Turno: Sakura Haruno

Casa de Sakura, 11h20min

O visor do telefone me esclarecia o despertar. Se eu estivesse no meu estado normal, estaria na mesa, tomando café da manhã há, pelo menos, duas horas atrás. Mas como eu, Sakura Haruno, impus um ato patético contra meu guarda-costas, Sasuke Uchiha, obrigo-me agora, covardemente, a permanecer na minha confortável cama.

– Ah, meu Deus, eu não posso ficar aqui no quarto o dia inteiro!- Viro-me de barriga para cima, fitando o teto que era manchado pelas frestas de luz, atravessados pela janela. Tombo o dorso da mão na testa, limpando o pouco suor que eu produzira ali.- Fora que está um forno...- Retiro as cobertas, que já estavam começando a pesar.- Deus, por que eu fiz aquilo?- Arquejo furiosamente.- Ah, vamos...- Livro-me da minha covardia revoltante, deixando as cobertas e o conforto, e entrando na sala, que logo no primeiro passo, reluto em voltar ou não para o meu quarto escuro.

– Bom dia.- A voz espessa do moreno que trabalhava em um lanche instantâneo na cozinha, deixa-me com aquele famoso bolo na garganta.

– Bom dia, Sasuke.- Resvalo meus dedos pelas cadeiras da mesa de jantar, preocupando-me mais com as atitudes futuras de Sasuke, mas procurando manter um certo disfarce para que o mesmo não entre no assunto da noite passada.- Olha, Uchiha, eu fui estúpida e queria que você esquecesse completamente o que houve entre a gente ontem.- Estrago completamente minha chance de manter o assunto afastado, tendo de esperar uma resposta do moreno ansiosamente.

– O que houve entre a gente?- Suas palavras de começo me deixaram confusa e fizeram com que eu voltasse as minhas memórias para certificar de que tudo aquilo havia sido um sonho ou obra da minha imaginação prolífera. Mas essa teoria foi rebaixada após a piscadela que recebi, como dizeres e estampa-se na minha testa: “Nada ocorrera”. Sinto-me uma tapada.

[...]

A noite estava para tomar o lugar da tarde, quando de repente o meu celular toca. Desgovernada, ponho a procurar o bendito pela casa. Pulo sofá, escorrego no tapete, acho outras coisas que estavam perdidas mas nada do meu celular rosa e fofinho. E nada também de um certo Uchiha me ajudando a procurar. Apenas ficou fingindo ler o meu jornal, sentado na minha cadeira e tomando o meu café. Finalmente, encontro o objeto cor de rosa entalado no vão da minha cama. Atendo rapidamente e a pessoa do outro lado da linha já vem ao caso.

– Vocês sabem que brinca com a polícia se ferra, não?

– Quem é?- Sasuke abaixou o jornal, subindo os olhos para mim.

– Olha, venham tirar o seu boneco robô, ou sei lá o que da delegacia.

– Mas...- Eu não entendia o que a pessoa estava falando e nem deu chance para mim tentar entender, pois o mesmo já havia desligado na minha cara.

Desliguei o celular, o fechando. Mordi os lábios pensativa. Que conversa mais estranha foi aquela? Bom, melhor eu não provocar a polícia. Fui ao meu quarto arrumando minha bolsa e a colocando sobre os ombros. Dei uma ajeitada no cabelo, quando Sasuke apareceu na porta.

– Sakura, quem era?

– Acho que o detetive Shikamaru.- Passei por ele, pegando a xícara de café dele que estava em cima da mesa da cozinha e dei um curto gole.

– O que ele queria?

– Eu não entendi muito bem.

– Eu vou com você então.- Sasuke pegou seu casaco de couro que estava abraçado a uma das cadeiras da cozinha, e o vestiu.

– Não, não precisa, tudo bem.

– Alguém te liga falando asneiras, mandando você ir pra um lugar e desliga na sua cara.- Nossos corpos estavam relativamente próximos, e eu realmente não sabia como eu não ficava com torcicolo para falar com ele. Meu Deus, como era alto esse Uchiha!- Realmente, não sei como você sobreviveu sem mim.- Sorriu sarcasticamente, abrindo a porta do meu apê e saindo para o hall do prédio.

– Argh.- Rosnei, revirando os olhos.

Em poucos minutos já estávamos na delegacia. Quando entramos encontramos detetive Shikamaru e aquele policial gordinho, nos olhando azedo.

