A Realeza de Ouran escrita por Machene


Capítulo 10
Dividir e Conquistar Sem Nunca Separar




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Cap. 10

Dividir e Conquistar Sem Nunca Separar

Passasse-se um tempo e logo chega outro fim de semana para os alunos da Academia Ouran. No dia ensolarado do domingo de aniversário das gêmeas Aoki, os convidados estão prontos para chegar à casa da anfitriã, Suzu. A bela residência dos Sakurai lota em pouco tempo, mas não é problema para o espaço, que tem o tamanho de um hectare contando com a maravilhosa área verde na entrada. Não é surpresa Kyoya chegar primeiro na festa, esperando ajudar a moça e descobrir mais detalhes sobre ela.

– O jardim é mesmo magnífico. Eu quase me senti numa fazenda quando cheguei pela primeira vez.

– Fico contente que tenha gostado. – os dois continuam sorrindo para os convidados enquanto falam, dando panfletos de informação sobre todos os pontos de entretenimento da casa – Os meus pais gostam da natureza e sempre me deram muitos animais de estimação. Como viajamos muito não podemos deixa-los a mercê de estranhos, então eles resolveram me deixar aqui com eles e alguns empregados. – o rapaz percebe certa tristeza em sua voz, mas Suzu não deixa de sorrir – Os cavalos, cães, gatos, pássaros e bichinhos em geral são em grande maioria da Maiko na verdade. A mãe de Linh nunca gostou muito de animais e talvez nem saiba que ela adotou a gata Chantilly. Como a minha casa é a segunda maior dentre todas, seguida da dos Ono e por último o duplex dos Aoki, Maiko adota alguns animais e deixa todos comigo.

– E seus pais não se importam com isso? Quer dizer, mesmo a casa sendo grande...

– Não há nenhum problema. Nenhum dos dois fica muito tempo aqui de qualquer jeito. – Kyoya fica calado por um momento até abrir um novo sorriso com uma ideia para distrai-la da conversa deprimente.

– Está muito atraente minha noiva. – Suzu sorri debochadamente – Falo sério! Você sabe que sou um homem, e eu posso muito bem usar minha força para agarrá-la se eu quiser.

– Fico feliz que finalmente você tenha notado. – o casal passa um tempo se olhando, querendo rir.

– Então vamos ver... Se você gosta da natureza eu devo presumir que a sua música favorita é um som calmo, talvez uma melodia típica do campo como o canto dos pássaros?

– Boa tentativa, senhor Ootori, mas será preciso um pouco mais de esforço. Você passou perto.

– Pelo menos estou quase conseguido as respostas para aquelas perguntas do seu teste.

– Teste? – Kyoya aproveita a pausa de recém-chegados para se aproximar mais dela – Eu não planejei um teste! Nós estamos fazendo uma aposta, o que quer dizer que você pode sair ganhando também!

– Sim, mas vai me dizer que essa não é uma ótima oportunidade para você se certificar se eu sou bom o bastante para casar com você?! – Suzu abre a boca sem conseguir dizer nada temporariamente.

– Você... Isso é um absurdo! Por que eu me daria ao trabalho de fazer isso?

– Porque talvez você me julgue diferente dos outros pretendentes que já teve. Porque ao invés de me afastar você quer verificar se eu sou digno de estar ao seu lado.

– Esse pensamento me transformaria numa mulher prepotente e egoísta.

– Sim, mas eu não me importo com isso. Você deve ter seus motivos. – novamente, a jovem fica sem saber o que responder por um tempo e então amassa os panfletos em mãos, batendo um pé no chão.

– EU NÃO ESTOU TE TESTANDO! – ela se afasta furiosamente e corre para a cozinha, tentando manter os olhos longe dos convidados ao redor, e deixa um intrigado e sorridente noivo para trás.

Horas mais tarde é a vez dos outros anfitriões chegarem acompanhados de suas noivas e as famílias. Um pouco mais relaxada, Suzu cumprimenta a todos formalmente, dando um casual abraço nas amigas, e com a oportunidade o rapaz tem chance de ter uma conversa com os amigos, servindo bebidas a todos.

– Eu estou nervoso e não gosto nada disso. Passei toda a semana tentando descobrir o título do livro e da música de preferência dela, mas não consegui nada. Como vou descobrir então qual o seu maior medo?

