A Realeza de Ouran escrita por Machene


Capítulo 11
Pondo as Cartas Sobre a Mesa


Notas iniciais do capítulo

Suzu quando criança era parecida com a garotinha do filme "Garotas de Alto Nível" ou "Grande Menina, Pequena Mulher".



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Cap. 11

Pondo as Cartas Sobre a Mesa

O sol está quase se pondo na residência dos Sakurai. Os animais estão mais calmos desde que a festa pelo aniversário das gêmeas Aoki terminou, mas ainda há clima de tensão em uma das casas secundárias, na qual os anfitriões, suas noivas e seus familiares estão reunidos no escritório de Suzu. Neste momento, o semblante da mãe de Linh, madame Mika, é a imagem precisa de uma mulher extremamente amargurada por um passado cruelmente complicado, padrões especificados pelos próprios olhos da Ama Charlotte.

– Mika... Foi você? – ri George, seu ex-marido, incrédulo como muitos – E esse tempo todo eu pensei que tinha sido por livre e espontânea vontade que Linh e as outras tinham sido escolhidas, quando de fato você foi a responsável por tudo? Combinou esses casamentos com todos eles?

– Sim. – ela confirma sem arrependimento ou temor – Fui eu. Tudo começou no ano passado, em um dia quando tirei folga do trabalho e estava procurando uma nova escola para Linh. Suou-san estava tendo uma conversa com o Ootori-san justamente sobre pretendentes aos rapazes e disse que de nada adiantaria casamento arranjado com moças ricas e fúteis, de forma que eles fariam de tudo para forçá-las a desistir da ideia. – os anfitriões se entreolham, concordando mentalmente – Então tomei a liberdade de sugerir Linh e as moças, sabendo que elas despertariam o interesse deles. – Mika olha a filha – Se vocês aceitassem teriam maridos e garantiriam o futuro dos herdeiros. Já eles terminariam de vez com esse seu Clube de Anfitriões, seguindo com os negócios da família.

– Ah santo Deus, é por isso que pessoas ricas me chateiam! – Suzu suspira aborrecida.

– Eu já devia imaginar que essa ideia de casamento era coisa sua mãe. Só não achei que fosse se aliar a... – Linh olha de banda para o senhor Ootori e a avó de Tamaki – Bem, é melhor controlar minha boca, ou vou acabar falando besteira. – a anfitriã retira a mão do rosto.

– Não mesmo Linh! Eu sempre te ajudei a controlar seu temperamento, mas se tem uma hora perfeita para explodir é esta! Na verdade, se você não quiser começar eu mesma faço isso!

– Esperem um pouco, vocês estão sendo precipitadas... – a senhora Suou tenta falar.

– Precipitadas não, realistas! Eu sempre respeitei os mais velhos, mas existem momentos na vida em que a gente precisa falar umas boas verdades pra quem merece ouvir, então eu vou dizer uma coisa agora. Quando a senhora chegou à festa, aposto que não teve um conhecido que não tenha torcido o nariz quando lhe viu! Com exceção, é claro, do Suou-san, madame Anne e do próprio Tamaki-senpai. A Haruhi é gentil naturalmente, então seria óbvio que ela a receberia sorrindo também. – a garota encolhe os ombros, tímida – Mesmo assim, como amigas dela nos preocupamos. Sabíamos que faria vista grossa pelo relacionamento dos dois. A senhora já estragou a vida do seu filho, acabando com a oportunidade dele viver com a mulher que ama, então não estrague a do seu neto também! Deixe Tamaki-senpai ser feliz antes que seja tarde e os seus erros deixem tristeza nos corações das pessoas com quem se importa!

Por um breve momento, nenhum dos presentes consegue falar diante da súbita fúria de Suzu. Até as próprias amigas estão chocadas, mas elas logo são as primeiras a se recuperar do susto e apoiá-la.

– Suzu, você está passando dos limites! – seu pai a repreende com visível vergonha.

– Ela não está não, senhor Haruhiro. – Linh volta a falar – Quem vai passar dos limites agora sou eu.

– Não se atreva Linh! – a mãe dá dois passos a frente, já perdendo a compostura – Tudo que fiz foi...

– Para meu próprio bem? Mãe, você repete isso desde que eu era criança! Se você se preocupa comigo tanto assim, por que não me perguntou se eu queria casar com um completo estranho antes de decidir isso no meu lugar? Alias, é só o que você tem feito todos esses anos!

– Linh, pare com isso! Você quer me envergonhar na frente de todos?

