O príncipe saiu do quarto e eu fiquei parada, olhando para a porta. Minhas criadas entraram e apenas disse que a Seleção tinha acabado para mim. Elas começaram a preparar as coisas, percebi que todas choravam. Enquanto Olívia ia pegar uma roupa no ateliê, Louise arrumava minhas coisas e Diana esfregava meus cabelos enquanto eu ficava deitada na banheira.

– Vo-ou se-e-entir sauda-dade senho-orita.

– Eu também. Vou sentir saudade de ter que pedir centenas de vezes para pararem de me chamar de senhorita e vou sentir saudades da companhia de todas vocês. Obrigada por tudo Diana.

– Obrigada por-por se-er minha a-ami-iga Li-ine.

Diana fez eu chorar mais ainda, eu sentiria falta de todas as amizades que fiz aqui no palácio e jurei a mim mesma que enviaria cartas sempre que pudesse para as garotas. Lembrei então que Téah ainda não sabia da minha partida. Mas Logan deve ter avisado no café da manhã.

Terminei o banho e me enxuguei. Diana falou que iria pegar um lanche, pois eu não havia comido nada. Louise terminou de arrumar minha mala e Olívia voltara trazendo um lindo vestido, era simples mas ficou bonito em mim.

Olívia fez um penteado em mim enquanto eu comia sem muito entusiasmo um croissant e bebia um suco de frutas vermelhas que Diana trouxera da cozinha. Louise chorava enquanto andava pelo quarto e olhava minhas coisas na mala vendo se não esquecera de guardar algo. Depois que terminei de lanchar, Diana passou uma leve maquiagem e conseguiu fazer com que não desse para perceber que eu chorara muito. Antes de colocar os acessórios que as meninas escolheram para mim (um par de brincos brilhosos e meu colar de borboleta, que agora estava também com o pingente que Logan dera), a porta se abriu e Téah entrou chorando.

– Eu acordei tarde hoje e quando desci para o café, me contaram que você ia partir hoje. Então eu saí correndo do salão para te ver! Ah, Line! – chorou ela me abraçando. – Ele amava você! Não acredito que era tudo mentira! Aquele ridículo! Esdrúxulo! Energúmeno! Príncipezinho idiota! Você vai arranjar alguém melhor que o espécime Logans otariums! Ai, eu vou com você, não quero mais ficar aqui, eu já queria sair mesmo!

– Téah, a Seleção já vai acabar e eu preciso de alguém aqui no palácio. Eu realmente gosto do Logan, peço que fique e me conte sobre tudo que está acontecendo aqui. Por favor. Escreva cartas e entregue para Louise, ela arranjará um jeito de levá-las até mim. Eu vou sentir saudades. Espero que tudo der certo para você e veja me visitar em Paloma sempre que possível.

– Tudo bem, snif. Vou sentir daudades.

– Senhorita Castrien, tenho ordens para levá-la. – disse um guarda entrando no quarto.

– Um minuto. Eu vou sentir saudades de todas vocês! – as meninas se juntaram para me abraçarem, Diana pegou um lenço e limpou um pouco meu rosto. O guarda pegou minha mala e eu o segui, as meninas foram atrás de nós.

Descemos as escadarias e as selecionadas da Elite estavam em fila junto com Helena, os reis e Clarkson. Clarkson estava com um olhar de triunfo, Kriss estava com um olhar que exprimia compaixão. Achei estranho. Logan não estava lá para me ver partir. Me despedi das garotas e fui falar com os governantes.

– Agradeço muito por terem me acolhido em sua casa. Peço desculpas por tudo que fiz de errado, obrigada pela oportunidade. – disse. Fiz uma reverência e pedi licença. Atravessei as grandes portas mas antes olhei para a escadaria e percebi um vulto indo para o terceiro andar, eu o reconheceria de longe.

Era Logan.

Ao sair do palácio, fui em direção à limusine que me aguardava.

– Senhorita Castrien, poderia esperar um pouco? – era erainha Kriss, virei-me para ela e fiz uma breve reverência. Atrás dela vinha rei Maxon.

