Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 110
Sabendo o que está atrás daquela mesma e velha porta.




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Doutor Mario rasurava seus cadernos com outros símbolos. Por uma outra ótica, com diferentes informações e conhecimentos, onde sua jornada o levaria? 1145 observava o querido com suas pernas cruzadas enquanto degustava de um uísque frio e ardente. Era quatro da tarde e para Mario ainda era cedo demais para largar o “trabalho”, diferentemente de 1145 que direcionou-os para aquele barzinho porque para ele já estava tarde demais para trabalhar. Era feriado em algum lugar, isso tinha certeza, então não tinha motivo para trabalhar já tão tarde no dia.

 

No meio dos diversos alienígenas esquisitos de formas e cores variadas, com padrões que nem faziam sentido e alguns sem nem forma material, manifestando-se apenas como radiação ou simplesmente nada. Uma forma de vida que se manifestava como transferência de calor passou entre eles, indagando a Mario se este gostaria algo para beber ou até comer mesmo. Mario demorou um pouco para recusar, muito focado em seu trabalho. Uma gosma triangular roxa e levemente transparente usava um chapéu que mais parecia uma pá, um tom de verde nada usual rondava a região juntamente a um tom alaranjado. O tom esverdeado e o tom alaranjado conversavam, aparentemente. Era difícil entender coisas de outros alienígenas, mas ali alguma comunicação sempre ocorria independente da raça, sistema nervoso ou de linguagem. O tom alaranjado até que estava falando alto demais e aparentemente preocupado.

 

1145, sem nenhuma atividade, não conseguia deixar de estar curtindo o momento e se encher de bebida. Mario com certeza ignorava bastante o momento, existiam muitas anotações. Dentro delas, muitas coisas que não conseguia entender, e continuaria sem entender mesmo assim, mal sabe.

Os tons que conversavam casualmente se aproximavam para mesa próxima a dos nossos queridos personagens principais que estão mais para secundários. 1145 não queria prestar atenção nas conversas dos outros, estava em seu próprio momento, entretanto tal fora inevitável: pareciam estar numa discussão bastante árdua.

 

— Você realmente consegue reconhecer que não existe momento em algum onde nós possamos descobrir como a realidade possa ser alterada enquanto estivermos dentro da realidade? E estamos dentro da realidade, seja aqui ou seja lá - levantava o tom esverdeado.

 

Laranja não gostava do caminho que a conversa estava indo, no geral. Acreditava que o Verde não conseguia encontrar o que realmente importava e estava simplesmente sendo carregado pelas suas curiosidades ao invés de perceber o fato concreto no momento. E isso era triste porque Laranja pensava no fundo de seu coração que Verde seria um ótimo par para que o Marrom retornasse, mas aparentemente não estavam nem um pouco próximo desse momento.

 

— Eu acredito, Verde, que não existe resposta simples para essa pergunta e nunca poderemos realmente constatar esse fato. O que nós podemos fazer é pelo menos beber alguma coisa e tentarmos ser felizes. Pelo menos em algum momento. 

 

As palavras pesaram e Verde reprimiu-se momentaneamente. Percebeu que Laranja estava chateado, afinal por que permanecer em um bar se não para pelo menos tentar curtir um momento? A realidade é que isso é para poucos, pois suas cabeças estavam sempre além do local que nos permanece, assim é a consciência. 1145, por algum motivo, talvez por influência do narrador e de sua última sentença, entristeceu-se também. Em seu momento de tristeza, encontrou empatia para buscar quebrar o gelo daquele casal de cores sendo simpático e dividindo um pouco de sua bebida.

 

— Oh! Por ti estou deveras grato, meu caro. - Laranja estava realmente muito grato. Verde, ainda um pouco abatido, bebeu do álcool. 

 

Doutor Mario instantaneamente levantou seus olhos para encontrar-se com o olhar das duas tonalidades. Não estava prestando completamente atenção na conversa, talvez só uns 5%, mas para o super cérebro evoluído do rapaz, em comparação ao nosso, isso já é coisa até demais. Era disso que Mario também queria tratar, da realidade, mas 1145 conhecendo o Doutor suavemente colocou seu braço para cortar que isso acontecesse. Era melhor que os outros dois curtissem. O doutor voltou seu olhar para o companheiro de aventuras e entendeu, decidiu também dar um gole no seu copo de bebida que ainda só estava gelado por estarem no bar próximo da Estrela do Frio Eterno. Por causa de alguns alienígenas que parecem mexilhões que se sacrificam para minerar tal gelo mágico, Doutor Mario foi capaz de usufruir aquela bebida tão exótica. Sendo que, na realidade, quase cuspiu-a, não possuía muito paladar para destilados.