– É o que devia ter feito há muito tempo, mas agora eu quem estou morrendo de vergonha! – receoso com a agitação, Sora se esconde atrás de Mori e este apenas põe uma mão sobre seu ombro – Você sempre decidia as coisas sem me perguntar nada! Foi do mesmo jeito quando me separou das minhas amigas e me colocou naquela escola horrível só para garotas!

– Santa Lobelia. – Aika resmunga – Parecia uma prisão de loucas!

– Era uma ótima escola para você! – Mika rebate – Você sempre teve talento para cantar!

– É, mas ninguém disse que eu queria fazer isso tão nova! Você deu a ideia para as mães das meninas nos separarem e colocarem em escolas de acordo com nossos talentos. Ninguém concordava com isso! Mai aceitou porque estava sobrando, já que a Suzu não conseguia dizer o que pensava como as gêmeas fizeram quando protestaram contra aquilo! – os Sakurai olham para a filha, que franze o cenho sem encará-los – E no fim das contas, aquelas garotas zombavam de mim por ser mestiça.

– Oh querida... – George parece a ponto de chorar, cerrando os punhos em tristeza – E eu ainda disse tanto pra sua mãe tirá-la daquela escola, mas ela não me ouvia!

– Linh poderia se defender se quisesse George! Ela é forte, podia lidar sozinha com seus problemas!

– Não é verdade madame Mika. – Maiko interrompe – A Linh é forte sim, mas ninguém quer ficar só, muito menos enfrentar as coisas sem ajuda! Se na época nós soubéssemos o que ela passava, faríamos tudo ao nosso alcance para tirá-la de lá sem nem pensar duas vezes! Mas a Linh pediu pra Aika e Aiko não nos contarem nada. Ela não quis preocupar ninguém, principalmente o Sora, que sente quando ela está triste. – alguns olham para o pequeno, que se encolhe ainda mais junto a Mori.

– Aí só nos restou uma saída: defender a Linh-chan sozinhas. – a gêmea mais velha diz e a caçula ri.

– Achamos que se aquelas garotas, que tinham tanta inveja do talento da Linh, podiam atirar bolas de basquete dentre outras coisas nela e sair ilesas, não teria problema perturbá-las do mesmo jeito.

– Bolas de basquete? – o senhor Kikuchi se assusta – Por isso você vinha pra casa com marcas roxas? Nenhuma delas foi acidental então? – a garota, sentida pelo alarde do pai, acena negando – Meu Deus!...

– Isso explica então porque vocês deram um banho de água fria na diretora. – Hikaru sorri de canto.

– Pintaram os cabelos e colocaram lentes de contato pelas gozações também? – Kaoru indaga.

– Sim. – ambas respondem – Mas o bullying não nos atinge fácil.

– Então afinal vocês estavam fazendo de tudo para sair da escola porque queriam ajudar sua amiga. – o senhor Satori suspira com uma mão sobre o peito – Ainda bem! Pensei que não tivéssemos educado essas duas direito! – ele encara a esposa, mas Kaori eleva o queixo.

– Ora essa, sendo minhas filhas também isso seria impossível! – alguns presentes riem baixinho.

– Quer dizer Suzu que todas aquelas rejeições com os pretendentes que arranjamos para você foi pela Linh também? Porque nós marcamos encontros onde todas vocês poderiam ir juntas, esperando que talvez ficassem mais a vontade, e todos terminaram em um completo desastre!

– Mesmo? – Kyoya ignora a presença dos demais e sorri curioso – O que ela fazia madame Chiharu?

– Pois é... – a moça ri para ele, colocando as mãos na cintura e balançando a cabeça como se visse sua rebeldia passar diante dos seus olhos – Todos sabem que eu era muito arisca.

– Nem sempre. – Akinori sorri – Quando criança você parecia uma mocinha mimada e mandona.

– Ah eu lembro! – Hiroki ri – Ela não gostava de tocar em nada antes de passar álcool nas mãos e não tinha coragem de comer comida pronta, tinha sempre que ser caseira e feita na hora. Suzu precisava comer tendo certeza de que nenhuma bactéria mortal atacaria seu intestino! – ele gargalha até levar da mãe uma palmada atrás da cabeça, fazendo novamente alguns dos presentes rirem.

– Ela escutava músicas clássicas de compositores como Mozart, Beethoven e Tchaikovsky pra ajudar a Linh a cantar e dançar. Também costurava blusas com Mai e cozinhava pra Aika e Aiko quase sempre. – Eikichi se recorda – Quando elas passavam algumas noites lá em casa, era sempre a Suzu quem ficava até mais tarde acordada, lendo algum livro de contos de fadas para as outras pegarem no sono.

