Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 109
com seu fim inevitável. Sete.




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Lá estava Quenium, dormindo no quarto de hotel favorito que visitava em suas noites mais solitárias desde que retornou a viver a vida real. Tal angústia se manifestava no cenário de seu quarto: algumas roupas largadas no chão, algumas garrafas de vidro de cerveja e uísque em um canto e um cheiro bem tipíco.

 

Presenciava em sua consciência enquanto dormia algo que estava se tornando muito mais frequente do que qualquer outra coisa na perdição de sua existência vazia, sendo uma série de pesadelos estranhos. Não era um personagem nessas histórias e nem observava como em terceira pessoa, mas sentia-se como uma câmera sem a possibilidade de interagir com a situação apresentada. Os personagens principais eram pessoas com quem havia trocado olhares ou algumas palavras durante o dia - já que interações em sua vida social não passavam nada além disso.

 

Após a história de uma bela moça e seu dia cansativo no trabalho como enfermeira com o fim do dia sendo uma comemoração surpresa de seu aniversário e uma outra parte sobre um atendente de mercado de 72 anos que mostrava o seu passado como um dos grandes magnatas de todo o universo e que decidiu deixar tal carreira por motivações morais, Kale apareceu andando. Demorou um pouco para que Quenium percebesse que ela estava locomovia-se debaixo d’água, percebendo pelas bolhas resultantes do movimento da mulher e pelo horizonte e o espalhamento irregular da luz na superfície de grãos finos, que também eram movidos por Kale.

 

Logo, de repente, figuras irreconhecíveis surgiram e Kale encontrou-se batalhando contra elas de uma maneira impossível de Quenium compreender. Não demorou muito para que Kale…

 

Assustado, o Primeiro Cidadão do Universo acordou sentindo como se seu corpo estivesse pegando fogo - provavelmente efeito da ressaca. Sentiu que antes que prosseguisse a mostrar-se para o mundo, tinha um lugar para ir. Havia um ponto específico no Oceano Atlântico onde deveria ir, um divisor entre dimensões.

 

—___



Picone continuou seu caminho de maravilhas e tranquilidades em meio à brisa daquele mundo verde e brilhante. Era com certeza seu lugar favorito do universo a partir de agora.

 

Com essa gigante faísca no meio dos últimos momentos recordados bagunçados e a viagem pelo espaço que causara alterações em sua consciência sem que percebesse, Picone encheu-se de Energia Estóica como se recordando de seus princípios como um cavalheiro, um homem de respeito, o guardião da vida. Fora realmente assim até então? Sabia que não, mas tal raciocínio deveria seguir para outro momento pois Picone reconheceu a presença de figuras peculiares a poucos centenas de metros na descida para o vale da floresta verdejante que cobria boa parte do horizonte.

 

Eram três animais rastejantes que se aproximavam com uma aura um tanto nada usual. Recordou-se que deveria estar precavido para qualquer que fosse o comportamento daqueles seres. Lembrou também que tinha uma missão por ali, seja qual fosse, dada pelo belíssimo dragão que buscava ajudá-lo a entender Coisas.

 

Estavam próximos o suficiente para que Picone sentisse que suas auras colidiam com sua própria existência. Não manifestavam-se como agressivas, mas como grandiosas de uma maneira que não lembrava de sentir nem em um humano, longe claro do falecido e querido Don Ramon. Há dez metros de distância, uma criatura que assemelhava-se lagarto muito bem alimentado pareceu ter sido a primeira a quebrar o silêncio

 

— Ora, ora, ora…

 

Com isso, todas as partes se estacionaram. 

 

— Boa tarde. - Picone simplesmente sentiu justo dirigir-se dessa maneira, mesmo sem ter certeza se estava realmente encontrando animais falantes.

 

— Boa tarde - Um dos outros pareceu responder. Um era um rato e outro um sapo. A voz pareceu grossa demais para que fosse do rato.

 

— P…Prazer em conhecê-los… - respondeu. Com certeza era isso mesmo.

 

Após um breve silêncio, o rato aproximou-se levemente para encarar nosso querido personagem mais de perto. E foi a lagartixa que então se pronunciou:

 

— Eu sou um dragão… Que cansou de viver no mundo dos dragões por causa da bobagem do algodão doce. Acho que você entende. - Cigarras decidiram cantar enquanto Picone refletia.

 

— M-mas acabaram de me dizer isso. E foi um dragão mesmo.

 

O sapo se aproximava andando apenas com seus membros de trás enquanto utilizava um dos membros da frente auxiliava a locomoção com um “cajado” mágico do tamanho de uma caneta azul. Foi quando Picone percebeu isso que o sapo retornou para a postura normal de sua espécie assumindo aquela cara bem boba que sapos costumam ter.

 

— Então realmente é você. Devemos ir para outro lugar, há muito para que você descubra.

 

— Sim, mas tipo o quê? - Queria realmente saber porque nem os deuses que fizeram uma breve lavagem cerebral nele nem o dragão que encontrou no caminho foram muito específicos. Na verdade, foram todos nada específicos.