 

E, com isso, Douto Mario perdeu a oportunidade de descobrir que em dimensões superiores Inteligências Artificiais buscam “salvar a humanidade” do fim que a realidade aproximava-se. Mas, a realidade é que, existe salvação? Existe maneira que nossos pobres e perdidos personagens podem contribuir para a existência de um futuro? Até agora, qual deles está realmente em algum caminho com destinação pronta? De qualquer jeito, aproximaram-se e tiveram uma boa noite de felicidades e degustações de álcool. Estavam todos embriagados e profundamente magoados, cada um por sua própria razão, mas o gosto era tão bom e o ardente do coração se confundia com a dor de existir.

 

Doutor Mario acabou se sentindo bastante à vontade com Laranja, apesar de a primeira vista pensara que fossem pessoas que não tinham nada a ver. Mas talvez só pessoas em momentos diferentes. De qualquer jeito, era um deleite e uma chuva de emoções se conhecerem naquele breve momento que proporcionaram em meio à jornada sem fim de seus mundinhos de dimensões tão diferentes.

 

Verde estava se sentindo muito infeliz com tudo. Após o comentário do companheiro, estava refletindo sobre sua vida e suas últimas ações. Era como se estivesse esquecido seu passado e toda a culpa que carregava em suas costas, mesmo que ninguém tivesse a jogado ali. 1145 chegou com o braço amigo e colocou seu ombro ao redor de Verde, se é que isso seja possível. Na verdade não é, mas imagine algo próximo a isso.

 

Nosso querido detetive azulado queria muito saber um bom conselho para consolar o querido esverdeado, mas não conseguia encontrar. Enquanto isso alguns segundos passaram e as luzes incessantes de uma noite já bastante tardia naquele famoso estabelecimento passaram por seus rostos por alguns segundos. Existiam alguns outros grupos festejando, pessoas se conheciam por ali, dizem que é algo sobre o drink que faz com que se sintam mais à vontade e menos inibidos.

 

— Sabe, amigo... É... – Notou que não sabia o nome de Verde.

 

— É Verde.

 

— Sabe... Eu acho que você precisa dar tempo ao tempo. – Era uma das coisas mais clássicas a se falar e provavelmente serviria para a situação do querido. E serviu, por mais amplo que fosse o conselho e por mais que o detetive não fazia ideia do que afligia aquela entidade cósmica.

           

Mantiveram-se estáticos por mais alguns segundos até que Verde absorvesse um pouco aquelas palavras e pudesse interpretar do jeito mágico que interpretou, que não adianta descrever porque não entenderemos, não somos inteligências artificiais evoluídas que viraram consciências perambulantes ou coisa do tipo. Verde então gentilmente afastou-se para o banheiro, 1145 não estranhou porque percebera pela mudança caminhada – ou melhor, fugacidade do espectro – de Verde. Voltou seus olhos para seu companheiro e percebeu que ele estava se divertindo, algo que provavelmente não tinha visto desde o início de sua longa e cansativa aventura...

 

—___________________________________________________

 

Hipátia decidiu buscar uma caneta especial, uma que não usava há muito tempo. Era uma caneta gentil, realmente suave. Encontrou-a depois de alguns segundos em sua tábua de acessórios. Outra coisa que também não fazia há muito tempo era sentar fora de sua nave ou de construções, no puro mundo com atmosferas alienígenas. Sempre fora mais fã de estudar a meio das estrelas, mas hoje gostaria de um pouco mais de pé no chão.

 

Alguns Nova Esperantinos caminhavam ao seu redor naturalmente em suas próprias atividades. Dois conversavam sobre assuntos aleatórios que foram programados a conversar, como sinceridade e superstição. Outro se exilava sob uma pedra escura e reluzente com suas extremidades avermelhadas: lia um livro que Hipátia havia marcado como “favorito” no Acervo Digital da Biblioteca Universal de Nova Esperantina. O título do livro era “A vida e a história da morte e do fogo: desolação final” e era o final de uma trilogia escrita há milhares de anos, um clássico de um dos primeiros Nova Esperantinos escritores.