– Aline, eu gostaria de dizer que pelo tempo que passou aqui, fez meu filho um homem muito mais alegre. Não entendo o motivo dele ter te mandado para casa mas mesmo assim, obrigada. desculpe por qualquer coisa. Bem, eu já vou indo, Maxon tem algo para falar com você.

A rainha me deu um abraço sincero e acolhedor e depois entrou no palácio.

– Aline, eu peço desculpas por tudo. Eu tive vislumbres de uma certa noite, eu me portei como um homem que não sou e peço perdão por meus atos. Percebo que estive errado sobre diversas coisas. Espero que um dia você possa me perdoar.

Ele falava sobre a noite do baile. A noite em que beijou. O rei estava pedindo perdão. Olhei no fundo de seus olhos e vi neles arrependimento. Percebi que o certo a fazer era perdoá-lo, afinal, eu não teria nada a perder e sim a ganhar. Meu pai disse uma vez que quando perdoamos alguém, ganhamos a admiração dessa pessoa e que perdoar alivia a alma.

– Eu já o perdoei senhor. – sorri.

– Eu não entendo as ações de meu filho, mas se você não for feliz com ele, que seja feliz com uma pessoa que te mereça. Espero que seja feliz. Ah, a propósito, nessa semana a senhorita receberá visitas de funcionários do governo que te ajudarão a se adaptar em sua nova casta. Adeus Aline Castrien.

O rei foi embora e eu entrei no carro. Nem percebi que agora seria uma Três. Mas isso não faz diferença. Eu não tenho o Logan. O motorista deu partida.

Chorei a viagem toda até Paloma. Por onde passava haviam pessoas segurando cartazes com meu nome, o motorista falou que eu poderia abrir um pouco o vidro para acenar, mas resolvi que me daria o luxo de ignorá-las. Depois de quase três horas cheguei em Paloma, muitas pessoas acenavam enquanto passava, vi alguns rostos conhecidos, a limusine parou em frente a uma casa pequena simples mas bonita, com um jardim na frente.

– Por que parou aqui senhor?

– Esse é o novo endereço da sua família.

O motorista saiu do carro e abriu a porta para mim. Saí da limusine em seguida, haviam diversos jornalistas e câmeras da rede de TV local, passei por eles com muito esforço até que cheguei na porta da casa onde meus pais esperavam, eles ajudaram a afastar os jornalistas que pediam para que eu desse uma breve entrevista. Entrei na casa e fui atacada por duas criaturinhas.

– Sentimos tanta a sua falta Line! – gritaram em uníssono Catarina e Scott. Abracei os dois e depois sentei em um banco na sala de estar. Olhei ao redor, era uma casa pequena mas bastante acolhedora. Meus pais sentaram no sofá a minha frente.

– Cata, sua irmã não deve ter almoçado ainda, pegue um prato para ela. E Scott, leve a mala de Line para o quarto. – pediu minha mãe.

– Você parece bastante abalada filha. Realmente gostava dele não é? – perguntou meu pai e assenti. Meus pais começaram a contar sobre o que aconteceu quando estive fora, eles guardaram o dinheiro que o palácio enviava e compraram essa casa, com uma GRANDE ajuda de meu avô, que pagou quase tudo. Catarina trouxe um prato com sopa, não era a comida do palácio mas era feita com carinho por minha mãe. Scott disse as novidades da base e comentou que de madrugada, eu deveria ir até lá para uma reunião.

Fui para meu novo quarto e sentei na cama. Voltei a chorar e nem percebi quando minha mãe entrou e sentou ao meu lado.

– Conte o que aconteceu filha. Eu estarei aqui para ouvir. Deitei minha cabeça em seu colo e contei tudo, desde o momento em que vi Logan pela primeira vez, na iniciação, até o momento em que ele descobrira sobre mim.

Minha mãe ouviu tudo silenciosamente enquanto afagava meus cabelos. Depois que terminei de falar, ela disse que se tivéssemos que ficar juntos, o destino ajudaria a nos unir novamente. Ela começou a cantar uma música, sua voz era suave. Minha mãe era escultora se não me engano, mas daria uma boa cantora. Ela cantava e afagava meus cabelos, notei que estava cansada pois não dormira muito.

Acabei por adormecer.