A Realeza de Ouran escrita por Machene


Capítulo 9
Amor é Apenas Uma Palavra


Notas iniciais do capítulo

A resolução da imagem ficou ruim porque o tamanho da foto era muito grande e eu precisei encurtar, mas lembrando que eu publico todas as minhas fanfics no meu blog (link no meu perfil), então se quiserem a foto que eu editei podem pegar no marcador de Ouran.



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Cap. 9

Amor é Apenas Uma Palavra

É um novo dia ensolarado em Ouran, um sábado com o gosto festivo do fim das aulas do meio dia. O corredor do primeiro andar já está com muitos alunos ansiosos para irem embora e aproveitar o domingo. No meio deles, Mori caminha recebendo os olhares de várias donzelas, apenas matando o tempo até dar a hora de Honey acordar da soneca. De repente ele para, ouvindo um som chamativo a diversos estudantes, e reconhece imediatamente a dona da voz. Linh está cantando debaixo duma cerejeira, próxima a entrada.

O rapaz chega perto, sorrateiramente, da bela cantora e percebe que ela está de olhos fechados. Como uma estátua, Mori fica parado de pé a sua frente, vendo-a tão encantadoramente cantarolar as letras duma canção desconhecida com as pernas dobradas para a esquerda e a mão na cocha. A moça parece num outro mundo. Quando Linh, afinal, desperta, se assusta ao ver o noivo a encarando e se repreende mentalmente por não ter sentido sua enorme sombra sobre si. Ele automaticamente fica sem jeito.

– Ah, desculpe, não queria te assustar. – o jovem abaixa a cabeça e ela começa a se perguntar a razão da sua súbita depressão – Eu vou embora.

– Não! Tudo bem, você pode ficar! – ergue a mão, pedindo que pare – Eu só fui pega de surpresa. Por favor, volte. – Mori parece nervoso, mas não existem sinais de vergonha em seu rosto, mesmo depois de ele sentar a seu lado e Linh poder vê-lo de mais perto – Eu disse alguma coisa errada?

– Não. – a garota rapidamente incha as bochechas, em sua típica característica de aborrecimento, e ele sorri achando graça – É que já me disseram que eu tenho uma cara assustadora, sou antissocial, não tenho emoção e nem sou comunicativo. Estava imaginando por que você gosta de mim. – a moça olha-o surpresa e então, sentindo o coração bater mais rápido, abre um grande sorriso, virando o rosto dele para si.

– Porque eu sei que você não é nada disso. – as pupilas de Mori dilatam enquanto ela contorna o seu rosto com os dedos perdidamente – Mesmo sem a presença do Honey-kun suavizando a sua imagem, eu já sabia desde o início que você não é mal, então não tive medo de me aproximar. Por isso eu aceitei ser a sua parceira e vestir aquela fantasia do clube na semana passada. E... – Linh desce as mãos para o peito dele – Estou começando a repensar sobre o casamento.

– Está? – a respiração do rapaz começa a ficar entrecortada, como se tivesse corrido quilômetros.

– Estou. – e com apenas um sorriso, ela encosta a cabeça em seu tórax e abraça sua cintura.

Mesmo sem entender bem a situação, Mori aceita o pequeno carinho e começa a passar devagar suas mãos nos cabelos sedosos dela, se encostando à árvore sem ligar para os olhares curiosos. Na sala do clube, Honey dorme tranquilamente em um dos sofás com sua manta rosa cobrindo-o. Agarrado ao seu coelhinho e respirando devagar, ele nem percebe a porta abrindo e a sombra de alguém se prostrando sobre o estofado em frente. Uma mão rosada de menina se aproxima da sua cabeça e massageia seus fios dourados.

– Dorme como um bebê. – ela sorri, e cedendo à tentação deita-se ao lado do jovem, colando o rosto ao seu peito – Um coração quente, que palpita como um passarinho. – constata sorrindo.