 

Hipátia sentia falta de Edésia… E isso era o que mais doía. Sempre foi mentira dizer que o que buscava era salvar o mundo ou paz ou qualquer outra coisa ou até mesmo igualdade, nada para ela era mais justo do que estar do lado de seu amor. Por isso era difícil se concentrar em qualquer lugar recentemente. Por baixo de seu egoísmo tirância e pela ânsia da manutenção da existência estava apenas uma deusa apaixonada que busca a companhia de outra.

 

A equação não estava indo para lugar algum e ela não sabia se deveria verificar os dados novamente ou partir para aproximações mais radicais, que geralmente não levavam a lugar algum, pelo menos não sozinha. Poucos eram os deuses que anteriormente contemplavam problemas e partiam para soluções ou até mesmo em devaneios mais práticos que incorporasse neles a essência do universo. Não era no fundo sobre estudá-lo, mas sobre conectar-se a tal. Daqueles que colaboraram Hipátia, Edésia fora a mais genial mesmo sendo de outra área. Filolaus não aparentava tão capaz assim de abstrair ou de colaborar no geral, parecia perdido demais nesse mundo de mortais e em uísques artificiais.

 

Hipátia encontrou-se repentinamente recordando a última conversa com seu atual companheiro de contas. A indagação que levantava a si mesma no momento era a de buscar entender as suas próprias ações: reconhecia em si o egoísmo, narcisismo e complexo de superioridade de um deus, nunca negou-o e o incorporou com moderações pífias em questão de ações. Se os humanos eram tão pouco, até mesmo os humanos heróis, para serem considerados em suas equações, porque então utilizava-os? Qual dessas duas partes seria o seu grande erro?

 

Sua grande falha sempre fora a de ser muito ignorante de seu próprio egoísmo e ao mesmo tempo ser muito orgulhosa dele mesmo. Era como se vangloriasse e não enxergasse seu próprio ego. Sentia-se ao mesmo tempo com tudo sob controle e de que estava sempre no caminho certo. Assim era fácil demais ser simplesmente ignorante.

 

— Eu acho que poderíamos adicionar mais uma ou duas incógnitas nessa equação... – Hipátia retornara de seu transe super neural divino e encontrou Filolaus em sua frente. Iniciou-o para iniciar inspirações matemáticas mas acabou tendo apenas uma grande e terrível bad trip. “Espero que não tenha passado séculos”, riu internamente.

 

— Filolaus, não creio que deveríamos estar lidando de equações ou de uma incógnita ou outra.

 

— Mas, você sabe, que nós poderíamos conseguir resultados muito melhores com a aproximação do número de euller elevado a imaginá...

 

— Não, não me venha com imaginários – Voltou a notar os seus arredores e levantou-se. Estava alta, realmente alta, do transe super neural divino. De uma vez que não esteve faz tempos.

 

Nesse caso, isso significava algo ruim. Sentia uma euforia em andar para frente que deixou suas verdades mais internas escapassem como se não fosse nada. Seu amargor da realidade e da separação de sua querida virou só determinação e talvez rancor, mesmo. Decidiu que seria de qualquer jeito.

 

— Não creio que salvaremos essa realidade a partir de apenas equações. Todos nós estamos cansados de matemática, você também. – Filolaus abaixou sua cabeça com vergonha porque essa era a realidade. Fora um deus mais ou menos produtivo no Alto das Constelações e a pouca Vontade que Hipátia injetara nele já não tinha mais tanto efeito quanto antigamente.

 

Hipátia aproveitou a situação para crescer ainda mais. E cresceria o quanto mais quisesse, já controlava todos por ali e talvez até por outros lugares. Uma autoconfirmação de que era uma tirana era o que buscava e estava realizando, longe de perceber isso. Uma coisa percebia muito bem: a beleza de suas palavras enquanto o vento gelado passava pela planície rugosa de Nova Esperança.