– Por isso nós amamos a Suzu nee-san! – as gêmeas formam corações com as mãos, fazendo-a rir.

– E eu fiz tudo isso com muito prazer... – ela volta a ficar séria, colocando um braço sobre o outro – A verdade, porém, é que assim como a Linh eu não conseguia alcançar as expectativas depositadas em mim. – Suzu olha para os pais – Vocês me pediam muitas coisas que eu fazia sem reclamar. Eu recebia tudo sem a mesma empolgação com a qual me apresentavam as novidades, desde os presentes caros até quando todas as viagens a negócio apareciam como ótimas oportunidades de melhorar sua carreira. Mesmo assim, fiquei feliz por vê-los felizes, então aprendi a sorrir mesmo estando triste por passar tanto tempo longe dos dois.

– Suzu querida... – a mãe tenta falar algo, mas as palavras morrem no caminho.

– Kyoya parece ter adquirido a mesma habilidade de sorrir falsamente, não é?! – ele sorri em acordo – Então, se é pra desabafar eu vou dizer toda a verdade! Sim, todos aqueles pretendentes fugirem um a um e espalharem boatos a nosso respeito era culpa minha. Aika e Aiko me ajudaram muito. – elas riem sobre os olhares repreensivos dos pais – Mas muitos daqueles planos eram meus, como me fingir de louca ou burra, ou fazer parecer que gostava de participar de concursos para vender os prêmios usados a ricos empresários que os colocavam como novos em leilões de caridade.

– Você fez mesmo isso? – Tamaki e Haruhi questionam surpresos e ela confirma.

– Que legal! – os gêmeos riem e cada um recebe um belisco da mãe – Mas é engraçado!

– Era mesmo! – as gêmeas concordam, mas param de rir com o pigarro do pai.

– Por isso você não se achava boa o bastante para ser minha noiva? – Kyoya pergunta baixinho.

– Sim. – a jovem ri para si mesma – Mas eu não fazia tudo só por mim, era também pelas meninas.

– E eu ainda não tenho razão em dizer que elas são uma má influência? – o senhor Ootori diz.

– Escute aqui seu...! – Suzu põe uma mão frente ao corpo de Haruhiro.

– Está tudo bem pai. Eu já imaginava que o senhor Ootori pensaria isso quando soubesse essas coisas do nosso passado; até disse ao Kyoya. Mas não importa que ele ache isso. Seria besteira se incomodar com o que ele ou qualquer outro rico metido a besta dissesse. – a maioria dos presentes abre a boca com choque.

– A Suzu-san tem razão. – Honey fala sério, para logo depois sorrir docemente – A verdade é que nós amamos o Clube de Anfitriões. E sabe... Todos nós amamos Tama-chan também. – o rei cora.

– Mesmo ele sendo um idiota sem concerto. – Kyoya complementa com um sorriso, mirando com um olho aberto o rapaz inchar as bochechas de aborrecimento enquanto Haruhi segura uma risada.

– Pois então. – Suzu toma fôlego, virando para Yoshio – Como representante das minhas amigas, eu estou entregando de volta todo o dinheiro que nos deu para desistir dos casamentos, senhor Ootori. – ela começa a se aproximar da mesa – Devo ressaltar que em momento algum nós pensamos em nos beneficiar dessa união, assim como devem ter pensado os senhores quando sorriram daquele jeito tão hipócrita no dia em que nos conhecemos, dizendo o quanto adorariam se fôssemos mesmo suas noras. Cada iene seu ou de qualquer outro membro das famílias ricas aqui presentes nos são dispensáveis, portanto aqui está. – Suzu estende os pacotes, porém, recua a mão quando ele levanta a sua – Mas, pensando bem, já que nenhum de vocês também necessita de dinheiro e devolver este seria uma considerada ofensa, pode deixar que eu me livro dele para o senhor. – a moça joga tudo no fogo da lareira, sorrindo como as amigas e seus familiares, a exceção da mãe de Linh, e dando meia volta em direção à saída – Uma boa noite a todos.

– Não deseje boa noite aos ricos grosseiros, Suzu! – Maiko ri, olhando de relance à avó de Tamaki – E saiba a senhora que se não mudar vai morrer sozinha e amargurada, sem o perdão da sua família.

– Não precisa dizer isso Mai. Ela sabe que é uma velha ranzinza, rude e cruel.

