Turno: Sakura Haruno

Estava debruçada na cabeça do banco da frente do táxi, ouvindo uma música que entrava por meus ouvidos, invadindo-me de lembranças dolorosas. Não era a música. Era apenas aquele ritmo melodramático, com uma letra sem pé nem cabeça, mas que me deixava atordoada de memórias que pareciam goma de mascar no cabelo, nunca desgrudava.

It wears him out, it wears him out

It wears him out, it wears him out

Eu não era uma garota do que se lembrar. Não havia tantos momentos para serem lembrados em algum dia, dentro da minha cabeça. Mas alguns, aqueles em especial, não iam embora de maneira alguma. Só que eu sempre gostei disso, mesmo me torturando. Ri. Talvez, apenas o fato de eu não ser "cabeça oca" deixa-me satisfeita.

[...]

– Desculpe por ter saído sem avisar, Naruto...- Meu celular já estava a ponto de terminar a bateria, porém, ele não queria encerrar a conversa.- Eu sei, sei que foi mancada minha ter deixado você lá...- Sua voz subia um tom.- Me desculpe mesmo, é que- Sasuke toma o celular de mim, deixando-me boquiaberta com a sua ação.

– Ei, eu estava falando com o Naruto!- Agarro o celular da mão dele, o abrindo.- Ah, que lindo, se desligou automaticamente por causa da bateria.- Joguei o celular em um canto, logo sentando-me em uma cadeira da mesa de jantar.

– Está exausta, vá descansar.

– Não, eu preciso explicar ao Naruto o ocorrido...- Digo-me levantando em busca do celular que eu, para variar, não sabia onde tinha enfiado.

– Sakura...- Sasuke agarra meu pulso, surpreendendo-me.- Vá descansar, eu cuido do resto.- Seu olhar intenso fazia-me desistir, e correr para a casinha igual um cachorro quando escuto os fogos de artifício no ano novo.

Um banho era o que me faltava. Conseguia acalmar os nervos, só entrando naquela água quente que corria pelo meu corpo. Agradeci aos deuses por proporcionar-me uma maravilha daquelas. Ensaboei-me, deslizando as mãos pelas minhas curvas. Admito que meu corpo desenvolveu-se muito esses dias. Meus seios estavam mais fartos, as coxas se tornaram um pouco mais grossas... Sorri, contente com o que via no espelho.

[...]

Já deveria ser tarde, no mínimo umas 2h30min. Mas o sono não batia. Eu apenas ficava balançando o meu braço para fora da cama, com a cara emburrada. Estava entediada, e não dormiria por nada neste mundo. Parecia que algo martelava em minha cabeça. Um pressentimento talvez. O que um achocolatado não faria por mim á essa hora, não?

Abro minha porta, parando no meio do corredor ao ver a porta do quarto de Sasuke entreaberta. A curiosidade bate mais forte que a fome, então dou uma espiada. Estava virado de frente a janela, deixando amostra aquelas costas tão bem formadas. Me condenava por dentro por ser tão enxerida e futriquenta. Percebi que ele tinha uma cicatriz quase na altura dos ombros, próximo ao pescoço. Mas não parecia uma cicatriz, talvez fosse uma...

– Sakura?- Os olhos dele me encontram, sendo descoberta. Me senti uma otária nesse instante, apenas querendo inventar uma desculpa para sair dali.

– Desculpa, eu apenas estava passando e... Sasuke, o que isso representa?- Não me contive, perguntando sobre aquele símbolo que tinha próximo ao pescoço. Como sou impertinente.

– Ah, é apenas uma marca de nascença.- Parecia não querer continuar o assunto. Então eu me encolhi, sentando me próxima ao mesmo.

– Sasuke, você já teve uma namorada?- Só depois das palavras terem saído da minha boca, que percebi a baboseira que havia lhe perguntado.- Ai, como sou idiota, não precisa respo- Sua resposta me cortou.

– Não.- Pronunciou com aquele mesmo tom de voz neutro, enrolando demoradamente uma atadura na mão esquerda.

– Desculpe se fui inoportuna.- Abaixo o rosto para as minhas mãos que brincavam entre si, mascarando um sorriso amarelo e despercebido no rosto.

– Não tem problema.- Pude ver seus orbes escuros me analisarem pelos cantos dos mesmos. Levantei meu olhar vendo-me presa naquele rosto escultural.

Algo desconhecido brotou em mim. Várias vezes tentei abaixar meus olhos como antes, mas parecia que algo me prendia á ele. Aquele momento se tornara interminável. Como se ambos soubessem que algo iria acontecer no momento em que pisei naquele quarto. E aconteceu.

– Sasuke...- Sussurrei o seu nome pesadamente.

– Sim?- Toquei seu rosto, deixando os lábios levemente separados.

– Ensina-me a beijar.- Serenamente fui fechando os olhos como em um sonho. Meus lábios estavam começando a ressecar, quando sinto seus lábios molharem delicadamente os meus. Um fogo incontrolável se acendeu em meu corpo, fazendo com que o mesmo envolvesse os braços em minha cintura enquanto deitávamos despercebidamente na cama. Sua mão descia pelas minhas coxas, acariciando e subindo novamente, brincando com seus dedos na bainha de minha camiseta. Neste momento, abri os meus olhos para a realidade. Soltei-me intimidada de seus braços, levantando-me sem palavras na boca. Passei a mão pelo meu pescoço, nervosa, até que consegui dizer breves palavras:

– Desculpa, e-eu não deveria ter feito isso...e-eu...me desculpe...- O deixei ali com um semblante desconcertado, voltando ao meu quarto e trancando-me no banheiro, onde molhei o rosto sentindo a água gelada me acender os nervos.

– Como sou patética.