– Fique calmo Kyoya. – Tamaki põe a mão em seu ombro, sorrindo calorosamente – Não será por falta de tentativa que Suzu talvez desista do casamento. Tudo foi arranjado por seus pais desde o começo e você também já sabia que a ideia a desagradava, mas ela sabe o quanto tem se esforçado até agora.

– Sim. – Honey concorda – Suzu-san gosta de você, eu tenho certeza! Você não acha Takashi?

– Sim. – o grandalhão responde sem prestar muita atenção, pois seus olhos estão voltados a Linh.

– Se o casamento acabar nada te impede de começar tudo de novo. – o rei prossegue.

– O que quer dizer com isso? Acha mesmo que eu me daria ao trabalho de reafirmar o casamento com uma completa estranha? Nós não sabemos praticamente nada um do outro.

– Talvez por isso a Suzu-san está pedindo para descobrir essas três coisas sobre ela Kyo-chan. Essa de fato pode ser a forma dela de pedir que vocês dois se aproximem um do outro.

– Mas ela mesma me disse que isso não é um teste, então não deve ser.

– Ou ela deve estar tentando se convencer disso também. – o mestiço põe uma mão sobre o queixo – É provável que Suzu queira ter motivos para casar com você Kyoya, mas não consegue admitir nem para ela mesma que gosta de você. Já tem alguma ideia do que aconteceu no passado dela?

– Não tenho certeza. Ela me pediu para não perguntar nada aos seus pais nem as amigas porque iria conseguir pistas das coisas que eu devo descobrir, então só tenho feito perguntas aleatórias e frequentado a sua casa constantemente. Ainda não tive a chance de conhecer os pais dela.

– Eu também vou conhecer os pais da Mai-chan hoje. E o Takashi vai se encontrar com a família da Linh-san, não é?! – Mori franze o cenho neste instante, despertando sorrisos nos amigos.

– Não fique nervoso Mori-senpai. – Kyoya ergue sua taça – Eu tenho certeza de que gostarão de você.

– Pensando bem, vocês todos estão agindo como se já tivessem aceitado muito bem seus casamentos. – Tamaki ergue uma sobrancelha, balançando o champanhe na taça.

– Bom, eu não acho uma ideia ruim pra falar a verdade. – as bochechas do pequeno coelhinho tingem com um tom rosado e seu olhar voa direto para a noiva, rindo distraidamente entre as amigas.

– É... Não é mais uma ideia tão ruim. – o vice-presidente do Clube de Anfitriões também mira a sua pretendente e o rei se vê sobrando em cena – Mas diga-nos Tamaki, como vai com Haruhi?

– Muito bem! – o sorriso dele rapidamente se amplia enquanto devaneia – Ela é meu lindo pequeno e lindo passarinho, meu refúgio de alegria, minha bela e doce...!

– Ok, eu só perguntei casualmente como vocês estão se saindo agora que são namorados!

– Bom, nós já conversamos com a nossa família. Meus pais não tiveram problemas em aceitar e papa até se ofereceu para preparar nossa festa de casamento. – devaneia feliz.

– Não é ótimo que seus pais estejam juntos de novo Tama-chan?! – os dois loiros sorriem.

– E... O pai da Haruhi? – Kyoya cutuca, rindo entre a taça de vinho quando o amigo desanima.

– Ranka-san não aceitou muito bem. Ele tentou me bater, mas a Haruhi não deixou.

– Bem, ele ainda vai demorar a aceitar que sua garotinha saia de casa.

– Mas eu nem pedi ela em casamento ainda... Ele podia ficar mais calmo. – Tamaki começa a tocar os indicadores repetidamente em desânimo – Eu vou cuidar bem da Haruhi, nós nos amamos afinal, então...

– Ei gente, as aniversariantes estão chegando! – Suzu atrai a atenção de todos.

Ao contrário do que muitos pensavam, ao invés do carro lilás costumeiro das moças o que aparece é uma limusine prata reluzente na entrada dos portões ornamentados. Dela descem as famílias das jovens e de suas amigas, todos muito bem vestidos, além dos gêmeos. O pai e os irmãos de Kyoya aparecem pouco depois, e fora Fuyumi todos estão sérios. O rosto de Linh deprime ao encontrar com os olhos da mãe, antes de abraçar carinhosamente o irmãozinho e o pai quando passam a frente para cumprimenta-la.