– Aiko, olha a língua! – a senhora Kaori não consegue evitar outra repreensão.

– Mas é a verdade que todo mundo não teve coragem de dizer antes, mãe. – Aika ri, dando de ombros, e acaba puxando Haruhi pelo braço – Venha Haruhi, vamos comemorar nosso aniversário em outro lugar!

– O quê? Mas a festa não acabou? – a caçula segura-a do outro lado quando a irmã se aproxima.

– Só acaba quando nós dissermos que acabou! – elas sorriem, fazendo o sinal de vitória nas mãos.

– As festas delas são sempre assim. – Linh revira os olhos, encarando a mãe uma última vez.

– Linh... – já perto da saída, ainda na mira de todos, ela não sabe o que dizer – Eu só queria que você tivesse a chance de ter tudo que eu nunca tive. Ser uma grande estrela não era o seu sonho?

– Não mãe, era o seu. E me desculpe, mas... – a garota segura a barra do vestido com as duas mãos – Eu não sou você. – em três segundos a peça está rasgada, mostrando as pernas da jovem, e o ato termina quando ela solta o cabelo, tirando algumas exclamações dos espectadores.

– Mandou bem Linh-chan! – as gêmeas se preparam para fechar a porta – Todos os casamentos estão oficialmente cancelados! – anunciam com a saudação de Hitler, e acenam ao cantarolar – Até nunca mais!

...

É o último dia de aula para os alunos da Academia Ouran, e também de funcionamento no Clube de Anfitriões. As lindas noivas secretas dos rapazes, a novidade da terceira sala de música, desapareceram. A irritada gerente, Renge, anda de um lado para o outro com nervosismo, ansiosa por saber se Haruhi teve o mínimo de sorte incentivando-as a voltarem pelo próximo ano como anfitriãs. A garota finalmente surge.

– E então, como foi? Você conseguiu, elas vão voltar? O que disseram?

– Calma Renge-chan! Acontece que... Tamaki-senpai, por que sua camisa está desabotoada?

– Ah, Renge-kun queria que eu provasse uma fantasia nova que as gêmeas me deixaram de presente.

– Elas são verdadeiros achados da criatividade, por isso mesmo temos que convencê-las a voltar! E aí Haruhi-kun, o que aconteceu? Por favor, diga alguma coisa!

– Como disse antes, calma Renge-chan! Eu tentei, mas... – a heroína balança a cabeça em negação.

– Oh não! Nós perdemos a melhor coisa que já aconteceu para o clube!

– E também nas nossas vidas. – Mori complementa inesperadamente, surpreendendo a todos – Onde elas estão? – a moça pisca algumas vezes antes de sorrir, finalmente compreendendo-o.

– Foram para o jardim. – fecha o semblante – Precisam se apressar! Elas estão esperando pelos irmãos das gêmeas, e quando eles chegarem vão leva-las direto para o aeroporto!

– AEROPORTO? – todos repetem surpresos, alguns que estavam sentados levantando-se.

– Sim. Mai-chan me disse que por causa de toda aquela confusão no aniversário da Aika e da Aiko as famílias de todas resolveram fazer uma viagem, todos juntos como antes. Segundo ela, eles querem passar um tempo juntos pra se reaproximar, mas talvez não voltem para o Japão tão cedo.

– E pra onde elas vão Haruhi? Por favor, nos diga! – Kaoru a segura pelos ombros.

– Boston. – todos paralisam novamente – No começo eu até pensei que seria um lugar mais chique, e então eu lembrei que elas não são ricas esnobes! – os jovens fecham a cara – Eu disse alguma coisa errada?

– Na verdade não, você tem razão. – Kyoya arruma os óculos – Considerando o histórico de passeios turísticos que elas fizeram pelo mundo, não me admira terem escolhido a cidade mais populosa do estado norte-americano de Massachusetts. – Tamaki acena em acordo, com os braços cruzados e ar pensativo.

– Sim. Elas parecem ser o tipo de garotas que gostam de desbravar terras inexploradas.

– Tamaki-senpai, não fale como se elas estivessem indo pra um safari ou pro meio de uma floresta!

– Oh Haruhi, eu já pedi pra me chamar de Papai! – os demais presentes torcem os lábios – O quê?

– Você tem uns fetiches meio estranhos meu senhor. – Hikaru reflete os pensamentos alheios.

– Oh, Tamaki-san, quer dizer que está mesmo caminhando para esse lado? – ou quase todos.

