Só Deus sabe o quanto me contive para não entrar ali, encarava a porta fechada e meu coração disparava, não havia ninguém por perto, eu escolhia sempre vir pela noite, a capa de invisibilidade de Harry me era muito útil ultimamente, mas faltava coragem para chegar perto de Draco e abraçá-lo, enquanto minha vontade era de me jogar sobre seu corpo e beijá-lo até ficarmos sem ar.

            Uma noite, a primeira em que ele passou na enfermaria, eu entrei, coberta pela capa de invisibilidade sentei-me no chão de frente para sua cama e fiquei a observá-lo por outras, creio eu, e cada dia convencia-me mais e mais de que o amava. O que me fez estranhar foi ver meu colar em sua mão, franzi o cenho, mas me contive, Draco não poderia saber que estive ali. Eu só esperaria ele melhorar para tirar essa história a limpo.

            Eu o vi dormir e lhe mandei um beijo antes de sair, em surdina.

            Nas outras noites me contive, parada na porta apenas ouvia a movimentação e garantia que Draco estivesse sozinho. Tudo bem que eu era orgulhosa demais para ir e declarar-me para ele, mas o que eu tenho de orgulhosa tenho de ciumenta, e não permitiria que nenhuma das amiguinhas dele resolvesse fazer uma festinha.

            E me surpreendeu saber que nenhuma delas se aproximava durante a noite, só em intervalos, volta e meia um de seus amigos ia lá.

            Mais alguns dias e Draco já estava de volta as aulas, o que me fazia sorrir e prestar mais atenção as aulas, ele estava ali, onde eu poderia vê-lo e admirá-lo.

            E principalmente, nas aulas Gina não estava presente, e isso me fazia respirar mais tranquila. Uma e outra vez a peguei me observando de longe, e eu sei que ela me vigiava apenas para saber se eu estava com Draco ou não, saber por quanto tempo eu continuaria fazendo seu irmão sofrer.

            Mas Gina não sabia da história a metade, ela não sabia que no mesmo dia em que conversei com ela, mais pela noite, fui falar com Rony, e lhe disse que não rolaria nada entre nós dois porque meu coração já pertencia a outro. No início ele não quis aceitar, e logo começou a querer saber quem era, eu apenas lhe garanti que não era Harry quem eu amava, pois se fosse eu estaria morta agora por estar fazendo-o sofrer, e Gina também, já que eu sei que ela é louca por Harry. Não foi fácil nossa conversa, mas ele aceitou. Ele tinha que aceitar.

            Naquela noite em especial eu estava incontrolável, Draco sequer dirigia a palavra a mim e eu tentava ao máximo evitá-lo, mas ficava cada vez mais difícil então decidi me esconder, meti-me na biblioteca em um dos corredores mais afastados, não havia mais ninguém por ali, peguei um dos livros de ficção que costumava ler nas férias e ajeite-me em uma das mesas para começar a lê-lo, foi então que vi o folder sobre a mesa, o baile de inverno estava chegando e depois as férias, e eu mal podia acreditar que o ano já estava acabando.

            Joguei o papel para o lado, provavelmente não iria participar esse ano, não estava com saco para isso. Respirei fundo entregando-me a leitura, perdendo-me em meus próprios pensamentos.

            Sorri vendo como Hermione segurava o livro e o lia, atenta a cada detalhe, suas sobrancelhas ora ou outra franziam de modo encantador quando ela não entendia direito o que lia, e isso ultimamente parecia ocorrer constantemente, o que me fez prender o riso, e ao abaixar a cabeça vi o folder, reconhecendo-o, Hermione havia pego um desses a pouco tempo. Baile de Inverno.

            Um sorriso formou-se no canto de meus lábios e toquei meu bolso, o colar dela ainda estava ali e isso me fez franzir o cenho, talvez esse colar não tivesse importância nenhuma a ela já que eu não havia ouvido nada a respeito dela estar procurando-o. Mas não importava, se o colar não interessava a ela, interessaria a mim e pronto.

            Deixei-o em meu bolso e pus o folder também para mais tarde saber onde poderia conseguir os convites. Dessa vez eu estava decidido, eu a levaria ao baile.

            Ergui o rosto e vi a prataria ali exposta, meu reflexo estava refletido em um grande escudo de prata que havia sido usado há ano atrás, e naquele instante eu não me reconheci, não era possível que fosse eu ali, tão mudado, meu orgulho sendo reduzido cada vez mais e meu coração sendo ouvido. Hermione havia mesmo mexido comigo.

            Sem querer chutei uma pilha de livros que estava no chão, e isso obviamente chamou sua atenção. Eu a vi fechar o livro rapidamente e se por de pé para ver o que havia acontecido.

            - Tinha de ser você – ela resmungou revirando os olhos. – Tropeçando no próprio orgulho Draco?

            E a mania dela de me chamar de Draco continuava, e eu gostava disso, só ela me chama de Draco.

            - Só se for no seu Hermione – eu disse com um sorrisinho no canto dos lábios. – E você? Testando a própria inteligência?

            - Pena que não posso retrucar do mesmo modo – ela respondeu e eu gargalhei. Ultimamente Hermione estava com a língua cada vez mais afiada para o meu lado.

            E eu gostava disso.

            - Duvidando Hermione? – perguntei me aproximando dela, e sorri ao ver que ela não tinha para onde ir, atrás dela uma estante de livros. Eu a estava cercando, perfeito. – Agora me diga, sentiu saudade?