Pouco depois, Haruhi anda apressada pelo corredor em direção à terceira sala de música. Próximos a uma janela, ela vê Hikaru e Aika conversando enquanto olham o leve movimento do lado de fora. Mas tem mais alguma coisa, que os faz rir. Curiosamente, a moça chega perto o suficiente pra não mostrar presença e enxergar o motivo de tanta agitação estudantil no andar debaixo, percebendo Mori e Linh adormecidos. Com um sorriso, a heroína se afasta discretamente e vai abrir a porta do clube, mas ela já está aberta.

– Ué, que estranho. Será que alguém se esqueceu de fechar? – Haruhi pensa um pouco, porém logo dá de ombros – Tanto faz. Vamos ver... Eu tenho certeza de que deixei meu caderno de anotações aqui. Aonde ele pode estar? – vasculhando os arredores, ela encontra o que procura na mesinha perto do sofá ocupado e sorri novamente ao ver Honey e Maiko abraçados com o coelhinho no meio – Parece uma família, com seu filho no meio. – ri, cobrindo-os até os ombros com a manta rosa – Bom descanso. – sussurra.

Haruhi sai em seguida, apressando os passos para se encontrar com Tamaki e, como prometera antes de começarem as aulas daquela manhã, fazer-lhe companhia em casa. O que a pobre heroína não sabia era que eles não teriam paz com a presença de seus pais, cientes da sua visita aos Suou e prontos para quebrar qualquer sinal do começo de seu namoro. Hikaru e Aika já não estão mais junto à janela e sim na entrada da Academia, entediados. Isso começa a sumir quando eles vêem os irmãos vindo em sua direção.

– O que a Aiko está fazendo? Ela ia me encontrar pra irmos ver as lojas do centro!

– Talvez o Kaoru estivesse com ela esse tempo todo. – a noiva faz uma careta irritada, assustando-o.

– Aiko! – a duplicata caçula a encara assustada, mas percebendo quem a chamou apenas sorri – Onde você foi parar? Eu fiquei louca atrás de você, te esperei por horas!

– Desculpe maninha, eu me esqueci de te encontrar.

– Esqueceu? Como assim esqueceu? Quer dizer que... Você se esqueceu de mim, da sua irmã?

– Não! Eu estava com o Kaoru e o tempo passou sem que eu nem percebesse. Mas o Hikaru não te fez companhia? – a mais velha olha-a incredulamente, voltando para a careta.

– Fez. Aliás, muito obrigada. – o rapaz abre a boca com menção de falar, mas não consegue – E se não tivesse feito, eu teria ficado de pé aqui na calçada, sozinha, até cansar de esperar o meu estômago parar de roncar pela fome que estou sentindo!

– Já pedi desculpa, poxa! – Aika bufa e sai caminhando aborrecida – Aika, espera aí! Não fica brava! – Aiko sai correndo atrás dela, parando apenas para acenar aos gêmeos – Tchau meninos! A gente se fala amanhã, Kaoru! – ele acena de volta com um grande sorriso e recebe um olhar suspeito do irmão.

– O que vocês estavam fazendo até agora? A aula já terminou tem muito tempo.

– Só estávamos conversando! Por que você tá fazendo essa cara?

– Por nada. – o mais velho observa as gêmeas dobrarem a rua – Elas não deviam esperar a carona? – eles se entreolham e suas pupilas se arregalam em nervosismo – Kaoru, se não pararmos as duas agora nós vamos morrer! Os irmãos delas vão fazer picadinho da gente!

– Vai atrás delas que eu ligo para o celular da Aiko! – Hikaru começa a correr pela calçada, e aí volta.

– Eu não posso ir atrás delas! A Linh tá dormindo debaixo de uma cerejeira com o Mori!

– Está? – o mais novo para de discar os números – Ora, então eles estão se dando bem?