Hikaru e Kaoru seguram cada um uma mão da própria noiva, acompanhando-as educadamente para cumprimentar todos com uma reverência enquanto erguem as barras dos vestidos semelhantes, sendo o de Aika rosa e o de Aiko azul. Os convidados recebem-nas com aplausos e os anfitriões vão recepcionar seus familiares separadamente. O pai de Haruhi também está presente.

– É um prazer conhecê-lo finalmente Mitsukuni-kun. – sorri a mãe de Maiko, que assim como o seu marido é loira dos olhos azuis, mas mais parecida com a filha e, portanto, relativamente baixa – Ouvimos muitas coisas boas a seu respeito, tanto nos relatórios de Suzu quanto pelos comentários da Mai.

– Eu fico feliz em conhecê-los também senhora Nana. A Mai-chan também falou muito bem de vocês, mas não disse que a senhora é tão bonita. – a mulher põe a mão sobre o rosto, encantada, e suas bochechas assumem o tom rosado de característica as da filha – Ela também me disse que aprendeu a tricotar com a senhora e a pintar com o senhor Mitsui. Eu quero ver alguns dos seus trabalhos pessoalmente se puder.

– Mas é claro! – o pai da jovem sorri, abraçando a esposa pelo ombro – Venha à nossa quando quiser; nós vamos adorar recebe-lo e, é lógico, a sua família também!

– Eu vou adorar! Nós podemos comer bolos com chá ou café durante a tarde!

– De novo não nii-san! – o irmão de Honey faz uma careta, despertando risadas de Maiko.

– Você é Chika-chan, né?! – ela tapa a boca com a mão – Oh! Desculpe-me, Yasuchika-san! – corrige – Mit-chan me contou de seu talento em artes marciais e do, é... Estilo Haninozuka, eu acho. É um prazer.

– Ah... Igualmente. – ele responde corado e logo todos os parentes do pequeno casal os cerca, todas as tias da loirinha querendo apertar as bochechas do garoto.

Um pouco mais ao longe, Linh está acuada diante do olhar compenetrado da mãe. Sora permanece ao seu lado, agarrado nas suas pernas, e o pai afaga seus cabelos fazendo perguntas triviais, como o que anda aprendendo na escola ou se está se divertindo, mas que julga serem importantes. Charlotte está ao lado da sua senhora, observando tudo ao seu redor. Percebendo isso, Mori se aproveita da distração do pai e de seu irmão mais novo, ainda conversando com os pais do primo, e se aproxima deles.

– Senhor George. – o robusto homem com cabelos negros vira-se, mirando-o com os olhos de tom bem mais escuro se comparados ao da filha enquanto caem as mechas da franja sobre seus olhos.

– Ah, você deve ser Takashi Morinozuka! – ele aperta a mão do rapaz – Que surpresa! Eu sabia que é um rapaz bem alto, mas não pensei que chegasse a minha altura! E tem um aperto de mão firme, gostei.

– É um prazer conhecê-lo. – Mori se curva, mantendo-se sério embora se note a gentileza em sua voz, mas ao olhar para a senhora Kikuchi suas mãos começam repentinamente a suar.

– Você sabe quem sou eu, não sabe? – ele acena em afirmação e ela sorri – Bom. Muito prazer jovem Takashi. Tenho ouvido coisas interessantes a seu respeito.

Mantendo a postura soberba com as mãos frente ao corpo, Mika abaixa-se apenas levemente com um pé atrás do outro. Mori nota atentamente que os cílios longos e a pele rosada de Linh são sem dúvida uma herança da mãe. Enquanto George é um retrato perfeito de um deus grego, ela parece uma linda espanhola com seus cabelos presos num coque de cachos amadeirados, assim como o sutil perfume exalado do corpo, a sua saia rodada estufada, de tom claro em relação ao busto do vestido verde, e as mangas bufantes.