– O quê? – ele encara Renge e então se lembra de que Haruhi ainda parece homem – Ah, não!

– Então você finalmente vai despertar e ficar ao lado de Haruhi-kun? – os olhos dela brilham.

– Na... Bem, pode ser que tenha chegado a hora de nos revelar como um casal...

– CALA A BOCA! – os anfitriões o estapeiam na cabeça, e tentando ignorar a heroína continua.

– Bem, Mai-chan também disse que o Condado de Suffolk foi onde o pai da Suzu pediu a mãe dela em casamento. – a curiosidade do vice-presidente se atiça – Acho que essa informação não era exatamente pra mim, mas... – ela sorri, olhando de banda para Kyoya, e então volta a ficar séria – O que vocês ainda estão fazendo aqui? Vão de uma vez atrás delas! – sem precisar ordenar uma segunda vez, os jovens correm ao jardim e até mesmo o administrador financeiro do clube deixa a prancheta de anotações com o presidente antes de seguir os amigos – Não seria ótimo se eles se entendessem?

– Sim. – o loiro concorda – Vamos Haruhi! Nós temos que ver isso!

– Claro! – os dois riem e dão as mãos, indo atrás dos outros sem se lembrar da alegre Renge atrás.

– Ora essa, eles não tomam jeito mesmo!... – dá de ombros – Boa sorte.

No jardim, Linh e Maiko estão sentadas sobre um galho grosso da cerejeira favorita de todas, onde na mesma hora, uma semana atrás, a mestiça dormira abraçada por Mori. A pequena loirinha balança os pés, vestida com uma fantasia de Alice no País das Maravilhas a pedido das gêmeas, que queriam estrear essa roupa feita sobre encomenda. As mesmas cantarolam uma música, deitadas sobre a grama fresca agraciada pela sombra da árvore, enquanto Suzu lê debaixo de um fuurin preso no tronco, acima de sua cabeça.

Quando os anfitriões chegam e vêem a cena resolvem chegar perto devagar pra não fazer um alarde, contudo as moças percebem sua presença sem nem precisarem encará-los. Os gêmeos surgem ofegantes, se delatando como os únicos a terem corrido mais desesperadamente rápido. Kyoya é o primeiro a falar.

– Suzu. – ela tira os olhos do livro – Eu... Eu passei uma semana tentando descobrir qual sua música favorita, livro preferido e seu maior medo porque não consegui entender absolutamente nada sobre você já desde o primeiro dia em que nos encontramos! Seus pais, às vezes, podem se esquecer de dizer o quanto te amam, e te fazer passar por coisas que não gosta, mas os dois estão sempre lá quando realmente precisa. O meu pai e os meus irmãos sempre foram para mim um obstáculo a ser superado. Eu só queria o mínimo de reconhecimento deles, por todo o meu esforço, mas graças a você eu percebi que não preciso tentar agradar todo mundo, e principalmente eles! Então... Pode ser um pouco tarde, mas... – ele toma fôlego – A música que você mais gosta não é cantada, é só o som de um fuurin no verão ou... Neste caso, na primavera.

– É sim, não me faz diferença. – os dois riem de leve – Mas isso não é meio óbvio depois de ver? E vai dizer também que o livro em minhas mãos é meu favorito?

– Não. Eu sei que não, porque você não é fã de poesias, sô lê quando está aborrecida ou precisando de inspiração. Seu gênero favorito é romance-policial, daqueles que contam quem é o assassino logo de cara e depois desenrolam a história fazendo segredo sobre qual a próxima ação dele. – ela ergue uma sobrancelha, esperando a próxima afirmação – A verdade é que você não tem um livro favorito.

– Não tenho? – Suzu torce a boca como quem quer rir, feliz pelo acerto – E por quê?

– Eles não prendem sua atenção porque sabe que qualquer um desses livros ficaria muito melhor se a detetive fosse você. – ambos sorriem convencidamente – Seu maior medo... É...

– Ora vamos, só porque gosto de histórias com suspense não precisa fazer uma pausa dramática!

– Está bem. – ele ri – Seu maior medo é... Ou melhor, era perder a amizade das suas amigas. Agora a sua confiança foi restabelecida por causa do que o meu pai fez. E mesmo sabendo disso não quer dizer que deva parabeniza-lo, é claro, então eu vim pedir desculpas por tudo. – Kyoya se curva – Desculpe.

Suzu passa um tempo quieta, sobre os olhares atentos de todos. Ela então fecha o livro.