– ISSO NÃO IMPORTA! Todos os dias os irmãos delas vêm busca-las com o irmãozinho da Linh, o Sora! Se eles chegarem aqui e virem que as duas foram embora sem ela, nós vamos apanhar duas vezes!

– AI MEU DEUS, VOCÊ TEM RAZÃO! – a força que Kaoru põe no celular é tão grande que quase quebra – Rápido, vai acordar os dois antes de o carro chegar e eu corro atrás da Aika e da Aiko!

Assim os Hitachiin se dividem e por um milagre, chamado trânsito, conseguem cumprir suas tarefas antes dos irmãos das moças aparecerem. No dia seguinte, os raios de sol atingem a janela mais alta de uma residência ampla no centro de um bairro chique da localidade. É o quarto das gêmeas. A casa vazia, quase sem sinal de vida a não ser por duas almas no andar debaixo do duplex, caminhando pela cozinha, recebe a suave batida na porta típica da delicadeza de uma visita durante um domingo. Uma moça vai atender.

– Já vai, já vai! – ela avisa e logo sorri – Ah, são vocês meninos?! Bom dia.

– Bom dia. – os gêmeos sorriem pra morena parada na porta, de blusa regata e short curto rasgado.

– Edissa nee-chan, a Aiko está em casa? – Kaoru pergunta na frente.

– Tá sim, mas ela e Aika estão dormindo ainda. Em plenas oito horas dum dia tão lindo, preguiçosas! – resmunga para si mesma, fazendo os dois rirem – Vamos lá, entrem aí.

– Obrigado. – novamente ambos respondem e passam por ela, prontos para deixar os sapatos junto ao tapete da frente, mas param quando não veem nenhum calçado.

– Ah, vocês não precisam ficar descalços, mas se quiserem usar as meias tudo bem. Nós não temos os costumes orientais, então... – a moça tenta explicar, indo na direção do namorado.

– E aí garotos! – o irmão mais novo das Aoki os cumprimenta perto do balcão americano na cozinha – O que vieram fazer aqui? Pensei que dormissem tanto quanto as garotas no domingo.

– Você também podia estar dormindo até agora Hiro-san, por que não está?

– Ah, você sabe... É... Desculpa, qual dos gêmeos você é mesmo?

– Hikaru. – ele responde com um suspiro, fazendo sua duplicata rir pelo canto dos lábios.

– Ok. Desculpe, eu vou me acostumar melhor quando vir vocês mais do que uma vez por dia.

– Nós entendemos. – Kaoru sorri – Nossos encontros são tão rápidos que fica difícil nos reconhecer.

– Mas é questão de prática. Enfim... Depois que eu comecei a faculdade não consigo mais acordar tão tarde nos fins-de-semana. Além disso, quando Edissa e eu começamos a vir tomar conta das meninas pelas viagens constantes dos nossos pais, até mesmo pra fazer companhia nos dias de trabalho tardio, a cafeína é nossa maior amiga e não a cama! – os irmãos riem – Enfim, o que vocês querem?

– Eu vim me encontrar com Aiko. A gente tinha marcado de sair hoje.

– E você? – ele aponta com uma colher melada de molho de tomate ao mais velho.

– Eu só vim arrastado porque a senhorita aqui não queria vir sozinha.

– Não fale assim Hikaru! Você também queria ver a Aika, que eu sei. – diante o rubor deles, o casal se entreolha e ambos sorriem maliciosamente.

– Sabe ursinho, eu acho que anda acontecendo mais entre esses quatro do que as garotas têm contado.

– Pois é minha vida... – Hiroki sorri assustadoramente desta vez, pegando a enorme faca de cozinha e limpando no avental azul – Seria uma pena precisar castrá-los antes do casamento.

– NÃO ACONTECEU NADA! – eles se apressam em dizer, abanando nervosamente as mãos.

– Então tudo bem. – o rapaz crava a ponta do objeto na tábua de carne sobre a pia – Minha vida, você vai chamar as meninas? Elas não gostam quando eu as acordo.