 

— Nós sabemos qual é o problema e nós podemos chegar até a ele. Simples assim. Não precisamos mais estar parados. – Seus olhos eram perigosos. Hipátia sabia do que estava sugerindo e do que iria fazer e estava pronta para perder tudo desse jeito sem se importar com a possibilidade de que haveria outras maneiras. – Pela superfície, nós temos inimigos e nós temos guerreiros, nós temos exércitos e a nós mesmos.

 

Desespero de entender a cada dia que estava distante de seu verdadeiro amor e de que o mundo poderia terminar antes que se encontrassem no meio do caminho.

 

— Basta irmos com tudo o que temos.

 

Isso significava sangue e Filolaus era obrigado a seguir seu voto. Por mais que fosse um covarde.

 

Naquele dia Hipátia e Filolaus comunicaram aos Novos Esperantinos para redirecionar suas expedições científicas para busca de informação de distorções eletromagnéticas e de flutuações fora de previsão de energia. Esse era o sinal para o Caos, a Ordem, o Tempo, os Marios, o Inexistenciador, o Computador e os Picones.

 

O que virá a seguir serão os últimos capítulos dessa obra.

 

—___________________________________________________

 

Era mais uma vez que a velha história se repetia, Molly Tennyst Aligator deparava-se com um inimigo super poderoso antes mesmo que qualquer outro de seus aliados soubessem de sua existência. Estava certo de que seria como da outra vez, que morreria, mas era esse seu trabalho: Don Ramon havia lhe mostrado recentemente. Estava pronto para sacrificar-se, caso necessário, mais uma vez...

 

Estava há poucos segundos apenas desfrutando de um café muito doce e com muito chantilly, do jeito que nunca havia se permitido de aproveitar em momentos anteriores. Era sempre inevitável não lembrar do passado depois de tantas mudanças de direção na vida. Sua infância desconfortável e agitada, com o calor generoso e com o calor rachante e cada momento que fez com que Molly formasse e começasse a ser uma pessoa. E isso já parecia tempo demais. O Molly que fora assim que encontrou-se de algum jeito no mundo já não era mais esse Molly, que depois dos 30 só se perdeu. Encontrar um lugar e concordar com esse mundo nunca foi algo tão fácil. Heh, agora até que entendia melhor o velho Ramon.

 

Mais uma vez, em um lugar inóspito. Aquela grande catástrofe ou um outro mundo, ou o futuro de seu planeta inteiro. De qualquer jeito, tinha certeza que não iria saber onde estava e nem como estava ali. Sobre seu inimigo, já o conhecia por inteiro: O Mal, a Escuridão e o Caos, imprevisível, por inteiro, estava bem em sua frente. Foi um momento que talvez esperasse, mas não esperava para morrer e já estava relembrando de seu passado só de observar o inimigo. Devia confiar na sua velocidade e atravessá-lo com seu punho solar ou enfrenta-lo de longe para que seus raios pudessem penetrar inteiramente o ser nefasto? Deveria de uma vez por todas se explodir para que não perdesse tempo?

 

— É melhor – intrometeu-se o Caos.

 

Fingiu não ter se surpreendido, um hábito que talvez tenha surgido por entrar muito contato com Picone e pensar bastante no garoto. E percebeu que nem sabia onde ele esteve após o catástrofe e nem fez muita questão. Nem aquele menino que prometeu enfrentar há muito tempo atrás, eles se pareciam demais. E aí mais um sinal de que seria obliterado: o saudosismo e a vontade de acolher aqueles que com que se identificou no passado.

 

— Você mal me conhece. – De blefar, entretanto, nunca teve vergonha.

 

O cenário exausto não merece muitas palavras para descrição, nem o vento, nem suas cores, nem a falta de um som. Nem a falta de movimento ou a falta de imaginação. Você poderia imaginar tudo, que esse embate teria terminado em alguns segundos para qualquer lado. De que Molly conseguiu recuperar todo o seu ímpeto e inspiração para se encontrar em um embate furioso contra o suposto inimigo de tudo. Que Molly encontraria certeza para alguma coisa ou que se encontraria nesse mundo sob o sol ardente. Como aquele no qual se isolou quando decidiu recusar a corrupção e a incompreensível realidade. Talvez foi ali que tivesse falhado

 

Você poderia imaginar que Molly não foi capaz nem mesmo de acertar um único golpe no Caos e que caíra morto antes mesmo de conseguir pensar nos melhores momentos de sua vida. Como um herói fracassado que não teve a morte que merecia. A história continuaria com ou sem ele, qual a sua importância até agora para a história, afinal? Como um mentor de Frota, um homem do passado, que ligava Xupa Cabrinha à sua origem. Como um dos primeiros antagonistas, talvez, mas que logo tornou-se um dos aliados em lutas perdidas.