– Levante a cabeça Kyoya. – ele se endireita – Eu entendo que queira se desculpar em nome das coisas ruins que seu pai disse ontem, porém, não vai adiantar. Isso porque você não fez nada de errado. Eu quero ouvir desculpas diretamente da boca dele, do contrário não vai adiantar. – suspira, revirando seus olhos – Quanto ao meu pequeno “teste” – o rapaz ri, deixando apenas as moças confusas, já que os outros sabiam da ideia de Kyoya sobre a possibilidade das perguntas serem um teste -, devo dizer que passou. Mas como?

– Eu fiz como pediu e não perguntei a ninguém. Só precisei prestar mais atenção em você. – um lindo clima romântico se instala entre eles, sendo interrompido quando Maiko pigarreia.

– Então... Mais alguém tem algo a dizer? – ela olha diretamente para os gêmeos.

– Ah sim! – respondem juntos, todavia Hikaru dá a vez a Kaoru.

– Então... Aiko. – a caçula, ainda deitada ao lado da irmã, o encara sorrindo previamente – É... Olha, a verdade é que eu gosto mesmo de você e...

– Gostar é diferente de amar, certo?! – a mais velha leva uma cotovelada da duplicata.

– Cala a boca Aika! Continue Kaoru. – ele toma fôlego novamente, fazendo uma careta séria.

– Eu quero que você seja realmente a minha noiva! – a surpresa é tanta que as duas levantam de uma só vez – Eu te amo, de verdade, e não quero que você vá embora!

– Aproveitando as palavras do Kaoru... – Hikaru coça a cabeça, desviando o olhar – Eu queria dizer a mesma coisa pra você Aika, e pedir o mesmo também.

– Então pode dizer isso olhando na minha cara? – o gêmeo mais velho se arrepende instantaneamente disso, pois quando seus olhos batem com os dela sua boca abre e as palavras começam a sair sem controle.

– Eu te amo e não quero que você vá embora! Eu falo até com os seus pais se for preciso, e enfrento os seus irmãos sem problema, mesmo morrendo de medo da faca de cozinha do Hiro nii-chan!

– Ei, você começou a falar como eu! – o mais novo repara, trocando com ele um soquinho.

– É mesmo? – Aika sorri sedutoramente, balançando levemente os ombros – Você seria mesmo capaz de enfrentar nossos irmãos, porque se tratando de nós duas eles viram feras!

– Nós enfrentamos sim, sem problemas! – os dois afirmam, fazendo-as rir.

– E é isso o que todos vocês vieram nos pedir? – Maiko procura confirmar.

– Sim, é exatamente isso! – Honey afirma abrindo os braços, e para a surpresa da pequena seu coelho de pelúcia não está com ele – Mai-chan, por que você tem me evitado ultimamente?

– “Evitado”, eu? Mas nós estamos sempre juntos!

– Pode ser, mas você não conversa mais comigo como antes.

– Pode crer. A única coisa que eles têm feito é comer e dormir. – Aiko comenta e a irmã concorda.

– Eu quero saber qual o problema. Fiz alguma coisa que te deixou aborrecida?

– Não! Não tem nada de errado com você, só que... – ao longe, a loirinha avista Reiko Kanazuki e fica paralisada, despertando a atenção dos outros que viram na mesma direção.

– Ah não Mai, não me diga que ficou enciumada por causa daquela garota do Clube de Magia Negra!

– Não fiquei! – ela rebate Aika, ficando mais corada conforme os olhares se intensificam – O que é?

– É isso? – o coelhinho baixinho sorri – Você ficou com ciúme da Reiko-chan?

– Não fiquei mesmo, tá bem?! Tanto faz se ela vai ao clube atrás de você, eu não ligo!

– Liga sim! – as gêmeas cantarolam maliciosamente, recebendo uma chuva de cerejas nas cabeças.

– NÃO LIGO! EU NÃO ME IMPORTO MESMO, NÃO ME IMPORTO!

– Vamos, admita logo que está com ciúme! – as duas insistem, recebendo as últimas cerejas nas mãos da pequena e indo se refugiar com os ex-noivos.

– EU NÃO ESTOU COM CIÚME! – o último grito chama a atenção de alguns alunos que passam, mas Suzu acha melhor poupar a jovem de perceber isso e ficar mais envergonhada – Seja Reiko ou a garota que for não me importa! Elas são apenas clientes do clube.

– Então por que a Reiko-chan te deixa nervosa? – quando ela ameaça jogar mais frutas nos gêmeos os dois correm para se esconder atrás de Kyoya junto com as ex-noivas.