– Também, você pula em cima das coitadinhas e começa a abraça-las! Qualquer um se irritaria!

– Você não se irrita quando eu faço isso contigo de manhã. – o casal compartilha outro sorriso repleto de malícia, então os gêmeos fingem vomitar e os fazem rir – Ok, eu dou permissão pra vocês subirem, mas se tocarem nas minhas irmãs com segundas intenções... – ele aponta para a faca e os dois concordam com acenos de cabeça, fazendo Edissa rir.

– Pra chegarem ao quarto delas vocês precisam sair aqui pela porta dos fundos da cozinha. Ela dá no jardim e é bem do lado fica a escada que leva a sacada. Durante a noite as duas costumam deixar a porta aberta pra entrar vento, então vocês não devem ter problema em entrar.

– Tudo bem. – os gêmeos respondem, correndo pelo caminho designado até pararem perto da porta da sacada pra recuperar o fôlego pelo súbito susto.

– Aquele cara é doido! Ele é completamente diferente do que aparenta na frente dos outros!

– Sim Hikaru, mas se trata das irmãs dele, né?! E não é tão diferente assim.

– Pelo menos com a namorada dele. Não quero nem ver como os outros dois são em casa.

– Bom, eles só têm um ano de diferença cada um. Agora que o Hiro nii-chan fez dezenove, então vai levar um tempo ainda até ficar tão gigante quanto o Aki nii-san. É até engraçado, porque o Eiki onii-tan não aparenta ser violento, mas tenho certeza de que aqueles músculos não servem apenas de enfeite!

– Espera um pouco, desde quando você ficou tão íntimo dos Aoki pra começar a chamar os irmãos das gêmeas do mesmo jeito que elas? E até a Edissa-san você tratou com intimidade!

– Ora, e por que não? Eles não vão ser nossos cunhados? E elas também.

– Quer dizer que você já aceitou essa situação? Nós não já tínhamos concordado em fazer nossos pais desistirem? – Kaoru abre a boca, sem conseguir responder, e fica ereto ao mesmo tempo em que o irmão – Você... Quer casar com Aiko? – o mais novo morde o lábio inferior, porém antes de responder eles escutam um som vindo do quarto e se aproximam da porta já aberta – Você olha primeiro.

– Ficou maluco? Nós precisamos ir com calma! E se elas estiverem trocando de roupa?

– Aqueles dois lá embaixo disseram que elas nem acordadas estavam! – os dois ouvem outro som e se esgueiram devagar para dentro do cômodo, encontrando as gêmeas dormindo viradas uma para a outra, de mãos entrelaçadas e com as testas coladas.

– Acho que elas derrubaram os seus dois despertadores. – Kaoru ri baixinho ao ver os objetos no pé da cama, e por alguns segundos os irmãos ficam deslumbrados com a serenidade das jovens – Nós...

– Devíamos acordá-las. – Hikaru concorda aos sussurros, engolindo em seco assim como o mais novo – É... Você primeiro. – a duplicata o olha severamente – Ok, ok, vamos agir juntos.

– E como devemos fazer isso? Hiro nii-chan disse que se tocarmos nelas morremos!

– Se tocarmos nelas com “segundas intenções”. – corrige o mais velho – E nós não vamos fazer isso.

– Eu sei que pelo menos eu não vou. – Hikaru arregala os olhos.

– Está me chamando de pervertido? Você é quem fica grudado na Aiko o tempo todo!

– Nós temos gostos parecidos, isso é algum pecado por acaso?

– Depende do ponto de vista... Você já disse pros irmãos dela o que comprou de presente?

– Cala a boca Hikaru! Você sabe que ninguém pode saber disso!

– Jura? – os dois olham assustados para trás e congelam ao ver Aika sorrindo de ponta a ponta das orelhas, apoiando o cotovelo no joelho da perna esquerda levantada para sustentar o queixo com a mão, e a irmã um tanto envergonhada se apoiando em seus ombros – Então Kaoru, conte-nos mais do seu presente.