Por aí se explica o vestuário semelhante de Linh, que está irrequieta com suas anáguas como estava na noite de Natal, quando foi obrigada a usar o traje de presente da matriarca. Mori supõe que a irritação não é apenas pela roupa, mas também por ser obrigada a se vestir tal qual a mãe. Tudo na senhora Kikuchi exala exatidão, precisão e perfeição maiores em um porte do que em toda a significante elegância do seu ex-marido, com a gravata vermelha e os sapatos lustrados para equiparar ao terno provavelmente novo.

Contudo, em toda a sua magnitude, o profundo de seus olhos mostra somente um pântano lamacento do que um dia foi uma inspirada atriz rebelde. Por um minuto que parece uma eternidade para Linh, Mori observa a futura sogra secamente até, por fim, devolver seu cumprimento elegante. Ela respira aliviada.

– É um prazer conhecê-la também. – ele olha para baixo e vê Sora acenando e sorrindo em sua direção com a inocência infantil para o clima tenso, então o jovem retribui o gesto.

– Eu já havia conversando com seus pais e tive o prazer de saber que é campeão nacional de kendô.

– Sim senhor. – as sentenças curtas dele começam a fazer as mãos de Linh suarem.

– A nossa Linh também é uma garota muito talentosa, não é mesmo querida?! – a moça encara com o típico desdém o sorriso da mãe – Charlotte nos contou que ela os agraciou com uma canção no Natal.

– Sim. Ela é incrível. – e o simples elogio a faz corar antes que perceba.

– Lamentamos não poder estar presentes para ajudar nossos filhos a recepciona-los. Eu precisei correr para ajudar um cliente de última hora e só pude voltar para casa no dia seguinte. Mika... – o homem olha a ex-esposa a espera de uma explicação mais plausível do que a oferecida quando havia ligado no dia.

– Eu também estava trabalhando George. Você poderia ter rejeitado seu cliente – desdenha -, mas eu não poderia negar o pedido do meu agente! Era um grande trabalho!

– Sim, tudo é maior e mais importante do que passar um tempo com a sua família... – Linh sente suas entranhas começarem a se revirar como se estivessem corroendo com ácido, uma reação natural a longos e longos anos de brigas constantes, então pega a mão do irmão.

– Eu vou levar o Sora para comer alguma coisa! – anuncia já pronta para correr.

– Vá querida. – o pai beija sua testa – Nós vamos cumprimentar os Aoki e depois vamos para a mesa.

– Eu os acompanho. – Mori se oferece, percebendo-a respirar aliviada, e anda do outro lado de Sora.

– Graças a Deus, obrigada por me acompanhar! Peço desculpas por isso. Sempre que os meus pais se encontram começa uma infinita cena constrangedora!

– Tudo bem. – ele sussurra de volta – Mas os dois parecem te amar muito.

– Meu pai com certeza nos ama, minha mãe eu já não sei.

Mori tem vontade de rebater, mas pela presença de Sora e vendo a irritação da noiva ele prefere ficar calado. Passando pelos Suou, do outro lado do jardim de entrada estão os Sakurai. Olhando para o senhor Haruhiro e a esposa Chiharu, Kyoya não pode negar de quem Suzu é filha, e até gostaria de cumprimentar os dois sem sentir a pressão dos olhares carregados do pai e dos irmãos, mas não pode.

– É muito bom finalmente poder conhecer seu filho mais novo, Ootori. Ele parece muito promissor.

– Digo o mesmo da sua filha. Ela se destaca na festa, bem bonita. – diante a conversa paterna formal e discretamente ferina, o casal nem ao menos consegue ficar a vontade para olhar um na direção do outro.

– Eu creio que o casamento será divino. – a mãe de Suzu sorri, entrelaçando as mãos frente ao rosto onde repousa os cabelos e olhos como os do esposo e da filha – Estou ansiosa para começar os preparativos!

– Bem, Kyoya não tem nenhum problema com isso, certo?!

– De forma alguma pai. – ele responde com o sorriso naturalmente falso – Suzu é uma ótima moça.

– Excelente, porque eu imagino que Suzu também não tenha reservas quanto ao casamento, não?! – a jovem demora a responder, sentindo-se acuada ao lado da alegre figura materna, mas eleva o queixo para a postura típica permanecer perfeita e também sorri falsamente.

– É claro papai. – ela torce para ninguém ver seus dedos espremendo-se atrás das costas.

