Mandei que ele se calasse, mas no fundo tudo que eu queria era agarrá-lo, agarrá-lo de verdade dessa vez, não só por causa do susto de um filhote.

            O vi andar em direção ao filhote de dragão e maneei a cabeça, Draco não havia pego o início da explicação e certamente queria se mostrar o valente perto de um dragão, mesmo sem saber o quão perigoso aquele animalzinho poderia ser.

            Meu coração disparou, eu tenho noção disso, porque ele causa isso comigo. E sim, eu senti medo naquele momento, medo pelo que aquele animal poderia lhe fazer. Minha vontade foi de gritar para que ele se afastasse, chamá-lo e protegê-lo, mas minha voz não saia. Não me mexia.

            E meu coração disparou de vez ao ver como o pequeno animalzinho ia para cima de Draco, e Hagrid não fazia nada sequer para detê-lo, logo Draco estava no chão com o braço arranhado e um filete de sangue já escorrendo.

            - Leve-o Hagrid – eu gritei saindo de meu estado de transe.

            Hagrid maneou a cabeça e revirou os olhos antes de pegar Draco, sem cuidado nenhum, para levá-lo a enfermaria.

            - Dispensados – Hagrid avisou e saiu.

            Eu havia ficado nervosa depois de vê-lo no chão, meu coração ainda disparava, e num ato de puro costume procurei meu colar para segurá-lo, passei a mão em meu colo e pescoço, nada, não estava ali. Fechei os olhos lembrando-me de que havia saído do quarto com ele em meu pescoço, mas agora ele não estava. Impossível.

            Malfoy.

            Lembrei de como suas mãos passearam por meu pescoço e corri o caminho de volta, indo até a árvore em que havíamos nos beijado, procurei ao redor e por todo caminho, nem sinal de minha corrente.

            - Merda – esbravejei batendo na árvore.

            - Irritada? – era Gina que me perguntava.

            - Sim – retruquei seca.

Desde a primeira noite Gina não havia falado comigo, então não seria eu a ceder, sendo que nem sequer sabia o que tanto a incomodava, eu não havia mais dado motivo nenhum a Rony para gostar de mim, se ele ainda gosta eu não podia fazer nada.

            - Achei que você estaria na enfermaria – ela disse e eu pude, visivelmente, notar o tom de sarcasmo em sua voz.

            Encarei-a com uma sobrancelha arqueada e a mão na cintura e bufei.

            - O que você quer dizer com isso?

            - Draco foi para lá, não foi? – ela perguntou em seu mesmo tom.

            - E o que eu tenho a ver com isso?

            A pergunta que eu queria fazer era o que ela sabia dessa história entre eu e Draco, mas me calei, não me entregaria assim, tão na cara.

            - Não finja Hermione – ela retrucou seca e se pôs ereta para encarar-me de frente. – Não para mim! Eu vi como você e Draco se beijavam essa manhã, aqui mesmo, antes da aula. Eu vi como ele falava com você e você lhe dava trela. Não seja falsa agora, eu já sei que há algo entre vocês!

            - Não há nada – eu disse revirando os olhos. – Mas está claro que você não vai acreditar em mim!

            - Até quando você continuar mentindo para o meu irmão? – ela me perguntou, pegando-me completamente despreparada, fingindo que eu não havia dito nada. – Ele ainda tem esperanças de ter algo com você! E enquanto você não disser um não bem grande na cara dele, Rony continuará nutrindo sentimentos por você.

            - Eu não tenho culpa quanto a isso – tentei me defender, mas ela não parecia disposta a sequer me ouvir, muito menos acreditar.

            - Você o ilude, essa amizade toda, ele acha que é algo mais! – ela maneou a cabeça e suspirou. – Você não entenderia.

            E saiu dali.

            Saiu dali muito enganada, porque eu não tive coragem de lhe confessar que eu bem sei o que é isso, e pior, nem amizade eu tenho, porque Draco nos odeia, todos da Grifinória, ainda mais eu sendo filha de trouxas. Gina não tem nem ideia do que eu realmente sinto, do que realmente está acontecendo. Quisera eu não ter nem ideia.

            Quisera eu.

            Aquele monstrinho de merda não fez nada além de um arranhão, meio profundo, eu sei, mas não era o fim do mundo. Disseram que ele possuía veneno em suas garras, como uma maneira de se proteger, bom, eu não senti nada.

            Agora ali estava eu, deitado em uma das camas da enfermaria, sozinho, com o braço esquerdo enfaixado, e o colar dela na mão direita. Sorri mexendo o medalhão entre meus dedos, era um medalhão de Hogwarts, ela o havia ganhado de Minerva no ano passado por mérito, típico de Hermione conseguir as coisas assim.

            Não via a hora de sair dali e poder vê-la, provocá-la.

            Em breve Hermione saberia que eu estava com seu colar, só demoraria um tempinho para que eu o devolvesse a ela. O tempo que eu julgasse necessário.

            Levou uma semana para que eu saísse, segundo a enfermeira substituta eu havia ficado em observação por esses dias apenas por garantia.

            E por incrível que pareça, meu pai não apareceu nem mandou ninguém, foi então que lembrei, com nostalgia, que ele estava por ai, foragido, talvez morto. Maneei a cabeça, nessas férias, mesmo que sozinho, eu tinha aprendido a não confiar nele, depois de muito tempo, eu finalmente abri os olhos. E eu sei que não foi tarde demais.

            Mas agora ele nada tinha haver com isso, com minha história, e sim Hermione.