– É só que... – Maiko abaixa a cabeça – É porque o Mit-chan parecia tão contente falando com ela... E a Reiko-chan gosta dele, eu percebi isso! Então... Fiquei insegura.

– Mai-chan... – Honey olha-a tristemente, voltando a ficar sério e escalando a árvore sem problemas para sentar ao lado dela – Eu não gosto da Reiko-chan de um jeito especial. Mesmo que ela goste de mim, a pessoa que eu amo é você. – os olhos da pequena começam a lacrimejar.

– É sério? – ele confirma com a cabeça, sorrindo fofamente enquanto ela limpa as lágrimas.

– Sim, sim! Quando vi você pela primeira vez pensei “nossa, ela parece um marshmallow rosa”!

– “Marshmallow rosa”? – o quarteto gêmeo se entreolha enquanto os outros espectadores riem.

– E eu pensei também que gostava muito de chocolate quente com marshmallow.

– Honey-kun, eu não quero cortar seu barato, mas essas frases já estão começando a ganhar um duplo sentido. – Linh ri baixinho, contudo o pequeno casal nem presta atenção.

– Eu também gosto de chocolate quente com marshmallow! – Maiko diz tentando evitar o choro.

– O que essa conversa tem a ver com a história? – as duplas travessas voltam a questionar ao mesmo tempo, então finalmente Honey ajuda a menina a secar as lágrimas e os dois sorriem.

Subitamente, quando Linh tenta se apoiar melhor no galho, escorrega e cai para trás. O susto dura o tempo de Mori pegá-la em seus braços num reflexo rápido, deixando-a rubra quando percebe a situação.

– Você está bem? – ela não tem certeza se é pela queda ou por estar tão perto dele, mas seu coração dá um salto olímpico a cada um milésimo de segundo.

– Estou. Obrigada. – todos ficam em silêncio, presenciando a cena – É... Eu, bem...

– Eu também não quero que você vá embora. – ele fala subitamente, dando um surpreendente sorriso – Quero que se case comigo. – todas as garotas ao redor do pátio exclamam em surpresa.

– Quer dizer que só eu não recebi uma declaração? – Suzu ri.

– Se quiser eu posso fazer uma agora mesmo pra você. – Kyoya responde, e novamente as donzelas se contorcem quando o veem ajuda-la a levantar do chão – O que me diz? Ainda vai embora?

– Depende. Se as meninas ficarem eu até posso pensar no assunto, mas preciso de mais um motivo.

– Pois não. – e de supetão, o vice-presidente do Clube de Anfitriões puxa a bela Sakurai pela cintura para um beijo suave e ao mesmo tempo urgente, chocando os presentes.

– Acho que eu já sei o que acontece quando a neve derrete. – Mori fala baixinho, sorrindo para Linh – Chega a primavera, não é?! – sem se conter de felicidade, ela também traz o pescoço do rapaz para perto e o beija calorosamente, causando duas vezes mais rebuliço.

– Eu tenho a impressão de que se passarmos muito tempo aqui vamos ser atacadas por aquelas fãs de vocês. – Aika diz assustada – Elas não estão com uma cara lá muito boa.

– Vocês correm o risco de ser demitidos do clube? – Aiko pergunta curiosamente.

– Não! – Hikaru responde abanando a mão – No máximo isso vai nos custar um corte no orçamento.

– Mais especificamente o dobro do que receberam no último serviço. – Kyoya responde de súbito, com as mãos ainda em volta da cintura da risonha Suzu, e os desanima.

– O QUÊ? Isso não é justo Kyoya nii-san! – ambos protestam.

– E não me chamem assim! – quando Tamaki e Haruhi finalmente resolvem sair de seu esconderijo, a limusine lilás para em frente a escola e dela saem os irmãos Aoki com as companheiras e o pequeno Sora.

– Onee-chan! – ele corre rapidamente para a irmã, que já foi colocada no chão por Mori, e abraça suas pernas – Oi onii-chan! – o rapaz sorri e lhe faz um cafuné que provoca risadas.

– Então, estão todas prontas pra ir? – Eikichi pergunta e as moças se entreolham.

– Nós não vamos onii-tan. – Aiko responde, causando estranheza nos recém-chegados – Quer dizer, nós queremos viajar, mas decidimos não nos afastar de Ouran e do Clube de Anfitriões.

– E mais especificamente dos rapazes, certo?! – Aramina provoca, tapando o sorriso com a mão livre pela ocupação da sombrinha para se proteger do sol – Que previsível!