Um tempo depois, aproveitando que seus familiares estão conversando despreocupadamente, Suzu se aproxima de Kyoya quando os dois são deixados mais para trás. Com o canto dos olhos, ele nota cada sinal de desgosto e desconforto na expressão da noiva. Ela, por sua vez, tenta conter a vontade de sair correndo.

– Se quiser fugir eu posso dar cobertura. – a jovem ri baixinho, sarcasticamente.

– Por favor, Kyoya! Você ainda vai insistir em tentar agradar ao seu pai e chamar a atenção dos seus irmãos mais velhos? Não te passou pela cabeça que existem coisas mais importantes do que isso?

– Do que está falando? Está dando muita importância a isso. É apenas um jogo.

– Ah verdade? E será que vale a pena continuar jogando? – as pupilas dele se dilatam enquanto seus lábios permanecem fechados – Eu pensei que você fosse mais inteligente, porque qualquer um sabe que os viciados em jogos acabam perdendo tudo o que tem... Inclusive sua vida.

Suzu adianta o passo sem olhar para trás, deixando o seu noivo pensativo. Enquanto a conversa vai se desenrolando o estômago da moça embrulha cada vez mais. Mesmo depois de as duas famílias entrarem na residência e sentarem-se à mesa principal, dentre as espalhadas pelo comprido e vívido gramado entre as pequenas casas secundárias, ela não se sente melhor. Em determinado ponto, Suzu pede licença e corre para o banheiro como se fosse realmente vomitar. Preocupada, Fuyumi se oferece para segui-la.

– Suzu-san, está tudo bem? – ela encontra-a escorada na pia e apoia a mão direita sobre suas costas.

– Estou... Só achei que... Se conseguisse vomitar tiraria essa sensação incômoda de dentro de mim. – para sua felicidade, a futura cunhada compreende rapidamente seu mal estar.

– Papai pode ser muito severo e intimidador, mas você vai gostar dele quando o conhecer melhor.

– Não é apenas pela presença do seu pai Fuyumi-san. – Suzu fecha a torneira e vira o rosto molhado – É também por causa dos meus pais. Eu me sinto pressionada quando estou perto deles.

– Como assim? – a Sakurai se apoia na pia e fecha os olhos momentaneamente.

– Eu sei que eles esperam muito de mim, assim como o senhor Ootori exige muito do Kyoya. Mas... É difícil atender as expectativas deles como seu irmão faz! Eu não consigo ser perfeita o tempo todo!

– Quem disse que meu irmão é perfeito? Kyoya-san é bem sádico, e tem um mau humor terrível pela manhã! – as duas riem – Mas disso você já sabia.

– Sim. – enquanto a jovem suspira cansada, Fuyumi limpa seu rosto com um lenço tirado da bolsa – Você é muito gentil e elegante, Fuyumi-san. Como consegue?

– Bom, eu também tenho meus defeitos, só não os deixo transparecerem na frente dos outros. Se você quer saber, eu sou desorganizada e desajeitada. Todo mundo tem defeitos, mas não pode se deixar abater!

– Eu concordo. – Suzu toma fôlego, elevando a postura – E está mais do que na hora de dar um basta.

Sem entender direito a afirmação dela, Fuyumi a segue de volta para a mesa e não rebate o sorriso de falsa tranquilidade em seu rosto. Horas mais tarde, enquanto Honey e Maiko devoram vários doces sobre a mesa exposta ao ar livre, sobretudo o rapaz, a mãe dos gêmeos, com quem as irmãs Aoki já se enturmaram, mostra fotos antigas dos filhos às futuras noras. Hikaru e Kaoru não param de reclamar.

– Oh, vocês eram tão adoráveis! – Aiko comenta a cada fotografia – Olha essa Aika!

– Oh, essa foto explica a ideia dos modelos pros vestidos de vocês. – Hiroki ri.

– Foi sugestão da Yuzuha-san! – as irmãs respondem juntas sorrindo maliciosamente aos noivos.

– Era a festa de aniversário deles nesse dia. – ela ri – Hikaru é...

– O que está de rosa, certo?! – Aika rapidamente diz e a mulher concorda um tanto surpresa.

– Eu poderia perguntar como sabem disso, mas imagino que gêmeos reconheçam outros gêmeos.

