Tentava me levantar, meu baixo estava fazendo um peso extraordinário em minhas costas, meus braços e pernas estremeciam e para piorar, começou a chover. Droga, não vou conseguir levantar, e bem na frente das pessoas, nas quais no momento devem estar olhando para mim e rindo, e o pior é que não tem ninguém para me ajudar, ninguém. Como eu sou idiota, não estou conseguindo levantar só por causa de uma garota, só por causa de outra idiota. Apoio-me em uma parede cinza de uma casa pequena e tento levantar novamente, com sucesso dessa vez. Dou uma ajeitada em minha saia e no baixo, e apesar de estar sem guarda-chuva, sigo andando devagar até chegar a minha casa. Ainda não estava conseguindo andar direito, minhas pernas estavam bambas, mas mesmo assim fui debaixo da chuva, evitando os olhares das pessoas.

Ao chegar em casa, meus pais ainda não estão, meu pai deve estar no trabalho e minha mãe provavelmente no supermercado. Fecho a porta e vou direto para meu quarto, que está mais desorganizado do que eu pensava, com folhas e livros espalhados, mas por sorte não há nenhuma roupa na zona. Retiro meu instrumento das costas, o deixando no canto do quarto, em seguida troco de roupa, e deixo meu uniforme para lavar, já que está molhado. Respiro fundo e começo a arrumar os livros primeiros, que não são muitos, só que depois vem as folhas, que tive que olhar com calma, mas a maioria é lixo, rascunhos de música que não deram certo. Outras anotações da escola que acabei esquecendo de organizar, depois que Ritsu veio estudar aqui. Ritsu... Quando me toquei, já estava chorando de novo. Mas tudo que eu precisava era me distrair, enxugava minhas lágrimas e segurava o choro, e por fim peguei um livro para começar a ler, mas depois da terceira página, acabei caindo no sono.

Minha mãe me acordou para jantar, respondi que já ia. Levantei-me soltando um suspiro, e segui para mesa. O jantar parecia interminável, estava mais quieto que o normal, e eu só queria que ninguém perguntasse nada, e no final, não perguntaram. Quando terminei, ajudei a lavar louça e segui para meu banho, e finalmente volto para o quarto.

Visto o pijama e entro debaixo das cobertas, tão quentinhas e confortáveis, é como se elas estivessem me consolado. Sim isso é meio “Forever Alone”, mas desde que só a Ritsu costumava me consolar, e desde que o problema agora é com ela, qualquer coisa que me aconchegue está de bom tamanho.

–x-x-x-x-x-

O despertador do meu celular estava tocando, o desliguei e levantei na hora. Mas que dor de cabeça, acho que não dormi muito bem. Minha mãe aparece na porta do quarto, me avisando do horário.

– Mio, você está bem?

– Eu só... só estou com um pouco de dor de cabeça. – respondo e ela checa minha temperatura

– Você está muito quente, deve estar com febre. – ela disse um tanto preocupada. Ah, ainda bem, não queria ir à escola hoje, nem sei se conseguiria. – Vou medir a sua temperatura, mas acho melhor ficar.

Ela me fez deitar na cama enquanto esperava o termômetro dar o resultado, no final deu 38, é febre. Nunca agradeci tanto por tomar chuva.

Após umas duas horas sem fazer nada, Ritsu provavelmente percebeu que eu havia faltado, pois estava me ligando sem parar, mas ela demorou, afinal, eu sempre vou até a casa dela acordá-la. Não cheguei a atender o celular, e ela não podia ligar para o telefone de casa, pois estava quebrado. Até que ela começou a me mandar mensagens, que também não cheguei a responder. “Mio, por que você faltou?” Tecnicamente foi por sua causa. “Ah, aposto que dormiu demais, né, Mio?” Ah, é ... com certeza eu perdi o horário. “MIOOO, quem é que vai copiar a matéria para mim?” Oras, copia da Mugi, você não precisa mais de mim.

Afinal voltando para a pergunta, por que a Mugi? Bem, tirando o fato de ela ser rica, bonita, gentil, e aquele cabelo lindo e... Afinal, por que não a Mugi? Eu não tenho nada que ela tem. Pra Ritsu eu sou só sua amiga e uma baita medrosa. E já estava enxugando minhas lágrimas de novo. Droga Mio, é só uma garota. Não, não é só uma garota... Quando é que eu vou parar de chorar por causa dela ?

Eu não conseguia fazer nada, a febre só parecia piorar, simplesmente ficava deitada ali,e já estava entediada, até Ritsu me mandar uma mensagem. “Estaremos passando ai daqui a pouco” E AGORA? O QUE É QUE EU FAÇO? Levantei da cama me arrastando até minha mãe que estava na cozinha.

– Mãeee, eu preciso de um favor seu – minha voz estava falhando.

– O que, Mio? – Perguntou preocupada

–Mãe é que minhas amigas estão vindo aí, e eu não estou muito bem para vê-las... Será, que você podia dizer que não estou?

– Oh, não, tudo bem, mas por que você não liga pra elas e diz para não virem?

– Háháhá, mãe, você não as conhece.

– Mas pode deixar que eu falo. Agora vai deitar e descansar e troca a outra bolsa d’água por esta – disse ela entregando outra bolsa d’água.

– Obrigada Mãe.

Voltei pro quarto e logo em seguida, após apenas dez minutos, a campainha tocou. Sentei-me do lado da porta do quarto, só para ouvir. Minha mãe abriu a porta e as cumprimentou:

–Oh, olá , meninas...

– A MÃE DA MIO-CHAN. - Essa voz era da Yui.- Boa tarde, He.

– A Mio está? – Disse Ritsu indo direto ao ponto.

– Não, me desculpem, ela está com a avó hoje.

– A mio está bem? – perguntava Mugi.

– Ela acordou com febre está manhã.

–Ah... por isso. – Ritsu comentou. – Bem, então desculpa o incomodo.

– Ah, que isso, não foi nada. Vocês gostariam de beber algo ? – MÃEEE, O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?

– Não, nós agradecemos, mas já estamos indo. – disse Ritsu.

– Manda melhoras para Mio-senpai, estávamos preocupadas com ela. – Essa era Azusa, com certeza.

Elas se despediram, e finalmente passou, suspirei aliviada e voltei para cama. Agora começava o fim de semana, ou seja, sem escola. Não preciso necessariamente encarar a Ritsu agora.