– Ora, ora. – Edissa ri – Então já tomaram sua decisão. É uma boa notícia.

– Viu minha vida, eu disse que não íamos nos arrepender de atrasar a viagem!

– Você cancelou tudo nii-chan? Por quê? Papai vai ficar bravo!

– Não se preocupe maninha, foi ele mesmo quem mandou comprar passagens sem data marcada.

– Não creio! – Aika põe as mãos na cintura – Então armaram pra gente na cara dura!

– É justo por todas as vezes que precisamos passar vexame por causa de vocês! – Akinori bagunça o cabelo rosado e a faz rir, mesmo mandando-o parar.

– Mas tem uma coisa que nós podemos remarcar, certo?! – Henriqueta alfineta, abanando-se com seu leque de renda – Então vocês estão prontos para casar agora? – os casais se entreolham e confirmam – Ah, que ótimo! – ela sem querer bate o leque no rosto do esposo – Oh querido, desculpe! Não vi você aí atrás!

– Pior que sempre foi assim. – a gêmea mais velha começa a falar enquanto os outros riem – Aki nii-san sempre foi o responsável brincalhão, assim como a nee-san, e o Hiro nii-chan e a nee-chan os bobões de apelidos melosos, mas o Eiki onii-tan e a onee-chin, embora tentem disfarçar, são dois desastrados!

– “Onee-chin”? – os gêmeos repetem, achando graça do som do apelido.

– Ei, não ria da cara do seu irmão mais velho! E eu não sou desastrado!

– Sabe querido, ainda não vi você me defendendo. – sua companheira cruza os braços e os outros riem – Bem, deixe pra lá. A questão é que agora nós precisamos fazer muitas ligações!

– Ligações? Mas ligações pra quem Henriqueta? – Suzu ri da pressa dela em pegar o telefone.

– Ora essa, nós vamos precisar marca de novo todos os detalhes dos casamentos, a começar pelo bolo!

– Sorte que o padre tinha uns dias vagos pra marcar as datas na igreja. – Aramina sorri.

– Oi, um instante! – Linh passa a frente e puxa o celular – Vocês já tinham planejado tudo?

– Quase tudo. – a cunhada mais velha dos Aoki confessa – Só o principal sabe, como a data de todas as cerimônias na igreja, o esboço das festas de casamento, o contrato da banda, que por sinal será a mesma que tocou no aniversário de vocês meninas.

– Não creio! – Haruhi ri – Mas como imaginavam que isso ia acontecer?

– Bem, quem conseguiria resistir por muito tempo a essas coisinhas fofas? – as três mulheres trazem as adolescentes para um abraço feminino cheio de risadas.

– Bom, por isso nós esperamos que vocês cuidem bem delas.

– Pode deixar nii-chan. Só uma coisa, os seus pais concordaram mesmo com isso?

– Claro que sim! Eles sabem que aquela confusão não foi culpa de vocês... É...

– Hikaru. – o gêmeo mais velho resmunga, fazendo sua cópia rir – Assim não dá!

– Não ligue pro nosso irmão idiota Hikaru. Quando éramos crianças ele nos dava presentes iguais de aniversário, com nossas cores favoritas e nossos nomes nelas, mas sempre trocava.

– Ora Aika, como eu ia saber que você gostava mais de azul do que de rosa?

– Como não sabia que quem gostava de verde é a Aiko e não eu, você quer dizer?!

– Espera, você gosta de azul? E por que pintou o cabelo de rosa? – o Hitachiin mais velho questiona.

– Porque no dia eu já tinha usado toda a tinta pra pintar os cabelos das minhas bonecas. – a maioria exclama um “ah” – De qualquer forma, um dia o Hiroki vai aprender a diferenciar vocês.

– Mesmo assim eu acho que devíamos fazer alguma coisa a respeito.

– Bom Hikaru, se você quiser eu posso pintar o meu cabelo de preto.

– Não se atreva a fazer isso! – Aiko protesta – O seu cabelo é lindo. Eu gosto assim.

– Nesse caso pinto eu. – Hikaru dá de ombros – Aika me ajuda, não é?!

– Com certeza, afinal, eu mesma pintei o meu cabelo e o da Aiko!

– Muito bem, vamos deixar a química de lado e entrar no carro! – Akinori chama – Tem uma reunião de família esperando todo mundo lá em casa.

– Ferrou! – o quarteto gêmeo choraminga antes de marcharem até a limusine.

Continua...


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