– Não exatamente. Só sabe diferenciar quem realmente quer. – a mais nova explica – Aquelas pessoas que não prestam atenção é porque realmente não tem interesse em nos conhecer como indivíduos.

– Aí, é claro, elas perdem o nosso interesse também. – a mais velha finaliza, voltando a olhar a foto – Eu imagino que eles estavam vestidos com cores diferentes para serem diferenciados, mas por que usavam roupas de menina? – ela ri de canto ao noivo, corando aborrecido.

– Mamãe achava que ficávamos fofos desse jeito. – Kaoru diz, olhando de canto a sorridente mulher.

– Ora, vocês eram muito fofos, o que eu podia fazer?! – a senhora ri junto às gêmeas.

– Podia nos vestir com roupas fofas, contanto que fossem de garoto! – Hikaru resmunga com os seus braços cruzados, então as irmãs apoiam os queixos nas mãos e riem.

– Mas assim não teria graça! – e logo todos na mesa estão rindo, mas a alegria vale até verem a avó de Tamaki se aproximando com mais duas criadas e dois guarda-costas fardados.

– Mamãe, você convidou aquela mulher para o nosso aniversário?

– Claro que sim Aika, eu não poderia fazer essa desfeita! – diz a mulher de ondulados cabelos tom mel e olhos claros como o céu – A senhora Suou é mãe de...

– Sim, nós sabemos, mesmo assim! Aquela mulher é... – ela se contém com um pigarro do pai, senhor jovem e alto com cabelos mais alisados e escuros que os da esposa e olhos negros herdados pelas filhas.

– Garotas, por favor, não culpem sua mãe por isso. Além disso, o que nossos convidados pensarão?!

– Está tudo bem Satori. Nós também achamos que a senhora Suou exagera muitas vezes. – o senhor Hitachiin confessa em segredo – E elas só têm o direito de dizer o que pensam.

– Não precisa ser condescendente com minhas filhas Hayato.

– E você não finja que é rigoroso com elas querido. Sou sempre eu que repreendo as duas. – as gêmeas riem do constrangimento do pai, que pigarreia novamente.

– Eu lamento concordar Satori-san, mas as meninas parecem ter puxado muito da Kaori de fato.

– É Yuzuha-san. Imaginem a minha dor de cabeça quando elas resolvem fazer compras! – todos riem.

– Bem, será um grande desafio para a pobre Haruhi aguentar os olhares severos da senhora Suou. – a caçula comenta, observando a garota cumprimentar a avó de Tamaki junto ao rapaz – Boa sorte pra ela.

– Meninas. – o irmão mais velho delas se aproxima – A senhora Mika quer que vocês acompanhem a Linh em uma canção especial. É claro, hoje ela será sua voz secundária.

– De novo? Ah nii-san, não pode pedir para ela desistir da ideia só desta vez?

– É claro que não Aika! Você sabe que a senhora Mika NUNCA desiste.

– Aki tem razão meninas. Por favor, não o deixem passar sozinho por essa desfeita.

– Mas nee-san! – as duas choramingam, e rindo Henriqueta se levanta.

– Vamos lá garotas! Vocês estarão presenteando a todos com seu maravilhoso dom. Eu as acompanho se quiserem. – elas suspiram e por fim concordam, afastando suas cadeiras – Você vem querido? Mais um apresentador será bom. – Eikichi concorda com um aceno discreto e fecha o botão do meio de seu paletó.

– Claro, querida, vamos lá. – assim os dois sobem a um pequeno palco montado de última hora antes das estrelas principais, deixando as gêmeas subirem na frente e Linh logo atrás para fechar o triângulo.

– Que música nós vamos cantar? – as duas sussurram a moça antes de cumprimentarem a plateia.

– “Pense em mim”. Por favor, mantenham a formação pra que a minha mãe possa tirar as fotos!

