Cordélia estava sentada a mesa com Fiona e Marie Laveau. A televisão ligada dava a noticia da morte de Hank. Ela se culpava, antes de ir atrás das bruxas vodoo ele a havia procurado implorando por perdão, mas ela o havia recusado. Pediu o divorcio e no outro dia ele estava morto. Fiona fazia pouco caso dela como sempre, mas Marie Laveau ouvia atentamente.

– Não é culpa sua, é minha, eu o contratei. – Disse Marie Laveau com a voz carregada de desprezo.

Cordélia se endireitou na cadeira, olhando aqueles olhos cheios de veneno ela se perguntou se ter sua visão de volta era assim algo tão bom.

– Do que você esta falando?

– Seu marido era um caçador de bruxas.

Depois disso tudo pareceu acontecer lentamente. Fiona foi em sua direção enlouquecida pela fúria e lhe esbofeteou.

– Você não é só cega, você não quis enxergar. – Gritou enquanto Cordélia segurava o rosto que agora ardia. Fiona continuava a gritar a acusando de ser a culpada por tudo o que acontecia. Ela a olhou com desprezo antes de sair e a deixar ali chorando silenciosamente.

***

Misty havia tentando falar com Cordélia durante todo o dia desde que soube da morte de Hank, mas ela nunca estava disposta. Se sentia sendo deixada de lado e aquilo a angustiava de maneiras que ela não conseguia entender. Sabia que Cordélia estava sofrendo e sabia que Fiona a estava pressionando, mas não podia ajudá-la se ela não se permitisse e por algum motivo aquilo a entristecia.

Fiona entrou no quarto de Misty já acendendo um cigarro, a garota se encolheu no canto pois já sabia tudo sobre a mais velha. Cordélia havia dito a ela tudo o que precisava saber.

Fiona tentava lhe convencer de que a Supremacia era algo a ser desejado.

– Ser Suprema significa ter a chave do mundo. Significa que pode ter tudo o que quiser.

O que Misty queria era Cordélia, será que Fiona podia ver isso? Ela não se importava com poder, riquezas ou outras futilidade, mas se ser Suprema fizesse Cordélia a aceitar ela não se importaria.

***

– Eu soube que você conheceu Steve Nicks. Quer me contar como foi?

Misty estava mais uma vez sozinha na estufa, queria poder ir embora dali voltar para sua natureza onde o homem e muito menos as bruxas podiam lhe fazer mal. Já fazia um bom tempo que estava ali pensando em maneiras de ir embora, mas quando Cordélia apareceu ela pode ver o porque de não pegar suas coisas e simplesmente ir embora. As pessoas a tomavam por inocente, mas ela sabia que as coisas eram complicadas, sabia que por mais puro que fosse o que estava sentindo não saberia como convencer Cordélia de que não a machucaria como Hank, sabia que toda pureza do mundo havia acabado. E mesmo assim toda as vezes que a via seu coração se aquecia, podia ser confuso e doloroso estar tão perto dela, mas mesmo assim era a única parte boa de estar ali. Era só uma esmola comparado ao que ela queria, mas já era o suficiente para encarar qualquer coisa, qualquer homem, qualquer bruxa.

– Eu desmaiei. Foi maravilhoso. – Ambas as mulheres sorriram, nos últimos dias não havia tido muitos motivos para se sorrir naquela casa.

Mas logo o sorriso de Cordélia se foi. Se sentiu culpada por sorrir. Tudo a sua volta estava desabando e Misty conseguia fazê-la sorrir por nada.

– Nan está morta. – Uma lágrima solitária se arrastou pelo rosto de Cordélia e Misty se aproximou para enxugá-la, mas foi impedida, Cordélia tinha medo daquela aproximação, não sabia o quanto podia se manter firme se Misty se aproximasse de mais, mas a outra não se importava.

– Como? – Misty perguntou com um olhar solidário.

– Eu não sei ainda, mas pretendo descobrir, só preciso achar uma forma de recuperar meus poderes. – Ela passou a mão pelo rosto bruscamente enxugando as lágrimas que teimavam em descer. – Vou descobrir o que esta acontecendo nessa casa.

Antes que pudesse se dar conta do que estava acontecendo, Cordélia sentiu os braços de Misty a envolvendo. Não teve tempo de se afastar e quando Misty já a envolvia em calor e sentimento ela não quis se afastar. Seus cabelos dourados se misturando ao cheiro de café e flores, o toque delicado e reconfortante, Cordélia desejou não desejar tanto aquele contado, mas só o que fez foi a apertar mais contra si.

– Você não precisa ter o controle de tudo, você só precisa tomar um pouco de ar e começar de novo. – Misty sussurrou contra o pescoço de Cordélia que precisou de um esforço descomunal para não se entregar a ela e soltá-la, deixá-la ir.

Evitou o máximo encará-la.

– Vamos, temos que ajudar as meninas a organizar o funeral.

***

Misty não voltou do funeral.

Cordélia procurou por ela em todos os lugares, por um momento se esqueceu dos verdadeiros problemas do clã e só o que pensava era em encontrar Misty.

– Ela tava toda estranha falando sobre a floresta e sobre Steve Nicks, vai ver ela se mandou. – Madison disse com aquele tom irônico. Cordélia sabia que ela estava mentindo, ela sabia de alguma coisa e não estava dizendo.

Mas por outro lado fazia sentido, e se Misty tivesse se cansado de todo aquele drama e se tivesse se cansado de Cordélia a afastando vezes e vezes seguidas e tivesse realmente ido embora. Só pensa nisso fazia o interior de Cordélia se agitar, não podia pensar nisso agora, mas não conseguia se concentrar em mais nada, precisava achar Misty e saber o que tinha acontecido a Nan. Precisava de seus poderes de volta e estava a ponto de se desesperar, foi ai que percebeu.

Misty estava certa, ela não precisava ter o controle de tudo e o que mais fez durante a sua vida foi tentar ter controle sobre seus sentimentos. Se martirizava por não ter o amor da mãe e se apaixonou por Hank para chamar a atenção dela, mas dessa vez não tinha controle algum, dessa vez todo o seu corpo, seu espírito queria Misty e ela não tinha controle.

Poderia ser a bruxa mais poderosa do mundo e ainda assim não poderia ter controle sobre seus sentimentos, mas sabia de uma coisa, sabia que tinha controle sobre seu corpo e aquele corpo ali precisava de seus poderes de volta para encontrar a mulher que ela amava. Corpo e alma trabalhariam juntos ao menos uma vez.

Esse era o quando ela a amava mutilaria a si mesma se esse fosse o preço a pagar.