A Lâmina de Ferro escrita por Cavaleiro Branco


Capítulo 8
O Aeroporto


Notas iniciais do capítulo

Hey, leitores!
Esse capítulo foi um pouco mais complicado de fazer, por isso acabou demorando mais. However, acho que o tamanho compensa um pouco!
Espero que gostem.

Boa Leitura.



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6 de Dezembro

Sério... ás vezes eu odeio o fato de ter sido treinado para ser detalhista.

Para os desafortunados, a grande construção era um refúgio para o intenso frio, que assombrava o lado de fora com seu poder mortal. O ar do interior já era capaz de devolver o calor ao corpo em poucos minutos, e esse era apenas uma das virtudes que o Aeroporto poderia oferecer.

O teto era alto, com ligas de ferro fazendo um arco entre um recanto e outro do Hangar. O vidro, no lugar do concreto, permitia uma bela visão do céu azul, pontilhado de centenas de nuvens brancas e leves. A neve ainda estava nas extremidades, sendo tiradas aos poucos por uma equipe especializada. O Hangar em si era largo, com dois andares do concreto cinza escuro. Localizado perto de uma das entradas, o lugar estava dotado de inúmeros cafés, com seus letreiros luminosos atraindo turistas, como se fossem moscas atraídas pela luz. Mesas e cadeiras de madeira rodeavam os estabelecimentos, enquanto bancos de plástico ocupavam o centro do amplo espaço.

A quantia de pessoas que vagavam por ali era enorme. A nevasca anterior havia parado fazia um dia apenas... atraindo turistas desesperados para terminarem as férias... ou ansiosos para começarem-na. Gente de todos os tipos vagavam pelo Hangar, carregando bolsas, malas, caixotes... tudo o que um avião permitiria carregar dentro. Blusas coloridas iam de um ponto ao outro, tornando a visão do lugar algo vivo...

E, claro, muito congestionado.

–Ainda está atrás de mim, Klaus?

–Não, não estou aqui. Ainda estou na base.

–Ótimo... siga-me. Acho que achei um lugar.

Eu não tinha achado má ideia ter o Jacques me acompanhando em minha viagem. O francês até que era uma companhia agradável, quando você não está brigando com ele, ou trabalhando intensamente. Mas... para um dos Mestres de Paris... até que ele era um tanto perdido.

E lá estava eu, arrastando a minha bagagem de rodinhas e a de Jacques, enquanto tentava segui-lo no meio da multidão. A quantidade de gente impedia que eu e Jacques andássemos diretamente ao alvo. Por isso... costurávamos nosso caminho entre a multidão. Entre um empurrão e um tropeço, consegui suspirar, entediado.

Odeio gente... mais ainda o coletivo de gente.

Enfim, conseguimos sair da multidão. Mesmo eu tendo um destino quente... não pude evitar ter que vestir roupas quentes no meio do inverno francês. Havia tirado minha boa e velha blusa de couro marrom escuro da gaveta, fazendo companhia à uma camisa branca de botões abaixo, acompanhado por outras ainda mais abaixo. Uma calça grossa e negra protegia contra o frio cortante. As solas dos sapatos brancos ressoavam no piso polido, enquanto minha animação estava no mesmo nível.

A única coisa interessante era perceber o olhar que as pessoas lançavam às minhas costas. Honodori (Minha katana, para os desinformados) estava oculta por uma capa azul escuro, e presa às minhas costas por uma tira daqueles tecidos plásticos. Parecia que qualquer oscilada da arma oculta fazia as pessoas pulares de susto em suas mentes, e se afastarem rápido dali.

Isso era engraçado... eram como formigas assustadas.

Ainda não sei como Jacques conseguiu fazer com que ela passasse pela inspeção do Aeroporto... muito menos que eu pudesse ir para o Brasil com ela. Mas não me importava muito com esses detalhes... já estava muito agradável. Eu não era nada sem minha arma em batalha, nenhum Assassino que se preze era. Por isso, era gratificante poder leva-la comigo. Mesmo que isso atraia maus olhados.

–Ali. Vamos esperar ali.

Segui o dedo de Jacques, que apontava para a única mesa vazia naquela parte do Hangar. A mesa redonda de madeira escura, circundada por apenas duas cadeiras, estava enfrente à um café francês pequeno, de onde saía um vapor agradável. Garçonetes entravam e saíam do estabelecimento, carregando bandejas fumegantes acima da cabeça.

