A Lâmina de Ferro escrita por Cavaleiro Branco


Capítulo 9
Destino Tropical


Notas iniciais do capítulo

Hey, leitores!
Demorou, mas aqui está. Sei que está ficando difícil ter atualizações mais recentes por aqui. Com a vida exigindo, estou com cada vez menos tempo de escrever. Peço paciência e tranquilidade nas próximas semanas. Podem não ser rápidos, mas dou o melhor de mim na qualidade, mesmo que não seja tão boa assim!
Espero que gostem desse!

See you down stairs.



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7 de Dezembro

Confesso que, quando eu estava em Paris, havia reclamado do frio. Eu gosto do frio, no geral. Mas, às vezes, ele fica forte e cortante, e chega a me incomodar. Tanto que saí da Europa com várias blusas.

Mas isso era porque eu não conhecia o calor infernal dos trópicos.

–Aqui está. Obrigado!

Olhei, com alívio, para a garrafa d’água. Mal tinha descido do avião, e o suor já tinha começado a tomar conta de minha testa. Aquele sol só parecia piorar as coisas, com sua luz ardente e queimante.

Sério, como esse povo consegue viver assim?

Parti da loja, já abrindo a garrafa. O tal Aeroporto de Guarulhos era menor do que o de Paris, mas era um tanto mais movimentado. Pessoas iam e vinham em um fluxo constante, trazendo consigo malas, objetos, crianças, famílias. Alguns apressados e nervosos, outros numa tranquilidade incrível. Se comparado aos europeus, os latino-americanos eram mais agitados, mais ferventes. Tanto de um jeito, quanto de outro.

Caminhava tranquilamente pelo Aeroporto, puxando minha mala, e me deliciando da água. Estava tão quente, que tive que tirar duas blusas, e enfiá-las à força dentro da mala. Ainda conseguia sobreviver com um jeans, e com uma camiseta verde, já amassada e um pouco suada. Eu pareceria um turista comum, se não fosse pelo que eu carregava.

Desde que eu pousei, tinha sido barrado duas vezes pelos ditos “PMs”. Eram os tais policiais do Brasil. Caras carrancudos e um tanto desconfiados. Me trataram como se eu fosse um terrorista. Não os culpo... qualquer um teria pensado algo assim. Mas não deixa de ser... irritante. Sim, acho que essa é a palavra certa.

Estava um tanto descontraído. Disseram-me para esperar até 10 da manhã... e era o que eu estava fazendo. Mas, como sempre, eu não conseguia ficar parado sem fazer nada. Logo estava aos corredores, procurando algo de interesse.

Infelizmente, não tinha Jacques para me divertir. Como o combinado, ele partira de volta para Paris, em um avião que pegou logo depois. Dizia ele que, a partir de Guarulhos, eu já poderia me virar, e não levantar suspeitas.

Carregando uma katana nas costas? É... acho que ele errou os cálculos.

–Venham! Venham ver a mágica!

Logo, um amontoado de pessoas me atraiu. Jovens curiosos e idosos interesseiros cercavam um homem, na casa dos 30 anos, talvez menos. Vestia um colete simples e preto, acima de uma camiseta branca. Os olhos eram rápidos, e só a expressão dele já demonstrava animação, e chamava à multidão ao seu redor.

Instintivamente, me aproximei do grupo. Rapidamente, acho um lugar no meio de alguns garotos pequenos. Típico: qualquer Assassino que se preze é mais curioso do que um gato.

–Você, garoto! Qual é o seu nome?

–Julio!

–Ok, Julio! – diz ele, para um garotinho ao meu lado – o que você vê aqui?

–Cartas, senhor!

–Sim! E, como poder ver, são cartas comuns. Veja vocês mesmos...

O homem repassa a carta para alguns idosos próximos. Logo, eles a devolvem, dizendo que não havia nada de anormal.

–Pois então, Julio! Escolha uma carta... qualquer uma... não estou vendo!

