Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 17
Reunião de Alunos da Classe de 1970.




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Surpresa aquilo não era, afinal, Frota já tinha certa esperança que aquele ainda estava vivo. Aquele que andava pela rua em sua direção, com passos vagos e velhos, como se seus quadris estivessem com câimbras de tanto tempo sem serem utilizados. E de fato fazia tempo que o homem em questão não utilizava os pés, nem para andar e muito menos para jogar uma partida de futebol e mostrar aos jovens da vizinhança como se bate uma pelada. Os passos lentos chegavam junto a um sorriso aparentemente forçado. Não era forçado, só parecia ser um meio sorriso. Por algum motivo, talvez por obrigação, o sorriso não percorria todo o caminho pelos lábios daquele homem.

Um conhecido. Frota conhecia muita gente, entre elas, a maioria era bastante reconhecível. O olhar, aquela expressão facial, aquele tapa-olho, aquela falta de cabelo. Aquilo tudo era mais do que familiar, fazia parte de uma das aventuras mais emocionantes de Frota. Não emocionante, mas sim que teve de participar por obrigação, caso não participasse, estaria morto e sem a luva. Uma pessoa marcante era aquele homem.

A aura altamente poderosa não fora notada pelo estuprador, causa da certa alegria por finalmente reencontrarem-se. Quem era? Seu marido? Seu namorado? Não, Frota considerou-o por um bom tempo como um mestre, ou um homem de respeito. Mesmo com as piadinhas constantes sobre a proeza de não ter cabelos, ainda sim Molly era uma boa pessoa.

Um herói de guerra, de fato outro que estava sumido. Um dos grandes guerreiros da Guerra do Fim do Mundo que carregavam junto a si desde então um poder enorme. Um poder que parecia ter renascido, segundo qualquer outro que estivesse ali no momento.

Caolho, careca, moreno e de certa forma com uma face marcante. Seu olho direito era incrivelmente amigável, mesmo dando sempre um tom de velhice. Porém não era tão velho assim, não o tanto quanto era. Mais de setenta, com aparência de cinquentão. Algumas marcas, como de riso, estavam presentes em seu rosto menos velho que o normal. Molly, o touro azarento, era um homem tão respeitável quanto Xupa Cabrinha, ou quem sabe mais. Talvez todo o respeito que o povo tinha por tal acabara quando a mídia afirmara que tal desertou o cargo de militar. Vestia um terno, moda na época desde quatro anos atrás.

A voz era nostálgica para o jovem de franja.

– Bom te ver, Frota.

Rever aquele homem era algo esperado, Frota tinha certeza de que tal ainda estava vivo. Entretanto não esperava revê-lo por ali, naquela hora, naquele momento. Segurou-se para não abrir um sorriso, amigos são amigos. A sensação era similar ao reencontro de dois amigos na escola, se bem que Frota e Molly não cursaram a escola juntos. Sejamos francos, o jovem de óculos escuros nunca teve a proeza de pisar no chão do maternal, ou até mesmo do colégio.

Enquanto guardava a luva no bolso e olhava para os lados, onde já não via nem a mulher derrotada e muito menos o gigante homem que procurava pelo seu patrão, cumprimentou o não-tão-velho-assim conhecido.

– Quanto tempo cara... Por onde esteve? – Perguntou diretamente ao assunto.

Era como um reencontro entre amigos para o estuprador. No entanto para o caolho não era algo tão amigável assim. Estava ali a negócios, e por isso o sorriso não pôde se abrir. Por mais que quisesse, não era isso que lhe era permitido. Ou melhor, não estava em clima para sorrir e dar ao estuprador uns abraços – o que seria extremamente excitante para o jovem da luva.

– Por aí, se é que me entende. Vejo que conseguiu a luva – mudou de assunto.

– Pois é, se eu não conseguisse, ia morrer né. – Brincou.

– Foi muito difícil?

– Foi... Depois que você sumiu, principalmente.

– E o Mario?

Mesmo não demonstrando, Molly estava feliz por rever Frota. E, principalmente, por também ter a oportunidade de colocar o papo em dia. O caolho de fato muito fez pelo seu amigo, e também queria saber se tudo o que fez – seu sacrifício – não fora em vão. Não foi. O estuprador conseguiu a luva.

– Ele foi de volta.