– Ah... Você ouviu mal, o Hikaru não quis dizer “presente”!

– É sim, eu disse... Pente! Foi isso, o Kaoru comprou um pente!

– Um pente? É mesmo? – a noiva o encara com um sorriso descrente – E o que nossos irmãos têm a ver com esse “pente”, que ninguém pode saber que foi comprado?

– É que... É um pente de cabelo especial, muito caro, que o Kaoru comprou pra... É...

– Na verdade são três pentes, um pra cada uma das suas cunhadas! – o gêmeo sorri nervoso – Sabe, é um agradecimento pelo tempo que elas passaram com a gente.

– É verdade, as nossas irmãs têm passado muito tempo com eles. – Aiko relembra – Elas conheceram a casa deles até mesmo antes da gente. – diz à irmã.

– O que vocês tanto conversam nessas tardes de reunião, heim? – a mais velha questiona desconfiada.

– Nada demais sabe, falamos de... Vocês. – Hikaru abana a mão em frente ao rosto – Mas coisas boas, não precisam se preocupar! É só pra matar o tempo.

– Claro. – Aika finge acreditar – Tomara que não tenham mostrado fotos antigas nossas.

– Nada vergonhoso a esse ponto, então... Espera aí! Elas têm fotos de vocês quando crianças?

– Sim, um álbum de cópias que os nossos irmãos fizeram pra elas. – a caçula balança a cabeça – Esses seis são louquinhos pela gente. Mas não podemos culpa-los por sermos tão lindas! – as duas riem.

– Então, o que vieram fazer no nosso quarto? O nii-chan sabe que vocês subiram?

– Sim Aika, ele sabe! – Kaoru garante – Na verdade, eu estava esperando encontrar a Aiko pra gente sair. Nós íamos ver as lojas do centro, você se lembra?

– Ai não, eu esqueci completamente! Desculpa Kaoru! Espera um pouquinho que eu me arrumo e...

– Espera aí Aiko, você disse que ia ver as lojas comigo! Só não fomos ontem porque estava tarde, mas a gente combinou de ir hoje! – a duplicata lança um olhar de desculpas facilmente reconhecido – Tá então, vocês podem ir que eu fico aqui com o nii-chan e a nee-chan.

– Ah Aika, não vou me divertir sabendo que você está chateada!

– Eu posso ficar com ela. – Hikaru diz simplesmente – Graças ao Kaoru eu levantei da cama cedo, e, além disso, não tenho nada pra fazer mesmo. Eu fico com a Aika.

– Então está dizendo que eu só sirvo pra matar o tempo?

– Se não quer a minha companhia é só dizer e eu vou embora também!

– Nós podemos ir juntos. – o mais novo sugere um tanto assustado pela repentina discussão – Certo?

– Não, tudo bem. Vou me sentir mal se ficar segurando vela.

– Aika! – a irmã cora enquanto a outra sorri de leve, levantando-se e deixando à mostra sua camisola rosa quase transparente de alças finas, que faz par com a verde da caçula.

– Eu vou me trocar na frente. Hikaru, se você quiser ficar espere lá embaixo, onde é seguro. – ela bate a porta do banheiro, em frente à cama.

– Qual a definição dela de “seguro”? – ele pergunta, sentindo a boca salivar repentinamente – Agora mesmo é que o Hiro-san vai me matar com aquela faca enorme!

– Do que está falando? – Aiko pende a cabeça para o lado, sem se dar conta de que uma alça da roupa caiu e atiçando sem perceber os sentidos do noivo.

– Eu acho que eu vou morrer também. – sussurra ao gêmeo, igualmente corado – Então tá Aiko, nós vamos esperar na sala enquanto vocês se arrumam, certo?! Até logo! – Kaoru bate a porta com tanta força e velocidade que se surpreende por não ter prendido os dedos.