Encarei Jacques. Finalmente ele tinha tido uma ideia descente naquele dia!

–Enfim quer tomar um café? Achei que não fosse ouvir minhas sugestões nunca.

Ele devolve minha encarada com um simples sorriso, expondo seus dentes bem cuidados. Mesmo fora da base... Jacques ainda se vestia de um modo parecido. O francês se contentava com uma camiseta de botões branca, revestida por um colete sem mangas preto, que era ainda coberto por um agasalho de couro negro. Jeans escuros protegiam suas pernas do frio, e botas de um couro marrom claro estavam ainda um pouco sujas de neve. Os cabelos haviam sido penteados para trás com gel, de um modo belo e clássico. O bigode fino aumentava a elegância, juntamente com uma gravata listrada, presa ao pescoço.

Ele se senta em uma das cadeiras, enquanto eu desabava em outra. Jacques carregava apenas uma mala de mão... pra variar. E eu, como de costume, carregava o resto para ele. Para alguém que nem ia sair do Aeroporto no destino final, até que ele levava bastante coisa.

“É a distração perfeita. Ninguém vai desconfiar de um garoto e seu tio viajando para o Brasil, para passar as férias!”

Até parece...

–O que foi, Klaus? Parece cansado.

Encarei-o, de cara feia. Acho que ele estava passando tempo demais comigo...

–Não, não. Só estou um pouco entediado.

Ele sorri para mim. Antes mesmo de poder responder, a garçonete aparece. Uma moça jovem de cabelos longos e negros... que eu, sinceramente, não sabia como estava aguentando o frio com aquele uniforme leve e com aquela saia. Perguntava o que queríamos, em francês. Respondemos à mesma maneira:

–Quero um café médio... e um cookie de chocolate – disse eu.

–Para mim, apenas um café pequeno.

A garçonete anota o pedido, e sai às pressas dali. O lugar estava lotado... com diversas pessoas. Cada língua em uma mesa... cada mundo em uma mesa. Confesso que não gostava de multidões... mas ficar em um canto separado e poder vê-la melhor era fascinante. Diferente de vários membros da Irmandade, eu viajava com muito mais frequência... então eu via mais disso do que outras pessoas. Mas, ainda sim... isso conseguia me fascinar um pouco.

Mal percebi o tempo passar... apenas quando a garçonete pousava xícaras e um prato na mesa. Tanto eu quanto Jacques demos um sorriso, em agradecimento. Ela apenas o retribuiu, e voltou ao atendimento.

Peguei o cookie, enquanto deslizava meu corpo para uma posição mais confortável. Jacques pega seu café e, lenta e prazerosamente, beberica os lados.

–Hum... incrível, não?

–Não sei... ainda não provei – comentei.

–Pois prove. É bom... mas duvido que chegue aos pés do meu.

Parecia um tanto egoísta... mas, de longe, era verdade. O café de Jacques não tinha comparação. Mas eu pouco ligava para isso no momento... esperava que os cafés do Brasil também tivessem sua arte.

–Aproveitando essa pausa de seu esforço “incrível” – disse eu, na ironia – pode me dar meu mangá, por favor?

–O que? Aquela revista em quadrinhos?

Fechei a cara. Sério... essas pessoas sem cultura me deixavam irritado muitas vezes.

–Jacques... só tem ele no meio de seus livros e equipamentos. Pare de enrolar e me dê logo.

Ele novamente dá aquele sorrisinho travesso, enquanto me entregava o mangá. Falando sério... as vezes eu achava que ele só começou a ser assim quando eu cheguei. Motivos? Claramente me irritar.

Revirei os olhos, e comecei a folhear as páginas. Devido ao meu treinamento, eu tinha me acostumado muito com o Japonês... e preferia mil vezes os mangás dessa forma. Mas, como não saía da Europa à tempos, tive que me contentar com um em francês. Não era a mesma coisa... mas dava pro gasto.

–Não sei como você entende esse estilo... se lê ao contrário!

–Sim... e daí?

–É um tanto confuso... pelo menos para mim.

–“A prática leva à perfeição”, meu caro Jacques...

–De certa forma... uma coisa, você não acha que...