Deixei escapar um sorriso, enquanto o garoto pegava uma carta qualquer. Típico...

–Viu qual é?

–Vi sim, senhor!

–Coloque de volta no baralho! Vamos embaralhar...

Demorou quase um minuto para o cara embaralhar bem e, depois, escolher uma carta do topo. Ele a pega, e a mostra para o garoto.

–É essa?

–Sim! Era essa mesma!

O homem sorri, enquanto todos ali comentavam o “feito”, surpresos. O truque com as cartas havia causado imensa onda de curiosidade e surpresa, por parte de vários presentes ali. Os garotos, perto de mim, não paravam de comentar entre si.

O único que não estava animado com isso era, claro; eu.

Sério mesmo que eles chamavam aquele truque de “mágica”? Tudo bem que exigia um pouco de esperteza e rapidez... mas era uma coisa simples e boba. Isso não é mágica de verdade, de longe. Se eles vissem a verdadeira mágica...

Soltei um riso, que foi rapidamente percebido pelo povo.

–O senhor chama isso de mágica?

Tanto o homem quanto o povo envolta olharam para mim, com certo interesse. Pareciam me estudar de cima a baixo, tentando ver do que eu era capaz. Eu apenas continuei dando o leve sorriso.

–Sabe fazer melhor, garoto? – dizia o homem, num tom um tanto repreensivo.

–Não poderia dizer que eu sei fazer melhor... Diferente de você, eu sei fazer mágica.

O homem estreita um pouco os olhos, mas ainda continua neutro. Os adultos e idosos ao meu lado sussurravam entre si, e as crianças falavam ainda mais alto. Parecia que o garoto estrangeiro tinha chamado certa atenção.

–Pois vamos ver, então.

O homem oferece para mim o seu baralho. Eu apenas balancei levemente a cabeça.

–Obrigado. Vou usar algo mais... simples.

Meu olhar vasculhou o amontoado de gente. Eles pararam em um jornal, enrolado nas mãos de um idoso moreno. Com apenas um passo, fui até ele.

–Com licença, senhor. Posso? – disse, apontando para o jornal.

O velho hesitou, como se eu fosse um ser perigoso. Mas, depois de alguns segundos, entrega o jornal em minhas mãos. Agradeci com um sorriso rápido, e voltei-me para o homem. Assim que cheguei, joguei a garrafa de água, vazia, em direção ao homem. Ele se esforça para pegá-la no ar.

–Segure para mim, por favor.

O mágico de rua me encara, assim como todos os outros. Os olhares curiosos pareciam me sondar de ponta a ponta, tentando identificar-me. Eu simplesmente bocejei, descontraído.

–Truque de cartas é algo um tanto... banal. Até uma criança poderia fazer.

Meu olhar subiu ao homem.

–Mas... será que uma criança poderia fazer algo mais... assim?

Elevo o jornal até a altura da cabeça, segurando-o pelas pontas. A dúvida no olhar das pessoas se transforma em surpresa, assim que o jornal arde em chamas, surgidas do nada. As chamas consomem o jornal em uma velocidade monstruosa, e logo teriam acabado com ele. Assim que a chama se extingue, uma rosa do mais puro vermelho estava no lugar do jornal. As pétalas se mexeram graciosamente, enquanto eu a movimentava para frente do meu nariz.

–Cheirosa, não?

Não dava para definir a perplexidade do olhar do mágico, e de todos em volta. Conseguia ouvir as crianças gritando aqui e ali, surpresas com o feito.

–Bom... acho que já mostrei coisas demais, não acham?

Com um simples gesto, eu arremesso a rosa no ar. Em menos de um segundo, a rosa simplesmente explode em milhares e milhares de papeizinhos vermelhos e verdes, minúsculos ao olhar humano. E, lenta e levemente, os papeizinhos caíam sob uma multidão incrédula, mal acreditando no que via.

Demorou um pouco, até eu poder ouvir as vozes das crianças.

–Onde o moço foi? Ele sumiu!