– Pro tempo dele?

– É, ele disse que brevemente nos conheceríamos.

– Nem revelou sua verdadeira identidade? – Indagou Molly, preocupado.

– Na verdade, quando acordei, ele já tinha ido embora – revelou Frota.

Molly deduziu algumas coisas bem sacanas, mas o melhor é não mencionar nada que rondou durante algum segundos em seus pensamentos.

– Interessante. E o que anda fazendo de bom? – Perguntou Molly, ainda caminhando de encontro com o estuprador.

Realmente parecia um papo entre amigos, que há tempos não se encontravam. Por mais que Molly não quisesse que parecesse assim, era assim que parecia. O sorriso estava sendo segurado por uma emoção, chamada agonia, no interior do caolho. Que o impedia de soltar qualquer interjeição de felicidade, ou revelar onde realmente estava.

– Nada demais – era um subalterno de outro Imperador Solar, porém isso não vinha ao caso – e você? O que faz por aqui?

– Negócios. Na verdade, negócios muito importantes.

O andar de Molly fazia parecer com que o caolho estivesse com um problema nos quadris, ou com uma ressaca desgraçada conseqüente de meia e duas garrafas de tequila. Porém, mesmo sendo um velhote, sempre foi muito íntimo da bebida que lhe acompanhava toda noite de trabalho, e não cederia uma embriaguez alguma por menos de sete garrafas e meia. A verdade era que já fazia algum tempo desde a última vez que pusera seus pés ao chão, como já mencionado anteriormente. Frota estranhava esse andar, o velho parecia ter desaprendido a dar passos.

– Tem certeza? Não veio aqui para me visitar? – Brincou, enfim revelando um sorriso.

– Já disse... Negócios meu caro. E muitos importantes – repetiu.

– Mas que tipo de negócios? – Interessado estava.

– Daqueles muito importantes - uma resposta muito curiosa.

Antes que o jovem de franja pudesse indagar novamente, o caolho decidiu revelar o verdadeiro motivo por qual estava ali. Era um motivo justo, negócios de fato muito importantes. – Matar Xupa Cabrinha – revelou sem dó nem piedade. Voltara a ser um capataz dos parlamentares, senadores, e outros políticos (o que responderia um pouco mais para frente para Frota). Não sabia até então que o estuprador fazia parte do grupo de subordinados do seu antigo amigo de guerra, porém sabia de tais subordinados. A facção do homem de terno ganhou o dia por ser revelada à mídia pelos televisores e aparelhos de rádio. É fato que o homem de terno branco já era uma figura mais do que importante na sociedade, agora passara para um nível maior. Já era conhecido também pelos homens de Economist que aplaudiam seu nome comemorando a morte do presidente do país rival.

Rapidamente, porém sem movimentos bruscos, o jovem de óculos escuros seguiu o percurso com sua mão até o bolso onde guardara a luva. Retirou-a, e, antes demais nada, colocou sua posição em postura de ataque.

Foi nesse momento que sentiu aquela aura. Avassaladora, e que estava pronta para cumprir a sua missão.

Por um momento, quando encarava o assassino, pôde ver um olhar alto e horripilante direcionado a si. Pôde sentir aquela aura devastadora. Em alguns segundos depois, se tornou uma risada cômica que levou o careca a tapar sua boca e logo após comentar algumas coisas.

– Não esperava que fosse um dos subordinados dele. Surpreendeu-me, de fato.

– E porque acha que sou da facção dele? – Indagou Frota.

– Sua reação disse tudo – respondeu Molly. – Porém, acalme-se, o que tenho a tratar não é com você, e sim com o próprio. Não recebi ordens para te matar. Ordenaram apenas a missão de derrotar o assassino de presidente... Mas sejamos francos, não acredito muito nessa coisa – revelou sua opinião.

Molly conhecia o suspeito assassino em questão, e por isso, podia dizer que esse não era louco o suficiente, e nem esquizofrênico o suficiente, para fazer uma loucura daquelas. Xupa era um bom homem, mesmo em certos momentos sofrendo uma queda de personalidade causada pela incerteza. Um homem de hipóteses e de palavras. Porém esse não era o Xupa em questão, as pessoas mudam. Depois de serem congeladas em meio ao gelo de Pinball Wizard, mais ainda.

– Então por que aceitou essa missão?