Ele parou de falar, no exato instante que um som estranho chega aos meus ouvidos. Pelo jeito que ele tinha chegado... só poderia se tratar de uma coisa...

Meu olhar subiu para Jacques, no exato instante em que se levantava, quase derrubando a cadeira. Agarrava a barriga, e a face estava sem cor.

–Me dê licença... eu não... ah!

E saiu correndo, aos tropeços, em direção ao banheiro... trombando em cada turista que encontrava pela frente, se desculpando rapidamente.

Não resisti a um riso. Bem que ele mereceu, por ficar me irritando à toa. E, enfim, eu poderia relaxar mais, antes do voo.

Após terminar o cookie, dei um longo gole em meu café, antes de voltar à leitura. A história não estava tão interessante quanto a do último que li... mas já era o suficiente para me fazer passar o tempo. Talvez o personagem pudesse finalmente fazer aquilo que eu estava esperando que fizesse desde a 5ª Edição...

Eu estava no meio da leitura... quando, de repente, senti uma pequena vontade de encarar a multidão ao redor. Não era algo explicável... mas que mal poderia fazer? Nunca se sabe quando um policial poderia tentar apreender sua espada em um Aeroporto... de novo.

Levantei os olhos, no exato instante em que um garoto se aproximou da mesa.

De cara... já notei nele uma certa diferença dos vários turistas que estavam ali. O cara tinha olhos de um castanho bem claro, se destacando em sua face de pele branca. O cabelo era de um tom loiro escuro, quase chegando a ser castanho. Era curto nas laterais, mas se erguia um pouco mais no alto. Uma barba rala surgia na pele do maxilar.

Ele se aproximou mais... de um modo desinteressante, cansado. Vestia uma camisa de botões branca, com a gola em formato de V. Uma calça de couro marrom, desgastada. Enfeitando a gola, havia uma corrente de ouro, com um crucifixo nesta. O garoto também usava uma pulseira, feita com tiras de couro entrelaçadas, de onde pendia uma espécie de dragão de prata simples, sustentado por uma das pontas. A sola de um tênis preto simples fazia barulho com os passos... que pararam, assim que ele para, logo ao meu lado.

–Esperando alguém?

O encarei, abaixando um pouco meu mangá. Estava perguntando em francês... apesar de eu notar um sotaque diferenciado, produzido por uma voz meio rouca. Deveria ser um brasileiro... curiosamente. Não se achava um estilo assim com tanta frequência.

–Na verdade estou... mas ele não vai voltar tão cedo...

Indiquei a cadeira à minha frente, onde antes estava sentado Jacques.

–Se quiser... fique a vontade

–Valeu...

Me surpreendi na hora. Ele tinha falado aquilo em dinamarquês... e de um modo fluente, alias. Não sei se notou meu sotaque dinamarquês... deve ser perito na língua também.

Interessante...

–Qual é?

Voltei novamente o olhar para ele. Ele encarava meu mangá, que estava com a capa inclinada para a mesa. Lentamente, virei a cara para o olhar dele, mostrando-a.

–É novo. Apesar de eu preferir os que estão em Japonês original... francês é uma língua entediante...

O garoto deu de ombros, aparentemente indiferente.

–Não vejo muita diferença, mas prefiro os em inglês

–O que é melhor? O filme com a língua original ou com aquelas dublagens terríveis de atores e esportistas aposentados? – argumentei.

–Realmente...

Novamente, o garoto dá de ombros.

–A resposta é óbvia.

Estava com os olhos no mangá... mas consegui ver, com o canto dos olhos, o garoto olhando para uma garçonete, que estava de passagem ao lado da mesa.

–Desculpe... mas pode me trazer um croisant de presunto e queijo?

Novamente, fiquei surpreso. Francês fluente... precisava saber onde aquele garoto estudava línguas.

A garçonete sorriu, enquanto se dirigia rapidamente para a loja. Sem tirar os olhos do mangá, lancei minhas palavras ao garoto novamente.

–Qual é o seu nome, Cavaleiro Solitário?

Percebi que ele me encarava.

–De onde tirou isso? – voltou a falar dinamarquês fluente.

–De algum lugar – disse, sem emoção.

Ele pareceu não reagir perante isso... mas apenas respondeu.