– Que barulho foi esse aí em cima? – eles escutam Hiroki subindo as escadas.

– Nós vamos morrer! – os dois se abraçam assustados, vendo a sombra do rapaz se aproximando com uma faca de cozinha numa das mãos.

Enquanto isso, na casa dos Ootori, Kyoya está em seu quarto de frente para o computador, como de costume. Apenas sua irmã está presente, assim como o igualmente costumeiro conjunto de empregados. A campainha toca e a moça logo corre pra receber a visita, surpreendendo-se ao ver uma bela jovem na porta dispensando o motorista com a limusine preta do outro lado do portão do jardim.

– Sakurai-san, é um grande prazer conhecê-la finalmente! Por favor, entre.

– Obrigada. – a garota passa por ela, esperando-a fechar a porta – Você deve ser a irmã de Kyoya.

– Fuyumi. Eu já tinha visto fotos suas e das suas amigas nos passeios que fizeram com os anfitriões. Foi Tamaki-san quem trouxe. Kyoya-san normalmente não gosta disso, mas ele parece mais feliz agora.

– Verdade? – Suzu sorri, ainda mantendo as mãos juntas e uma pose ereta – Ele está?

– Ah sim, eu vou chama-lo! Por favor, fique à vontade. O sofá é logo ali. – ela aponta para a direita.

– Obrigada. – durante o meio tempo em que o noivo não desce, a moça começa a analisar com os olhos os arredores do interior da mansão, vendo alguns retratos sérios de família e ao longe os criados fazendo as suas tarefas – Que lugar macabro... Não me admira Kyoya não querer voltar depois da escola.

– Espero que não esteja analisando as coisas enquanto observa de novo. – ela levanta do sofá ao notar o rapaz de pé na entrada da sala, sorrindo sarcasticamente como sempre – O que estava sussurrando?

– Só dizia a mim mesma que as gêmeas gostariam de explorar a casa para tentar encontrar os caixões dos vampiros que devem se esconder aqui dentro. A menos que eles estejam confortavelmente acomodados nos quartos de hóspedes. – ele ri, arrumando os óculos sobre o nariz.

– Engraçado. – pausa, pedindo com um aceno de mão que ela volte a sentar enquanto se acomoda na poltrona em frente, apoiando uma perna sobre a outra – Não esperava vê-la aqui hoje.

– Eu mesma não esperava vir aqui hoje, talvez em momento algum, mas meus pais insistiram. Como você deve saber, as meninas e eu costumamos comemorar datas importantes alternadamente, entre nossas casas, e assim é a vez da minha família fazer a festa de aniversário das gêmeas.

– Ah sim, elas estarão aniversariando por esses dias, certo?! Eu soube que o presente dos gêmeos é de grande originalidade e foi escolhido cuidadosamente por Kaoru. Na verdade, eles estavam planejando uma visita à Aika e Aiko ainda hoje, então já devem estar lá.

– É mesmo? Achei que eles estivessem tensos desde o incidente na praia.

– “Incidente”? Aconteceu alguma coisa que eu não saiba?

– Pelo visto sim. – Suzu segura uma risada – Eu conversei com as meninas durante a nossa primeira aparição no clube como anfitriãs oficiais, e enquanto vestíamos as fantasias Aika me confessou que chegou a provocar Hikaru com algumas, digamos, investidas e palavras de duplo sentido. Aiko sabia de tudo e sua mentezinha diabólica logo começou a trabalhar para ajudar a irmã a continuar com essa provocação.

– Então por isso as duas pediram por eles naquele dia no clube?

– Exato. – os dois riem – Eu realmente não sei o que fazer com essas duas crianças!