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E, por mais incrível que possa parecer, ninguém me barrou quando eu saí do Aeroporto.

Entre um amontoado e outro de pessoas, saindo e entrando do aeroporto, fiz meu caminho porta a fora. Pela primeira vez desde que pisei ali, eu havia passado despercebido pelo povo. Parecia que, longe de policiais e aeroportos, um garoto solitário com uma arma branca poderia ser um tanto “normal”.

Não importava onde eu fosse, nunca ia entender essas “pessoas comuns”. São estranhas e confusas. Era melhor ficar longe delas.

Mas... eu tinha outros problemas para cuidar. Se eu já estava me sentindo em um forno dentro do aeroporto... fora dele era ainda pior. O sol ameaçava castigar minha pele com ondas de calor, e transforma-la em fritura. No começo, comecei a resmungar a respeito disso. Mas, logo, algo me fez parar.

A vista dali era incrível. Uma série de vias estava logo à minha frente, lotada de taxis, carros e algumas vans. Logo depois, uma colina verdejante se estendia para baixo, pontilhada de arbustos e árvores baixas, incrivelmente verdejantes. Eu conseguia ver alguns prédios dali, que riscavam o céu azul puro. Deveria ser a tal São Paulo... ou alguma das cidades que a cercam, não sei. Aquele mapa parecia um tanto complicado para mim.

E, para melhorar, uma suave brisa fresca atingia minha face. Me deixei relaxar com a brisa tropical, enquanto pessoas passavam ao meu redor, carros ligavam, pessoas gritavam, aviões decolavam. Parecia que tudo estava na maior paz... na maior tranquilidade... em um perfeito equilíbrio. Uma sensação de paz tomou conta de mim por vários segundos.

Isso, claro, até eu ouvir o som do primeiro mosquito.

Afastei a criatura com um aceno da mão, irritado. Dica básica: Nenhum país tropical é tropical sem sua própria leva mortal de insetos. Aprendi isso quando fui para o Caribe – lá é lotado –, e revejo isso aqui no Brasil novamente.

Enfim, comecei a vasculhar os arredores. Gentil como Jacques é, ele me informara apenas que meu transporte estaria na porta do Aeroporto, às 10 da manhã. Não disse quem era, como era, e o que era. E, com uma leva de gente aqui e ali, gritando e gesticulando até para o inexistente...

Claro, vai ser moleza.

Vasculhei os taxis e vans. Ou eles estavam ocupados com famílias embarcando e desembarcando, ou estavam escutando o rádio, entediados. Nenhum deles se pareceria com um Assassino Branco... nem de longe. Depois de eras convivendo com eles, você sabia os identificar de cara. Mesmo assim, passei dois longos minutos procurando.

Até que eu achei algo.

Um carro cinza estava estacionado, no fim da via. O carro estava longe de ser pequeno, mas não era nenhum daqueles tipos de Esportes. Não havia placa de taxi, nem nada. Isso já indicava se tratar de algo diferente. Mas o que chamou atenção foi quem estava encostado nele.

Um garoto remexia um pedaço de graveto entre os dedos, parecendo entediado. Cabelos de um castanho escuro, um pouco encaracolados, quase chegavam a cobrir as orelhas dele. Os olhos castanhos encaravam o graveto sem nenhum interesse, como se ele estivesse vagando pelos mundos da imaginação. Havia uma pequena cicatriz na testa branca dele, reta e simples, que reluzia com o sol quente.

Usava bermudas cor de areia, com dois bolsos de botões nas laterais. Um par de sandálias da mesma cor apoiavam-se no chão e no pneu do carro, já que uma perna estava encostada lá. Vestia uma camiseta amarela de mangas curtas, com um desenho tribal em preto escuro de coqueiros, em uma possível praia. O logotipo da empresa estava estampado entre os coqueiros, na mesma cor.