– Não tenho escolha de aceitar ou recusar. Eu sou um comandante, meu jovem. Não tenho o direito de simplesmente negar aquilo que os patrões mandam. Do jeito que a política se tornou ultimamente, uma espécie de máfia, caso recusasse iria parar na guilhotina. Sou um militar, digo, sempre fui.

– Mas... Você não desertou?

– Não existe deserção em Fantasy. Ex-comandante é aquele que morreu. Por sorte, naquela vez, pude escapar da guilhotina. Mas agora não teria mais opção, não dava para escapar.

– Então faz isso porque é forçado?

Por um momento o caolho colocou a mão esquerda na nuca e refletiu. Sabiamente, com sua pose de sábia, o óbvio era afirmar. Por enquanto, porém a guilhotina era muito mais profunda do que isso.

– É... De certa forma, sou forçado a fazer isso mesmo.

– E não acha que poderia conseguir alguma informação sobre o paradeiro de Xupa comigo?

– Ele tem um paradeiro? – Indagou Molly, olhando de lado.

– Não que eu saiba.

– Pois bem, viu? Você não sabe de nada, pode estar mentindo, mas não saberei se você mentir também sobre o paradeiro de Xupa. Até onde sei, ele estava por aqui, pude sentir algumas presenças poderosas. Umas quatro ou cinco, uma reunião de auras poderosas. No entanto umas três desapareceram antes mesmo de eu chegar. Também havia outros com poderes medianos. Um deles desapareceu, mas isso não entra em questão. Aliás, sabe o que ocorreu com a policial que era encarregada por cuidar dessa rua?

– Cuidar dessa rua?

– Sim, com a morte do presidente, os patrões mandaram alguns oficiais de farda negra pra cobrirem o perímetro e a área. Principalmente para evitar os engraçadinhos que iriam festejar por aqui. Praticamente em todo país, nas áreas urbanas, há apenas nas ruas os oficiais. Quase meio milhão de oficiais, todos eles com a tal honrosa farda negra. Está vendo aquele homem na outra rua? – Virou-se e apontou para a figura.

Viu um pontinho negro um pouco mais longe.

– Bom homem – completou –, sua esposa está esperando um filho. O nome será Punpun, o que eu achei algo muito ousado.

– Seu nome também é bastante ousado, Molly. – Brincou Frota.

De fato era um nome de mulher, porém o caolho não se importava mais com isso. Assim como já estava conformado com o fato de ser careca, o fato de ter um nome feminino também já não lhe perturbava mais. As piadinhas já não surtiam mais efeito como quando estudava no maternal e sofria bullying.

– Tem certeza que não viu nenhuma mulher de farda negra por aqui?

– Não – respondeu Frota.

– Bem, estou a sua procura. Conseguia sentir sua aura até pouco tempo, mas sabe como é né. Seu poder não é tão forte assim, e ao parece se meteu em uma luta. Creio que os engraçadinhos lhe deram uma surra, o que é algo deprimente. A não ser que a facção de Xupa Cabrinha esteja envolvida. Causaram anarquia na rua dela, creio que ela fora derrotada pelo próprio.

– Se houve uma luta não sei. Acordei a pouco e só pude lutar contra um samurai doido, presenciar o sumiço do patrão, encontrar um danadão e derrotar uma mulherzinha que cheira a enxofre. Sorte que meu nariz está entupido – respondeu o estuprador, relatando tudo que ocorrera. – Se algo aconteceu, foi culpa do Xupa... Ou do Robin.

– Certo, certo... – hesitou – nos veremos mais tarde. Talvez num confronto, afinal, se quer receber o salário do seu “patrão”, deverá protegê-lo. Certo?

– Sim.

– E se eu não quiser ir pras masmorras... Tenho que cumprir minha missão dada.

Molly andava ressentido, com aquele mesmo andar. O que era cômico, o estuprador, porém, guardou o riso e adentrou ao hospital. Suas atenções totais estavam viradas à sua mão, ferida, por ter sido tolo para subestimar o samurai. O golpe foi poderoso, porém mesmo assim, o assassino conseguira repeli-lo apenas com a mão nua, sem a luva. Isso era um bom sinal, afinal, não era muito bom depender da Okami Kenon.

Diabos, ele ficou forte”, pensou o comandante.


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