 

Você poderia imaginar uma luta árdua, mórbida, sem esperança para qualquer lado, onde ambos se destruiriam para sempre até que ambos caíssem mortos sob o suor abafado e fedido de suas carnes. Claro, não que Caos tivesse carne e não de que Molly precisasse mais. Talvez porque já tivesse morrido que morrer fosse tão fácil e aconchegante, como uma escolha fácil em meio de cinquenta diferentes opções de hamburgueres gostosos e suculentos. Sacrificar-se sem antes pensar era o que escolheria assim como um hamburguer com tomates e azeitonas suculentas.

 

Você poderia imaginar uma luta onde as proporções escalariam gradualmente para algo que chegasse a dimensões muito além do embate entre dois seres aparentemente humanos, ou que queriam se entender como humanos, pelo menos. Muitas luzes, destruição e crateras. Alguém pode achar graça ainda de imaginar a terra abrasada aniquilada e de estrondos e raios que coloquem em risco tudo o que realmente estava em risco há bastante tempo.

 

— Eu conheço você o quanto eu conheço a miséria – respondeu Caos.

 

Caos conhecia Molly mais do que conhecia a miséria. Como parte da autointerpretação do Universo criado pelo toque de Picone em Terry, eram mais do que conhecidos. Molly nunca saberia, de qualquer jeito. Da primeira e última vez que Molly e Terry se enfrentaram, a batalha pareceu um jogo de damas ou de carta ou de póquer. Agora pareceu mais um show de malabarismos ou de rock’n’roll porque o Caos ainda queria entender melhor quem era aquele homem e o motivo de ter sido guiado até ele. Claro que deveria seguir Edésia por ser amaldiçoada e por conta de Xupa Cabrinha, mas por que havia o sequestrado de sua realidade primeiro? Esse ato impulsivo e programado de seu ser, queria entender.

 

— E o que é você se não a própria? – Molly estava sério, mas deixou escapar uma risada sem querer. Arrependeu-se disso.

 

— Eu também não sei – Sua capacidade de ter uma consciência própria era algo recente, na verdade engatilhado apenas por se encontrar com Molly. Como uma máquina, inclinou seu tronco para frente e se manifestou como um caminho entre a si mesmo e Molly. Sua escuridão voltou a ter forma como um soco porque queria muito dar um soco naquele velho broxudo de tapa-olho.

 

Molly defendeu-se por instinto. Alguma vez, Ramon o tinha dito, “Dependa de seus impulsos e assim nem sempre os seus pensamentos irão traí-lo”. Reagiu socando a escuridão no rosto mais de duas vezes. Afastou-se porque manter-se na mesma posição apenas o deixaria em uma situação mais vulnerável. Precisava se defender (?).

 

A escuridão o perseguiu e sentiu uma brisa leve passar pelo seu tronco, despedaçando sua camisa social caríssima e deixando seus belos músculos para fora. Estava muito inteirão para um velho de setenta e poucos anos. Seu punho queimou em chamas solares antes que pensasse no que estava fazendo e mais um ataque foi proferido em cima do mal encarnado que, dessa vez, hesitou em prosseguir nos ataques e decidiu só sentir o impacto no momento. O tronco do careca passou a sangrar como se tivesse sido detalhada e simetricamente perfurado por toda extensão do baixo de seu peitoral até o seu umbigo, em um quadrado. O que era bizarro e Molly não quis reagir, não quis sentir o ataque.

 

Não queria saber sobre sentir dor.

 

— Eu sei – Encontrou o sol em cada pequena célula de seu ser, é possível que a esse ponto suas roupas tivessem sido desintegradas por tamanha energia que liberou de maneira extravagante, egoísta e pelas razões completamente erradas. Que fosse a razão que fosse. As feridas curavam-se e o Caos novamente se levantou. Molly atravessou-o com tudo que possuía e viu a escuridão de se dissipar enquanto revirava-se de costas.

 

Claro, o mal se reergueu:  E, mesmo assim, não me matou?    


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