Eu suspeitava do garoto, mas ainda me restavam dúvidas. E, como último recurso, preste atenção em seu braço esquerdo. E lá estava: Uma marca de nascença negra e tribal, igual à minha, se destacando em seu antebraço esquerdo inteiro.

Sem mais dúvidas, começo a me aproximar do garoto. Minhas passadas mantinham um ritmo estável, conforme eu me aproximava cada vez mais. Como era de se esperar, logo os olhos do garoto erguem-se para mim.

Um sorriso tomava conta dos lábios dele, assim que eu parei à sua frente.

–Demorou um pouco – disse ele, divertido.

–Tive alguns imprevistos.

Ele olha rapidamente para Honodori, encapada em minhas costas.

–Dá pra ver porque. Não é “legal” andar pelo Brasil carregando isso. Num morro... pior ainda.

–Que bom que não vamos para um... – ergui uma sobrancelha – ou vamos?

–Não dessa vez – ele sorri – Klaus, certo?

–Sim. Klaus Draco Altair.

–Belo nome. Dinamarquês?

–Sim. Apesar de não ficar muito por lá. E você é...?

Ele estende a mão para mim. Não demorou muito para eu aceitar o cumprimento.

–Gabriel. Gabriel Vicentin.

–Prazer em conhecer – disse, tranquilamente – então... é você que mandaram para me levar à Base?

–Tem outro? – disse ele, entre um sorriso e outro.

Odeio pessoas que são sarcásticas. Sério; só eu posso fazer isso.

–Engraçadinho...

–Não esquenta: Não sou do tipo sarcástico.

–E de que tipo você seria?

–Do tipo rápido e preciso.

–Arco e Flecha?

–O melhor do estado. E você, forasteiro?

–Rápido e Silencioso.

–É pra isso que serve a katana? – diz ele, apontando para Honodori.

–De certa forma.

Ele sorrio, e eu retribuí. Quando se faz missões no exterior, sempre há uma expectativa, um medo quanto ao seu parceiro. Se ele fosse ruim, e tivesse uma relação péssima com ele... isso poderia te custar a vida. Por isso, eu sempre torcia para encontrar alguém que eu gostasse em cada país irritante que eu pisasse.

Não costumo gostar de todo mundo, mas o Gabriel me pareceu bacana. Só sua voz, com sotaque brasileiro, já animava as coisas. E, pelo que eu descobri da personalidade... parecia ainda melhor.

Se todos os brasileiros fossem assim, eu já estava no céu.

–Bom... – diz ele – acho que já é hora de irmos.

Vi Gabriel dar um assovio pelo ar. Em poucos segundos, o vidro do motorista abaixa, de onde sai uma cabeça. Parecia um senhor de idade, com um mix de cabelos pretos e grisalhos. Um cavanhaque mal cuidado estava abaixo dos lábios, e iam até o pescoço. Usava um boné azul escuro, com alguma coisa gravada em sua frente.

–Conheça o Seu Pedro – diz Gabriel – ele vai nos levar até nosso destino. Pode ser um pouco velho e tonto, mas sabe ir até os lugares sem matar alguém.

–É da Irmandade?

–Uhum, um “aposentado”, digamos assim – diz Gabriel, dando um bocejo – quer que eu guarde a mala?

Gentilmente, entreguei minha mala de rodinhas para Gabriel. Após bater a porta do porta-malas, ele se dirige à porta do motorista da frente.

–Fique a vontade, Klaus. Ponha o cinto, e divirta-se.

–Vamos para São Paulo mesmo? – disse eu, enquanto entrava no veículo confortável.

–Hum... vamos dizer que não. Nossa Base Assassina fica em outro lugar.

Achei isso estranho. Jacques tinha me dito que era em São Paulo mesmo e...

Argh... aquele mentiroso ainda me paga. Deveria desconfiar que ele iria tirar uma de minha cara com isso.

–Bom... se não é aqui, para onde vamos?

Gabriel deu um sorriso, enquanto o tal Seu Pedro ligava o carro.

–Espere e verá, viajante.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?



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