 

— Logo você verá.

 

Picone aceitou a respostas porque parecia não haver o que fazer. Os animais não foram capazes de contribuir de alguma maneira na sua jornada, a não ser por serem interessantes e fofos. Apesar disso, seguiram Picone na sua caminhada seguinte e contribuíram com algo ainda mais valioso: companhia para o herói perdido. Falando em herói perdido, onde está Robin? 

 

Atônito pela falta de desenvolvimento em seu arco recente em desvios mirabolantes e confusos de roteiro, Robin tal como Picone estava por aí. Ele deve ter derrotado alguns inimigos poderosos, deve ter se aliado a grandes guerreiros, destruído monstruosidades cósmicas e até mesmo salvado um quadrado completamente, por si só. Os próximos passos em sua jornada, que seriam os definitivos: um encontro que desafia muito da realidade, além de qualquer quebra dimensional causado pelo confronto dos dragões ou as diversas rasuras causadas pela viagens de Marios. É de Mario que estamos falando também. Mais especificamente, Doutor Mario.

 

O herói sofria não apenas da lavagem cerebral como da enxaqueca cósmica pelas viagens incessantes pela galáxia. Em um certo momento, retornou a sua consciência ou pelo menos a parte principal dela. Ele estava acima de um pódio, recebendo alguma medalha de algum pato ou ganso, a realidade é que ele nunca soube diferenciar. Vários outros patos estavam batendo palmas para Robin em uma plateia que se estendia até uma floresta. O cenário verde e campesino era a única coisa que parecia fazer sentido, assim como para Picone.

 

— Robin, muito obrigado. Sem você, não teríamos sido capazes de salvar o universo da destruição eterna.

 

Com a fala, Robin virou seu olhar para o ganso. Ele parecia vestir-se de maneira real, com um manto avermelhado e com uma coroa dourada com detalhes de esmeralda e de azul celeste. Não foi tão chocante quanto para Picone porque Robin acostumou-se nos últimos tempos a ouvir coisas que não costumam falar falando, como cebolas e paredes.

 

— Obrigado pela consideração… mas eu não sei muito bem como cheguei aqui.

 

A revelação pareceu chocar a plateia e os gansos passaram a se entreolhar. Um ganso com um gorro e vestes sujas de terra se agitou e moveu-se repentinamente para o fim da fila, seguido por mais alguns. Realmente o clima havia sido quebrado. 

 

A fala de Robin foi tão cruel para si mesmo, infelizmente de forma ingênua. Robin não recordava suas ações anteriores pelos efeitos mentais, assim como não controlava-as completamente na época. Ele foi sentenciado à execução por colocar água no suco de laranja que considerou estar “forte demais e muito enjoativo” e isso era inadmissível naquela sociedade. O próprio Rei Ganso, que há pouco o coroava, pareceu hesitar e tremer. 

 

Outro agravante fora cometido: Robin admitiu não estar ciente de suas ações e feitios, um sinal claro de que ele não era um ser vivo e apenas um receptáculo preenchido por vontade cósmica - o que era realidade, de algum modo. Tais criaturas sempre causaram o caos e levaram aquela realidade a estados de quase destruição eterna. Curiosamente, o herói havia sido perdoado pelo crime de diluir o suco por salvar aquele mundo derrotando um outro receptáculo. 

 

O fato de Robin ser um receptáculo que derrotara outro receptáculo era algo que o Rei nunca havia observado e nem ouvido falar em todos seus quarenta mil anos de trono. Poderiam então os receptáculos se devorarem em uma cadeia alimentar? Como uma laranja gigante devorando uma laranja grande que devorou uma laranja média que devorou uma laranja pequena.    

 

A sequência de laranjas manteve o Rei Ganso em um loop, tempo suficiente para que Robin decidisse sair dali e tentar entender onde estava. Com seus poderes de um personagem de Dragon Ball Z adquiridos há não muito tempo, Robin ascendeu aos céus para observar próximo às nuvens o fim do ambiente esverdeado e pacífico. O restante era assustador.

 

Ele não duvidava que poderia ser esse o inferno. Sussurros uivantes passavam pela sua orelha esquerda onde uma névoa de escuridão espalhava-se pela terra rachada. A orelha direita sentia as vozes do fogo que queimavam montanhas gigantes próximas a um mar roxo. Auras horripilantes caminhavam por aquela Terra e Robin pela primeira vez em muito tempo em suas desventuras se estremeceu, completamente inconsciente dos perigos encontrados naquele lugar bizarro. Além das figuras espectrais, aberrações ancestrais e o inferno invertido de cabeça pra baixo com um litro de cachaça fervendo em qualquer lugar que você pode pisar guardado por um um capetão gigante, Robin encontrava um planeta de pura destruição, próximo a se destruir por seja lá as diversas coisas esquisitas que estavam acontecendo.

 

 

De repente, sua mente retornou para a Terra, sobre Frota, sobre tudo que aconteceu…   

 


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