–Nicollas, sou Nicollas Vicentin... acabei de chegar do Brasil

Olhei-o de cima a baixo. Era um nome um pouco estranho... para um brasileiro.

–Percebe-se...

–De qualquer forma... sou Klaus, Klaus Draco Altair, da Dinamarca

–Percebi, pelo sotaque... – retruca ele - poderia disfarçar melhor, você não parece alguém que gosta de aparecer...

Ele aponta para minhas malas, onde claramente se via as etiquetas de embarque.

–E estrangeiros no Brasil... – o dedo agora aponta para a minha espada encapada – chamam bastante atenção.

Okay... agora sim ele conseguiu despertar minha curiosidade. É raro achar alguém com esse palavreado.

–Brasileiros sempre chamam atenção...

Minha retrucada conseguiu calar o tal Nicollas por alguns poucos segundos. O garoto poderia ser bom com as palavras, mas ainda não se igualava à mim.

Enfim, a garçonete aparece com o croisant de Nicollas. Ele o pega, e sorri para a garçonete.

–Obrigado – diz ele, em francês.

Enquanto degustava o alimento, eu o estudei novamente. Algo no cara me intrigava... mas não fazia ideia do que poderia ser. Quando pensava nisso... minhas espinha dava uma leve formigada...

Procurei palavras para continuar a conversa. Jacques estava demorando... esperava eu não ser o “Número 2”. Não queria ficar ali e perder o voo.

–Está aqui só de passagem? Ou Paris é seu destino final?

–Destino final – responde, sem se interessar realmente - tem alguém que quer muito me ver...

Ele faz um aceno com os braços, indicando sua falta de bagagens.

–Onde já se viu não deixar eu fazer as malas - murmura irritado consigo mesmo.

Não pude evitar uma risadinha. Ele era brasileiro... mas era dos bacanas. E isso era bom.

–Você não viu meu tio... uma vez eu estava com uma amiga em...

A conversa é interrompida, com os passos rápidos de um homem, em direção à mesa. Nem precisei me virar para ver quem era...

Conhecia aquelas botas em qualquer lugar.

–Falando nele...

Antes mesmo que eu pudesse falar mais... ou Jacques se aproximar... Nicollas suspira.

–Bem... – diz Nicollas, com um sorriso travesso, enquanto encarava Jacques se aproximando, atrás de mim - Acho que essa é minha deixa.

Ele se levanta, pegando o seu prato com uma das mãos. Se vira para partir... mas antes, dirige seu olhar para mim.

–Até mais ver, Dragão – diz o garoto em português, enquanto dava uma piscadela para mim.

Levantei uma das sombrancelhas, enquanto encarava o estrangeiro caminhar pelo Hangar tranquilamente. A quantidade de pessoas diminuiu bastante... o que me permitiu vê-lo além do que poderia antes.

Okay... isso foi estranho...

Nesse instante, Jacques se curva ao meu lado, arfando com o “esforço” da corrida.

–Ufa! Essa foi das pesadas...

Jacques pareceu notar o estrangeiro apenas naquele instante, que se distanciava cada vez mais da mesa.

–Quem era?

–Um brasileiro, para variar. Um tal de Nicollas... e estávamos tendo uma conversa boa, até você e sua dramaticidade aparecerem.

Voltei a encarar Jacques... e achei estranho. Ele encarava o garoto com certo interesse... Quando vi, ele estava conversando com outro garoto, no outro canto do Hangar. Não dava para ver os detalhes daqui... e haviam algumas poucas pessoas no caminho.

–Algo nele me é familiar...

–Achou seu filho perdido? – comentei.

–Não... deixe para lá. Vamos indo

–Tuudo bem – disse eu, me levantando lentamente.

Segui Jacques pelo Hangar... enquanto arrastava as malas. Jacques ia em direção à sala de embarque com uma velocidade tranquila... mas pude notar sua cabeça trabalhando, e seu olhar pensativo. Provavelmente algo a ver com...

Arrisquei uma olhada para trás. O tal Nicollas ainda estava conversando com o garoto... e notei que ambos olhavam para mim, e para Jacques. Dois segundos depois que me virei, os dois se viraram... e seguiram para a saída do aeroporto.

Suspirei, enquanto voltei minha atenção para frente.

Aquilo havia sido estranho...


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Notas finais do capítulo

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