– Eu vou deixar essa vez passar, mas se vocês aprontarem de novo eu juro pelos deuses que mando meus policiais atrás de vocês!- Shikamaru contornou sua mesa, agarrando o mascarado com extrema facilidade e entregando a Sasuke com um semblante não muito amigável. Sasuke passou o mascarado para os meus braços disfarçadamente, e eu fiquei analisando aquela “coisa”. Era leve, não era humano obviamente. Me vi surpresa, tentando encontrar uma explicação para tudo aquilo.- Já não estão grandinhos demais pra brincar de boneca?- Shikamaru apoiou-se em sua mesa, dando uma risada cômica para nós dois. Abaixei meus olhos sem saber que reação apresentar.

– Você acha que estamos brincando?!- Já era tarde demais quando Sasuke agarrou o colarinho do detetive Shikamaru, o deitando sobre a sua mesa agressivamente. Vi o policial com os quilinhos a mais, tatear algo sobre seu cinto e tocar seu revólver, assustado.- Acha que pregamos uma peça em vocês? Ela está em perigo! Estão a perseguindo e não sabemos quem é.- As coisas já estavam indo longe demais. Sasuke parecia cada vez mais hostil, e eu não conseguia mover um dedo sequer para impedi-lo de fazer um absurdo. Porém, eu vi que aquilo não valeria a pena.

– Sasuke, por favor, vamos embora.- Senti o Uchiha relutar, mas acabou soltando o detetive, antes de lançar um dos seus olhares assassinos que me faziam arrepiar da cabeça aos pés. Pondo-nos para partir daquele lugar cheio de abutres, Shikamaru atiça os sentidos sobre-humanos de Sasuke novamente

– Perdedores...- Não deu outra. O Uchiha se virou repentinamente, lhe dando um soco na boca, fazendo o detetive cair no chão com um fino fio de sangue escorrendo pelo canto da boca. Sasuke não se controlou, partindo para cima dele; distribuindo socos por todo o seu rosto. Tentei impedir que ele continuasse com aquela luta de MMA, mas logo fomos parados por três policiais.

– Idiota desgraçado!- Sasuke tentava escapar dos braços de um policial de cabelos compridos e castanhos, ele parecia forte.

– Acalme-se Sasuke!- Gritei, também sendo impedida por um policial do qual eu não conseguia ver o rosto.

– P-Prendam-no!- Shikamaru, limpando o sangue que escorri da boca, ordenou aos capangas que nos seguravam. Fomos levados a força para um pequeno cubículo de cela nos fundos da delegacia. Fomos jogados na cela, e logo quando a fecharam, vi o vulto do moreno se agarrando as grades e berrar:

– COVARDE!- Eu nunca imaginei que Sasuke fosse tão agressivo assim. Mas depois da cena de hoje...puxa vida. Ficamos lá por um bom tempo, e eu só sabia andar de um lado pro outro, mesmo sabendo que isso irritava demais o Uchiha. Mas ele não tem o direito de reclamar nas circunstancias atuais.

– Droga Sasuke! Parecia um cachorro!- O xinguei ainda impaciente. Acho que se eu sair daqui vou leva-lo para uma clínica de adestramento ou sei lá. Ele nem comentou nada. Ficou no cantinho dele de olhos fechados. Bufei, segurando fortemente nas grades e quase esmagando meu rosto contra elas, gritando:

– EU SOU MUITO JOVEM PRA SER PRESA!- Já estava quase chorando cachoeirinhas, quando o detetive Shikamaru aparece e fala:

– Você tem direito a uma ligação.- Só faltava meus olhinhos brilharem. Vi ele recolhendo um bolo de chaves e abrir a nossa cela. Pude perceber Sasuke levantar da cama, e então lhe lancei um olhar mortal, dizendo:

– Fica aí, cão! Eu vou.- O mesmo se comportou, voltando para o lugar onde estava.

Segui o detetive Shikamaru. No curto caminho, fiquei imaginando pra quem ligar e me veio uma pessoa na cabeça. Respirei profundamente, digitando o número da tal pessoa. Estava quase me sufocando por já ter dado três “pi’s” e nada de atenderem, até que finalmente escuto a voz no outro lado da linha.

– Alô?

– Oi, é a Sakura. Ah... preciso que faça um favor pra mim.