– Você sempre age como a irmã mais velha delas, não é?! – a moça sorri de banda, fechando os olhos enquanto Kyoya une as mãos em frente ao rosto – Mas mesmo sendo uma tutora responsável por fora, não é desse jeito que você parece por dentro. O que você faz durante o tempo livre? Quais livros você gosta de ler? – ele pausa, sorrindo ao ver a noiva franzindo o cenho – Por acaso existe alguma coisa no seu passado que ninguém possa saber, nem mesmo eu?

– Principalmente você. – ela responde rapidamente, mantendo a pose ereta e alisando a saia antes das mãos voltarem a se juntar – Vamos voltar ao assunto inicial... Eu vim aqui convidá-lo formalmente para a festa surpresa de aniversário das irmãs Aoki. Como o nome sugere, nós estamos tentando manter todos os preparativos secretos por enquanto, especialmente porque temos certeza de que elas pretendem bisbilhotar. Por esse motivo mesmo eu pedi aos gêmeos que fossem visita-las hoje.

– Então a ideia foi sua? Estava me parecendo surpresa quando contei isso.

– Bem, mesmo tendo pedido a ajuda deles eu já tinha preparado um plano b para o caso de desistirem.

– Sei... E os preparativos da festa estão correndo bem até agora?

– Perfeitamente. Ah sim, Maiko mandou um convite especial. Ela entregou um para cada convidado, e sabendo que eu vinha aqui me deu o seu. – Suzu abre a pequena bolsa pendurada sobre o ombro direito e retira um envelope azul, andando até o noivo ao mesmo tempo em que ele levanta para recebê-lo.

– Talvez seja apenas imaginação da minha parte, mas todas vocês possuem limusines, sendo de cores diferentes? – a jovem sorri, vendo-o observar o convite.

– Sim. O carro azul que vocês viram quando nos encontramos na escola pela primeira vez é da Maiko e o lilás, que todo dia aparece com os irmãos Aoki e o pequeno Sora, é das gêmeas. O meu é aquele preto na frente do seu portão. – o rapaz espia pela janela e finalmente percebe a limusine parada na entrada – Linh não se sente a vontade com um motorista ou qualquer coisa, nas palavras dela, “tão extravagante”, e é por isso que ela e o irmãozinho estão sempre pegando carona com Aika e Aiko.

Kyoya resmunga em resposta e puxa do envelope um cartão aparentemente normal de aniversário, a não ser por um conteúdo oculto dentro. Ele faz uma pausa dramática antes de abri-lo e ainda pensa duas vezes na hora de apertar a moeda em alto-relevo com seu polegar. A moeda incha até abrir um pergaminho com a mensagem “parabéns, você foi convidado” e o gato branco do outro lado do convite levanta a pata e mia. Suzu tenta conter a vontade de rir pela inexpressividade do noivo mordendo o indicador.

– Pelo menos é um convite menos extravagante do que o do Natal no ano passado.

– De fato. – ela deixa sair uma risada abafada – Maiko inova os seus convites anualmente, então essa próxima surpresa só será no ano que vem.

– Que bom. – ele deixa o envelope sobre a mesinha ao lado, se deixando rir também – Então... A sua visita termina por aqui? – Suzu dá de ombros.

– Já me demorei demais. Não posso deixar meu pobre chofer torrando neste sol.

– Neste caso, por que não o chama para tomar um café ou um chá e fica mais um pouco?

– Está me convidando para passar esta tarde com você? – o rapaz sorri de canto, sem responder – E a sua irmã não se importaria com isso? Pode ser desrespeitoso permitir a entrada de uma moça e ainda mais deixa-la sozinha com o seu irmão por muito tempo.

– Parece que está tendo ideias erradas. A minha irmã parece ser a mais interessada em conhecê-la, ela mesma me disse isso enquanto subia as escadas correndo para me avisar da sua chegada, então de nenhum jeito nós conseguiremos ficar sozinhos. – o sorriso de Kyoya aumenta – Está decepcionada?

– Não seja impertinente senhor Ootori. Ou devo chama-lo de “senhor demoníaco do pavio curto”? – quando o rapaz cerra os olhos ela precisa deter uma nova risada.

