse beco que apenas existia graças à lúcida e pequena proximidade cinzenta de dois prédios cinzentos, estes quase desmoronados por total.

– Onde está indo... ? – Perguntou Xupa.

– Para onde o destino me levar – concluiu, e logo após alcançou o final daquele beco, onde havia também uma enorme sombra, que fazia com que apenas houvesse um negro colossal, que ofuscaria qualquer coisa que estivesse por ali.

Xupa não sabia quem era aquele cara, não sabia o quão forte era, ou o quão fraco, porém sabia que era bastante carismático. Também sabia que seu uniforme lembrava bastante os super-heróis inspirados para terminar com a Segunda Guerra Mundial. Sabia também que era misterioso, e sabia que o veria novamente. E que acreditava mais no destino do que em suas atitudes.

Em meio aquele cenário cinzento e morto pela audácia dos nerds que o chamaram de lugar inútil e sem nexo, e sem noção com o espaço tempo, Xupa pôde ver novamente a presença de outro ser. Não, não era outro homem ao estilo Marvel, muito menos Clamp. Era Robin, agora em pé, meio mancando.


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