Pense em mim com carinho

Quando nos despedirmos

Lembre-se de mim de vez em quando

Por favor, prometa-me que irá tentar

Quando achar aquilo que tanto deseja

Venha buscar o seu coração e fique livre

E se tiver um momento

Pense um pouco em mim

Nunca dissemos que o nosso amor era perfeito

Nem imutável como o mar

Mas se ainda puder se lembrar

Pare e pense em mim

Pense em todas as coisas

Que passamos e vimos

Não pense em como

As coisas deviam ter sido

Pense em mim, quando acordava silenciosa e resignada

Imagine me esforçando para afastá-lo de meus pensamentos

Lembre-se daqueles dias, relembre aquela época

Pense nas coisas que nunca faremos

Nunca haverá um dia em que eu não pense em você

As flores perecem, as frutas do verão perecem

Elas têm as suas épocas, assim como nós

Mas, por favor, prometa que de vez em quando

Você vai pensar... Em mim

Em meio aos aplausos, o trio novamente cumprimenta o publico e desce. É chegada a hora de cortar o bolo e as gêmeas distribuem o primeiro pedaço a Suzu, por sua dedicação em organizar a festa. Aos poucos a gigantesca torre de cinco andares com camadas verde e azul vai acabando. É hora de abrir os presentes. A dupla se divide para receber as lembranças, na verdade uma mais extravagante do que a outra. No final da pilha, Hikaru e Kaoru se aproximam das cadeiras onde estão sentadas e puxam as cordas em mãos.

Elas desamarram a lona de cetim que cobria um estranho objeto faz muito tempo escondido no centro do extenso gramado, e o belo presente enfeitiça as donzelas.

– Uma Serafina? Jura? – Aiko junta as mãos – É tão bonita!

– É. Já que vocês não gostam de presentes caros, esse foi o melhor que a gente pode arranjar. O Kaoru teve a ideia. – os três o encaram e ele sorri sem jeito, com uma mão atrás da cabeça.

– Hô, então os “pentes” não existiam afinal? – Aika cruza os braços, fazendo a irmã rir.

– Venham, vamos dançar! – Maiko chama todos e logo cada um pega o seu par.

Mulheres e homens se organizam em duas fileiras por sexo, e ao som da melodia dos músicos debaixo do Coreto começam a dançar ao redor da tora de madeira, cada dupla de pares cruzando lenços. Uma hora mais tarde a maioria dos convidados já está indo embora, excerto pelos anfitriões, suas noivas e famílias. O grupo jovem faz a formal despedida a todos e quando só restam eles se reúnem distante dos empregados.

– Alguém viu o Kyoya? Não o encontro em lugar algum.

– Não Suzu, mas não é só ele que sumiu. – informa Tamaki.

– Ah é, onde estão Honey e Mai? – Aika olha os arredores – Não vi os dois desde que cortamos o bolo.

– Bem, depois que ele foi servido a Mai-chan comeu o pedaço dela e o Honey-senpai... Acho que deve ter comido uns três a mais. – os amigos riem e dão de ombros – Então os dois pegaram no sono.

– Pegaram no sono? E você sabe onde eles estão dormindo Haruhi?

– Sim Suzu, em um dos quartos para hóspedes na segunda casa secundária.

– Um instante, eles estão dormindo juntos? – Aiko sorri diabolicamente – Ora, ora... Estão pensando o mesmo que eu? – ela olha pra irmã e os gêmeos, que retribuem o sorriso – PEGUEM AS CÂMERAS!

Divertindo-se, o grupo corre para o aposento determinado e encontra os dois dormindo docemente. A vontade de armar uma brincadeira fala mais alto. Logo as gêmeas estão tirando fotos do pequeno casal com os celulares enquanto ordenam Hikaru e Kaoru a pegar dois fantoches de coelhos em uma gaveta, pois por coincidência eles estão no quarto de hóspedes que elas já usaram muitas vezes e deixaram objetos largados. Acaso ou não, Honey é o primeiro a acordar com os flashes e enquanto coça os olhos vê os coelhinhos.

Um rosa e o outro azul, exatamente como as cores de preferência da matriarca dos Aoki, cada coelho está na mão de um gêmeo. Eles fazem vozes finas enquanto se escondem atrás do sofá, imitando uma cena bem romântica como se fossem o baixo loirinho e sua noiva. Maiko também acorda com as risadas baixas e vê o instante do beijo entre os fantoches. Corada, ela levanta da cama e quando percebe os amigos ali tenta surrar a cada um. A agitação cessa ao ouvirem a voz de Kyoya vindo do escritório, nos fundos da sala.