– Acho que estou precisando ter uma nova conversa com Tamaki.

– Pode até brigar com ele, mas a minha curiosidade já foi atiçada! Desde que ouvi esse apelido penso em como seria vê-lo acordando de manhã e não consigo parar de rir. – a moça se permite gargalhar e chega a pôr a mão na barriga, numa tentativa falha de se controlar.

– Quer dizer então que você quer passar a noite comigo? – Suzu para de rir no mesmo instante – É a única forma de me ver mal-humorado. – a garota sorri desafiadoramente, colocando uma mão na cintura.

– Na verdade não. Se eu quisesse, poderia provoca-lo até fazer com que perdesse a paciência.

– Oh, acha mesmo? Essa confiança toda tem alguma coisa a ver com você se achar uma pessoa ruim?

– Pois é. E acredite em mim, você não vai querer revirar o meu passado. Se fizer isso, vai descobrir as coisas mais assustadoras e vergonhosas possíveis, mas se for essa a única forma de te convencer do quanto eu posso ser má, vá em frente! – Kyoya amplia o sorriso enquanto se aproxima dela.

– Vou tomar isso como um desafio. Por que não fazemos uma aposta?

– Interessante... Está bem. Vou te deixar me fazer somente sete perguntas, uma por dia a começar de amanhã. Se você descobrir o título do meu livro favorito, a minha música favorita e meu maior medo sem pedir ajuda dos nossos amigos ou dos meus pais, eu... – Suzu percebe neste instante que seu rosto aqueceu e repreende-se mentalmente por isso, puxando ar antes de continuar – Aceito me casar com você.

O silêncio se instala por alguns segundos. A Sakurai espera qualquer reação hostil a essa oferta, mas Kyoya permanece calado e surpreso pela declaração. Para ela, consentir no casamento é desistir do orgulho e entregar-se sem ao menos resistir, como já fizera tantas vezes antes. Para ele, vê-la finalmente colocar no jogo a possibilidade de jogar-se em seus braços por livre e espontânea vontade, mesmo sendo uma aposta, é uma atitude tanto inédita quanto repentinamente prazerosa, como nota quando se vê sorrindo.

– Certo. – responde finalmente, tentando não rir da surpresa dela – Para mim está ótimo. De alguma forma eu sinto que estou ganhando mais com isso do que só a sua aprovação.

– Deixe de imaginar coisas que não existem. – Suzu vira o rosto, fazendo um bico incomum do feitio.

– Ah, vocês ainda estão aqui? – Fuyumi entra empolgada na sala – Já terminaram de conversar? Eu estava pensando em convidar a Sakurai-san para um chá. – Kyoya olha de banda para a noiva e esta sorri.

– Eu adoraria Fuyumi-san. Por favor, pode me chamar apenas de Suzu. – ela vira ao noivo, chegando perto para sussurrar sem sua futura cunhada perceber – Você tem até a semana que vem para acertar. No aniversário das gêmeas eu quero as respostas. Boa sorte, querido noivo.

– Obrigado. – ele sorri confiante, vendo a irmã se retirar para preparar o chá.

– A propósito, seu cabelo desalinhado o deixa muito mais charmoso. – a moça ri com a surpresa dele.

– Seu comportamento me intriga. Na verdade, tanto você quanto suas amigas parecem gostar de nos provocar dizendo uma coisa e fazendo completamente o contrário. Isso é preocupante. – o rapaz pega seus óculos para limpar, fechando os olhos temporariamente, e quando os recoloca a encara com um sorriso de canto – Até parece que estão se apaixonando por seus noivos.

– Paixão e amor são sentimentos semelhantes, mas diferentes, senhor Ootori.

– Oh é mesmo? E como você define o amor, senhorita Sakurai?

– Amor... – ela ri – O amor é apenas uma palavra.

Continua...


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