Sorrateiramente, o grupo se aproxima da porta para ouvir a discursão. Dentro do cômodo estão todos os familiares dos rapazes e atrás da mesa, soberano, Yoshio Ootori, cercado por seus filhos mais velhos.

– Pai, seja sincero, por que as escolheu como nossas noivas? – Kyoya questiona irritado.

– Se quer que eu seja franco, tudo bem. A senhora Shizue Suou teve a ideia. Ela acreditou que esses casamentos podiam fazê-los amadurecer, e eu pensei que isso também ajudaria a destituir o clube ridículo que vocês fundaram. Então eu reuni os pais de todos para discutir o assunto, considerando que as famílias daquelas moças, mesmo não sendo tão afortunadas, são apreciadas na mídia e as pessoas gostam do jeito... Digamos, descontraído, com a qual agem. Eles não são como nós. Até fiquei inseguro quanto a isso, afinal, essas garotas foram educadas de forma muito liberal, mas achei que o plano pudesse funcionar. Parece que eu me enganei. Essas moças não estão ajudando, pelo contrário. Elas pioram esses seus vícios absurdos e ainda incentivam as loucuras de Suou Tamaki. Esse desequilíbrio é inaceitável!

– Pois você está errado, pai! Elas não são “desequilibradas”, são divertidas, inteligentes, e mesmo que não tivessem gostado dessa ideia de casamento desde o começo estiveram dispostas a nos conhecer! Suzu... Ela gostou de mim por quem eu sou, e de um jeito como você jamais fez.

– Como ousa falar comigo dessa maneira?! – do lado de fora, as famílias das moças chegaram perto do grupo a tempo de ouvir a declaração de Yoshio, cada pai carregando um pacote branco.

– Eu já devia ter dito tudo o que penso há bastante tempo, mas me controlei porque queria agradá-lo, alcançar as suas expectativas assim como fizeram meus irmãos, mas finalmente percebi que não adianta! Você jamais vai gostar de mim do mesmo jeito porque na verdade me considera um estorvo, e assim como todas as outras coisas que o incomodam apenas me afasta sem considerar como me sinto! Já estou cansado disso! Mas está certo, “eles não são como nós”. Elas não são, porque moças como elas têm uma vida mais feliz. Nenhuma delas precisa se envolver com os outros por interesse, como nós fazemos.

– Não se inclua nesse meio de vida repugnante, Kyoya! – Suzu aparece de surpresa, escancarando a porta e acompanhada dos ouvintes de fora – Você é diferente, assim como seus amigos.

– Mas o que é isso? – o senhor Ootori se levanta, mirando exatamente a garota com aborrecimento – Esta é uma reunião particular! O que faz aqui?

– Ah nada, só estou aqui, bem bonita! – alguns presentes seguram risadas – Mas se a reunião é assim tão importante, eu não vejo razão para não termos sido convidados. Especialmente porque este escritório é meu! – ela toma o pacote das mãos da mãe – E achei melhor devolver isso também.

– O que é isso? – Kyoya pergunta incerto, ainda surpreso com a invasão.

– Quer saber? É um presentinho que seu pai mandou entregar em cada mesa das nossas famílias, pra desistirmos dos casamentos. – o rapaz olha incrédulo para o pai, assim como os outros filhos.

– Meninas, eu acho melhor todos nos acalmarmos um pouco e...

– Não vai dar não senhor Akira. – Linh interrompe o pai de Mori, ficando ao lado de Suzu – Nem vai adiantar explicar alguma coisa porque já ouvimos o suficiente. Mas eu ainda tenho uma dúvida. Já que as nossas famílias não são tão bem sucedidas economicamente quanto as de vocês, seria pouco provável terem nos aceitado como noras. É quase como casar damas da corte com um bando de príncipes, bem esquisitos é verdade! – os jovens sorriem de leve – Então, quem foi que nos sugeriu como pretendentes?

– Fui eu Linh. – todos olham para o fim da sala enquanto a moça se vira devagar.

– Mãe?! – ela diz um tanto surpresa, para depois rir com sarcasmo – É claro...! EU MEREÇO!

Continua...


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Notas finais do capítulo

A música "Pense em Mim" na linguagem original é "Think of me", cantada no musical "O Fantasma da Ópera".



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